AS GERAÇÕES E A MODERNIDADE LÍQUIDA NO CONTEXTO EDUCACIONAL

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.16938399


Jamilley Lima Vasconcelos Borges1


RESUMO
As mudanças sociais, o uso da tecnologia e o acesso rápido à informação são fatores preponderantes para as diferenças surgidas entre as gerações ao longo da história da sociedade. Tais mudanças alteram os comportamentos humanos e inferem diretamente no âmbito educacional, exigindo novas posturas frente à velocidade de mudança das informações. Diante do exposto, o presente trabalho tem como objetivo compreender o processo educativo das novas gerações, considerando o cenário social da modernidade líquida e sua influência no papel das instituições educacionais e na ação docente. Como metodologia foi utilizada a pesquisa bibliográfica, pautada nos escritos sobre as gerações, modernidade líquida e as mudanças nos processos educacionais considerando as transformações dos conhecimentos. Como resultados da pesquisa compreende-se que a ampliação das tecnologias e a democratização do conhecimento colaboraram para traçar o perfil das novas gerações que caracterizam a sociedade como modernidade líquida. Esta, por sua vez, exerce forte influência no contexto social, exigindo que as metodologias educacionais e a postura docente perpassem por transformações que valorizem o protagonismo estudantil e que sejam capazes de acompanhar as transformações tecnológicas e velocidade das informações.
Palavras-chave: Modernidade líquida. Gerações. Tecnologia. Educação.

ABSTRACT
Throughout history, the differences between generations have been heavily influenced by social changes, technological advancements, and quick access to information. These changes affect human behavior and directly impact education, necessitating new attitudes to adapt to the speed at which information changes. In light of the above, this paper aims to understand the educational process of the new generations, taking into account the social context of liquid modernity and its impact on the role of educational institutions and teaching practices. The methodology used was bibliographical research, based on writings about generations, liquid modernity, and the changes in educational processes considering the transformation of knowledge. The research results indicate that the growth of technologies and the spread of knowledge have played a role in shaping the characteristics of the new generations, defining society as liquid modernity. The social context is strongly impacted by this, leading to the need to change educational methodologies and teaching attitudes in order to prioritize student protagonism and adapt to technological advances and the speed of information.
Keywords: Liquid Modernity. Generations. Technology. Education

1 INTRODUÇÃO

A sociedade passa por mudanças culturais ao longo do seu percurso histórico. Portanto, as práticas humanas e as relações sociais vão se modificando conforme os novos contextos que surgem. Diante destas modificações, autores como Mello et al. (2020) apresentam as gerações que convivem atualmente, suas características e diferenciações influenciadas pela tecnologia e pelas mudanças no acesso à informação. Tais modificações perpassam pelo contexto educacional, por isso compreender o perfil das novas gerações é preponderante para se construir uma conjuntura educativa que seja coerente com os novos perfis de discente neste período de modernidade líquida (Bauman, 2001).

Com base nestas discussões, o presente trabalho tem como objetivo compreender o processo educativo das novas gerações, considerando o cenário social da modernidade líquida e sua influência no papel das instituições educacionais e na ação docente. Como metodologia foi realizada uma pesquisa bibliográfica, com pesquisas acerca das principais reflexões sobre o tema. Como resultado apresentado pelas discussões é possível inferir que a educação da modernidade líquida precisa considerar o perfil das gerações que prevalecem neste âmbito e que tem como característica o acesso rápido à informações que se modificam com constância.

Por isso, as instituições educacionais da atualidade devem investir em metodologias de ensino que valorizem o conhecimento prévio do aluno e permitam o seu protagonismo a partir de práticas docentes reflexivas.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA

A sociedade passa por modificações constantes nos seus padrões e nas suas práticas. As transformações que acontecem nos diferentes âmbitos do contexto social influenciam na ação humana. Assim também, o agir humano é capaz de modificar a maneira como a sociedade se organiza. Por isso, a relação entre o homem e o espaço em que ele vive e se desenvolve é motivo de estudo e discussão teórica.

No que se refere às mudanças no comportamento humano, nota-se que ao longo dos anos ela está se transformando e estabelecendo características diferentes a cada geração. O estudo das gerações surge do interesse de compreender como as pessoas se comportavam e como se comportam diante das demandas sociais que emergem. Mello et al. (2020, p.39) classifica as gerações em:

  1. Geração de Veteranos: são aqueles nascidos antes de 1940 (atualmente com mais de 80 anos);

  2. Geração Baby Boomers: nascidos entre 1940 e 1960 (atualmente com 60 a 80 anos);

  3. Geração X: nascidos entre 1960 e 1980 (atualmente com 40 a 60 anos)

  4. Geração Y (millenials): nascidos entre 1980 e 1995 (atualmente com 25 a 30 anos);

  5. Geração Z: nascidos entre 1995 e 2010 (atualmente com 10 a 25 anos);

  6. Geração Alpha: nascidos a partir de 2010 (atualmente com 10 anos).

A classificação supramencionada serve de orientação para designar as principais características de cada geração, pois com base na faixa etária e no período de nascimento, o autor apresenta as características de cada grupo. Conhecer e diferenciar cada uma delas se torna fundamental para compreender as transformações ocasionadas pela globalização e pela velocidade de informações.

As duas primeiras classificações representam os grupos que vivenciaram os pós- guerras, elaborando um contexto de vida pautado no trabalho e na busca por estabilidade. Por isso, os Veteranos e os Baby Boomers aprenderam a ser focados em reestabelecer a economia e produzir mão-de-obra. Embora sejam pessoas que, atualmente, estão fora do mercado corporativo ou finalizando suas atribuições como colaboradores, ainda estão presentes no contexto familiar e, portanto, contribuem na interação com as demais gerações.

No tocante à Geração X temos como característica o contato com a evolução dos meios de comunicação e, com isso, a influência das mídias nos comportamentos individuais e coletivos. Esta geração traz consigo a referência antepassada da estabilidade profissional e tem como destaque a movimentação social por direitos políticos e sociais.

A Geração Y se destaca no contato e na habilidade com a tecnologia, pois ao ser comparada com as gerações anteriores, acompanhou de maneira mais intensa a evolução do acesso e da qualidade da internet, passando a utilizá-la e agregá-la aos novos aparelhos tecnológicos. É uma geração que percebe que a rapidez com que as informações se modificam, e por isso, buscam qualificação profissional, colocando as relações familiares em segundo plano.

A Geração Z, por sua vez, desconhece o mundo anterior à internet. É a geração que convive com as redes sociais e tem acesso aos acontecimentos em tempo real. É formada por indivíduos que possuem a tecnologia como aliada e a utilizam nas resoluções dos problemas do cotidiano.

A Geração Alpha representa a última geração analisada entre os autores de referência na área. É composta por crianças e adolescentes que já nasceram imersas na tecnologia digital. São os filhos da Geração Y, portanto, convivem em um contexto familiar íntimo da tecnologia e das redes sociais. Os indivíduos Alpha representam também as crianças e os jovens presentes atualmente no ambiente escolar, por isso, as características de suas gerações e as influências das presenças de gerações anteriores neste mesmo cenário elucidam a importância de discutir as demandas mais urgentes no contexto educacional moderno.

No âmbito escolar, esse encontro de gerações já acontece, pois, os docentes que ali lecionam trazem consigo as experiências das gerações anteriores, o que propicia as trocas de conhecimentos, bem como os conflitos. Diante deste cenário, torna-se desafiador para os educadores compreender qual o perfil traçado pela educação no contexto da modernidade, visto que há um encontro de uma multiplicidade de experiências culturais e sociais, e dentre essas diferenças, as relações construídas com a tecnologia.

3 METODOLOGIA

A presente pesquisa caracteriza-se como um relato de experiência de natureza bibliográfica, cujo objetivo foi compreender as relações entre as diferentes gerações e a modernidade líquida no contexto educacional, analisando como essas dimensões influenciam os processos de ensino-aprendizagem, a prática docente e a organização curricular. Optou-se pela pesquisa bibliográfica por possibilitar a análise sistemática de estudos, artigos, livros e demais materiais científicos que discutem a educação contemporânea, as características das gerações atuais, a fluidez das relações sociais e institucionais e as implicações da modernidade líquida na escola.

O procedimento metodológico seguiu etapas de levantamento, seleção e análise de fontes pertinentes ao tema, priorizando trabalhos que abordam:

A caracterização das diferentes gerações presentes no ambiente escolar;

A compreensão do conceito de modernidade líquida e suas implicações na educação;

Estratégias pedagógicas inovadoras e metodologias ativas adaptadas às demandas contemporâneas;

A articulação entre teoria e prática no contexto escolar.

A coleta de informações consistiu na leitura crítica de textos acadêmicos, identificação de conceitos-chave e sistematização das contribuições teóricas que fundamentam a reflexão sobre as relações entre gerações e modernidade líquida. Essa análise permitiu compreender como a diversidade geracional influencia a aprendizagem, a utilização de tecnologias digitais e a construção de práticas pedagógicas mais flexíveis e adaptáveis.

A análise do material bibliográfico seguiu uma abordagem qualitativa, buscando identificar tendências, desafios e possibilidades de aplicação de estratégias educativas que considerem tanto as particularidades de cada geração quanto a fluidez e instabilidade características da modernidade líquida. O procedimento permitiu refletir sobre a necessidade de currículos e práticas pedagógicas mais dinâmicos, capazes de integrar tecnologia, inovação e desenvolvimento socioemocional dos estudantes.

A pesquisa adotou critérios de rigor científico e ético, utilizando fontes atualizadas, confiáveis e pertinentes ao contexto educacional brasileiro, garantindo que a discussão estivesse fundamentada em evidências teóricas sólidas e em experiências previamente relatadas na literatura. Dessa forma, a metodologia empregada possibilitou construir uma análise consistente sobre as relações entre gerações, modernidade líquida e práticas pedagógicas, oferecendo subsídios para a reflexão sobre os desafios e oportunidades da educação contemporânea.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

A velocidade das informações e ampliação do acesso às fontes do conhecimento ocasionaram as transformações da sociedade, exigindo mudanças e adaptações abruptas. O autor Zygmunt Bauman (1925-2017) intitula esta condição como “modernidade líquida”. Baumam (2001, p. 37) infere que “o homem moderno persegue o novo, mas, após a conquista de tal bem, dele rapidamente se enfastia; insaciável, persegue novos anseios norteado sempre pelo eterno „adiamento da satisfação‟”.

Conforme a reflexão supracitada, o perfil do ser humano imerso na modernidade líquida perpassa por essa necessidade de mudanças constantes e de busca pelo novo. Ao trazer o termo “líquido”, Bauman (2001) faz o comparativo com a modernidade sólida, de conhecimentos e costumes consolidados, ou seja, que demoravam anos para se modificarem. Desse modo, ao tratar da fluidez, propõe que este processo ocorre não para invalidar aquilo que é “sólido”, mas para transformar este “sólido” e algo novo.

Portanto, se as gerações mais recentes, especialmente a Alpha, externalizam o interesse pelo dinamismo, a escola enquanto instituição social precisar estar preparada para promover o desenvolvimento e aprendizagem de modo estabeleça a relação entre a educação moderna e a geração atual.

O conhecimento é em sua essência algo mutável, visto que as novas informações vão ressignificando os saberes. Em tempos de modernidade atual ou modernidade líquida, a fluidez das informações requer um processo educacional dinâmico que seja capaz de acompanhar as constantes modificações.

Conforme Meroto et al. (2023, p. 178): “o mundo modificou e a educação nos últimos tempos tem mudado mais do que tudo. O que achávamos correto, hoje já duvidamos de tal situação, metodologia ou forma de ensinar”. Portanto, a educação na modernidade exige flexibilidade e interesse em estar aberto ao novo. Além disso, é preciso ressignificar as práticas, especialmente quando levamos em consideração a Geração Alpha, um público que vivenciará a educação no viés da modernidade líquida desde seus primeiro anos de escolarização.

Se considerarmos o perfil dinâmico, ágil, impaciente e curioso da Geração Alpha, nota-se que há um senso de conhecimento coletivo integrando-a com a educação moderna, pois esta propõe a elaboração de práticas que permitam aos alunos o desenvolvimento do protagonismo e a ressignificação dos saberes. Neste contexto a educação moderna contribui na formação de um sujeito protagonista, provocando o desenvolvimento de competências essenciais ao mundo do trabalho no novo século.

Em contraponto, Bauman (2010, p. 60) ressalta que “a arte de viver num mundo hipersaturado de informação ainda não foi apreendida. E o mesmo vale também para a arte

ainda mais difícil de preparar os homens para esse tipo de vida”. Portanto, a educação moderna tem como principal desafio encontrar o ponto de equilíbrio para tornar as instituições educacionais espaços de reflexão e elaboração do conhecimento, de modo que o aluno possa externar suas capacidades e seu conhecimentos prévios. No tocante ao trabalho docente, a educação moderna necessita de profissionais que estejam abertos a conhecer o novo, a mudar seus paradigmas e a imergir no universo da nova geração.

Diante do exposto, a volatilidade dos acontecimentos e as mudanças relativas às informações desafiam a educação moderna a se manter em constante movimento, implicando em desafios com relação às metodologias utilizadas e o trabalho a ser desenvolvido pelo educador.

As instituições educacionais da modernidade são espaços de elaboração do conhecimento. No contexto da modernidade líquida, os conhecimentos anteriormente estabelecidos e consolidados perdem espaço para as informações fluidas que se modificam a cada instante. Assim, as instituições educacionais precisam considerar que a essência de seus trabalhos não se limita na apresentação das informações, pois estas se encontram de fácil acesso, em qualquer lugar e ao toque de uma tela. É preciso uma consciência de formação humana holística e crítica. Sobre a transformação da educação que vislumbra atender à nova geração Meroto et al. (2023, p. 181) considera que:

É preciso que esta evolua conforme os avanços das gerações na qual esteja inserida, não somente em relação aos recursos tecnológicos, mas principalmente em relação as especificidades de cada estudante. Sabemos que muitos destes possuem aparelhos eletrônicos dos mais avançados e modernos com informações acessíveis a qualquer momento e assim, as escolas cada vez mais precisam se adaptar e ofertar caminhos para a construção de conhecimento dos seus estudantes e utilizando a tecnologia a seu favor.

Diante deste desafio educacional de tornar as instituições espaços de formação de sujeitos críticos, é importante considerar que as metodologias adotadas e a postura docente serão preponderantes para o objetivo almejado. Ao se pensar na educação formal dos dias atuais é preciso ponderar que o conhecimento deixou de ser imutável e que o aluno constrói o suas aprendizagens de forma conjunta com o docente.

Nessa perspectiva, a figura do professor deixa de ser representada como a autoridade máxima e detentora do saber para se tornar a parte de um todo que é elaborado a partir de saberes diferentes que se incorporam para gerar novos saberes. Para Fávero e Centenaro (2019) o professor que atua no contexto da modernidade líquida deve assumir uma postura reflexiva perante suas ações, pois “interpretar é a marca do trabalho intelectual e profissional do educador da modernidade líquida, que necessita superar em grande medida a autoridade verticalista do professor com relação à “massa” de aprendizes” (FÁVERO; CENTENARO, 2019, p. 18).

Nesta perspectiva de se elaborar um perfil docente que reflete sobre suas práticas é necessário que o profissional perpasse por esta condução em sua formação inicial e continuada. As discussões acerca das novas gerações também devem estar nas pautas dos cursos universitários, pois ao se discutir sobre modernidade líquida neste ambiente é possível fazer um paralelo entre os conteúdos dos cursos de graduação e as realidades presentes nos espaços educativos.

Diante do cenário onde o conhecimento deixou de ser propriedade de poucos para ser democratizado e acessível, a importância da ação docente consiste em saber qual a maneira coerente de conduzir as relações de ensino-aprendizagem. Para que haja sucesso no processo educacional, em tempos de modernidade líquida, é preciso considerar as funções sociais dos professores e, sobretudo, do aluno. A educação que lida com as novas gerações e com a “fluidez” do conhecimento compreende que este é um processo colaborativo e dinâmico.

Sobre as origens de um de seus contos marcantes, A Busca de Averróis, o grande escritor argentino Jorge Luis Borges disse que nele tentou ‘narrar o processo de fracasso’, de ‘derrota’ como aqueles de um teólogo buscando a prova final da existência de Deus, um alquimista buscando a pedra filosofal, um aficionado por tecnologia em busca de um celular perpétuo ou um matemático buscando a forma de equacionar o círculo, Mas então ele decidiu que ‘um caso mais poético’ seria aquele ‘de um homem que se coloca como um objetivo que não é proibido para os outros, mas é para ele” (MOREIRA, 2011).

Apenas algumas almas intrépidas tentam construir um perpétuo móvel ou encontre uma pedra filosófica; mas tentando em vão entender o que os outros não têm dificuldade na compreensão é uma experiência que todos conhecemos muito bem da autópsia e aprendemos diariamente de novo. Agora, no século XXI, mais do que nossos ancestrais fizeram no passado. Olha só um exemplo: comunicar-se com seus filhos se você for pai (CANDAU, 2016).

A aceleração radical do ritmo de mudança característica dos tempos modernos permitiu o fato de “as coisas mudarem” e “não serem mais como costumava ser” a ser notado no curso de uma única vida humana: o fato que implicava uma associação (ou até mesmo um nexo de causalidade) entre as mudanças na condição humana e a partida e chegada de gerações (BAUMAN, 2001).

Desde o início da modernidade e ao longo de sua duração, as coortes etárias que entram no mundo em diferentes estágios de transformação contínua tendem a diferir nitidamente na avaliação da vida condições que compartilham. As crianças, via de regra, entram em um mundo drasticamente diferente daquele em que seus pais foram treinados e aprenderam a tomar como padrão de “normalidade”; e eles vão nunca visite aquele outro mundo agora desaparecido da juventude de seus pais (BAUMAN, 2015).

O que por algumas coortes de idade pode ser visto como ‘natural’, como ‘como as coisas são’, ‘como as coisas normalmente são feitas’ ou ‘devem ser feitas’, pode ser visto por outros como uma aberração: como um desvio da norma, bizarro e talvez também um estado de coisas ilegítimo e irracional, injusto e abominável (ALMEIDA, et al, 2009).

O que para algumas coortes de idade pode parecer uma condição confortável e acolhedora, permitindo-lhes implantar o aprendido e dominado habilidades e rotinas, pode parecer estranho e desanimador para alguns, enquanto algumas pessoas podem sentir-se como um peixe na água em situações que fizeram os outros se sentirem desconfortáveis, confusos e perdidos como um peixe na água em situações que faziam os outros se sentirem desconfortáveis, confusos e perdidos (BRITO, PURIFICAÇÃO, 2017).

As diferenças de percepção tornaram-se agora tão multidimensionais que, ao contrário dos tempos pré-modernos, as pessoas mais jovens não são mais classificadas pelas gerações mais velhas como “adultos em miniatura”. ou “pretensos adultos” – não como os “seres-ainda-não-completamente maduros, mas destinados a amadurecer” (“maduro em ser como nós’) (ALMEIDA, et al, 2009).

Não se espera ou se supõe que os jovens estejam “no caminho de se tornarem adultos como nós’, mas vistos como um tipo bastante diferente de pessoas, fadadas a permanecer diferentes ‘de nós’ a vida deles. As diferenças entre ‘nós’ (os mais velhos) e ‘eles’ (os mais novos) não parecem mais tão irritantes temporários destinados a se dissolver e evaporar à medida que os jovens (inevitavelmente) percebem até realidades da vida (MOREIRA, 2011).

Como resultado, as coortes de idade mais velha e mais jovem tendem a olhar uma para a outra com uma mistura de equívoco e equívoco. Os mais velhos temeriam que os recém-chegados ao mundo estão prestes a estragar e destruir aquela “normalidade” aconchegante, confortável e decente que eles, seus mais velhos, construíram laboriosamente e preservaram com carinho; o mais jovem, ao contrário, sentiria um desejo agudo de corrigir o que os veteranos envelhecidos erraram e fizeram uma bagunça (CANDAU, 2016).

Ambos seriam insatisfeitos (ou pelo menos não totalmente satisfeito) com o estado atual das coisas e a direção em que seu mundo parece estar se movendo – e culpe o outro lado por seu desconforto.

Em dois consecutivos questões de um semanário britânico amplamente respeitado, duas acusações muito diferentes foram tornadas públicas: uma colunista acusou os “jovens” de serem “bovinos, preguiçosos, recheados de clamídia e bons para nada', ao que um leitor respondeu com raiva que os jovens supostamente preguiçosos e indiferentes são, de fato, ‘com alto desempenho acadêmico’ e ‘preocupados com a bagunça que os adultos têm criado' (CANDAU, 2016).

Qualquer que seja a escolha que venha a ser feita, será uma reminiscência do “manto leve” de Max Weber que se poderia sacudir do ombro à vontade e sem aviso prévio, em vez de seu "aço de aço". invólucro', oferecendo proteção eficaz e duradoura contra a turbulência, mas também limitando os movimentos do protegido e estreitando severamente o espaço do livre arbítrio (GOERGEN, 2012).

O que mais importa para o jovem é a retenção da capacidade de remodelar a “identidade” e a “rede” sempre que for necessário chega ou é suspeito de ter chegado. A preocupação dos ancestrais com a identificação é cada vez mais acotoveladas pela preocupação de re-identificação (CANDAU, 2016).

As identidades devem ser descartáveis; uma identidade insatisfatória ou insuficientemente satisfatória, ou uma identidade que trai sua idade avançada, necessidades ser fácil de abandonar; talvez a biodegradabilidade fosse o atributo ideal da identidade mais fortemente desejado (BAUMAN, 2001).

A capacidade interativa da Internet é feita à medida desta nova necessidade. É a quantidade de conexões ao invés de sua qualidade que faz a diferença entre as chances de sucesso ou fracasso. Ajuda a ficar a par das últimas novidades da cidade os sucessos mais ouvimos, os mais recentes designs de camisetas, as festas mais recentes e mais comentadas sobre festas, festivais, eventos de celebridades. Simultaneamente, ajuda a atualizar os conteúdos e redistribuir as ênfases no retrato de si mesmo; também ajuda a apagar prontamente os vestígios do passado, agora vergonhosamente conteúdos e ênfases desatualizados (QUEROL, 2016).

Facilita muito, solicita e até exige a trabalhos perpétuos de reinvenção – a uma extensão inatingível na vida off-line. Este é sem dúvida uma das razões mais importantes para o tempo gasto pela ‘geração eletrônica’ no universo: o tempo em constante crescimento à custa do tempo vivido no ‘mundo real.

5 CONCLUSÃO

As discussões teóricas apresentadas ao longo do texto consolidam as reflexões necessárias para atender ao objetivo de compreender o processo educativo das novas gerações, considerando o cenário social da modernidade líquida e sua influência no papel das instituições educacionais e na ação docente. Com base nos escritos sobre as gerações, nota-se que, ao longo da história da sociedade as práticas sociais foram se modificando pela influência das mídias e da tecnologia. A educação como parte do todo também experimentou de tais mudanças e, atualmente tem se constituído de novas práticas que atendam as necessidades das gerações atuais, especialmente, da Geração Alpha.

A relação ensino-aprendizagem no contexto da modernidade líquida tem se reconfigurado, estabelecendo relações de trocas de conhecimentos entre professores e alunos. Assim, é preciso estabelecer uma relação de troca em que o discente seja capaz de desenvolver autonomia e protagonismo e o docente assuma uma postura reflexiva. O desafio da educação moderna é, portanto, se desprender das práticas solidificadas e imutáveis para dar espaço ao conhecimento dinâmico e acessível.

O conceito de modernidade líquida foi cunhado pelo sociólogo e filósofo Zygmunt Bauman como uma metáfora para descrever a condição de constante mobilidade e mudança que ele vê nos relacionamentos, identidades e economia global na sociedade contemporânea. Em vez de se referir à modernidade e à pós-modernidade, Bauman visualizou uma transição de uma modernidade sólida para uma forma mais líquida de vida social (ou seja, “incapaz de manter qualquer forma ou curso por muito tempo e propensa a mudanças.

A cultura líquido-moderna é o aqui-e-agora e sua inebriante temporalidade exige adaptabilidade e flexibilidade, ao mesmo tempo em que as torna atraentes e até excitantes. O mundo está cheio de oportunidades sedutoras e promissoras, mas, como a vontade do fogo-fátuo, suas promessas de empoderamento são passageiras.

A educação foi, no passado, capaz de se ajustar às circunstâncias em mudança e, assim, fornecer algum fundamento; mas a mudança atual não é como as mudanças passadas e a arte de viver em um mundo supersaturado de informações ainda precisa ser aprendida. Este artigo pretende captar a incerteza, ainda que momentânea, da cultura líquido-moderna para dar alguma compra às questões que a educação e os educadores devem fazer a ela.

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1 Graduação em Pedagogia. Especialização em Psicopedagogia Clínica e Hospitalar. Mestranda em Tecnologias Emergentes em Educação pela Must University. [email protected]