EDUCAÇÃO NO CONTEXTO ATUAL: DIFICULDADES E POTENCIALIDADES

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.17065603


Abadia José de Santana1


RESUMO
O presente artigo tem por finalidade fazer uma análise da educação no contexto atual, apresentando as dificuldades e as potencialidades que permeiam o mundo líquido. Com base no estudo das literaturas propostas, apresenta-se um panorama das dificuldades do ensino em faces as características dos alunos, frutos da modernidade líquida, onde também apresenta as potencialidades da educação contemporânea, mostrando que as tecnologias mudaram as formas de ensinar e aprender. Com o advento da Covid 19, houve uma expansão da educação por meio das tecnologias de forma positiva, escolas e educadores se reinventaram com novas formas de ensinar e aprender. Ficando evidente, que é preciso uma reformulação de políticas públicas voltadas à formação de professores, investimentos nas estruturas físicas e equipamentos das escolas, sabendo que os professores diante dessa demanda de alunos da geração Z (1995-2010), que tem o domínio dos equipamentos, que são imediatistas e frágeis, necessitam de uma escola e professores que os eduquem para a vida.
Palavras-chave: Educação atual. Modernidade Líquida. Dificuldades. Potencialidades.

ABSTRACT
The purpose of this article is to analyze education in the current context, presenting the difficulties and potentialities that permeate the liquid world. Based on the study of the proposed literature, an overview of the difficulties of teaching is presented in view of the characteristics of students, fruits of liquid modernity, which also presents the potential of contemporary education, showing that technologies have changed the ways of teaching and learning. With the advent of Covid 19, there was a positive expansion of education through technologies, schools and educators reinvented themselves with new ways of teaching and learning. It is evident that there is a need for a reformulation of public policies aimed at teacher training, investments in the physical structures and equipment of schools, knowing that teachers, faced with this demand from generation Z students (1995-2010), who have mastery of equipment, who are immediate and fragile, need a school and teachers to educate them for life.
Keywords: Current education. Liquid Modernity. Difficulties. Potentialities.

1 INTRODUÇÃO

No contexto atual a educação apresenta grandes dificuldades em ensinar alunos do mundo líquido, ou seja, da geração moderna. A partir da visão de Bauman em sua obra: Mundo Líquido, pode se compreender a denominação do nome criado por ele para representar o mundo moderno:

“Os fluidos se movem facilmente. Eles ‘fluem’, ‘escorrem’, ‘esvaem-se’, ‘respingam’, ‘transbordam’, ‘vazam’, ‘inundam’, ‘borrifam’, ‘pingam’, são ‘filtrados’, ‘destilados’; diferentemente dos sólidos, não são facilmente contidos – contornam certos obstáculos, dissolvem outros e invadem ou inundam seu caminho... Associamos ‘leveza’ ou ‘ausência de peso’ à mobilidade e à inconstância: sabemos pela prática que quanto mais leves viajamos, com maior facilidade e rapidez nos movemos (BAUMAN, 2001, p. 8)”.

Nesta perspectiva, no mundo líquido, tudo se evolui e muda o tempo todo, no mundo sólido a educação tinha um padrão a seguir, hoje é necessário sempre se inovar e buscar novas metodologias de ensino, logo, os alunos dessa geração têm características próprias desse tempo. Com isso, a educação não deve se restringir mais à conceitos e métodos tradicionais, deve formar alunos para atuar na sociedade de forma crítica e autônoma.

Desse modo, o objetivo deste trabalho é fazer uma análise da educação no contexto atual, apresentando as dificuldades e as potencialidades que permeiam o mundo líquido. A metodologia utilizada para a realização deste trabalho foi a pesquisa bibliográfica, tendo como ponto central a investigação qualitativa das informações.

No desenvolvimento deste trabalho, serão contextualizadas as dificuldades da educação em meios ao mundo líquido e em seguida vamos refletir sobre as potencialidades marcantes desse modelo de educação.

A educação contemporânea enfrenta desafios complexos que refletem as transformações sociais, tecnológicas e culturais pelas quais o mundo tem passado nas últimas décadas. A globalização, o avanço das tecnologias digitais e a diversidade crescente da população estudantil colocam em evidência a necessidade de repensar práticas pedagógicas, currículos e políticas educacionais. No contexto atual, a escola não é mais apenas um espaço de transmissão de conhecimentos, mas um ambiente de construção coletiva de saberes, no qual o professor assume o papel de mediador do aprendizado e os estudantes são protagonistas do processo educativo. Entretanto, esse cenário apresenta diversas dificuldades que podem comprometer a qualidade e a equidade da educação, como a desigualdade no acesso a recursos tecnológicos, a falta de formação continuada para docentes, e a persistência de métodos tradicionais que muitas vezes não atendem às demandas de aprendizagem de todos os alunos.

Um dos desafios centrais da educação contemporânea refere-se à inclusão e equidade. A diversidade social, econômica, cultural e cognitiva dos estudantes exige que as instituições educacionais adotem estratégias pedagógicas capazes de atender às necessidades individuais sem reproduzir desigualdades. Estudos recentes têm apontado que a falta de infraestrutura adequada, a escassez de recursos digitais e a limitada capacitação docente dificultam a implementação de práticas inovadoras que favoreçam a personalização do ensino e a aprendizagem significativa. Além disso, a pandemia de COVID-19 evidenciou a fragilidade de sistemas educacionais em lidar com situações de emergência e a necessidade de integrar tecnologia de forma planejada e inclusiva.

Por outro lado, o contexto atual também apresenta potencialidades significativas para a educação. A incorporação de tecnologias digitais, como plataformas de ensino, jogos educativos e Inteligência Artificial, possibilita novas formas de interação, acompanhamento do progresso estudantil e personalização do ensino.

Ferramentas digitais permitem que professores identifiquem dificuldades individuais, ofereçam feedback imediato e estimulem práticas colaborativas, tornando a aprendizagem mais engajadora e significativa. Além disso, metodologias ativas, como aprendizagem baseada em projetos e estudos interdisciplinares, incentivam o pensamento crítico, a criatividade e a autonomia dos alunos, preparando-os para enfrentar os desafios de uma sociedade cada vez mais complexa e dinâmica.

Outro aspecto relevante diz respeito à valorização do professor como mediador do conhecimento. No cenário atual, espera-se que o docente não apenas transmita informações, mas também articule conteúdos de maneira contextualizada, promova a reflexão crítica e incentive a participação ativa dos estudantes.

Para que isso seja possível, a formação continuada e o apoio institucional são fundamentais, pois garantem que os profissionais estejam preparados para lidar com as mudanças tecnológicas e sociais que impactam o ensino.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Mediante a modernidade em que vivemos, caracterizada por um mundo voltado para uma comunicação em tempo real, onde a sociedade tem ao seu alcance vários equipamentos e ferramentas tecnológicas, a educação não pode permanecer ofertando ensino com as mesmas metodologias do século XX, com paradigmas excludente e de autoritarismo. A escola de hoje deve ser acolhedora com profissionais qualificados que tenha potencial para mediar a aprendizagem em vários aspectos, deve-se ainda, nutrir de uma gestão democrática, que busca a integração da família no meio escolar, e que tenha uma estrutura que atenda a demanda dos estudantes com necessidades especiais. Haja vista, que a inclusão na educação contemporânea é um fator primordial.

Assim, a escola deve ser um lugar que agregue valores aos conhecimentos prévios dos alunos. Partindo disso, já nos ensinava Freire (1980, p. 25-26) “[...] os homens são capazes de agir conscientemente sobre a realidade objetivada. É precisamente isto, a ‘práxis humana’, a unidade indissolúvel entre minha ação e minha reflexão sobre o mundo”. Partindo dessa ideia, hoje mais do que nunca a escola precisa valorizar todo o conhecimento adquirido pelo aluno através do meio social e virtual. Freire (1996, p. 33) destaca ainda, que “ensinar exige respeito aos saberes dos educandos”. Uma das dificuldades da educação é fazer a integração entre os conhecimentos já adquiridos pelos alunos e os conteúdos pré-estabelecidos na base curricular. Os alunos deste contexto atual, chamados de geração Z (1995-2010), nasceram em um mundo informatizado, por isso, eles têm facilidade para manusear os equipamentos tecnológicos. No entanto, não significa que eles usem esses equipamentos para estudo, em sua maior parte são utilizados apenas para a comunicação e entretenimento, sendo necessário a orientação do professor para a realização de tarefas como: pesquisas, tabelas, gráficos, etc. Percebe-se ainda, que os alunos dessa geração apresenta grandes dificuldades em relação aos relacionamentos interpessoais, são imediatistas e em sua maioria trazem consigo graves problemas emocionais, além da falta de compromissos com os estudos e as pessoas de forma geral. Neste sentido, Bauman (2005, p. 132), destaca algumas características da geração do mundo líquido, “lealdade e compromissos, como todas as outras utilidades tem datas de vencimento. Não os mantenham por um minuto a mais”.

Neste contexto, também explica, Albuquerque.

“Os jovens dessa geração apresentam um perfil mais imediatista e querem tudo para agora, são inquietos e não têm paciência com os mais velhos no que diz respeito ao manuseio de equipamentos eletrônicos ou algum novo recurso da informática. Esse tipo de atitude sugere que tais jovens poderão ter sérios problemas no mercado de trabalho pela falta de habilidade para trabalhar em equipe. O trabalho coletivo demanda respeito e tolerância, virtudes a serem desenvolvidas nos jovens da geração Z” (ALBUQUERQUE, 2014, p. 4).

Diante disso, fica evidente que a educação precisa ter um olhar diferenciado para os alunos dessa geração, recriando novas formas de ensinar e aprender que atendam a modernidade do mundo líquido.

Para tanto, não é possível falar em mudanças na educação sem se pensar em formação de professores e sem pensar em uma restruturação física dos espaços das escolas. Por isso, é de fundamental importância a reformulação e, ou criação de políticas públicas de qualidade voltadas para a qualificação do professor. Vale ressaltar, que muito já foi feito, a educação ao longo dos anos vem aprimorando nos modelos de ensinar. Os professores cada vez mais buscam se capacitarem, na grande maioria das vezes por conta própria. Bem como, relata Gaidargi- Garutti:

“Encontrar um caminho para se conectar aos estudantes é tarefa duplamente árdua ao professor que ousa questionar e revolucionar a educação moderna. Além da questão da superação de dogmas e paradigmas que estão consigo desde sua formação, a fim de romper com o tradicionalismo e abrir portas para novas formas de ensinar, exige-se dele que desempenhe o papel de interlocutor de um mundo que ele mesmo não domina por completo, que muda a todo o tempo” (GAIDARGI-GARUTTI, 2020, np).

A educação contemporânea é marcada também por conflitos entre as gerações, essa realidade dificulta os relacionamentos e o processo de ensino e aprendizagem. Portanto, são inúmeras as dificuldades que permeiam o ensino no mundo atual, como também são inúmeras as potencialidades que podem ser alcançadas se de fato a educação acontecer de maneira eficaz.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após o advento da Covid 19 (2020 – 2022), período do distanciamento social, onde o mundo precisou se reinventar para atender a demanda da sociedade que vivia em distanciamento social, a escola não foi diferente. Os professores tiveram que aprender a utilizar as tecnologias para trabalhar com aulas a distância, online, ou seja, tiveram que mudar seus hábitos e posturas, muitos fizeram de suas casas a própria sala de aula. Dessa forma, uma das potencialidades da educação atual, são as tecnologias, por meio delas a educação tem um grande alcance em larga escala. Diante disso, a educação não pode mais viver sem a tecnologia, pois ela veio para facilitar todo o processo educativo.

“Considerando a penetração da internet na vida cotidiana dos alunos de todos os níveis, desconsiderá-la seria desconsiderar a própria história de vida de cada aluno, o que implica numa educação que não é libertadora porque não entende alunos e alunas como sujeitos de sua história” (GAIDARGI-GARUTTI, 2020, np).

As tecnologias mudaram não somente a forma de ensinar e aprender, mas também a maneira de comunicar, de se relacionar, de consumir e de se informar. Observa-se, portanto, uma mudança estrutural e cultural que permeia diversos setores da sociedade, incluindo a educação. Além disso, as tecnologias evoluem em uma velocidade constante, o que exige adaptação contínua por parte de professores, estudantes e instituições educacionais. Nesse sentido, a integração de tecnologias digitais em sala de aula já se tornou uma realidade imprescindível, contribuindo significativamente para o processo de ensino e aprendizagem. Entre os aspectos positivos, destacam-se o alcance em grande escala, a facilidade no planejamento das aulas, a formação continuada de professores, os meios de pesquisa para alunos e docentes, a inovação nos processos burocráticos e administrativos, além da diversificação dos métodos de ensino. Para Favero e Centenaro (2019, p.12), “Os professores, nesse contexto de fluidez constante, de geração de informações plurais, de numerosas descobertas e invenções, deixam de ser a única fonte de conhecimentos duráveis, aqueles que perduram a vida inteira”. Essa mudança de paradigma demonstra que a função docente se desloca de transmissor de conhecimento para mediador e facilitador, permitindo que os alunos se tornem protagonistas de sua própria aprendizagem.

O protagonismo estudantil é reforçado quando se observa a integração das tecnologias na prática pedagógica. Segundo Albuquerque (2014, p.6), “Ser aluno hoje é ser agente de elaboração do conhecimento, é estar numa contraposição de experiências professor-aluno, e isso só acontece quando o aluno debate e exige do seu professor, quando o questiona. Quem é o nosso aluno hoje? É aquele que vem com uma bagagem muito grande de conhecimento, principalmente no que diz respeito a novas tecnologias, e vê a escola como um local longe de suas expectativas de compromisso com o aprendizado – aluno geração Z”. Tal afirmação evidencia que os estudantes contemporâneos possuem habilidades e conhecimentos prévios significativos, especialmente no que se refere ao uso de dispositivos digitais e à familiaridade com plataformas tecnológicas, o que exige novas abordagens pedagógicas capazes de dialogar com essa realidade. Nesse cenário, a escola deixa de ser o único centro de aquisição de saberes, e os processos educativos se tornam mais dinâmicos, colaborativos e contextualizados.

A inclusão das tecnologias digitais proporciona ambientes de aprendizagem mais ricos e interativos. Ferramentas como plataformas digitais, jogos educativos, softwares de simulação e aplicativos de comunicação permitem que os alunos pratiquem habilidades cognitivas e socioemocionais simultaneamente, promovendo a autonomia, a criatividade e o pensamento crítico. Por exemplo, ao utilizar jogos educativos digitais, os estudantes podem explorar situações-problema, simular experimentos científicos ou criar projetos interativos, consolidando conceitos de maneira prática e significativa.

Além disso, a tecnologia possibilita a diversificação dos recursos pedagógicos, oferecendo múltiplos caminhos para a aprendizagem, o que é especialmente relevante em turmas heterogêneas, multisseriadas ou com alunos que apresentam diferentes ritmos e estilos de aprendizado. Isso contribui para a construção de um ensino mais inclusivo, no qual todos os estudantes têm oportunidade de desenvolver seu potencial.

Outro ponto relevante está relacionado ao feedback imediato proporcionado pelas tecnologias digitais. Plataformas educacionais, quizzes online, exercícios interativos e softwares de correção automática permitem que os estudantes identifiquem rapidamente erros e acertos, promovendo ajustes em tempo real.

Esse retorno imediato não apenas fortalece a aprendizagem, mas também incentiva a autonomia do aluno e a autorregulação de seus processos cognitivos. Ao mesmo tempo, os professores podem monitorar o progresso individual e coletivo, identificando dificuldades específicas e planejando intervenções pedagógicas mais assertivas. Essa possibilidade de acompanhamento contínuo reforça a importância da formação docente, pois é necessário que os professores estejam capacitados não apenas para operar as tecnologias, mas também para utilizá-las estrategicamente na mediação do conhecimento.

A integração tecnológica também tem impacto significativo na colaboração e interação social entre os estudantes. Ferramentas digitais permitem que os alunos trabalhem em projetos coletivos, compartilhem ideias, produzam conteúdos multimídia e participem de debates online, promovendo o aprendizado cooperativo.

Campos (2020) observa que ambientes digitais colaborativos favorecem a construção conjunta do conhecimento, fortalecendo competências socioemocionais e habilidades comunicativas, essenciais para o desenvolvimento integral do aluno. Além disso, a interação por meio de tecnologias pode contribuir para a inclusão de estudantes com dificuldades de aprendizagem ou necessidades especiais, uma vez que muitos recursos digitais oferecem adaptações personalizadas e estratégias diferenciadas para atender às demandas individuais.

Apesar das potencialidades, é fundamental reconhecer os desafios e limitações do uso de tecnologias na educação. A desigualdade no acesso a equipamentos e à internet é um obstáculo significativo, que pode reproduzir e até ampliar disparidades sociais. Além disso, a simples disponibilização de tecnologias não garante melhoria na aprendizagem; é necessário que haja planejamento pedagógico, capacitação docente e integração intencional das ferramentas digitais aos objetivos de ensino. Outro desafio é o excesso de informações e estímulos digitais, que podem sobrecarregar os alunos e dificultar a concentração, exigindo que o professor desenvolva estratégias para equilibrar tecnologia e mediação pedagógica.

A utilização das tecnologias na educação contemporânea deve ser compreendida como uma oportunidade de resignificação do ensino e da aprendizagem. Quando planejadas de forma estratégica, as tecnologias podem transformar a escola em um espaço mais inclusivo, dinâmico e engajador, permitindo que os alunos se tornem ativos na construção do conhecimento e que os professores exerçam sua função de mediadores do aprendizado.

Assim, a educação no contexto atual apresenta tanto desafios quanto potencialidades: enquanto questões estruturais, de formação e de equidade exigem atenção, a inovação tecnológica oferece ferramentas poderosas para tornar o processo educativo mais significativo, crítico e adaptado às demandas de uma sociedade em constante transformação.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com as bibliografias analisadas, fica evidente que a educação no contexto atual enfrenta diversos desafios para encontrar fórmulas eficazes que facilitem o processo de ensino e aprendizagem. A complexidade do ambiente educacional contemporâneo é resultado de transformações sociais, culturais e tecnológicas que impactam diretamente a forma como estudantes e professores se relacionam com o conhecimento. Apesar de muitas dificuldades já terem sido superadas, a educação continua sendo um meio pelo qual o cidadão busca uma mudança de vida, um instrumento capaz de proporcionar mobilidade social, inclusão e emancipação. Nesse sentido, o que se observa é que o potencial do que Bauman (2007) denominou de “mundo líquido” pode ser aproveitado na educação se for colocado em práticas pedagógicas bem planejadas, capazes de agregar valores significativos à aprendizagem, ao desenvolvimento crítico e à formação integral dos alunos. O conceito de liquidez aplicado à educação evidencia que os relacionamentos, estruturas familiares e contextos sociais mudam com rapidez, gerando novas demandas emocionais, cognitivas e sociais para os estudantes, o que exige inovação por parte das instituições de ensino.

Portanto, é dever das instituições educacionais se inovarem e se adaptarem para acolher essa nova “clientela” da educação, composta por alunos que apresentam características típicas do mundo líquido: frágeis, instáveis emocionalmente e influenciáveis por múltiplos fatores externos. Essa fragilidade pode se manifestar em dificuldades de concentração, resistência a normas rígidas, vulnerabilidade a conflitos interpessoais e desafios no desenvolvimento da autonomia e da responsabilidade. Assim, a tarefa de educar no contexto atual torna-se muito mais complexa, exigindo do professor habilidades que vão além do domínio do conteúdo disciplinar. Ele precisa ser capaz de mediar conflitos, facilitar processos de aprendizagem colaborativa, lidar com questões emocionais e sociais dos alunos, e integrar tecnologias digitais de maneira estratégica e pedagógica.

O uso das tecnologias digitais emerge como uma ferramenta indispensável nesse cenário. Plataformas de ensino, softwares educativos, jogos digitais e ambientes virtuais de aprendizagem permitem que os estudantes pratiquem habilidades cognitivas, colaborem em atividades coletivas e recebam feedback imediato sobre seu desempenho. Favero e Centenaro (2019) destacam que, diante da abundância de informações e da fluidez do conhecimento, o professor deixa de ser a única fonte de saber e passa a desempenhar o papel de mediador do conhecimento, orientando o aluno a selecionar, analisar e construir informações de forma crítica. Dessa forma, o docente contemporâneo precisa combinar competências tecnológicas, pedagógicas e socioemocionais para garantir que os estudantes possam se apropriar do conhecimento de maneira significativa.

Além das competências técnicas, o professor deve desenvolver habilidades de gestão emocional e social. O mundo líquido, com suas incertezas e instabilidades, influencia diretamente o comportamento dos alunos, tornando-os mais sensíveis a frustrações e situações de conflito. Nesse contexto, o docente deve atuar como facilitador de aprendizagens e mediador de relações interpessoais, criando ambientes seguros, colaborativos e estimulantes. Segundo Albuquerque (2014), os alunos da chamada “geração Z” chegam à escola com grande bagagem de conhecimentos prévios, especialmente relacionados a tecnologias digitais, mas muitas vezes encontram um espaço escolar distante de suas expectativas. Isso exige que os professores se reinventem constantemente, promovendo experiências pedagógicas que dialoguem com a realidade dos estudantes e estimulem sua participação ativa.

A inovação pedagógica também passa pela adoção de metodologias ativas de aprendizagem, como aprendizagem baseada em projetos, estudos de caso, resolução de problemas e aprendizagem por investigação. Essas metodologias colocam o aluno no centro do processo educativo, incentivando o protagonismo estudantil, a autonomia e a capacidade de tomar decisões conscientes sobre seu aprendizado. Quando aliadas às tecnologias digitais, essas estratégias tornam-se ainda mais potentes, pois permitem diversificar recursos, acompanhar o progresso individual, personalizar atividades e ampliar as oportunidades de interação e colaboração entre os estudantes. Oliveira (2022) ressalta que, ao utilizar plataformas digitais e recursos multimídia, os alunos podem explorar diferentes linguagens e materiais, como vídeos, simulações, quizzes e conteúdos interativos, consolidando o aprendizado e desenvolvendo habilidades críticas e reflexivas.

Outro aspecto relevante é a necessidade de formação continuada e atualização docente. O professor contemporâneo precisa dominar não apenas conteúdos curriculares, mas também ferramentas digitais, estratégias pedagógicas inovadoras e técnicas de gestão de sala de aula em ambientes híbridos e multisseriados. Essa formação deve incluir o desenvolvimento de competências socioemocionais, capacidade de resolver problemas complexos, pensamento crítico e habilidades de comunicação. Dessa maneira, o docente estará preparado para lidar com a diversidade do corpo discente e criar experiências de aprendizagem que sejam significativas, motivadoras e inclusivas.

Não se pode esquecer que, apesar das potencialidades, o contexto educacional atual apresenta desafios estruturais significativos. A desigualdade no acesso a tecnologias, a falta de infraestrutura adequada, a sobrecarga de trabalho docente e a resistência de parte da comunidade escolar a mudanças podem comprometer a implementação de práticas pedagógicas inovadoras. Portanto, é essencial que políticas públicas e programas institucionais apoiem a inclusão digital, promovam a formação docente e ofereçam recursos suficientes para que a inovação pedagógica possa se tornar realidade, alcançando todos os alunos de maneira equitativa.

Diante disso, a educação no contexto atual apresenta um duplo movimento: enquanto enfrenta desafios relacionados à fragilidade dos estudantes, à complexidade social e às limitações estruturais, ela também possui enorme potencial de transformação, impulsionado pela integração das tecnologias digitais, pela adoção de metodologias ativas e pelo desenvolvimento contínuo das competências docentes. A escola contemporânea deve, portanto, assumir o papel de mediadora entre o mundo líquido e as demandas dos estudantes, preparando cidadãos críticos, autônomos e capazes de lidar com as incertezas e desafios da sociedade atual. Essa transformação exige esforço coletivo, planejamento estratégico, inovação pedagógica e compromisso ético com a formação integral de cada aluno, consolidando a educação como instrumento de inclusão social, desenvolvimento pessoal e construção de uma sociedade mais justa e equitativa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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GAIDARGI-GARUTTI, A. Educação e mídias em tempos de modernidade líquida. In: Anais VII CONEDU – Edição Online, PR: Realize Editora, 2020. Disponível em: https://editorarealize.com.br/index.php/artigo/visualizar/68408


1 Graduação em Normal Superior e Pedagogia. Especialização em Tecnologias da Educação pela PUC/RJ. Mestranda em Tecnologias Emergentes em Educação pela Must University. E-mail: [email protected]