AUTISMO E A SELETIVIDADE ALIMENTAR

PDF: Clique Aqui


REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10982840


Laudicéia Rodrigues Alves1


RESUMO
O Autismo ou Transtorno do Espectro Autista (TEA) vem sendo estudado desde o ano de 1943, impulsionado pelas pesquisas realizadas por Leo Kanner, o qual diferenciou o TEA dos demais transtornos mentais a que era comparado à época. Desde então, descobertas inovadoras vêm sendo realizadas no comportamento do autista, a mais recente e ainda em fase de estudo, está relacionada à alimentação. Nem todos que se dedicam a estudar sobre o TEA apoiam essa nova vertente envolvendo a alimentação do autista e sua corrente melhora no comportamento. Claudia Marcelino, uma mãe de autista, corrobora para essa nova fase de estudos com sua experiência de vida, ao obter melhoras e progressos no desenvolvimento intelectual de seu filho com a mudança alimentar. Já para Salvador, essa interferência na alimentação do autista pode complicar ainda mais a sua saúde, principalmente a saúde física, que pode sofrer com problemas como a anemia e desnutrição, sendo que a seletividade alimentar presente na grande maioria dos autistas dificulta na inserção de novos alimentos. O objetivo desta pesquisa é, portanto, analisar os principais fatores que podem ser considerados causadores da seletividade alimentar em crianças com TEA, ao mesmo tempo destacar quais os principais problemas de saúde podem ser causados e, enfim conhecer as principais formas de tratamento utilizadas em cada caso, de acordo com a visão de Salvador. Para a elaboração desta pesquisa, os meios utilizados são o documental e o bibliográfico, tendo como base as produções científicas dos últimos doze anos, usando por fonte os dados da Rede de Pesquisa do Google, o Google Acadêmico e, ainda, o livro, “Seletividade Alimentar” Manual de orientação para pais e profissionais de Regiane M. S. Salvador (2022). Nota-se que os problemas causados pela seletividade alimentar, são um desafio para os pais, profissionais da saúde e, para as próprias crianças autistas que apresentam seletividade alimentar. Enquanto se percebe que a seletividade, não é um caso isolado na vida do autista, e que, a saúde da criança autista e com seletividade alimentar, precisa ser observada de perto, para não gerar problemas de saúde ainda mais graves, portanto é preciso, que a família esteja completamente envolvida.
Palavras-chave: Autismo. Seletividade alimentar. Saúde.

ABSTRACT
Autism or Autism Spectrum Disorder (ASD) has been studied since 1943, driven by research carried out by Leo Kanner, who differentiated ASD from other mental disorders to which it was compared at the time. Since then, innovative discoveries have been made in the behavior of autistic people, the most recent and still in the study phase, is related to food. Not everyone who dedicates themselves to studying ASD supports this new aspect involving the autistic person's diet and its current improvement in behavior. Claudia Marcelino, an autistic mother, corroborates this new phase of studies with her life experience, as she achieved improvements and progress in her son's intellectual development with dietary changes. For Salvador, this interference in the autistic person's diet can further complicate their health, especially their physical health, which can suffer from problems such as anemia and malnutrition, and the food selectivity present in the vast majority of autistic people makes it difficult to insert new foods. The objective of this research is, therefore, to analyze the main factors that can be considered to cause food selectivity in children with ASD, at the same time to highlight which main health problems can be caused and, finally, to know the main forms of treatment used in each case, according to Salvador's vision. For the elaboration of this research, the means used are documentary and bibliographic, based on the scientific productions of the last twelve years, using data from the Google Search Network, Google Scholar and, also, the book, “ Food Selectivity” Guidance manual for parents and professionals by Regiane M. S. Salvador (2022). It is noted that the problems caused by food selectivity are a challenge for parents, health professionals and for autistic children themselves who have food selectivity. While it is clear that selectivity is not an isolated case in the life of autistic people, and that the health of autistic children with food selectivity needs to be closely observed, so as not to generate even more serious health problems, it is therefore necessary, that the family is completely involved.
Keywords: Autism. Food selectivity. Health.

INTRODUÇÃO

O autismo vem sendo objeto de estudo desde 1943, quando Kanner realizou os primeiros testes em crianças que apresentavam dificuldades de aprendizagem. Apesar do vasto campo de pesquisa que este tema oferece, os estudos nessa área são considerados poucos, mas ainda assim tem contribuído muito para o meio científico. É através das pesquisas realizadas até os dias atuais que pôde-se descobrir que o autismo é causado por uma falha no neurodesenvolvimento, o que resulta em problemas variados segundo escreve Maira Gaiato em seu livro SOS Autismo.

Através de estudos sobre o TEA, nota-se que a alimentação é em muitos casos o maior causador de problemas, seja devido ao fato da criança autista ter problemas de saúde pela alimentação incorreta ou pela seletividade alimentar, que dificulta muito na hora de introduzir novos alimentos em sua dieta diária, com base no livro de Regiane M. S. Salvador.

O tema Seletividade Alimentar da criança autista surgiu da extensão de trabalhos anteriores apresentados como conclusão de curso, na área de Segunda Licenciatura em Pedagogia e Pós-graduação em Formação de Professores do IF Goiano – Campus Avançado de Ipameri, nos anos de 2021 e 2023.

A autora escreve sobre seletividade alimentar no intuito de orientar pais e profissionais em sua conduta frente às dificuldades na hora de inserir novos alimentos na dieta da criança, seja ela autista ou não. Segundo a autora, toda criança em algum momento da sua infância pode apesentar algum tipo de seletividade, e as causas podem ser os transtornos, a dificuldade em se adaptar ao novo ou algum trauma sofrido pela criança na hora da alimentação.

A seletividade alimentar é considerada bem comum em crianças em fase de transição alimentar. Segundo Salvador, a recusa, o desinteresse e a falta de apetite são características da seletividade e, em crianças com o transtorno do espectro autista essa recusa por novos alimentos é maior.

Autores como Magagnin, Silva, Nunes, Ferraz e Soratto (2021) corroboram dizendo:

As crianças com TEA têm maior risco de apresentarem dificuldades alimentares, como recusa e seletividade de determinados alimentos, disfunções motoras-orais e diversos problemas comportamentais. (Magagnin, Silva, Nunes, Ferras e Soratto, 2021, p.2).

Estas reações podem acontecer devido ao medo da criança de ingerir algo novo, textura dos alimentos, cor, sabor ou problemas comportamentais, assim é importante que se tenha tempo e paciência ao inserir novos alimentos à dieta da criança, para não causar um trauma maior. O impacto da seletividade pode causar danos à saúde física, tais como anemia, problemas gástricos dentre outros. O estresse mental também é um fator, deixando a criança chorosa e nervosa durante à alimentação.

Para conseguir um bom desempenho na nova alimentação é preciso sabedoria por parte dos pais e em casos de crianças autistas o acompanhamento de uma equipe de profissionais capacitados, para aos poucos fazer a transição alimentar. Claudia Marcelino, mãe de uma criança autista relata em seu livro - Autismo, esperança pela nutrição - as dificuldades encontradas por ela ao mudar a alimentação do seu filho, devido à falta de apoio da família e a de profissionais capacitados para auxiliá-la.

O objetivo deste trabalho de pesquisa é analisar os principais fatores que podem ser considerados causadores da seletividade alimentar, mais especificamente em crianças autistas. Ao mesmo tempo destacar quais os principais problemas de saúde causados pela seletividade alimentar e, por fim, conhecer as principais formas de tratamento.

Para esta pesquisa, os meios utilizados são documentais e bibliográficos, dos últimos doze anos, usando os bancos de dados do Google, Google Acadêmico e ainda com base no livro SELETIVIDADE ALIMENTAR de Regiane M. S. Salvador (2022).

1. SELETIVIDADE ALIMENTAR E TEA

O pioneiro nos estudos sobre o Transtorno do Espectro Autista foi Leo Kanner que com base em seus estudos de caso diferenciou o TEA de outros transtornos psicológicos da sua época, abrindo caminho para que novas pesquisas fossem realizadas e se descobrisse que o autismo é causado por uma falha no neurodesenvolvimento de uma parte importante do cérebro da criança, podendo ocorrer por fatores variados como bem especifica Gaiato. Esse transtorno afeta áreas importantes da vida de uma criança, como o desenvolvimento motor, fala, comportamento, alimentação, alterações do sistema imunológico e intestinal.

Segundo o Dicionário Online de Português (DICIO), a palavra seletivo quer dizer: aquele que escolhe, que é rigoroso, criterioso, minucioso, detalhista, difícil. São alguns sinônimos da palavra seletivo, a qual dá origem a seletividade, nada muito diferente das características encontradas em crianças com seletividade alimentar e autismo. Salvador destaca que a seletividade alimentar é a recusa de alimentos indesejados, o pouco apetite e o desinteresse pelo alimento novo, dessa forma fica evidente a maneira rigorosa de como o autista lida com a alimentação.

Para Salvador, a seletividade alimentar é uma das “características” presentes no comportamento do autista por assim dizer, já que ela atinge uma proporção de 20 a 35 por cento dessas crianças, causando um grande impacto na saúde e no seu desenvolvimento. A alimentação é importante para o crescimento e desenvolvimento de uma criança, o autista em muitos casos, pode apresentar um comportamento agressivo devido à má alimentação. A falta de nutrientes pode ocorrer por motivos digestivos, já que segundo nos conta Marcelino (2010), Barbosa e Figueiró (2021), o sistema digestivo do autista não processa alguns tipos de composição alimentar, como a caseína, açúcar, corantes, lactose dentre outros, o que pode causar problemas intestinais, estomacais e desnutrição, um problema frente à seletividade alimentar.

Alguns estudiosos defendem a suspenção dos alimentos citados acima, porém Salvador salienta que no caso de uma criança autista e com seletividade alimentar, suspender esses alimentos torna a alimentação ainda mais restrita, podendo resultar em novos problemas de saúde, nestes casos a variedade de alimentos é a melhor escolha.

Para uma alimentação adequada, a variedade de alimentos é de fundamental importância, porque é através dela que o organismo terá um bom funcionamento, prevenindo doenças. (Salvador, 2022, p. 13).

É através da alimentação que o organismo adquire os nutrientes necessários para o desenvolvimento físico e mental, já que as vitaminas presentes nos alimentos são responsáveis pelo bom funcionamento de todo o corpo humano. As vitaminas do tipo A, B e D, os minerais como o cálcio, zinco, selênio e magnésio, são os que assumem um papel importante no desenvolvimento da criança e a ausência deles pode acarretar inúmeros problemas. Segundo Araruna e Silva (2018), a vitamina B6 presente em alguns alimentos não consumidos pelo autista, devido à seletividade ou por uma mudança na dieta sem acompanhamento, pode afetar os neurotransmissores, levando a criança autista a problemas como déficit de atenção, aumento dos sintomas de ansiedade, depressão e transtorno do sono, o que a deixará mais agressiva e antissocial.

A falta de vitaminas no organismo pode causar problemas ainda maiores como a desnutrição, obesidade, problemas no crescimento e em casos muito graves a morte. Sem os nutrientes necessários, o corpo humano não responde aos tratamentos médicos e com o tempo entra em choque provocando a morte do indivíduo. Salvador (2022), ressalta que para uma boa qualidade de vida deve-se ter uma boa alimentação; Araruna e Silva, mostra que a alimentação e o desenvolvimento cerebral andam sempre de mãos dadas.

A deficiência de vitamina B1 e niacina pode acarretar em sinais neurológicos, podendo intensificar os sintomas do transtorno, uma vez que impede a conversão do acetaldeido nas crianças autistas prejudicando sua eliminação pelo organismo, podendo afetar estruturas cerebrais e interferindo no desenvolvimento neural dos autistas. (CAETANO et al., 2018).

Estes fatores têm gerado novas descobertas no meio acadêmico, promovendo novas fontes de pesquisas, facilitando para pais e profissionais de saúde o acesso às novas descobertas envolvendo o autismo e a alimentação, evitando futuros problemas familiares e sociais. O papel do psicopedagogo é se manter atualizado para fornecer às crianças autistas e seus familiares maior segurança durante o processo de tratamento. Em casos de autismo, é o psicopedagogo quem vai fazer a hipótese de diagnóstico e definir junto a uma equipe de profissionais e à família, quais rumos serão tomados frente ao tratamento. Para isso, Bastos e Gaiato afirmam que o diagnóstico precoce, no caso de crianças autistas, é de extrema importância para um tratamento bem-sucedido.

1.2 CAUSAS DA SELETIVIDADE NO AUTISTA

A seletividade é um problema que afeta as crianças de um modo geral, mas em particular as autistas. Uma das teses sustentadas pelos autores que debatem sobre o assunto, é que o transtorno facilita a ocorrência da seletividade alimentar. Ora, é muito mais difícil fazer a transição alimentar em um autista, que tem suas preferências na hora de comer, mas o fato é que em algum momento da infância a criança pode apresentar seletividade, as causas não são únicas e podem variar de caso a caso.

Salvador destaca em seu livro alguns pontos que podem ser causadores do problema, entre eles está um fato comum, mas que atrai muita atenção, o trauma, ocasionado por um fato brusco na hora da refeição, como por exemplo, o engasgo com o alimento, algo que pode ser evitado se o responsável tiver atenção, porém acontece em um piscar de olhos, nem sempre é um descuido. Crianças com refluxo, por exemplo, engasgam com facilidade mesmo sob a vigilância dos pais, nestes casos, a criança pode adquirir medo de ingerir alimentos com a mesma textura. O medo é causado pela punição e ocorre quando a criança não se interessa por determinados alimentos, nesses casos, os pais precisam dar atenção e saber proporcionar um ambiente calmo, sem brigas ou gritos na hora das refeições.

Buscar apoio nas telas pode ser uma armadilha para os pais, pois ao tentar acalmar a criança pode ocasionar outros problemas. O ambiente das refeições precisa ser preparado de maneira a atrair a criança para o alimento e não distrai-la. Magagnin, Silva, Nunes, Ferraz e Soratto (2021), destacam em seus textos que muitos pais recorrem a esse recurso nas refeições com o intuito de que a criança não fique nervosa e com isso ela coma, isso acaba tendo um retorno negativo, causando novos problemas. Outro fator exposto é a sensibilidade sensorial aguçada, em casos mais comuns de autistas, o problema com a cor, textura, temperatura, cheiro e sabor, trazem grandes problemas à alimentação. Alguns recursos podem driblar essa situação: o sistema de troca - ao ingerir um alimento novo ganha em troca o que mais gosta; o ajudante de cozinha - a criança assume o papel de ajudante na preparação das refeições, para se acostumar com o alimento oferecido.

Problemas musculares, também podem prejudicar a ingestão de alimentos e a ajuda de um profissional é importante para trabalhar o desenvolvimento muscular dessa criança. Desenvolvimento motor fino é outro fator que pode passar despercebido, mas que faz a diferença se tratado de forma precoce, dificuldade em aceitar utensílios novos, diferentes dos que se está acostumado na hora das refeições, é mais um causador da seletividade, principalmente em autistas. Problemas como alergias, refluxo gastrointestinais e constipação são os vilões, frente à alimentação, podendo causar desconfortos, os quais são expressos em forma de inquietação ou estresse na hora de comer determinados alimentos. Salvador destaca que a investigação nestes casos assume um papel de suma importância na rotina de uma família.

É importante estar atento aos fatores que contribuem para o desenvolvimento da seletividade alimentar, desde os mais comuns, como os orgânicos, que envolvem a motricidade, mastigação, dispraxia, sintomas gastrointestinais, motilidade gastrointestinal, sensibilidade, percepção, alergias, intolerâncias alimentares e habilidades nas refeições, quanto aos mais complexos, como os comportamentais, a rigidez comportamental, interrupção abrupta e dificuldade com o tempo de permanência na mesa, essas são as principais causas da seletividade, segundo Salvador.

A rigidez comportamental gera padrões inflexíveis na rotina da criança com TEA, como ter a mesma hora para determinadas refeições, dormir sempre no mesmo horário, usar os mesmos talheres, sempre ingerir alimentos com cores, sabores, cheiros e texturas que esteja acostumado, ambientes com características próprias do cotidiano adotadas no lar, caso algo esteja fora do lugar, pode ocasionar comportamentos restritivos, impedindo o avanço na alimentação do autista, pois ele leva todas essas particularidades ao pé da letra, por essa razão, é importante um acompanhamento profissional adequado.

A seletividade alimentar exige acompanhamento médico, nutricional, psicológico, acompanhamento com terapeuta ocupacional para trabalhar alterações sensoriais de textura, temperatura e paladar. (SALVADOR, 2022, p. 17)

2. TRATAMENTO

Antes de iniciar qualquer tipo de intervenção é preciso uma investigação minuciosa realizada através de uma anamnese, detalhando todo o histórico alimentar nutricional da criança autista. Os pais são os responsáveis por esclarecer todas as questões levantadas pelo profissional no momento da anamnese, já que em casos de crianças autistas, elas não são capazes de entender a visão clínica apresentada neste momento. Os pais precisarão responder questões como aumento ou perda de peso, preferências por determinados alimentos, alergias alimentares. Salvador disponibiliza em seu trabalho um exemplo de anamnese, onde todas estas questões e muitas outras estão incluídas, para que o perfil da criança seja traçado, buscando um atendimento específico, capaz de produzir o efeito esperado pela família.

Após a investigação é a vez da avaliação alimentar do caso, onde são aplicadas escalas alimentares como a Escala Brasileira de Alimentação infantil (EBAI) e a Escala de Avaliação Comportamental de Alimentação Pediátrica – Behavioral Pediatrics Feeding Assesment Scale (BPFAS), tais escalas são aplicadas em busca de identificar o grau das dificuldades alimentares da criança autista. Salvador ainda explica que após este processo o próximo passo seria a operacionalização, onde serão definidos quais os processos de intervenção se utilizará em cada caso e quais os profissionais de apoio deverão fazer parte do processo de tratamento, como fonoaudiólogos, nutricionistas, psicólogos e terapeuta ocupacional. Cada um desses processos deve ser acompanhado de perto pela família da criança, na intenção de um tratamento bem-sucedido.

O papel dos pais no tratamento é de suma importância, como podemos ver no caso de Marcelino 2010, mãe de criança autista que venceu os desafios da síndrome através de uma alimentação saudável. Em muitos casos, é relatado o abandono de crianças autistas por um dos cônjuges o que pode acarretar ainda mais problemas a essas crianças que não sabem como se expressar, ou pais que utilizam os meios de comunicação para ter “sossego” em casa, o que gera ausência familiar e também agrava os sintomas da síndrome. A participação da família na rotina e no tratamento é o diferencial que todo profissional precisa para alcançar um resultado positivo.

A televisão nesse aspecto se torna a manifestação corriqueira em pais que se encontram desmotivados, delegando ao aparelho eletrônico um modo de entreter seus filhos, a fim de diminuir os comportamentos aversivos que seus filhos apresentam durante a estimulação advindas dos exercícios. (MAGAGNIN, SILVA, NUNES, FERRAZ, SORATTO, 2021, p. 21).

Em casos onde a família é ausente, o psicopedagogo deve envolver os pais no tratamento, para isso eles devem passar por uma espécie de treinamento como diz Salvador, onde vão aprender métodos de incentivo diário na alimentação, estabelecer limites e rotinas, interação no preparo da comida por parte da criança, compreender os limites de seus filhos, seja respeitando o apetite da criança ou não forçando a alimentação, tornar o ambiente e a alimentação atrativos, não exagerar na comida, evitar distrações, não fazer negociação e, por fim, tornar-se um exemplo na hora de comer, esses são os novos hábitos que muitos pais precisarão aprender para ensinar a seus filhos e ajuda-los no tratamento.

Um dos métodos adotados por Salvador é o Análise de Comportamento Aplicada, mais conhecido como ABA, esse método utiliza a recompensa e o encorajamento positivo como forma de acesso ao autista, dando condições para que os pais consigam se relacionar com seus filhos autistas e inserir novos alimentos à dieta da criança. Os reforços mais utilizados neste método são reforço positivo, extinção de fuga, reforço positivo diferencial, reforço positivo não contingente, apresentação simultânea, desvanecimento do estímulo, fazendo do ABA um dos mais conhecidos tratamentos para crianças autistas que apresentam seletividade alimentar.

Por fim, vem a intervenção terapêutica, que envolve o desenvolvimento de habilidades motoras e sensoriais, através do lúdico. A atividade apresentada de forma lúdica atrai a atenção e o interesse da criança tornando a abordagem do profissional e da família menos traumática e mais divertida de se aprender. Aprender o novo brincando diminui o estresse que muitas crianças autistas apresentam em seu comportamento, porém é preciso respeitar e conhecer o tempo de cada um, para que a interação entre a criança e o profissional se dê de forma recíproca e eficaz. Apesar de todas essas intervenções para melhoria de vida do autista, a síndrome em si não tem cura e é importante saber que sem tratamento adequado o quadro de regressão apresentado por muitas crianças pode piorar, por isso a importância dos tratamentos.

3. CONSIDERAÇÕE FINAIS

A criança autista tem como característica um comportamento mais seletivo em relação à alimentação devido a diversos fatores - físicos, culturais e familiares. O aumento de crianças com TEA tem chamado a atenção dos profissionais de saúde e ampliado os estudos que visa melhorar a qualidade de vida dessas crianças.

A seletividade alimentar dificulta muito a dieta da criança com TEA, impossibilitando a variedade de alimentos com nutrientes necessários para o seu desenvolvimento físico e mental, levando a casos desesperadores de desnutrição, obesidade e outros problemas causados por uma alimentação deficiente. Muitas vezes, as famílias, sem informações adequadas, procuram o culpado, esquecendo que a causa do problema é muito mais complexa, necessitando de acompanhamento profissional, com uma abordagem que objetiva não culpar ninguém, mas compreender o processo comportamental da criança e da família.

Seletividade alimentar não é frescura, ou birra da criança, é uma característica que acompanha o TEA que deve ser vista e compreendida de forma a não agredir ou traumatizar ainda mais a criança, seja ela um autista ou não. As contribuições fornecidas pelos profissionais durante o tratamento visam desenvolver o interesse da criança, com o apoio da família, a um mundo de novas descobertas alimentares, impedindo o avanço da seletividade e proporcionando uma variedade de alimentos na dieta proposta.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SALVADOR, Regiani Maria dos Santos. Seletividade alimentar: Manual de orientação para pais e profissionais. Porto Alegre: Alcance, 2022. 50p. : il.

MARCELINO, Cláudia. Autismo esperança pela nutrição. São Paulo, SP: Editora: M. Books, 2010.

GAIATO, Mayra. S.O.S autismo: guia completo para entender o Transtorno do Espectro Autista 2. ed. São Paulo: Versos, 2018.

*www.autismo.com Artigo científico: WHITE, J.F. Intestinal Pathophysiology in Autism. Exp Bio Med. V. 228. P. 639- 649, 2003. Acesso 15/09/2021. Fonte: https://www.sbm.org.br/v2/index.php/not */* c3*/*ADcias/1149- sp124014481

SILVA, Ana Beatriz Barbosa; GAIATO, Mayra Bonifácio; REVELES, Leandro Thadeu. Mundo singular: entenda o autismo. Editora Fontana, 2012.

Acesso 25/05/2022. Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12764.htm

Acesso 25/05/2022. Fonte: https://saude.abril.com.br/alimentacao/dieta-sem-gluten-autismo/

Acesso 25/05/2022. Fonte: https://www.eadplus.com.br/blog/o-consumo-de-corantes-artificiais-e-autismo/

Acesso 26/05/2022. Fonte: https//www.schaer.com/pt-br/a/o-gluten-e-o-autismo

Acesso 26/05/2022. Fonte: https://saude.abril.com.br/medicina/doenca-celiaca-sintomas-alimentacao-diagnostico-e-trtamento/

Acesso 29/05/2022. Fonte: https://www.scielo.br/j/csc/a/z76hs5QXmyTVDbBDJXHTwz/?lang=pt


1 Trabalho de conclusão do curso de Psicopedagogia Clínica e Institucional da Faculdade Venda Nova do Imigrante FAVENE