DOS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO NOS TEMPOS DE MODERNIDADE LÍQUIDA: COMO A INSTITUIÇÃO E OS DOCENTES DEVEM SE PORTAR NESTE TEMPO?

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.15888295


Renata Cristina de Oliveira Araújo1
Micael Campos da Silva2
Francisco Damião Bezerra3


RESUMO
O presente texto, é baseado em revisão bibliográfica e tem como objetivo refletir sobre a problemática enfrentada na educação da atualidade. Como viés para a discussão buscamos refletir sobre as mudanças ocorridas na sociedade mormente após o advento da tecnologia, que revolucionou o mundo, afetou todas as gerações e vem atingindo todas as esferas da sociedade principalmente no âmbito educacional. Nos utilizamos de um breve histórico sobre esses temas para tratar com mais clareza o contexto atual tratando sobre as diferentes gerações e o papel da escola nesse período pós-moderno concluindo que mudanças por parte das instituições e dos profissionais no processo de ensino aprendizagem são necessárias, uma vez que as demandas foram renovadas e o público atendido já não é mais o mesmo. A geração Alpha e o mundo no qual vivemos requer um profissional apto para atuar nessa realidade trabalhando as competências que esse novo cenário mundial exige.
Palavras-chave: Educação. Modernidade líquida. Gerações. Tecnologia.

ABSTRACT
This text is based on a bibliographical review and aims to reflect on the problems faced in education today. As a bias for the discussion, we seek to reflect on the changes that have occurred in society, especially after the advent of technology, which revolutionized the world, affected all generations and has reached all spheres of society, especially in the educational sphere. We use a brief history of these topics to deal more clearly with the current context, dealing with different generations and the role of school in this post-modern period, concluding that changes on the part of institutions and professionals in the teaching-learning process are necessary, since the demands were renewed and the public served is no longer the same. The Alpha generation and the world in which we live require a professional capable of working in this reality, working with the skills that this new world scenario demands.
Keywords: Education. Liquid modernity. Generations. Technology.

1 INTRODUÇÃO

Vivemos em um mundo em que a tecnologia encontra-se muito presente na vida dos educandos, que vivem constantemente conectados e inseridos no mundo digital (Anjos et al., 2024). Essa nova onda tecnológica muito presente na atualidade tem levado a se pensar na necessidade de reavaliar as práticas pedagógicas na escola em prol de um processo de construção do conhecimento mais significativo e interessante para os alunos.

Ademais, os educandos que já nasceram inseridos em um mundo tecnológico, necessitam cada vez mais de estarem inseridos na composição do seu aprendizado (Freires et al., 2024). A escola, instituição fundamental na formação do ser humano, precisa inteirar-se da situação encontrada no mundo atual e alinhar a sua práxis.

Neste trabalho, objetivamos refletir sobre as mudanças ocorridas na sociedade e o fato de que elas não foram acompanhadas por mudanças na escola que permaneceu, por muitas vezes, com metodologias tradicionais que pouco utilizam, em muitos casos, a tecnologia. O aluno nesta perspectiva é visto como um mero receptor do conhecimento e pouco age na edificação do saber.

É preciso repensar essas atitudes, e para tal refletiremos quais ações a escola e seus profissionais precisam adotar em prol da eficácia do processo de ensino/aprendizagem das gerações atuais. Falaremos brevemente sobre como se desenvolveu a educação ao longo dos anos e como o advento da tecnologia impactou e ainda impacta no agir educacional das instituições escolares, influenciando nos seus objetivos e práticas educacionais. Para desenvolver o trabalho, o aporte teórico baseia-se no sociólogo Zygmunt Bauman, dentre outros autores, em busca de compreender melhor o cenário apresentado na sociedade no período pós-moderno.

2 REFLETINDO SOBRE A EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE

2.1 Um breve histórico sobre a evolução da educação e as mudanças em seus paradigmas

Ao longo dos anos a educação sofreu várias mudanças em seus paradigmas devido ao cenário vivido pela sociedade. As revoluções, a inserção das tecnologias na vida das pessoas, o modo de vida enfrentado por elas e o cenário encontrado no mercado de trabalho trouxeram um novo olhar para a educação e mudanças de paradigmas foram necessárias.

Nos primórdios da educação do nosso país, os alunos eram vistos apenas como seres submissos dos quais deveriam apenas aprender a ler, escrever e conhecer a bíblia. Os professores eram vistos como detentores do saber. Essa era a educação 1.0, na qual as escolas, paroquiais, ensinavam a verdade como ela é. O pensamento, a criticidade e a participação do aluno eram desconsideradas.

Após a Revolução Industrial, com o advento das máquinas, as práticas pedagógicas precisaram ser modificadas. Uma nova forma de ensino ganhou destaque nas escolas de todo o mundo, sendo mais dinâmica, ágil e funcional. As mudanças no mercado de trabalho, nas formas de produção dos bens e relações de consumo foram ditando o modo de vida da sociedade e impactando no modo de vida das pessoas e das instituições também.

Na educação 2.0, a “nova escola” preparou os estudantes para trabalharem nas fábricas. Repetição, padronização, sala de aula homogênea foram alguns dos pilares dessa educação. Havia a memorização do conteúdo e o conhecimento era transmitido para adequar o educando para o mercado de trabalho.

Entregar no final do processo educacional uma pessoa pronta para trabalhar no novo cenário social era um dos objetivos da educação 3.0. Nela, via-se a necessidade do professor saber usar as tecnologias e se aliar a elas para estimular os educandos a terem autonomia e criatividade. O professor era facilitador e motivador. Uma ponte na construção do conhecimento e o foco era no aluno.

A nova Revolução Industrial trouxe a internet para o cotidiano das pessoas. As metodologias ativas ganharam espaço nas escolas, que visavam formar cidadãos ativos na busca das soluções dos problemas encontrados na sociedade. Segundo o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, criador do termo Modernidade Líquida em todas as épocas, o conhecimento foi avaliado com base em sua capacidade de representar fielmente o mundo. Mas como fazer quando o mundo muda de uma forma que desafia constantemente a verdade do saber existente, pegando de surpresa até os mais “bem-informados”?. (BAUMAN, 2010, p. 43).

As metodologias antigas de ensino e avaliação não refletiam mais as necessidades encontradas na sociedade atual. O papel do educador seria o de sintetizar as diversas informações encontradas no mundo atual e transformá-las em conhecimento. O educando, participa ativamente e é autor do seu conhecimento.

Além de entender sobre os processos e a lógica da formação dos mesmos, a educação 5.0 veio para propor um entendimento sobre as dinâmicas da sociedade como um todo. As competências socioemocionais ganharam destaque nas escolas e o trabalho com as elas mostrou-se essencial. Liderança e protagonismo do aluno é um ponto alto desse modelo de educação que acredita que essa é a solução para os problemas da sociedade.

O trabalho com as soft skils, habilidades emocionais que as empresas esperam que os seus colaboradores tenham e que a escola precisa trabalhar com seus estudantes para que eles tenham uma formação completa, viu-se extremamente necessário para tratar a Modernidade Líquida. Bauman (2001) caracteriza essa era como a em que as relações de produção, econômicas e sociais são frágeis entre as pessoas podendo ser desfeitas facilmente. O consumismo impera e as pessoas são imediatistas, buscado sempre a satisfação e o prazer naquele momento.

O papel da escola é crucial na formação dos seres que atuarão nessa sociedade. Buscar novos métodos de ensino que ajude na formação de seres pensantes, que saibam conviver em sociedade, tomar decisões, trabalhar em equipe, entre outros aspectos farão com que tenham uma formação completa. O aluno precisa saber fazer e saber ser. O professor precisa ser um facilitador, mediador e direcionador do conteúdo. Para Mello (2202, 59) não basta que ele apenas tenham um vasto domínio cognitivo e formativo. É necessário que saiba pôr em prática seu conhecimento. O respeito e a compreensão devem fazer parte do dia a dia nas escolas.

Portanto, a escola não deve ser mais uma instituição de ensino que tenha em seu currículo apenas a finalidade de ler e escrever. É preciso mais. A educação 5.0 nos chama a olhar a educação como uma ferramenta capaz de mudar a sociedade que encontra-se cada vez mais volátil e frágil. É preciso mudar essa realidade e a educação é a ferramenta principal que pode e deve ser usada.

2.2 O advento da tecnologia e suas implicações nas diferentes gerações presentes no cotidiano escolar

No contexto escolar encontramos diferentes gerações atuando ao mesmo tempo. Professores, alunos e funcionários nasceram em gerações diferentes e que demonstram peculiaridades devido ao período histórico da qual foram constituídas. Em cada época vivida, seja pelas gerações de veteranos, Baby Boomers, ou pelas X,Y,Z e Alpha o modo de se portar frente ao mercado de trabalho, o estabelecimento de relações, a forma que almejam a construção e a busca do conhecimento foram diferentes e tudo isso deve ser levado em conta.

Em resumo, a geração de veteranos é aquela que dita o período antes de 1940. Os indivíduos buscavam segurança. Trabalhavam muito tempo na mesma empresa. A geração Baby Boomers, é marcada pelo retorno dos homens da Segunda Guerra Mundial. É marcada pelo crescimento populacional e nela destaca-se a massificação do trabalho e a estabilidade. A geração X, mostra a busca pelo reconhecimento próprio, pensam que a vida vai além do trabalho. Na geração Y a revolução tecnológica mostra-se presente. Busca-se a identidade e trabalha-se por paixão. As pessoas anseiam por uma sociedade que adapte-se às suas necessidades.

Quando falamos em geração Z, destacamos que nela os indivíduos já nascem submersos num mundo tecnológico, do qual não conseguem pensar em um mundo sem a tecnologia. Os valores antigos não são mais levados em conta. As relações são superficiais e os estudantes encontram dificuldades ao encarar o modelo educacional das gerações que antecederam. E, por fim, a geração Alpha, que são os indivíduos que estão mergulhados na modernidade líquida e que buscam ao máximo explorar as oportunidades que o mundo os proporcionam sendo seres curiosos e criativos.

Ao caracterizar todas essas gerações, há de se perceber quão eclético é o ambiente escolar e a importância de entendê-las ajudará a entender as relações e dará oportunidades de se ter um bom relacionamento na escola e no trabalho alcançando resultados adequados a realidade atual.

Os nativos da geração Alpha vivem sob um emaranhado tecnológico. Com o advento da internet, houve a democratização da informação. Todos têm acesso ao conhecimento, em qualquer lugar que se encontre. Porém, mesmo assim, nem sempre o que é encontrado na internet é verídico. E isso é um dos pontos que deve ser trabalhado na escola. É necessário que os professores eduquem e conscientizem os alunos quanto ao uso desses meios tecnológicos aliando-os à busca do conhecimento.

Outra questão que merece destaque quanto ao uso das tecnologias e da internet é o que se diz respeito ao isolamento social, “a fragilidade e transitoriedade dos laços pode ser um preço inevitável do direito de os indivíduos perseguirem seus direitos individuais” (Bauman 2001, p. 96). Os educandos muitas vezes vivem trancados em seu mundo digital se satisfazendo apenas com amizades virtuais e a socialização muitas vezes é prejudicada. A falta de interação com os outros colegas acaba afastando os educandos da escola e fazendo com que perca o interesse.

Nessa sociedade líquida, a necessidade de estar conectados é evidente. Porém, devido a presença de diferentes gerações no ambiente escolar. Um trabalho relacionado a esse aspecto deve ser feito. Oficinas, projetos, rodas de conversa, entre outros, podem ser adotadas pela instituição a fim de motivar a interação entre os alunos e a dosagem ao uso das tecnologias.

2.3 A educação nos tempos de modernidade líquida

As diferentes gerações presentes na escola fazem com que seja necessário adaptações para que ambas possam conviver em harmonia e que haja uma troca de conhecimento e não um confronto entre elas. A escola, instituição essencial para os avanços da sociedade precisa rever os seus conceitos de construção do conhecimento para contribuir para a construção de uma sociedade composta por cidadãos éticos, que saibam trabalhar em equipe, empáticos e construtores do seu saber.

Atualmente, a sociedade encontra-se submersa em um mundo tecnológico. Das mais simples as mais sofisticadas atividades realizadas no dia a dia, todas esbarram de forma direta ou indiretamente na tecnologia e com a escola não pode ser diferente. Apesar de geralmente ser apresentada como um ambiente tradicional com mesas e carteiras enfileiradas, alunos andando em fila, quadro negro, livros e cadernos físicos, o grande público que a escola atende tem a tecnologia como sua aliada em todos os processos do cotidiano.

As diferentes gerações encontradas no ambiente escolar enfatizam a necessidade de aprimoramento de metodologias para melhor aproveitar as informações encontradas a disposição dos alunos. Cada geração possui suas características que devem ser levadas em conta na hora da formação do saber. Professores que são de outras gerações que são os alunos, foram formados há alguns anos e muitas vezes não encontraram em seu currículo acadêmico uma forma que o ensinasse implementar metodologias ativas e as ferramentas tecnológicas em suas práticas pedagógicas. Assim, eles precisam constantemente se aprimorar e, muitas vezes, se reinventar.

Essa problemática assusta grande parte dos docentes que muitas vezes demonstram resistência ao uso de outras metodologias em suas salas de aula. Todavia, profissionais que estavam acostumados a trabalhar com seu modo tradicional, vem sendo constantemente desafiados a se renovar, pois esse método arcaico de ensino não encanta mais os alunos da atualidade.

O educador Paulo Freire diz que a educação “é um ato de amor e, por isso, um ato de coragem”. Haja visto, é preciso ter coragem para repensar as práticas pedagógicas. Usar as ferramentas tecnológicas em suas aulas, aplicar as metodologias ativas, buscar cursos de aperfeiçoamento profissional é de estrema importância para que haja uma significativa melhoria em sua práxis.

As instituições de ensino devem incluir em seus currículos as ferramentas tecnológicas que tanto atraem e encanta o educando e, não obstante,dar o suporte físico e intelectual para que o professor possa utilizá-las é essencial. Tornar o aluno atuante na construção do seu conhecimento é um grande desafio das escolas atuais, mas não é impossível.

Nesse tempo de modernidade líquida é preciso atentar-se a rapidez em que o saber é alcançado e divulgado. A forma de tratar o conhecimento não pode ser a mesma de duas ou três décadas atrás, pois “pensar a educação como algo estático, na perspectiva da modernidade líquida, torna-se um pesadelo para os estudantes”(Gaidargi-Garutti,2020. n.p). Nessa mesma perspectiva Freire destaca que “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”.

Dessa forma, buscar novas metodologias onde o aluno seja protagonista do seu aprendizado, trabalhar as competências socioemocionais e aliar tudo isso ao uso das ferramentas tecnológicas fará com que os educandos sejam protagonistas do processo de ensino/aprendizagem sendo um ser inovador, criador e transformador da sua realidade.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudou buscou refletir a respeito das mudanças de paradigmas da educação, sobre as diferentes gerações que constituem nossa sociedade, a cerca do conceito criado pelo sociólogo Zigmund Bauman e os seus impactos na educação como um todo. Para atingir tal objetivo, foi realizado um breve histórico do sistema educacional e as mudanças ocorridas ao longo dos anos tanto no papel do professor quanto no do aluno na busca da construção do aprendizado. Na sequência, falamos sobre as gerações e suas peculiaridades, sobretudo as da geração Alpha da qual nasceu em meio à modernidade líquida que impactou consideravelmente no perfil desses educandos. Finalizamos com algumas considerações sobre como as escolas e os professores devem se portar frente a essa nova realidade encontrada nas salas de aula, tão diferentes das que foram vivenciadas pelos mesmos.

Podemos entender que as mudanças ocorridas na sociedade, no modo de vida das pessoas e principalmente com o início da tecnologia nos trouxeram uma necessidade de mudança de postura nas instituições de ensino e seus colaboradores com o intuito de atender de uma forma melhor e mais significativa os educandos das gerações atuais, haja visto que as práticas antigas não são mais suficientes para atender os alunos que nasceram nesse período de tamanho uso da tecnologia na atualidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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GAIDARGI-GARUTI, ALESSANDRA MARIA M. (2020). Educação e Mídias em tempos de modernidade Líquisa. Disponível em 25 de janeiro, 2023, de https://www.editorarealize.com.br/editora/anais/conedu/2020/TRABALHO_EV140_MD1_S A17_ID3974_30092020224724.pdf.

BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2001.

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FREIRES, K. C. P. et al. Reformulando o currículo escolar: Integrando habilidades do século XXI para preparar os alunos para os desafios futuros. Revista fisio&terapia, v. 28, p. 48-63, 2024. Disponível em: https://revistaft.com.br/reformulando-o-curriculo-escolar-integrando-habilidades-do-seculo-xxi-para-preparar-os-alunos-para-os-desafios-futuros/. Acesso em: 27 jun. 2025.

MELLO, C. M.; NETO, J. R. M. A & BASTOS, R. P. P. F.(2020). Educação 5.0: Educação Para o Futuro. Rio de Janeiro: Processo.


1 Mestranda em Tecnologias Emergentes da Educação pela Must University. E-mail: [email protected]

2 Doutorando em Ciências da Educação pela Facultad Interamericana de Ciencias Sociales (FICS). E-mail: [email protected]

3 Doutorando em Ciências da Educação pela Facultad Interamericana de Ciencias Sociales (FICS). E-mail: [email protected]