DÍZIMO E A NOVA ALIANÇA

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10345070


Railson Félix Santos¹
Daiane Martins Batista²


RESUMO
A respectiva pesquisa examina os diversos entendimentos acerca dos dízimos eclesiásticos contidos na Bíblia sagrada, discorre sobre o dízimo anterior a Lei Mosaica, os dízimos contidos na Lei Mosaica e o dízimo abordado na Nova Aliança. Mostra como os primeiros Cristãos se comportaram a respeito do tema. Traz as divergências existentes no meio religioso dos primeiros séculos depois de Cristo, bem como, quanto a aplicabilidade do dízimo. Verifica se a lei que instituiu os dízimos foi especificamente para o povo de Israel, ou se continua válida. Observa qual a forma de sustento da obra e dos obreiros com base na Nova Aliança, esclarece como o dízimo foi tratado em toda a Bíblia. Aclara que, os doutrinadores do dízimo na Nova Aliança têm construído sua casa sobre a areia, pois é inexistente de base bíblica quando analisado a partir dos episódios em que ele ocorre antes e depois da Lei Mosaica. Esclarecer se a salvação da alma tem alguma ligação com dízimos ou qualquer quantia financeira entregue nos templos religiosos de hoje. Demonstra qual o propósito do dízimo na Antiga Aliança, e compara a visão em relação a Nova Aliança. Para tanto, o projeto se valeu de método de pesquisas através da observação dos escritos sagrados, de posicionamentos variados e bibliografia específica.
Palavras-chave: Dízimo.  Aliança.  Salvação. Cristãos.  Religioso.
 
ABSTRACT
The respective research examines the different understandings regarding ecclesiastical tithes contained in the Holy Bible, discusses the tithe prior to the Mosaic Law, the tithes contained in the Mosaic Law and the tithe addressed in the New Covenant. It shows how the first Christians behaved on the subject. It brings up the divergences that existed in the religious environment of the first centuries after Christ, as well as regarding the applicability of tithing. Check whether the law that instituted tithes was specifically for the people of Israel, or whether it remains valid. It observes how the work and workers are supported based on the New Covenant, it clarifies how tithing was treated throughout the Bible. It clarifies that the indoctrinators of tithing in the New Covenant have built their house on sand, as it has no biblical basis when analyzed based on the episodes in which it occurs before and after the Mosaic Law. Clarify whether the salvation of the soul has any connection with tithes, or any financial amount given in today's religious temples. It demonstrates the purpose of tithing in the Old Covenant and compares the vision in relation to the New Covenant. To this end, the project used a research method through the observation of sacred writings, varied positions and specific bibliography.
Keywords: Tithe. Alliance. Salvation. Christians. Religious.
 
1. INTRODUÇÃO
 
Este trabalho tem como objetivo esclarecer a respeito de um assunto muito questionado ao longo dos anos, o dízimo eclesiástico, praticados por muitos, acreditando ser um mandamento bíblico eterno, ou por receio de serem amaldiçoados, outros por medo do devorador (insetos como gafanhotos que devoravam plantações, hoje transformados em demônios pelos líderes evangélicos).
 
A discussão sobre os dízimos iniciou-se no meio religioso após perceberem que os apóstolos e seus seguidores tinham deixado de praticá-lo, sendo substituindo pela forma de oferta voluntária, permanecendo assim por séculos, o que acabou contribuindo para o enfraquecimento do alto clero, causando a indignação contra os cristãos. Debates foram travados com o intuito de reestabelecê-lo, somente no ano de 585 d.C. no Concílio de Macon foram promulgados 20 Cânones, dentre eles, a excomunhão contra aqueles que não pagassem dízimo à igreja. Ainda assim, somente no século IX, Carlos Magno ordena que se inicie a cobrança obrigatória dentro dos templos religiosos e aqueles que não pagassem deveriam ser excomungados, como pena por desobediência.
 
Da mesma forma, líderes na atualidade, sem o devido conhecimento teológico, tem disseminado nos templos religiosos que a obrigatoriedade da entrega de dízimos (10%) está ligada ao mandamento divino instituído por Deus mesmo antes da Lei do Antigo Testamento, com essa posição acabam demonstrando que estão totalmente infundados de conhecimento bíblico e cometendo o erro de estarem carregando muitos dos seus seguidores, para o abismo. 
 
Como resultado, a falta de interpretação correta da Bíblia tem levado muitos a cometerem absurdos, como no caso citado por Croteau (2010, p. 1-2), ''(...) a história mais escandalosa que ouvi vem da África, onde algumas mulheres se prostituem para pagar seus dízimos com o pleno conhecimento do clero''.
 
Em suma, espera-se que não resistam ao conteúdo por deduzirem que o mesmo estará forçosamente sendo uma fonte incentivadora à prática do não pagamento de dízimos nos templos evangélicos, ao contrário, todo o conteúdo tem o intuito de guiá-los para a prática da contribuição da forma correta, que tem o objetivo de ajudar a manter a obra de Cristo aqui na terra.
 
Desse modo, o projeto defende fervorosamente a manutenção da obra de Deus pelos Cristãos, que possam contribuir com suas ofertas de forma voluntária, entendendo ser mais benéfico que a antiga prática obrigatória dos dízimos, pois não à melhor prova de amor a Deus e ao próximo como a oferta voluntária.
 
Por consequência, partindo da problemática de que inúmeras denominações religiosas tem implantado na mente de seus membros que um dos requisitos para se alcançar a salvação é a entrega obrigatória de 10%, 20% e até 30% de seus ganhos, indaga-se, tal doutrina está de acordo com os escritos da Bíblia Sagrada? Assim, ao longo do desenvolvimento do presente artigo, busca-se responder tal questionamento.
 
Entretanto, os praticantes destes atos tentam justificar uma observância existente na Lei do Antigo Testamento, ordenança que deveria ser observada pelo povo de Israel, e que a luz do Novo Testamento não deve ser aplicada na Nova Aliança.
 
Contudo, o texto bíblico nos diz que: “a Lei nos serviu de aio (guia) para nos levar a Cristo”. Com essa afirmação, ao voltarmos a praticá-lo, não estaríamos anulando a morte e ressurreição do Salvador?
 
Assim sendo, aqueles que insistem em viver pela lei que siga toda a lei e não tropece em nenhuma das ordenanças, pois como esclarece o texto, “antes que viesse a fé”, estávamos sob a tutela da lei, afirmando que, com a morte e ressurreição de Cristo passaríamos a viver pela fé, como está escrito, mas a advertência do apóstolo continua, "De Cristo vos desligastes, vós que procurais justificar-vos na lei; da graça tendes caído" (Bíblia, Gálatas 5,4).
 
Com isso, tentam implantar a cobrança de dízimos se utilizando de ocorrências anteriores a Lei, com a desculpa de que abolindo-se a lei, o dízimo não pode ser abolido porque é anterior a lei, pois bem, de acordo com a bíblia Deus ordenou a Abraão que todo povo fosse circuncidado e o sábado deveria ser guardado, pois foi muito antes da lei, o sacrifício de animais também acontecia muito antes, Tiago 2,10 diz: "Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos". Portanto fica a questão, porque só cumprir a cobrança de dízimos e não todos os mandamentos da Lei?
 
Ainda assim, os defensores do dízimo se utilizam equivocadamente de Gênesis 14,20 que diz, “E bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos. Abrão deu-lhe o dízimo de tudo", tentam justificar a cobrança do dízimo baseando-se nessa passagem, percebe-se com isso que, não estão realizando a exegese de todo o texto, além da época em que o dízimo é citado, demonstram desrespeito pelas escrituras e deixam claro que a preocupação principal é defender a cobrança de dízimos, não pensam nas almas que precisam ser salvas. 
 
Ademais, outro equívoco grotesco é se utilizar do voto de Jacó para tentar justificar a cobrança dos dízimos, em Gênesis 28,22 "E esta pedra que tenho posto por coluna será casa de Deus; e de tudo quanto me deres, certamente te darei o dízimo", como percebe-se, a falta de uma boa hermenêutica tem levado muitos a interpretações distorcidas e causando uma grande confusão entre os fiéis.
 
Portanto, nesse estudo veremos quais eram as ofertas e os dízimos tratados na Antiga Lei, as diferenças entre eles, qual era o local onde deveriam ser entregues, como eram utilizados e quem eram os beneficiários designados por IAHWEH para recebê-los e administrá-los, será retratado sobre a vida daqueles que viveram antes, durante e depois da Lei de Moisés até a chegada da nova aliança, através da Graça com Cristo Jesus. Além disso, analisaremos se a Lei do Antigo Testamento pode ser aplicada aquele que foi salvo por Cristo no calvário. Em suma, que esse breve estudo possa guiar o leitor para a análise da bíblia sagrada em busca de uma ampla compreensão do assunto, pois todo cristão deve ser leitor da bíblia sagrada para que não seja enganado por aqueles que adulteram as escrituras.
 
2. DÍZIMO E A NOVA ALIANÇA
 
De acordo com os textos bíblicos, no início da criação, Abel e Caim ofertaram da seguinte forma, (Bíblia, Gênesis, 4, 3-4) “E aconteceu ao cabo de dias que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor. Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura...". Fica, portanto, comprovado pelos textos bíblicos aqui transcritos, que ambas as ofertas foram voluntárias, percebendo-se a diferença entre elas, enquanto uma foi de qualquer jeito, ou do que estava sobrando, a outra foi das primícias de tudo que Abel tinha produzido, ou seja, ele ofereceu o melhor a Deus sem esperar nada em troca, além da satisfação de Deus por sua oferta. 
 
Nessa mesma logica, após o dilúvio, Noé e sua família ofertam ao Senhor, (Bíblia, Gênesis, 8,20-21) "Noé construiu um altar a IAHWEH e, tomando de animais puros e de todas as aves puras, ofereceu holocaustos sobre o altar. IAHWEH respirou o agradável odor...". 
 
Igualmente, vejamos o dízimo do patriarca Abraão, que ao voltar de uma batalha onde saiu vitorioso, vem ao seu encontro um rei e sacerdote, lhes trazendo pão, vinho e vos abençoando-o, percebe-se que aquele homem (rei e sacerdote) Melquisedeque, não tinha necessidades, pois além de rei era sacerdote, tudo indica que tinha posses. Portanto, o ato de Abraão foi uma forma de agradecer a Melquisedeque pela recepção, por isso deu-lhes presentes pela hospitalidade, inexistindo relato bíblico que comprove tal prática antes desta ocasião e muito menos depois. 
 
Seguindo tal lógica, observa-se de acordo com o texto, (Bíblia, Hebreus 7:2) quando diz, “E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo”, o texto é claro em dizer que ele “deu”, e não “devolveu” como muitos interpretam, logo, chega-se à conclusão que foi ato único e voluntário do patriarca, já que não temos mais relatos que justifiquem a prática como habitual.
 
Outro importante ponto está em (Bíblia, Hebreus, 7,4) "Considerai, pois, quão grande era este, a quem até o patriarca Abraão deu os dízimos dos despojos", aqui o autor da carta fala que o dizimo foi dos “despojos”, de acordo com a bíblia, “despojos” eram todos os bens trazidos das batalhas pelos vencedores, pois tudo que a nação derrotada possuía era tomado, logo, temos um ponto importante a ser considerado, se os dízimos foram dos despojos como nos informa o autor de Hebreus, fica comprovado que Abraão não o praticava, que o dizimo ao rei foi um presente, como era o costume da época, além de não ter sido retirado de suas posses.
 
Da mesma maneira, o voto de Jacó registrado em (Bíblia, Gênesis 28,20-22) "Se Deus estiver comigo e me guardar no caminho por onde eu for, se me der pão para comer e roupas para me vestir, (…) tudo o que me deres eu te pagarei fielmente o dízimo". Outrossim, nesta passagem de Jacó percebe-se que ele não praticava o dízimo, pois se Jacó que era neto de Abraão e fez voto para dar dízimo, significa que não era praticado pelo mesmo, se fosse habitual, não haveria explicação em fazer o voto a Deus, ademais, não há relatos que ele tenha devolvido dízimos antes deste ocorrido ou depois. Sem dúvida, que o dízimo anterior a Moisés foram ofertas voluntárias que ocorreu na vida destes dois homens, não tendo como provar biblicamente a prática habitual cometida por eles.
 
De acordo com Toro, (2001, p. 35), embasado em passagens bíblicas, afirma que todo o projeto da salvação da raça humana já estava arquitetado por Deus desde o início, e que o Velho Testamento a todo o momento vem esclarecendo que um novo pacto precisaria ser feito, que era a vinda do Filho do Homem, o cordeiro de Deus que tiraria o pecado do mundo.

Embora ambos os ministérios, o da Lei (Antigo Testamento) e o de Jesus (Novo Testamento), tivessem sido ordenados e estabelecidos pelo próprio Deus, suas finalidades e vigor seriam diferentes: Por um lado, essa Lei foi dada para dar ao homem conhecimento do seu pecado, a fim de que assim pudesse reconhecer seu estado de culpa e condenação. Por outro lado, Jesus Cristo veio para redimir o mesmo homem dessa culpa e dessa condenação, para, depois de resgatado mediante a conversão, dar-lhe o Espírito Santo prometido no Antigo Testamento, para nele habitar fazendo-o assim participante da natureza divina (Gl 3,13-14; 2Pe 1,3-4). A vida eterna para qualquer membro da raça humana estava só em Jesus, por disposição do próprio Deus já manifestada assim desde o princípio em Gen. 3,15 quando disse que seria o descendente da mulher (o Messias) quem desfaria a fatal obra realizada pela Serpente antiga quando induziu Adão ao pecado e, portanto, à queda na morte. Isto é confirmado assim pelo apóstolo Paulo em Ef.1,9-10, ao afirmar que Deus já tinha o propósito de reunir todas as coisas em Cristo, tanto as do Céu (a Vida eterna) como as da terra (bênçãos materiais). Por isto, vindo ele à Terra, o Velho Pacto se foi (após devidamente cumprido por Jesus, e o Novo chegou, plenamente suficiente para o estabelecimento do Reino eterno, constituído pelos eternizados filhos de Deus, de acordo com o afirmado em Jo. 1,12-13 e com as promessas de Fp 3,20-21; 1Jo 3,1-3; 1Co 15,49-57 e outras muitas passagens bíblicas.

Então, a partir do profeta Moisés, Deus envia leis para que o povo pudesse se guiar por elas, passando a existir regras para que o homem vivesse em segurança e respeitasse os seus limites, através das leis o homem poderia alcançar bênçãos, mas também maldição, dependendo da forma que se comportasse, por conseguinte, passaram a existir várias formas de ofertas, como: 
 
A lei do holocausto, eram as ofertas queimadas, conforme descrito abaixo:

Falou mais o Senhor a Moisés, dizendo: Dá ordem a Arão e a seus filhos, dizendo: Esta é a lei do holocausto; o holocausto será queimado sobre o altar toda a noite até pela manhã, e o fogo do altar arderá nele. E o sacerdote vestirá a sua veste de linho, e vestirá as calças de linho, sobre a sua carne, e levantará a cinza, quando o fogo houver consumido o holocausto sobre o altar, e a porá junto ao altar. Depois despirá as suas vestes, e vestirá outras vestes; e levará a cinza fora do arraial para um lugar limpo. O fogo que está sobre o altar arderá nele, não se apagará; mas o sacerdote acenderá lenha nele cada manhã, e sobre ele porá em ordem o holocausto e sobre ele queimará a gordura das ofertas pacíficas. O fogo arderá continuamente sobre o altar; não se apagará. Depois fez chegar o carneiro do holocausto; e Arão e seus filhos puseram as suas mãos sobre a cabeça do carneiro; E degolou-o; e Moisés espargiu o sangue sobre o altar em redor. Partiu também o carneiro nos seus pedaços; e Moisés queimou a cabeça, e os pedaços e a gordura. Porém a fressura e as pernas lavou com água; e Moisés queimou todo o carneiro sobre o altar; holocausto de cheiro suave, uma oferta queimada ao Senhor, como o Senhor ordenou a Moisés. E banhará a sua carne em água no lugar santo, e vestirá as suas vestes; então sairá e preparará o seu holocausto, e o holocausto do povo, e fará expiação por si e pelo povo (Bíblia, Levítico, 6, 8-21; 16,24).

Assim, na Lei do holocausto eram trazidos bodes, carneiros, bois, pombos, estes eram totalmente queimados e ninguém poderia comer. Assim como as ofertas de alimentos, que deveriam ser temperadas com sal e não poderia conter fermento, conforme transcrito:

Em pedaços a partirás, e sobre ela deitarás azeite; oferta é de alimentos. E, se a tua oferta for oferta de alimentos de frigideira, far-se-á da flor de farinha com azeite. Então trarás a oferta de alimentos, que se fará daquilo, ao Senhor; e se apresentará ao sacerdote, o qual a levará ao altar. E o sacerdote tomará daquela oferta de alimentos como memorial, e a queimará sobre o altar; oferta queimada é de cheiro suave ao Senhor. E, o que sobejar da oferta de alimentos, será de Arão e de seus filhos; coisa santíssima é, das ofertas queimadas ao Senhor. Nenhuma oferta de alimentos, que oferecerdes ao Senhor, se fará com fermento; porque de nenhum fermento, nem de mel algum, oferecereis oferta queimada ao Senhor. Deles oferecereis ao Senhor por oferta das primícias; porém sobre o altar não subirão por cheiro suave. E todas as tuas ofertas dos teus alimentos temperarás com sal; e não deixarás faltar à tua oferta de alimentos o sal da aliança do teu Deus; em todas as tuas ofertas oferecerás sal. E, se fizeres ao Senhor oferta de alimentos das primícias, oferecerás como oferta de alimentos das tuas primícias de espigas verdes, tostadas ao fogo; isto é, do grão trilhado de espigas verdes cheias. E a sua oferta de alimentos, será de duas dízimas de flor de farinha, amassada com azeite, para oferta queimada em cheiro suave ao Senhor, e a sua libação será de vinho, um quarto de him (Bíblia, Levítico, 2, 6-14; 23,13).

Desse modo, eram levados grãos, flor de farinha, azeite de oliveira, incenso, bolos, sal, etc, e ali teriam que ser queimadas sobre o altar.
 
Também, eram entregues ofertas pelo pecado, ocorria quando alguém tivesse cometido algum tipo de transgressão contrário a lei, este deveria levar até a tenda da congregação um animal, conforme a sua condição, e entregar ao sacerdote para ser queimado, conforme texto abaixo: 

Quando uma alma pecar, por ignorância, contra alguns dos mandamentos do Senhor, acerca do que não se deve fazer, e proceder contra algum deles; Se o sacerdote ungido pecar para escândalo do povo, oferecerá ao Senhor, pelo seu pecado, que cometeu, um novilho sem defeito, por expiação do pecado. E trará o novilho à porta da tenda da congregação, perante o Senhor, e porá a sua mão sobre a cabeça do novilho, e degolará o novilho perante o Senhor. Então o sacerdote ungido tomará do sangue do novilho, e o trará à tenda da congregação. Enfim, o novilho todo levará fora do arraial a um lugar limpo, onde se lança a cinza, e o queimará com fogo sobre a lenha; onde se lança a cinza se queimará. Será, pois, que, como pecou e tornou-se culpado, restituirá o que roubou, ou o que reteve violentamente, ou o depósito que lhe foi dado em guarda, ou o perdido que achou, ou tudo aquilo sobre que jurou falsamente; e o restituirá no seu todo, e ainda sobre isso acrescentará o quinto; àquele de quem é o dará no dia de sua expiação. E a sua expiação trará ao Senhor: um carneiro sem defeito do rebanho, conforme à tua estimação, para expiação da culpa trará ao sacerdote; E o sacerdote fará expiação por ela diante do Senhor, e será perdoada de qualquer das coisas que fez, tornando-se culpada. Falou mais o Senhor a Moisés, dizendo: Fala a Arão e a seus filhos, dizendo: Esta é a lei da expiação do pecado; no lugar onde se degola o holocausto se degolará a expiação do pecado perante o Senhor; coisa santíssima é. O sacerdote que a oferecer pelo pecado a comerá; no lugar santo se comerá, no pátio da tenda da congregação. Tudo o que tocar a carne da oferta será santo; se o seu sangue for espargido sobre as vestes de alguém, lavarás em lugar santo aquilo sobre o que caiu. E o vaso de barro em que for cozida será quebrado; porém, se for cozida num vaso de cobre, esfregar-se-á e lavar-se-á na água. Todo o homem entre os sacerdotes a comerá; coisa santíssima é. Porém, não se comerá nenhuma oferta pelo pecado, cujo sangue se traz à tenda da congregação, para expiar no santuário; no fogo será queimada. Então fez chegar o novilho da expiação do pecado; e Arão e seus filhos puseram as suas mãos sobre a cabeça do novilho da expiação do pecado. Com isto Arão entrará no santuário: com um novilho, para expiação do pecado, e um carneiro para holocausto (Bíblia, Levítico, 4, 2b-12; 6, 4-30; 8,14; 16,3).

Se o pecado tivesse sido cometido por um sumo sacerdote, ou a congregação, era trazido um bezerro, se algum líder, era trazido um bode, se algum do povo, era uma cabra ou um cordeiro, se a pessoa fosse pobre deveria trazer a décima parte de um efo de flor de farinha.
 
Dessa maneira, observa-se que o dízimo diferia de todos estes citados, pois não tinha caráter sacrificial, o dízimo não pode nem ser comparado as primícias. Visto que, para esta (primícias) existia uma festa específica, vejamos: 

E a festa da sega dos primeiros frutos do teu trabalho, que houveres semeado no campo, e a festa da colheita, à saída do ano, quando tiveres colhido do campo o teu trabalho. Também guardarás a festa das semanas, que é a festa das primícias da sega do trigo, e a festa da colheita no fim do ano. (Bíbllia, Êxodo, 23,16; 34,22).

Porquanto, fica evidente que os dízimos diferem de todos estes citados, pois não tinha caráter sacrificial, o dízimo não pode nem ser comparado as primícias. Visto que, para esta (primícias) existia uma festa específica conforme Êxodo 23,16; 34,22. Além do que, havia diferenças em um ser de caráter qualitativo, de acordo com o dicionário Aurélio (primícias = conjunto dos primeiros produtos da terra ou do rebanho), e o outro quantitativo, se referindo a decima parte de um todo.
 
Por outro lado, o dízimo especificado no Antigo Testamento instituído na Lei de Deus, deveria ser utilizado da seguinte forma:
(...) todas as dízimas do campo, da semente do campo, do fruto das árvores, são do Senhor; santas são ao Senhor. Porém, se alguém das suas dízimas resgatar alguma coisa, acrescentará a sua quinta parte sobre ela. No tocante a todas as dízimas do gado e do rebanho, tudo o que passar debaixo da vara, o dízimo será santo ao Senhor.
Disse também o Senhor a Arão: Na sua terra herança nenhuma terás, e no meio deles, nenhuma parte terás; eu sou a tua parte e a tua herança no meio dos filhos de Israel. E eis que aos filhos de Levi tenho dado todos os dízimos em Israel por herança, pelo ministério que executam, o ministério da tenda da congregação. E nunca mais os filhos de Israel se chegarão à tenda da congregação, para que não levem sobre si o pecado e morram. Mas os levitas executarão o ministério da tenda da congregação, e eles levarão sobre si a sua iniquidade; pelas vossas gerações estatuto perpétuo será; e no meio dos filhos de Israel nenhuma herança terão, porque os dízimos dos filhos de Israel, que oferecerem ao Senhor em oferta alçada, tenho dado por herança aos levitas; porquanto eu lhes disse: No meio dos filhos de Israel nenhuma herança terão. E falou o Senhor a Moisés, dizendo: Também falarás aos levitas, e dir-lhes-ás: Quando receberdes os dízimos dos filhos de Israel, que eu deles vos tenho dado por vossa herança, deles oferecereis uma oferta alçada ao Senhor, os dízimos dos dízimos". (BIBLIA, Levíticos, 27,30-32; Números 18,20-26).
Em vista disso, entende-se que este era um dízimo específico, para os sacerdotes e os levitas (descendentes da tribo de Levi), e que deveria ser entregue em local específico, assim como, os ofertantes participavam do banquete que era preparado com os dízimos, conforme transcrito:

Certamente darás os dízimos de todo o fruto da tua semente, que cada ano se recolher do campo. E, perante o Senhor teu Deus, no lugar que escolher para ali fazer habitar o seu nome, comerás os dízimos do teu grão, do teu mosto e do teu azeite, e os primogênitos das tuas vacas e das tuas ovelhas; para que aprendas a temer ao Senhor teu Deus todos os dias. E quando o caminho te for tão comprido que os não possas levar, por estar longe de ti o lugar que escolher o Senhor teu Deus para ali pôr o seu nome, quando o Senhor teu Deus te tiver abençoado; Então vende-os, e ata o dinheiro na tua mão, e vai ao lugar que escolher o Senhor teu Deus; E aquele dinheiro darás por tudo o que deseja a tua alma, por vacas, e por ovelhas, e por vinho, e por bebida forte, e por tudo o que te pedir a tua alma; come-o ali perante o Senhor teu Deus, e alegra-te, tu e a tua casa; Porém não desampararás o levita que está dentro das tuas portas; pois não tem parte nem herança contigo. Ao fim de três anos tirarás todos os dízimos da tua colheita no mesmo ano, e os recolherás dentro das tuas portas; Então virá o levita (pois nem parte nem herança tem contigo), e o estrangeiro, e o órfão, e a viúva, que estão dentro das tuas portas, e comerão, e fartar-se-ão; para que o Senhor teu Deus te abençoe em toda a obra que as tuas mãos fizerem. E as vossas sementes, e as vossas vinhas dizimará, para dar aos seus oficiais, e aos seus servos. (Bíblia, Deuteronômio 14. 22-29; 1Samuel 8,15).

Deste modo, vê-se que os dízimos sempre foram destinados como mantimentos, e servia para manter os levitas, as viúvas, os órfãos os estrangeiros e os presos que se encontravam nas cidades de refúgio, indubitavelmente, não eram reservas financeiras e não poderiam comprar ou construir templos com os dízimos que eram entregues.
 
Uma vez que, após a divisão das tribos e da terra, a tribo de Levi não ganhou herança de terra, Deus o escolheu para cuidar dos trabalhos do tabernáculo que professavam o culto a Deus, a partir de então, ficaram com a responsabilidade de transportar, montar, desmontar, preparar o culto, instruir o povo, receber as dízimas do campo, as ofertas de sacrifícios trazidas pelo povo, oferecer os sacrifícios e purificar o santuário.

E eu, eis que tenho tomado os levitas do meio dos filhos de Israel, em lugar de todo o primogênito, que abre a madre, entre os filhos de Israel; e os levitas serão meus... Disse também o Senhor a Arão: Na sua terra herança nenhuma terás, e no meio deles, nenhuma parte terás; eu sou a tua parte e a tua herança no meio dos filhos de Israel. E eis que aos filhos de Levi tenho dado todos os dízimos em Israel por herança, pelo ministério que executam, o ministério da tenda da congregação". Porque os dízimos dos filhos de Israel, que oferecerem ao Senhor em oferta alçada, tenho dado por herança aos levitas; porquanto eu lhes disse: No meio dos filhos de Israel nenhuma herança terão. (Bíblia, Números 3:12; 18:20,21,24).

Atente-se que, os pastores de hoje tem seus empregos fora das igrejas e mesmo assim, cobram e usam os dízimos, totalmente contrário as escrituras sagradas, em que a tribo de Levi não poderiam exercer outro tipo de trabalho que não fosse cuidar do tabernáculo, de todos os seus utensílios e da vida espiritual do povo, conforme escrito em (Bíblia, Deuteronômio 10.8,9) que diz, “No mesmo tempo o Senhor separou a tribo de Levi, para levar a arca da aliança do Senhor, para estar diante do Senhor, para o servir, …o Senhor é a sua herança...”. Assim, as demais tribos ficaram incumbidas de trazer e entregar ao sacerdote 10% (dízimas) de toda sua produção do campo, sejam de grãos ou animais, pois eram para manter os levitas, os órfãos, as viúvas, os estrangeiros e os presos nas cidades de refúgio, que estavam sob os cuidados de Deus que delegou essa responsabilidade a tribo de Levi.
 
Nesse ínterim, por muito tempo aconteceu dessa forma, inúmeros foram os desvios do povo, porém, o projeto de Deus estava em andamento. Ao mesmo tempo que, enviava profetas para advertirem o povo, mas infelizmente não deram ouvidos, e pela negligência destes, muitos de seus liderados acabavam tomando seus feitos como exemplos, desviavando-se das ordenanças divina, podemos vivenciar algumas das práticas errôneas ao ver a chegada de Jesus no templo:

Estando próxima a Páscoa dos judeus, Jesus subiu a Jerusalém. E achou no templo os que vendiam bois, ovelhas e pombas, e também os cambistas ali sentados; e tendo feito um azorrague de cordas, lançou todos fora do templo, bem como as ovelhas e os bois; e espalhou o dinheiro dos cambistas, e virou-lhes as mesas; e disse aos que vendiam as pombas: Tirai daqui estas coisas; não façais da casa de meu Pai casa de negócio (Bíblia, João 2, 13-16).

Observa-se que, a casa de Deus, há muito já não era tratada como lugar de adoração e reverência, pois faziam ali todo o tipo de comércio, ao ponto de Cristo irar- se, expulsando os que cometiam tais abusos.
 
Conforme Villar (2006, p. 9), o dízimo foi ordenança para o povo judeu, que receberam a terra de Canaã como herança, e que da mesma terra teriam que devolver 10% (dízima) de tudo que produzissem, diferentes da igreja de Cristo que tem por herança o céu:

O dizimista bíblico era um judeu que recebera uma herança na terra de Canaã. E dessa terra, tinha de separar todas as dízimas, tanto do grão do campo, como do fruto das árvores, do gado e do rebanho. Tinha de levar o dízimo ao lugar determinado por Deus e lá comer esse dízimo estando puro. No terceiro ano, tinha de distribuí-lo com o levita, o estrangeiro, o órfão e a viúva. Ao fazer essa entrega, tinha de recitar uma oração específica. Não podia dar do dízimo para a casa de nenhum morto, e nem dele comer estando impuro. E isso em nada se parece com o dízimo ensinado nas igrejas hoje. Qualquer outra prática diferente dessas estabelecidas por Deus é criação ou pura invencionice do homem... O dízimo bíblico é o dízimo ordenado por Deus; o dízimo praticado nas igrejas é o dízimo criado e imposto pelo homem! Não estou dizendo que ele é bom nem que é ruim; se está certo ou se está errado; se traz bênção ou não. Estou afirmando que não é o dízimo exigido por Deus. Não é o dízimo mencionado por Malaquias. (Villar, 2006, pág.9).

Portanto, fica evidenciado qual era o propósito primordial do dízimo naquela época, hoje substituído pelas oblações que os salvos por Cristo praticam.
 
Segundo Almeida e Lobão, (1867, p. 5), nos três primeiros séculos as igrejas não cobravam dízimos, viviam de ofertas voluntárias, porém, através de pregações funestas induziram o povo a voltarem a prática do dízimo, vejamos:

Nos primeiros três séculos da Igreja, viviam os bispos, presbíteros e diáconos só de oblações, que Tertuliano..., dizia serem voluntárias sem coação, Nos seguintes Orígenes, S. Cypriano. S. João Ghrysoslomo, Santo Agostinho, e outros padres, equiparando os sacerdotes da lei da graça aos do levítico; os bispos aos pontífices máximos; os presbíteros aos sacerdotes; os diáconos aos levitas; a Eucaristia ao sacrifício no templo; os nossos altares aos do templo; e pressuposta esta semelhança entraram a pregar a necessidade de pagarem os cristãos os dízimos do levítico para subsistência do estado eclesiástico. Não basta, diz o profeta dos persas, que vossas boas obras excedam as folhas das arvores, as gotas da chuva, as areias do mar, as estrelas do firmamento, a fim que elas sejam agradáveis, é preciso que o destur (o Pré) se digne aprová-las. Vós não podeis obter um tal favor, senão pagando fielmente a este guia da salvação o dízimo dos vossos bens. De vossas terras, do vosso dinheiro; em uma palavra, de tudo o que vós possuis. Se o Destur é satisfeito, vossa alma escapará aos tormentos do inferno. Vós- sereis neste mundo cumulados de louvores, e vós gozareis em o outro de um bem eterno. Os destures são os oráculos do céu. Nada lhes é oculto; e eles são os que salvam todos os homens. (Almeida e Lobão,1867, p. 5).

De acordo com Fontes, (2000, p. 679), há muito tempo não se cobrava dízimos do povo, o próprio concílio que instituiu novamente a cobrança, reconhece que este não era mais pago em sua época.  

Muito longe de a igreja cobrar dízimos naquela época, portanto, toda sua pretensão estava em ser isenta deles. O segundo Concílio de Macon, acontecido no ano de 585, que ordena que se paguem os dízimos, afirma, na verdade, que eles haviam sido pagos nos tempos antigos, mas diz também que em sua época não eram mais pagos. (Fontes, 2000, p. 679).

Como citado, os recursos que eram entregues pelos fiéis nos templos dos imperadores estariam entrando em escassez, porque o número de adeptos ao cristianismo estariam aumentando a cada dia, por isso, era necessário a criação de novas estratégias que fizessem o povo voltar a praticá-lo, evitando o empobrecimento do alto clero.
 
Para Halley (1962, p. 676), “Os ricos e os de boa vontade contribuíam conforme seu livre-arbítrio; esta coleta é entregue ao que preside e com ela atende a órfãos, viúvas, prisioneiros, estrangeiros e todos quantos estão em necessidade.”. Com isso, fica evidenciado o espírito de piedade que se via entre os Cristãos.
 
Igualmente, conforme Lyon (180 d.C., p. 243), nos primeiros séculos o povo tinha entendido o significado de viver pela Graça de Cristo, com isso, não mais devolviam os dízimos, mas sim, contribuíam com a obra de Deus de acordo com o que sentia no coração.

[...] Um só e o mesmo é o Senhor; há, contudo, o caráter próprio da oblação servil, há o próprio da oblação dos filhos, de modo que as oblações são sinal da liberdade possuída. Para Deus não há nada vão, nem sem significado ou sem motivo. Por isso, o seu povo lhe consagrava os dízimos. Mas, depois que receberam a graça da liberdade põe à disposição do Senhor tudo o que possuem, dando com alegria e generosidade não apenas as coisas de menor valor, pela esperança que têm das maiores; como aquela viúva tão pobre que pôs no cofre de Deus tudo o que possuía. (Lyon, 180 d.C., pág.243).

Ainda assim, Irineu de Lyon, eu sua principal obra (Adversus haereses, ca. 180 d.C. L. IV), apresenta os vínculos do Antigo Testamento com o Novo Testamento à luz de Cristo e o conceito de revelação progressiva de Deus ao homem por meio do Espírito Santo. Com isso, Irineu vê o Antigo Testamento como um guia que culmina na igreja cristã, confirmando que os dízimos foram necessários para tal período, mas são superados pela plenitude de Cristo.
 
Vê-se que, o povo vivia de ofertas voluntárias, pois os Cristãos tinham entendido o propósito de Deus na Nova Aliança, porém, aos homens poderosos da época isso não era bom, porque lhes causaria perda de dinheiro, e para eles, dinheiro é poder, por isso a urgência em realizar mudanças na forma do povo cultuar, para que retornassem a prática do dízimo como ordenança, revivendo assim todo o costume da lei de Moisés, agora aos salvos por Jesus.

 

Em vista disso, os templos religiosos de hoje, uma parte dos membros passam por privações, seja de alimentos, educação, segurança, lazer e até de moradias, os que se assentam nas tribunas em cadeiras acolchoadas vivem vidas luxuosas, contrastando com os muitos dos que estão lá nos assentos duros. Ainda assim, usam de palavras persuasivas como descrito na citação abaixo:

Deus promete também repreender, através do Dízimo, o demônio característico da miséria: o espírito devorador. Esse demônio tem sido o grande vilão na vida de inúmeras pessoas a face da terra. Não há um país que esteja livre dele. Até as nações consideradas de primeiro mundo estão cheias de mendigos e pessoas que vivem na mais terrível miséria, pois, a sua área de atuação é a vida financeira, causando prejuízos, desemprego, dívidas, falências, estragos nos bens e males diversos que necessitam de grande dispêndio de dinheiro (UCKG HelpCentre, 2013, p. 10).

Como se viu na citação acima, agem como na época de Cristo, tratando os desafortunados como pragas que devem ser extintas, colocam a fé no dinheiro, afirmando que os demônios só poderão ser repreendidos através do dízimo.
 
Quanto a esses, o apóstolo Paulo já adverte, dizendo:

Sede meus imitadores, irmãos, e observai os que andam segundo o modelo que tendes em nós. Pois há muitos dos quais muitas vezes eu vos disse e agora repito, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo: seu fim é a destruição, seu deus é o ventre, sua glória está no que é vergonhoso, e seus pensamentos no que está sobre a terra. Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos ansiosamente como Salvador o Senhor Jesus Cristo, (Bíblia, Filipenses 3, 17-20).

Para Valdomiro Filho (2006, p. 35), se a prática de abdicação do dízimo fosse realmente colocada em prática, com certeza veríamos resultados impressionantes, capaz até de mudar a vida de milhares de pessoas:

[...] pois abdicando desse tipo de cobrança, poderá ocorrer duas coisas: a) Se a igreja pastoreada é de fato Igreja de Deus, a contribuição será na medida da necessidade. b) Se a igreja pastoreada, contribui por imposição, haverá uma queda brusca na arrecadação, podendo inclusive quebrar a organização religiosa chamada igreja. No primeiro caso as lideranças consequentemente viverão uma vida mais modesta, pois usufruirá das arrecadações, o necessário para manter-se, e se não serve a Mamom, ficarão felizes com isso, pois serão irmãos dentre os irmãos. No segundo caso, por confiar numa contribuição por coação que com a liberação não ocorreria os líderes se desesperarão. Primeiro porque verão sua “qualidade vida” diminuírem, segundo porque pode haver tantos compromissos assumidos de gabinete que faliria a organização cristã a que seja vinculado (Valdomiro Filho, 2006, p. 35).

Também, conforme Tozer (1897 - 1963), o inimigo percebeu que, a fé atacada de fora só fazia aumentar a cada dia o número de convertidos ao cristianismo pelos mártires, que mesmo em situações difíceis, não negavam, morrendo em defesa das boas novas, agora a estratégia do inimigo é outra, se infiltrar e atacar de dentro, pois se torna mais fácil, disseminar o engano modificando o evangelho verdadeiro.

Nossa fé evangélica está sendo hoje atacada de muitas direções diferentes. No mundo ocidental, o inimigo repudiou a violência; ele não vem a nós com a espada e o porrete; vem agora sorrindo, trazendo presentes. Eleva os olhos para o céu e jura que crê também na fé possuída por nossos pais; mas seu verdadeiro propósito é destruir essa fé, ou, pelo menos, modificá-la até ao ponto de não mais conter o elemento sobrenatural que antes continha". (Tozer, 1897 - 1963).

Como descrito, os falsos profetas disfarçam-se de ovelhas e tem enganado a muitos com palavras persuasivas, passando-se por ministros de justiça, se empenhando muito, porque bem sabe que o tempo está curto.

Em contraposto, líderes compromissados com a palavra de Deus devem investir no aprendizado e ensino, pois somente desta forma trará de volta o fruto do Espírito, que estão em Gálatas 5.22,23, “...amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra estas coisas não há lei.”. Pois, não há melhor forma de ofertar senão a oferta voluntária, que, além de não limitar o ofertante, não deixa ninguém em falta e sem estar carregando consigo fardo pesado, se o próprio Jesus afirma: “Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo e leve.” (Bíblia, Mateus 11:30).

2.2 METODOLOGIA
 
A pesquisa bibliográfica é um conjunto de ações que requer leitura de livros físicos, artigos disponibilizados na internet, entre outros, e esses recursos são um leque de informações a serem investigadas e analisadas com foco principal no objetivo, partindo da compreensão que a pesquisa bibliográfica se evidencia de obras já existentes. Para Cordeiro (2014, p. 123), a pesquisa bibliográfica é:

Um tipo de pesquisa obrigatório a todo e qualquer modelo de trabalho científico. É um estudo organizado sistematicamente com base em materiais publicados. São exigidas a busca de informações bibliográficas e a seleção de documentos que se relaciona com os objetivos da pesquisa. Entre os materiais que podem ser fontes de informação e conhecimento, os mais utilizados são os livros, revistas (periódicos), textos da internet, documentários, fitas de vídeo, DVDs, entre outros.

A leitura de diversos livros relacionados ao tema se concretizou a partir de visitas na biblioteca do Centro Universitário Internacional UNINTER, a importância da biblioteca não pode ser descartada, pois é através desta que o acadêmico aprende a investigar e aprender novas estratégias de pesquisa.
 
Sabendo-se que, para consolidar a pesquisa bibliográfica a leitura é o elemento base para sua constituição, foi imprescindível consulta de artigos disponibilizados na internet utilizando o título e palavras-chaves, para a escolha dos artigos, para estudar e fazer anotações. Ainda assim, antes desta procura por artigos, se fez necessário uma análise do site, para este processo, as orientações do livro Trabalho de Conclusão de curso foi essencial para a identificação de algumas bibliotecas virtuais de confiança.


3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Algumas pessoas quando procuram um templo religioso, na sua maioria, estão fugindo dos problemas que a vida as acabou proporcionando, por isso, saem em busca de refúgio espiritual, e abaladas emocionalmente, acabam caindo nas garras dos lobos devoradores, os pseudos pastores, estes, tem como principal objetivo a deturpação da palavra de Deus, corrompendo o máximo de pessoa que puderem. Esses locais não funcionam como lugares de acolhimento espiritual, nesses locais eles se exaltam, adoram o deus do dinheiro, que é quem predomina, lá se aplica os dízimos como obrigatoriedade, tiram tudo o que podem dos necessitados, como gastos com festividades do templo, com ornamentações, viagens, e além de cobrarem os dízimos, cobram também ao povo que leve mais dinheiro para ajudar  os irmãos necessitados, além das reformas e produtos de limpeza que os fiéis é quem compram do próprio bolso, pois tudo isso fica por conta dos frequentadores, ou seja, não estão sendo aplicados os dízimos que são entregues no seu real propósito. Pois sabemos que, órfãos, viúvas, estrangeiros e os que estão nas prisões, atualmente estão sob a responsabilidade do Estado, percebe-se, que todos esses custos deixaram de ser atendidos pela igreja como acontecia há séculos, hoje todas as aposentadorias e pensões das viúvas e órfãos são custeados pelo INSS, os presidiários vivem custeados pelo Estado. 

Pois bem, nessa breve explanação deu para perceber o que estão fazendo com o cristianismo hoje, onde não há preocupação com os necessitados e muito menos com a propagação do evangelho.

Em suma, não é, nunca foi e nunca será o evangelho da Cruz de Cristo, ao contrário, são lobos devoradores em peles de cordeiros, arrancando até a lã das ovelhas para manter seus impérios aqui na terra, de onde nunca sairão, até serem queimados no lago de fogo, o empenho e a preocupação deles é corromper o evangelho, deixando necessitados desassistidos, para que morram sem serem alcançados pela igreja verdadeira de Cristo, fundada com o sangue derramado na cruz do calvário.
 
De fato, a preocupação de Jesus nunca foi para as coisas desta terra, mas sim para todas as vidas que precisavam ser salvas para que voltem para Deus, foi através de seu sangue derramado, que foi pago o preço por cada um de nós, por isso, devemos imitá-lo, assim como fez os apóstolos, onde a única preocupação era levar ao conhecimento do maior número de pessoas que pudessem, a mensagem da cruz.
 
Atualmente, a oferta não é utilizada para ajudar os necessitados, ao contrário, hoje compram-se veículos para os líderes, imóveis, viagens e várias outras coisas, não direcionam para onde deveria ser investido, que é nas obras de assistencialismo.
 
Por isso, devemos entender que os dízimos entregues no templo, era para a sobrevivência dos descendentes da tribo de Levi, dos órfãos, das viúvas, dos estrangeiros e daqueles que se encontravam nas cidades refúgio, que também eram atendidos com esses dízimos. No entanto, por causa destes acontecimentos, Jesus veio dar a vida por todos nós, porque outra aliança precisava ser feita para que pudesse nos alcançar.
 
Diante do exposto, antes de entregar seu dinheiro nos templos, primeiramente olhe no meio dos seus e na sua comunidade se há algum necessitado, para que seu amor pelo próximo seja ali demonstrado com suas ações, pois não há melhor forma de salvar uma alma que, antes de tudo contribuir com sua sobrevivência, sabemos que este deveria ser o papel principal de todo Cristão. O próprio Jesus quando disse em Mateus 25.35,36 “Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e foste me ver”.
 
Portanto, hoje vemos uma distorção da palavra de Deus, onde o foco principal é o aumento das arrecadações e das contas bancárias recheadas, que só atendem a eles mesmos, que não tem compromisso com a verdade, explorando os pobres e necessitados com filosofias vãs e sermões vazios, que têm servido tão somente para constranger os ouvintes, com palavras persuasivas, onde o foco é o dinheiro, frases como: “Aquele que não paga o dízimo não vai ser salvo, ele é ladrão”; “todo aquele que não entrega o dízimo na igreja será amaldiçoado, o devorador vai entrar na sua casa e vai acabar com tudo”; “O dízimo é uma dívida que vocês têm com Deus e aquele que não pagar não poderá ser salvo”, com certeza, estes ensinamentos são heresias e todos aqueles que agem dessa forma nunca conheceram o verdadeiro Cristo.
 
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¹ Graduado em Teologia pelo Centro Universitário Internacional - UNINTER (2016-2019). Graduando em Direito Pelo Centro de Ensino Superior de Ilhéus - Faculdade de Ilhéus (2019-2024). Trabalho de Conclusão de Curso.
 
² Docente e orientadora do Centro Universitário Internacional – UNINTER.