CONDIÇÕES DE TRABALHO DOCENTE E O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM: UM ESTUDO DE CASO

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.13949364


Adriele Freire Monteiro1
Adriana Ziemer Gallert2


RESUMO
A presente pesquisa teve como objetivo analisar a relação entre condições de trabalho docente e a prática pedagógica realizada com os alunos, trazendo a compreensão de uma professora sobre essa relação. Buscou-se a aproximação da subjetividade de uma professora da rede pública de Palmas– TO, que leciona nas séries finais do Ensino Fundamental. Foram utilizados os pressupostos teórico-metodológicos da Epistemologia Qualitativa proposta por González Rey para o estudo da subjetividade. Os procedimentos metodológicos utilizados foram observações em sala de aula e entrevista individual. Observou-se que as condições de trabalho interferem nas práticas da professora e mas essa compreensão depende da forma como ela vive e entende o seu contexto.
Palavras-chave: Condições de trabalho; subjetividade; prática pedagógica.

ABSTRACT
This research aimed to analyze the relationship between teaching working conditions and the pedagogical practice carried out with students, bringing a teacher's understanding of this relationship. We sought to approach the subjectivity of a public school teacher in Palmas – TO, who teaches in the final grades of Elementary School. The theoretical-methodological assumptions of Qualitative Epistemology proposed by González Rey were used for the study of subjectivity. The methodological procedures used were classroom observations and individual interviews. It was observed that working conditions interfere with the teacher's practices, but this understanding depends on the way she lives and understands her context.
Keywords: Working conditions; subjectivity; pedagogical practice

INTRODUÇÃO

Atualmente os professores vivem uma complexa realidade no trabalho docente. Aspectos como baixo salário, desvalorização social e precárias condições de trabalho estão presentes em seu contexto de trabalho e influenciam no processo de ensino e aprendizagem. A partir dessa realidade a pesquisa pretende investigar qual é a relação existente entre as condições de trabalho dos professores e a prática pedagógica que realizam com seus alunos, buscando entender a compreensão do docente sobre essa questão.

O tema condições de trabalho se justifica pela questão de que ele é um dos principais tópicos que aparecem em reivindicações dos professores e pela desvalorização social em que os professores estão vivendo. Objetiva analisar a relação entre as condições de trabalho dos professores e a prática pedagógica que realizam com seus alunos.

Para atingir o objetivo proposto a pesquisa fundamentou-se na Teoria da Subjetividade proposta por González Rey (2003), com o objetivo de identificar a subjetividade do professor e assim entender como se dá a relação entre as condições de trabalho do professor e sua prática pedagógica. Para o estudo da subjetividade, utilizou-se os pressupostos teórico-metodológicos da Epistemologia Qualitativa (GONZÁLEZ REY 2002) que valoriza o sujeito na produção de informações na pesquisa.

A pesquisa foi realizada em uma escola da rede pública de ensino em que foi acompanhada uma professora das séries finais do ensino fundamental (6° ao 8° ano, no caso desta escola). Como instrumentos para a pesquisa foram feitas observações em sala de aula, entrevista, aplicação do completamento de frases e uma proposta de redação para a partir deles entender quais e como são as condições de trabalho que afetam o professor em sua didática.

Teoria da Subjetividade

A pesquisa fundamentou-se na Teoria da Subjetividade de Fernando González Rey (2003) no sentido de chegar-se à subjetividade individual e social do professor acompanhado e entender a relação entre as condições de trabalho desse professor e o impacto sobre sua subjetividade e sua forma de trabalho.

A subjetividade, segundo González Rey (2003, p. 202) “é um sistema complexo produzido de forma simultânea no nível social e individual”. Dessa forma, a subjetividade constitui o sujeito e o sujeito é constituído por ela de acordo com suas vivências individuais e sociais, ou seja é uma relação indivisível entre sujeito e sociedade.

Nesse sentido, subjetividade individual é produzida em espaços sociais de forma única e a subjetividade social é resultado da relação entre os espaços sociais e os significados e sentidos atribuídos a eles, de forma que o sujeito se constitui nessa relação entre o social e o individual.

No caso da escola, Gonzalez Rey (2003, p. 203) afirma que à subjetividade social dela se integram elementos de outras regiões da subjetividade social como costumes, raça, gênero, entre outros. Com esse enfoque é possível estudar como se dá a relação entre as condições de trabalho do professor e a sua prática pedagógica.

Quando se fala em condições de trabalho, pensa-se logo em infraestrutura, mas condições de trabalho são muito mais que isso. Os professores sofrem com baixos salários, condições inadequadas de infraestrutura e equipamentos, falta de conforto e condições adequadas de trabalho (SORATTO & OLIVIER-HECKLER, 1999). Segundo Gatti, Barreto & André (2011) todos esses fatores interagem nas realidades das redes escolares e estão inter-relacionados com as condições de aprendizagem escolar e o desempenho dos estudantes.

Além dessas condições há discussões sobre a formação do professor, que inclui formação básica e continuada e que segundo Soares (2012) deve se pautar na preparação para o enfrentamento das várias situações que o contexto escolar apresentar.

Em pesquisa feita por Brzezinski e Garrido (2001), sobre a influência das condições de trabalho dos professores nas suas práticas as autoras afirmam que

Os processos de preparação profissional e formação pessoal, nos quais os professores vão construindo seus conhecimentos, são inseparáveis e que a construção do saber é influenciada pelas condições institucionais de trabalho, bem como pelo modo singular pelo qual cada um construiu a sua identidade profissional em interação com suas experiências de vida. (BRZEZINSKI, GARRIDO, 2001, p.93)

Outro fator que aparece muito nas condições de trabalho é a desvalorização social do professor que pode ocorrer por diversos motivos, como mostra Lemos (apud SOARES, 2012, p. 40)

Sentem-se desvalorizados em virtude de uma suposta perda de autoridade diante dos alunos, da frustração decorrente da falta de reconhecimento do trabalho, da perda da retribuição simbólica decorrente do exercício profissional, do uso do tempo ou da falta dele para atividades que consideram importantes, das recompensas individuais como, por exemplo, melhores salários e progressão funcional, da perda gradativa de uma autonomia profissional.

Para Soratto e Pinto (1999, p. 282) “o fator nocivo do trabalho não está na dedicação, no empenho, mas nas condições, na organização e relação com o trabalho”, evidenciando, dessa forma, que as condições de trabalho influenciam na saúde do profissional e não simplesmente o trabalho em si.

Não é preciso pesquisar muito para saber a importância das condições de trabalho para o desempenho do profissional, basta lembrar que elas são, junto com a questão salarial, as principais reivindicações feita pelos professores. Até porque no caso das escolas públicas essa categoria “depende do poder público, dos governos de estados e municípios, para a definição de seus salários e carreiras, bem como para a implementação de infraestrutura física às redes de ensino e apoios pedagógicos” (GATTI, BARRETO & ANDRÉ, 2011, p. 141).

Além disso, segundo Soares (2012, p. 14) “sem boas condições para desenvolver seu trabalho, o professor poderá sentir-se desmotivado com seu ofício, desvalorizado diante da sociedade e sua atuação não será satisfatória”, e consequentemente a qualidade da educação será afetada.

De acordo com Soares (2012), as condições de trabalho variam de acordo com o tipo de escola (pública ou privada), com o segmento escolar (educação infantil, ensino fundamental, ensino médio ou ensino superior) e da mesma forma pode variar o modo como o professor percebe e representa sua profissão e relaciona a qualidade de seu trabalho com as condições às quais está sujeito.

Relacionando esse dado com a teoria da subjetividade de González Rey, pode-se afirmar também que o que é considerado bom ou ruim pode variar de acordo com as opiniões, experiências e conhecimento que cada sujeito ou grupo possui sobre determinado fato. Corrobora com o conceito de configuração subjetiva, que segundo González Rey (2003. p. 220) “articulam-se de forma permanente com as diferentes configurações da subjetividade social que acompanham as ações individuais do sujeito”. Ação essa que se produz no social, ou seja nas experiências e vivências e se manifesta na subjetividade social da pessoa e em seu meio. A configuração subjetiva, segundo González Rey (2003) é ativa e está em movimento, ou seja, em transformação.

METODOLOGIA

A pesquisa fundamentou-se nos princípios da Epistemologia Qualitativa proposta por Fernando González Rey (2002), que a propõe como método para estudar a subjetividade.

González Rey (2002), propõe a Epistemologia Qualitativa, uma forma de produção de conhecimento que possui como princípios o caráter construtivo-interpretativo das informações, o processo dialógico e a atenção ao estudo dos casos singulares sendo que foi nesse enfoque que se fundamentou a pesquisa.

O caráter construtivo-interpretativo estabelece a importância do lugar do investigador e do pesquisado como produtores de pensamento e que o processo de construção do conhecimento é um processo teórico. O processo dialógico e interativo é essencial para a produção de conhecimento e ele valoriza os momentos informais da pesquisa para a produção do conhecimento. O caso singular, vê o sujeito como forma única de subjetividade e tem valor de generalização para a pesquisa e construção teórica da subjetividade.

A pesquisa com o viés da Epistemologia Qualitativa permite o estudo do momento subjetivo dos diferentes processos e formas de organização subjetiva associados com a educação (GONZÁLEZ REY, 2001).

O método de produção de informações utilizado inicialmente foi uma revisão bibliográfica por meio de livros, artigos científicos e internet, para levantar maiores informações sobre o tema proposto na perspectiva da Teoria da Subjetividade e da Epistemologia Qualitativa de Fernando González Rey.

Os instrumentos utilizados para atingir o objetivo foram os seguintes: observações feitas em sala de aula com anotações em um caderno de observação e elaboração de relatório de observação para posterior análise; uma entrevista semi-estruturada composta por 15 questões; o completamento de frases proposto por González Rey (2010), e uma proposta de redação em que se pedia que o professor registrasse suas reflexões, emoções e sentimentos sobre sua vida profissional em relação as suas atuais condições de trabalho.

Primeiramente foram feitas as observações, um total de 5, depois foi feita a entrevista com a professora e como era preciso ser em um local silencioso e sem muito movimento foi feita atrás da escola. Logo em seguida foi aplicado o completamento de frases com 75 frases curtas e por último foi entregue a proposta de produção de texto para ser devolvida uma semana depois. Vale ressaltar que todos esses instrumentos tiveram o objetivo de levantar indicadores sobre como a professora sente e entende as suas condições de trabalho e compreender sua subjetividade.

A pesquisa foi realizada em uma escola pública municipal localizada na região sul de Palmas - TO, que recebe alunos do 1° ao 8° ano do ensino fundamental. A escola possui sala de professores dotada de armários e três computadores; quadra coberta; biblioteca e laboratório de informática.

Foi acompanhada uma professora que dá aula para as séries finais do ensino fundamental (6° ao 8° ano, no caso desta escola) de história, geografia e artes. para manter o sigilo de sua identidade ela será chamada pelo nome fictício de Ana. Esta assinou um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A instituição de ensino foi contactada, e a direção e coordenação da mesma orientada acerca do objetivo da pesquisa, para assim autorizar a realização da pesquisa na escola.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A professora Ana relatou na entrevista que atua na área da educação há 23 anos, sendo que à 2 nessa escola e está aposentada pelo estado por tempo de contribuição. .

Perguntada sobre as condições de trabalho que a professora considera ideais para sua profissão, ela relatou:

(...) salas arejadas, climatizadas, com uma boa biblioteca, com um bom laboratório, com pessoas competentes em cada setor, que e isso aqui às vezes é empecilho, às vezes tem e é empecilho, porque não dá pra você estar numa sala e ir preparando a biblioteca pra receber, não dá pra deixar uma sala e ir preparar o laboratório, às vezes a gente passa lá deixa, diz o que quer antecipadamente pra pessoa, mas nem sempre isso funciona, então são essas condições mesmo e assim é...eu acho que deveria ter sempre, sempre, sempre capacitações e essas capacitações elas serem de uma forma organizada porque o que a gente vê aí são minicursos que às vezes não tem atrativo nenhum, não tem novidade nenhuma é só pra dizer que tá fazendo e aí isso revolta a gente, é uma chateação que a gente carrega muito e a gente denuncia sempre isso em movimentos, né, e outra coisa precisaria também valorizar mais o profissional. Nós profissionais da educação somos muito desvalorizados na questão salarial, não vem me dizer que isso não interfere porque interfere sim, né, deveria ter uma remuneração melhor, né, você deveria ter...mas, é...no aspecto geral de estrutura ainda tá muito a desejar (...)

Nessa declaração da professora, percebe-se quais condições de trabalho que para ela são importantes e que deixam a desejar em seu ambiente de trabalho. Um dos aspectos mais citados por ela nesse trecho e em outros da entrevista foram as condições de estrutura física como a biblioteca e o laboratório. Na biblioteca, segundo ela, faltam materiais, acervo e sala de leitura para os alunos e ela não dá o suporte necessário aos professores, que às vezes querem fazer algo diferente, indicar leituras para os alunos. Da mesma forma é o laboratório que, segundo ela possui no máximo 8 computadores e não dá para uma turma. A professora também relatou que é necessário estar sempre inovando e sem essas condições é muito difícil alcançar esse objetivo.

Essas condições interferem de maneira significativa no processo de ensino e aprendizagem do aluno e qualidade do trabalho do professor como discutido por Gasparini, Barreto e Assunção (apud SOARES, 2012, p. 36), quando afirmam que “a precariedade da estrutura física das escolas e ausência desses recursos inviabilizam o trabalho do professor”.

A professora relata também que na escola há apenas um datashow para a escola inteira e é uma disputa quando os professores precisam usar esse equipamento e para ela é difícil não ter esse suporte, esse material de apoio, pois dessa forma a qualidade de ensino é afetada.

Em uma das observações em sala de aula a professora comentou sobre sua tentativa de dar uma aula diferente passando um filme para os alunos, mas percebeu que a televisão não possuía controle e não teve como passar o filme e foi uma frustração, porque para ela esse é um suporte que o professor precisa para dar aula principalmente na sua disciplina que é história. Posteriormente na entrevista ela também comentou sobre a falta do controle da tv. Esse episódio da observação evidencia aspectos da Epistemologia Qualitativa de González Rey, o aspecto da construção de informação nas situações informais, pois esse relato foi feito em dois momentos: quando estávamos trocando de sala e quando estávamos em uma sala e os alunos haviam saído para pegar o lanche.

Ainda no primeiro trecho da entrevista, ela cita a questão salarial e relaciona com a valorização do professor, ou seja, ela entende que ter um bom salário é valorizar o profissional docente, o que condiz com a literatura sobre condições de trabalho do professor, que afirma “a valorização da profissão docente inclui dimensões como salário digno, boas condições de trabalho e formação docente satisfatória (FONTINELES, apud SOARES, 2012, p. 59).

Nesse mesmo trecho a professora cita a necessidade e importância da capacitação dos professores, que segundo ela são sem atrativos e insatisfatórias, mas ao mesmo tempo são de suma importância para o professor, pois como afirma Soares (2012 p. 43), “com uma formação limitada a correntes teóricas e uma visão simplista e distante dos problemas sociais, o professor sente-se desarmado diante das novas demandas que surgem no cotidiano de trabalho”. Ou seja a qualificação é uma forma de preparar o professor para prática profissional e se essa formação continuada é insatisfatória causa desmotivação nos profissionais e diminuição da qualidade do ensino.

Outro aspecto que aparece nos instrumentos é sobre o investimento em políticas públicas na educação, que para ela faz toda a diferença, pois está relacionado com a qualidade da educação. Ela entende que questões, que ela chamou de “politiqueiras” em que pessoas se beneficiam de aliança política conseguindo empregos na base da amizade é um empecilho na educação, como mostra o trecho da entrevista,

(...) as ingerências políticas, as ingerências politiqueiras, né, porque as políticas elas são boas, a política da educação a política, então, mas as politiqueiras, né, isso de interferir colocando pessoas não olhar pra o aspecto de...ter as condições melhores pra se dar aula, é de ter sala mais confortáveis, né, de ter...esses empecilhos são muito chatos, que poderia, a gente sabe que poderia ser melhor, ter uma biblioteca interessante, ter um laboratório que funcione, a gente tem, mas você sabe as condições que tem, né (...)

Ela relata também sobre a corrupção e o desvio de recursos da educação, que isso os professores sabem e lutam por melhores condições e qualidade de ensino, inclusive ela, que neste ano já participou das duas mobilizações por melhores condições de trabalho e salários dignos, como mostra o trecho:

“(...) mas a gente reclama você já viu que nós já fizemos muitas mobilizações aí, esse ano por exemplo já fizemos duas, então na educação já passei por muitas, muitas mobilizações denunciando, é falando das condições de trabalho, a questão do professor da saúde do professor, tudo isso.”

Essa questão mostra a subjetividade individual da professora, que estando insatisfeita com alguns aspectos da sua profissão luta para conseguir melhorias, pois ela quer sempre o melhor para si, crescer e realizar suas metas, inclusive no trabalho.

Ainda sobre as condições de trabalho a professora comenta sobre as salas lotadas. Ela relatou em um momento das observações e na entrevista, que as turmas possuem entre 35 e 40 alunos quando o indicado é que sejam 25. Essa característica é comum em escolas públicas e pode acarretar sobrecarga de trabalho ao professor.

Apesar de todas essas condições a professora revela que o que gosta na profissão e o que a motiva é a questão da rotina não ser previsível, de ter sempre novidades, principalmente quando os alunos participam, como mostrado no trecho da entrevista:

“A sala de aula ela não é uma rotina previsível, ela é previsível, mas há muita (risos) assim, coisa que acontece que são imprevisíveis não fica aquela rotina chata, pra mim isso é algo muito bom porque me motiva muito porque cada dia é um dia, tem dia que a sala rende outro dia não rende outro dia é muito bom tem novidades que os próprios alunos comentam, então é uma diversidade muito grande, então lidar com pessoas, estar lidando com mentes com....e cada um tem uma novidade tem uma coisa pra comentar é muito bom nesse aspecto.”

Nas observações esse aspecto também foi notado, pois sempre que os alunos participavam, a aula se tornava muito interessante e a professora conversava bastante com eles.

Em outro trecho da entrevista ela reafirma o que gosta na docência e afirma que precisa estar mudando a metodologia para ter um melhor desempenho em sala de aula e sair da monotonia, pois é uma exigência da sala de aula,

“Porque você vai adequando aquela que realmente vai melhorar, né, muitas vezes você tem que tá mudando você tem que tá inovando, você tem que tá criando tem que tá...por isso que eu gosto da sala de aula ela é criativa ela não é aquela rotina maçante a própria situação faz você se virar se não, não anda, aí vira guerra, né, se você quiser criar guerra você ficar aquela múmia sempre na frente, aí você vai comprar briga, guerra e não funciona”

Esse aspecto é corroborado por Wenzel e Tenfen (apud, CRUZ et al, 2010 p. 152) que afirmam que “ao avaliar o que julga essencial em termos de transmissão de conhecimento, o professor tem a liberdade, em sala de aula, de administrar as atividades de acordo com seu senso crítico e sua criatividade.”

Perguntada sobre sua visão em ralação às condições de trabalho e o processo de ensino e aprendizagem do aluno, Ana diz que o professor trabalha com o mínimo e lamenta a falta de recursos. Ela também revela um aspecto de sua subjetividade como professora: o professor como motivador dos alunos.

“ (...) você trabalha com o mínimo do mínimo e há uma...há uma pobreza (...), o que a gente pode é motivar esse estudante a buscar em outras fontes outros locais outros lugares, mas a gente procura trabalhar dessa forma, mas fica uma pobreza aí no processo de ensino e aprendizagem a gente poderia ter muito mais recurso, que poderia motivar porque ninguém ensina a gente motiva, né, nós orientamos. (...) nós somos aqui apenas orientadores. Graças a Deus essa história de é o professor quem sabe tudo, essa coisa já acabou. Nós somos só orientadores dentro da educação.”

Esse trecho revela a visão que a professora Ana tem da sua profissão e sua responsabilidade como docente que pode ter sido produzida ainda quando acadêmica e conforme suas experiências profissionais construindo assim sua subjetividade.

Ao se ver como orientadora ela assume seu papel de contribuir para o futuro dos alunos e para atingir esse objetivo ela acredita que é necessário despertar os sonhos deles. Essa questão condiz com os motivos que levam as pessoas a escolherem a profissão da docência segundo Tartuce, Nunes e Almeida (apud SOARES, 2012, p. 34), que é “a possibilidade de ensinar, contribuindo com a sociedade na transmissão de conhecimentos”.

Percebe-se assim que para ela é muito importante conviver bem com seus colegas de profissão e trabalho. Nota-se que essa relação a motiva no trabalho e serve como apoio para enfrentar as dificuldades. Isso revela um lado da educação que é importante e a professora incorporou bastante que é a questão de que a educação é uma área que se trabalha com pessoas, por isso o professor precisa ter um bom relacionamento interpessoal.

CONCLUSÕES

Diante do exposto e com os instrumentos utilizados na pesquisa, foi possível identificar as condições de trabalho com as quais a professora Ana convive. Podemos concluir que há uma relação entre a subjetividade da professora e suas condições de trabalho a partir do momento em que ela afirma que o que pode fazer é motivar os alunos, já que as condições de trabalho não favorecem totalmente o processo.

As condições físicas também influenciam bastante, juntamente com a falta ou a pouca quantidade de materiais de apoio que o professor tem acesso. Outro fator que apareceu como importante para a valorização do professor e consequente desempenho foi a questão salarial que não condiz com o esforço empreendido pelo professor para a realização de sua atividade.

As salas lotadas também são uma realidade, principalmente em escolas públicas, o que também interfere no desempenho do professor que precisa fazer um esforço maior para conseguir dar aula.

Verificou-se também a necessidade de capacitação de qualidade aos professores, porque a capacitação existe, mas muitas vezes não é satisfatória e não condiz com a realidade do professor. E como bem verificado pela professora a falta de investimento na educação é que possibilita a existência de muitas dessas condições, pois os recursos existem, mas às vezes não chegam até a escola. E se o que se quer é uma educação de qualidade é preciso investir tanto em estrutura como em pessoal.

A partir do exposto, vê-se a necessidade de investimento das autoridades políticas na educação, principalmente na estrutura física, pois sem condições favoráveis fica muito difícil para o professor conseguir dar um boa aula e assim a educação perde em qualidade. Além disso há a necessidade dos professores terem um salário melhor de forma que isso seja mais um motivador para a realização de seu trabalho.

Em relação a subjetividade, percebeu-se que a professora, mesmo com a limitações da escola, tenta dar uma boa aula, mas reconhece as dificuldades, corroborando com a conclusão de que as condições de trabalho interferem no processo de ensino e aprendizagem.

Isso ocorre, talvez, porque a escola não consegue acompanhar as inovações tecnológicas, pois se isso ocorresse seria um motivador a mais aos professores a principalmente aos alunos. E é um dos aspectos que poderá ser tema de outros trabalhos sobre a educação: o desenvolvimento tecnológico e sua aplicação na escola. Seria um tema bastante interessante que revelaria a relação entre metodologia de ensino e aprendizagem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS

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SOARES, Juliana Gomes da Silva. Representações sociais das condições de trabalho do professor da escola pública partilhadas por estudantes de licenciatura. Dissertação (Mestrado em Educação) Universidade Federal do Piauí, Teresina, 2012.


1 Bacharel em Psicologia e Especialista em Avaliação Psicológica. E-mail: [email protected]

2 Pedagoga, Doutora em Educação. E-mail: [email protected]