APRENDENDO COM AS BORBOLETAS A CUIDAR DO MEIO AMBIENTE
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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.15161314
Evanuzia da Silva Gonçalves1
Ana Rita de Cássia Silva Oliveira2
Elaine Cristina Costa dos Santos3
Geysa Karla Mendonça dos Santos4
Salma Ferreira Sampaio5
RESUMO
Orientando-se pela Proposta Curricular Municipal para a Educação Infantil (PCMEI), que é o documento balizador das ações da Educação Infantil da Educação Básica na rede municipal de ensino de Boa Vista, Roraima, foi desenvolvido um projeto de aprendizagem junto as crianças do 1º período da Escola Municipal Menino Jesus (EMMJ). Dessa forma, o artigo que se apresenta, é um relato de experiência, teve como pressuposto orientador, o desenvolvimento de um projeto de aprendizagem, que teve como tema “Aprendendo com as borboletas a cuidar do meio ambiente”. O objetivo principal foi apresentar, mesmo que de forma resumida, o desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem em que se explorou a temática Ciência e Natureza como fio condutor para pôr em prática o Objetivo do Desenvolvimento Sustentável (ODS) que foca na necessidade de proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, a partir do gerenciamento sustentável das florestas. Como parte dos procedimentos metodológicos, desenvolveu-se de uma pesquisa de natureza aplicada, com abordagem qualitativa, de caráter descritivo, mediante o emprego do estudo de caso por se tratar de ações desenvolvidas junto à uma única turma, com elementos da pesquisa bibliográfica para fundamentar a temática em estudo e da pesquisa documental. Os resultados obtidos a partir da aplicação deste projeto de aprendizagem mostraram, entre outros aspectos, que as experiências promovidas se apresentaram dinâmicas, criativas e desafiadoras, ao mesmo tempo em que permitiu, mesmo na Educação Infantil, que as crianças conseguissem criar e testar hipóteses, comparar lembranças e vivências, relatar situações do cotidiano familiar, se comunicar, se expressar, e, é claro, trazer uma leitura e escrita de mundo prévia realizada do jeito que viam e compreendiam tudo a sua volta.
Palavras-chave: Projetos de Aprendizagem. Educação Infantil. Meio Ambiente.
ABSTRACT
Guided by the Municipal Curricular Proposal for Early Childhood Education (PCMEI), which is the guiding document for Early Childhood Education actions in Basic Education in the municipal education network of Boa Vista, Roraima, a learning project was developed with children in the 1st period of the Escola Municipal Menino Jesus (EMMJ). Thus, the article presented is an experience report, and had as its guiding premise the development of a learning project, which had as its theme “Learning from butterflies to care for the environment”. The main objective was to present, albeit in a summarized way, the development of the teaching and learning process in which the theme of Science and Nature was explored as a guiding thread to put into practice the Sustainable Development Goal (SDG) which focuses on the need to protect, restore and promote the sustainable use of terrestrial ecosystems, based on the sustainable management of forests. As part of the methodological procedures, an applied research was developed, with a qualitative approach, of a descriptive nature, through the use of the case study as it involves actions developed with a single class, with elements of bibliographic research to support the theme under study and documentary research. The results obtained from the application of this learning project showed, among other aspects, that the experiences promoted were dynamic, creative and challenging, while at the same time allowing, even in Early Childhood Education, that children were able to create and test hypotheses, compare memories and experiences, report situations from everyday family life, communicate, express themselves, and, of course, bring a previous reading and writing of the world carried out in the way they saw and understood everything around them.
Keywords: Learning Projects. Early Childhood Education. Environment.
Introdução
Desenvolver projetos de aprendizagem a partir do interesse das crianças, como forma de estimular as ações cooperativas na Educação Infantil é uma premissa pautada na Proposta Curricular Municipal para a Educação Infantil (PCMEI) (BOA VISTA, 2018). Sabendo disso, este relato de experiência apresenta os resultados obtidos por meio do desenvolvimento do projeto de aprendizagem “As borboletas como agentes polinizadores do meio ambiente” realizado na Escola Municipal Menino Jesus, no 2º bimestre de 2024, junto a uma turma de 1º período.
O tema do relato “Aprendendo com as borboletas a cuidar do meio ambiente” surgiu após observar o envolvimento e a participação das crianças em cada uma das experiências propostas, tendo, inclusive, notado o quanto elas aprenderam com a temática explorada, chegando a pôr em prática, não apenas na escola, mas, também, em casa, com o apoio das famílias, pois tiveram ações que contaram com o apoio e a dedicação dos pais.
Diante disso, este relato de experiência tem como objetivo geral apresentar, mesmo que de forma resumida, o desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem em que se explorou a temática Ciência e Natureza como fio condutor para pôr em prática o Objetivo do Desenvolvimento Sustentável (ODS) que foca na necessidade de proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, a partir do gerenciamento sustentável das florestas.
Para isso, num primeiro momento, descrevem-se os procedimentos metodológicos para se alcançar cada um dos objetivos e direitos de aprendizagem previstos no projeto de aprendizagem e relacionados aos campos de experiências trabalhados. E, num segundo momento, analisam-se os resultados obtidos a partir das experiências vivenciadas, na escola e fora dela, com o apoio das famílias.
A guisa de conclusão pontua ao final deste relato que é possível construir e desenvolver projetos de aprendizagem na Educação Infantil a partir do interesse das crianças, assim como fica evidente que explorar a temática da Feira Municipal de Iniciação Científica de Boa Vista (FEIC BV), desde a pré-escola, permite as crianças adquirir uma postura cada vez mais investigativa a partir de suas experiências cotidianas (GONÇALVES et al., 2024).
A Temática Ciências e Natureza na Educação Infantil: os projetos de aprendizagem na primeira infância
O ensino de Ciências da Natureza, que até 2016 era Ciências Naturais, esteve orientado por diferentes tendências pedagógicas, muitas delas ainda bem presentes nos dias de hoje nas salas de aula. Na Educação Infantil, o currículo, apesar de ser guiado por uma base nacional comum, não é dividido por componentes ou áreas do conhecimento.
Logo, o ensino de Ciências da Natureza na Educação Infantil, segundo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é desenvolvido por meio dos campos de experiência “Corpo, gestos e movimentos” e “Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações”. Dessa forma, seu trabalho acontece de forma interligada ao processo de alfabetização e letramento, por meio das experiências que envolvem o contato com a natureza, visando estimular o interesse pela preservação do meio ambiente, assim como da observação dos fenômenos naturais, como a geminação de uma planta e seu enraizamento, por exemplo (BRASIL, 2017).
Observando os pressupostos da Proposta Curricular Municipal para a Educação Infantil (PCMEI) seguida pelas escolas da rede municipal de ensino de Boa Vista, Roraima, quanto ao campo de experiência “Corpo, gestos e movimentos”, a síntese de aprendizagem prevista é a de tornar possível que a criança seja capaz de “reconhecer a importância de ações e situações do cotidiano que contribuem para o cuidado de sua saúde e a manutenção de ambientes saudáveis” (BOA VISTA, 2018, p. 54).
Já com relação ao campo de experiência “Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações”, a síntese de aprendizagem prevista prevê que a criança seja capaz de “interagir com o meio ambiente e com fenômenos naturais ou artificiais, demonstrando curiosidade e cuidado com relação a eles” BOA VISTA, 2018, p. 55).
Sabendo disso, a organização curricular da rede pública municipal de ensino prevê que no 2º bimestre de cada ano letivo, se desenvolvam nas escolas de Educação Infantil projetos de aprendizagem que tenham como foco, entre outros aspectos, a temática Ciências e Natureza, enquanto fomento para a iniciação científica desde a primeira infância, pois esse é um eixo estruturante da Educação Infantil (BRASIL, 2017).
Além disso, Gonçalves e Macedo (2023) reafirmam que, mesmo a Educação Infantil não tendo um currículo dividido por componentes curriculares, é importante que, desde cedo, os professores se preocupem em possibilitar aos alunos dominarem todos os conhecimentos que necessitam para se tornarem cidadãos plenos e conscientes de seu papel na sociedade atual.
Diante desta perspectiva de entendimento, reconhece-se que, desde a Educação Infantil, deve-se democratizar o conhecimento científico, pois já é reconhecida a importância da vivência científica na escola, desde, tal como propõe Costa e Almeida (2021, p. 02) que:
O ensino de ciências na Educação Infantil tem mostrado novas possibilidades de um trabalho que valoriza e respeita as crianças e suas singularidades. O olhar atento a elas e ao contexto em que convivem diariamente na escola nos leva a perceber quão ricas são as oportunidades e possibilidades de ensinar ciências, atendendo suas necessidades de desenvolvimento e aprendizagem.
E, por isso, ensinar Ciências da Natureza na Educação Infantil, além de ser extremamente relevante, permite desde a primeira infância, a apropriação dos conceitos e procedimentos científicos pelas crianças, tornando possível, na linguagem delas, um lugar privilegiado para o debate sobre o mundo, dos fenômenos da natureza e das transformações produzidas pelo homem.
E, foi considerando isso, que se tem pensado o desenvolvimento de projetos de aprendizagem na Educação Infantil que contemple, entre outros aspectos, o desenvolvimento de práticas educativas condizentes com o contexto social, político e cultural, vivenciado.
Nesse tocante, a própria PCMEI prevê que objetivos e direitos de aprendizagem sejam alcançados, de acordo com os campos de experiência explorados, por meio do desenvolvimento de projetos de aprendizagem dessa natureza com as crianças. Afinal, a todas as crianças devem ser garantidas as mesmas e todas as possibilidades de aprendizagem (BOA VISTA, 2018).
E, é por isso que se concorda com Seribelli e Wiziack (2024, p. 02) ao afirmar que é na primeira infância que se lançam:
As bases do desenvolvimento nos seus diversos aspectos físicos, motores, sociais, emocionais, cognitivos, linguísticos, comunicacionais, etc. É na primeira infância que, questões éticas também se desenvolvem, consolidando marcas por toda uma vida. Por este motivo, investir em pesquisa e ações pedagógicas que discutam questões ambientais, torna-se urgente e necessário para a promoção do desenvolvimento de um sujeito infantil preocupado com as questões do ambiente.
Isso significa que se faz necessário, desde a Educação Infantil, que os professores desenvolvam a aprendizagem das crianças a partir de metodologias capazes de priorizar a construção de estratégias de verificação e comprovação de hipóteses na construção do conhecimento científico, ou seja, que desde o primeiro contato com a escola, elas possam construir a argumentação, desenvolver o espírito crítico, a criatividade, a compreensão dos limites e alcances lógicos das explicações propostas pelas experiências realizadas em sala e fora dela.
Isso permitirá que as crianças aprendam Ciências e seus conteúdos de uma maneira dinâmica, criativa e divertida, sem a obrigação de, por exemplo, ganhar uma nota, ter que passar de ano, como é cobrado a partir dos anos iniciais do Ensino Fundamental. E, ao fazer isso, a criança vai aprender a gostar deste componente muito antes de realmente vivencia-lo como parte obrigatória do currículo escolar (GONÇALVES; MACEDO, 2023).
Em outras palavras, será já na Educação Infantil, por meio do desenvolvimento de projetos de aprendizagem, que as crianças terão a oportunidade de adquirir a capacidade de compreender e interpretar o mundo (natural, social e tecnológico), mas também de transformá-lo com base nos aportes teóricos e processuais das Ciências (COSTA; ALMEIDA, 2021).
E, para entender como é possível trabalhar a temática Natureza e Sociedade na Educação Infantil, por meio de projetos de aprendizagem, que, a seguir, se evidencia todo o processo metodológico que se desenvolveu com uma turma da pré-escola de uma unidade educativa da rede pública municipal de ensino de Boa Vista/RR.
Metodologia
A Proposta Curricular Municipal para a Educação Infantil (PCMEI) propõe, como parte do processo de ensino e aprendizagem da Educação Infantil, o desenvolvimento de projetos de aprendizagem que foquem na formação integral da criança em seus diferentes aspectos: físico, psicológico, intelectual e social. Também solicita que estes projetos contemplem temática que partam do interesse das crianças e promovam o seu protagonismo infantil (BOA VISTA, 2018).
Em se tratando de cumprir com tal finalidade, o projeto de aprendizagem “As borboletas como agentes polinizadores do meio ambiente”, surgiu a partir de conversas com as crianças em sala de aula sobre a conservação e preservação do meio ambiente. Foi desenvolvido na turma de 1º período F da Educação Infantil, no turno vespertino, da Escola Municipal Menino Jesus, no período de 22 de abril a 28 de junho de 2024.
As ações propostas no projeto de aprendizagem contemplaram objetivos e direitos de aprendizagem; a ODS 15, que trata da vida terrestre; e, os campos de experiência, conforme preconiza a PCMEI, onde para o seu desenvolvimento aplicou-se uma pesquisa de natureza aplicada, com abordagem qualitativa, de caráter descritivo, mediante o emprego do estudo de caso por se tratar de ações desenvolvidas junto a uma única turma (GIL, 2010).
A pesquisa de natureza aplicada se caracterizou por “objetivar gerar conhecimentos para aplicação prática, dirigidos à solução de problemas específicos. Envolve verdades e interesses locais” (SILVEIRA; CÓRDOVA, 2009, p. 35), dirigida, portanto, à solução do problema e a alcançar os objetivos específicos previstos num período de curto ou médio prazo, como é o caso deste estudo que volta a sua análise para o potencial das borboletas como polinizadores do meio ambiente.
Sua abordagem foi qualitativa em virtude de se propor investigar, refletir e conhecer uma dada realidade em estudo, constituído de um universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, essenciais ao entendimento do fenômeno estudado (GIL, 2010).
O caráter descritivo foi utilizado para “[…] registrar e descrever os fatos observados sem interferir neles” (CHIZZOTTI, 2013, p. 52), como forma de se ampliar o conhecimento científico, procurando obter informações relevantes e confiáveis sobre a temática abordada.
E, por fim, o emprego do estudo de caso por constituir-se num “estudo minucioso e profundo de um ou mais objetos permitindo a descobertas de novos aspectos que não foram previstos inicialmente pela pesquisa” (CHIZZOTTI, 2013, p. 102).
As experiências desenvolvidas também partiram do resultado obtido por meio do diagnóstico de aprendizagem realizado no período de 30 de janeiro a 17 de fevereiro de 2024 que mostrou a necessidade de fortalecer o trabalho de linguagem oral e escrita e de raciocínio lógico-matemático, pois as crianças precisavam aprender a (Re)Contar, dramatizar e construir histórias; a interessar-se por ouvir histórias; a associar a letra a figura ou algum objeto que comece com aquela letra; a aprender a associar números as suas respectivas quantidades; a diferenciar números de letras; e, a identificar números (antes e depois) em uma sequência.
Os instrumentos de coleta de dados foram os registros fotográficos, planejamentos e atividades realizadas junto às crianças. Os principais recursos utilizados foram: papel (A4, cartão, guache, etc.), elementos da natureza (folhas, gravetos, areia, flores, algodão, etc.), cola (branca, de isopor, colorida, etc.), fita (gomada, dupla face, transparente, etc.), tesouras, caneta, lápis, giz de cera, EVA, pincéis, computador, impressora, quadro branco, pincel, apagador, celular, livros.
Todas as experiências propostas foram desenvolvidas utilizando-se do espaço da sala de aula, do jardim da escola e de elementos contidos na própria natureza, assim como se fez necessário o apoio da família na realização de algumas ações em suas próprias casas, sendo encaminhadas para a escola quando solicitado.
A organização e o planejamento das ações aconteceram de forma semanal. Mas, antes da aplicação, a coordenadora pedagógica fazia a verificação, correção e/ou recomendações, conforme constam na pasta de planejamento impressa, todos os documentos assinados, carimbados e datados, e contemplava:
Temática: Ciência e Natureza;
Objetivos de aprendizagem: (EI03EO03) Ampliar as relações interpessoais, desenvolvendo atitudes de participação e cooperação; (EI03TS02) Expressar-se livremente por meio de desenho, pintura, colagem, dobradura e escultura, criando produções bidimensionais e tridimensionais; (EI03EF04) Recontar histórias ouvidas e planejar coletivamente roteiros de vídeos e de encenações, definindo os contextos, os personagens, a estrutura da história; (EI03ET05) Classificar objetos e figuras de acordo com suas semelhanças; EI03EO05) Desenvolver projetos a partir do interesse das crianças, estimulando as ações cooperativas; (EI03ET01) Estabelecer relações de comparação entre objetos, observando suas propriedades; (EI03EO04) Comunicar suas ideias e sentimentos a pessoas e grupos diversos; e, (EI03CG03) Criar movimentos, gestos, olhares e mímicas em brincadeiras, jogos e atividades artísticas como dança, teatro e música;
Campos de experiências: Traços, sons, cores e formas; Espaços, tempo, quantidade, relações e transformações; Escuta, fala, pensamento e imaginação; e, Corpo, gesto e movimento;
Direitos de aprendizagem: Brincar, expressar, conviver, explorar, participar e conhecer-se.
As experiências propostas envolveram produções orais, escritas e práticas, como: momento da leitura, abordagem do tema, conversas informais e dirigidas, construção de cartazes coletivos, construção e produção de desenhos, pinturas e elementos da natureza.
Os instrumentos utilizados para a análise dos dados obtidos após a aplicação de cada planejamento semanal foram: as próprias produções das crianças; as observações do envolvimento, da participação e do protagonismo infantil; os relatos e registros fotográficos contidos nos diários de bordos das crianças.
Considerando os resultados obtidos a cada semana de desenvolvimento do projeto de aprendizagem, a avaliação empregada foi contínua, diagnóstica e processual, onde foi observado e registrado o progresso das crianças no relatório do 1º semestre do desenvolvimento descritivo do aluno; no diário de bordo bimestral apresentado às famílias nas reuniões de pais e mestres que continham produções, relatos e registros fotográficos do processo percorrido; na culminância da IV Feira de Iniciação Científica de Boa Vista (FEIC BV) – Etapa escolar, ocorrida no dia 09/08/2024; e, na FEIC Municipal ocorrida em 18/09/2024.
Análise e discussão dos resultados
Diante da proposta de desenvolver um projeto de aprendizagem que tivesse como foco promover a aprendizagem das crianças, considerando os resultados obtidos a partir do diagnóstico de aprendizagem, ao mesmo tempo em que se buscava fortalecimento do protagonismo infantil e do próprio processo educativo, buscou-se desenvolver produções que contemplassem a temática “Ciência e Natureza” e que tivesse uma estreita relação com o tema principal da IV Feira de Iniciação Científica de Boa Vista (FEIC BV) que era “Biomas do Brasil: diversidade, saberes tecnologias sociais”, além do emprego de pelo menos um dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Destaca-se que, apesar de aparentar ser uma temática de fácil compreensão, é importante ressaltar que as crianças apresentaram muitas dificuldades de início, uma vez que por inúmeras vezes as produções foram feitas por elas mesmas e, levando em consideração a idade delas e a falta de habilidade/coordenação motora, pode-se dizer que foi uma experiência inovadora e diferente de quase tudo que eles já tinham vivenciado.
Por outro lado, as experiências promovidas apresentaram-se dinâmicas, criativas e desafiadoras para elas, e permitiu a cada criança:
criar e testar hipóteses;
comparar lembranças e vivências;
relatar situações do cotidiano familiar;
se comunicar;
se expressar;
e, a trazer uma leitura e escrita de mundo prévia realizada do jeito que viam e compreendiam tudo a sua volta.
Não foi tão fácil como se imagina. Foi desafiante promover experiências que saíssem do tradicional desenho feito no papel, para a elaboração e vivências de experiências concretas que tornassem as crianças protagonistas de sua própria aprendizagem.
A cada semana, novas ideias foram surgindo. E, o que era uma dificuldade passou a ser a maior competência. A criatividade foi fluindo, pois tudo virava ideia para a nova produção com as crianças. Elas mesmas já indicavam o que gostariam de produzir. E, assim, foi sendo percebido que elas avançavam tanto em relação à aprendizagem, quanto em se tratando de sua autonomia, independência, criatividade e protagonismo infantil, uma vez que se notava:
Produções práticas mais detalhistas;
A oralidade estava mais desenvolvida principalmente quando tinham que (Re)Contar, dramatizar e construir histórias orais e escritas por meio dos desenhos;
Mostravam-se mais atentos e interessados por ouvir histórias, pois sabiam que teriam uma produção a fazer a partir do seu entendimento;
As experiências realizadas em sala eram observadas atentamente, assim como as de casa tinham a sua participação na construção.
E, foi a partir da preposição deste projeto de aprendizagem que as crianças perceberam que, mesmo ainda sendo bem pequenas, poderiam aprender muitas coisas sobre a importância das borboletas como agentes polinizadores do nosso meio ambiente, por meio de historinhas e desenhos, de pequenos experimentos, de atividades práticas, de oralidade e de escrita, por exemplo.
Como parte das contribuições vivenciadas a partir do projeto de aprendizagem, as crianças aprenderam que:
elas possuem um papel muito importante na preservação do meio ambiente;
que as borboletas são seres fundamentais para o meio ambiente;
que os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) precisam ser postos em prática por cada um;
que o futuro do planeta também depende de cada uma delas.
Essas contribuições percebidas só foram possíveis porque foi realizado um longo processo de observação e coleta de informações, que teve início desde o primeiro dia de aplicação do projeto em 22/04/2024. Mas, o ponto auge foi à culminância do trabalho desenvolvido com as crianças na IV FEIC na escola no dia 09/08.
Foi satisfatório perceber a desenvoltura, a participação e o envolvimento deles na apresentação para as outras crianças da escola, para os avaliadores e para as famílias que visitavam o evento. Mostraram-se bem à vontade e comprometidas com os estudos elaborados para a apresentação, fato esse que rendeu o primeiro lugar e o projeto de aprendizagem foi inscrito e apresentado na FEIC Municipal, tendo sido apresentado para outras escolas, públicos e avaliadores no dia 18/09/2024.
Assim, fazendo uma análise de todo o trabalho realizado, acredita-se que tudo o que foi proposto deu certo. Mas, pensando em aplicações futuras, acredito que a vivência de diferentes experimentos práticos, assim como rodas de discussões, trazer a família para dentro da escola e não apenas as atividades que elas ajudaram a construir, seria um diferencial e que contribuiriam muito mais com o processo de ensino e aprendizagem.
Isso também serviu para mostrar que, de fato, a Educação Infantil é um espaço preparatório para que a criança tenha acesso ao aprendizado e as descobertas, assim como ao convívio com outras crianças, pois sua intencionalidade compreende, ao mesmo tempo, o cuidar e o educar, que, por sua vez, parte do princípio da formação da pessoa em sua essência humana (BRASIL, 2017).
Conclusão
Por meio da realização deste relato de experiência no formato de artigo que qualificou-se como sendo de natureza aplicada, com abordagem qualitativa, do tipo descritivo, trouxe-se para a discussão, os resultados obtidos por meio de um estudo de caso no qual o intuito foi apresentar, mesmo que de forma resumida, o desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem em que se explorou a temática Ciência e Natureza como fio condutor para pôr em prática o Objetivo do Desenvolvimento Sustentável (ODS) que foca na necessidade de proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, a partir do gerenciamento sustentável das florestas.
Diante disso, destaca-se que a proposta foi atendida e realizada com sucesso, uma vez que, mesmo na Educação Infantil não se trabalhando um currículo dividido por componentes curriculares ou áreas de conhecimento, conseguiu-se trabalhar a temática Natureza e Sociedade, e, ainda, fomentar o conhecimento científico com as crianças por meio do desenvolvimento de um projeto de aprendizagem.
Outro aspecto importante a ser mencionado é que por meio do projeto de aprendizagem desenvolvido junto as crianças do 1º período da Educação Infantil conseguiu-se, entre outros aspectos, proporcionar um novo olhar sobre o mundo que os cerca, mostrando a importância das borboletas para o meio ambiente, fomentando-se assim, a realização de escolhas e intervenções conscientes e pautadas nos princípios da sustentabilidade e do bem comum.
Isso proporcionou concluir o quanto é importante trabalhar na perspectiva do desenvolvimento de projetos de aprendizagem, assim como se explorar, desde a Educação infantil, o ensino de Ciências da Natureza, para que quando cheguem nos anos iniciais do Ensino Fundamental já tenham promovidos habilidades e competências voltados para o letramento científico.
Há, no entanto, que se destacar que, é papel do professor assegurar aprendizagens essenciais na Educação Infantil. E, isso só é possível se forem garantidas as crianças, não apenas a matrícula, acesso e permanência na escola. Mas, acima de tudo, um currículo comum e, ao mesmo tempo, diversificado, rico em oportunidades de aprendizagem.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOA VISTA. Proposta Curricular Municipal para a Educação Infantil. Prefeitura Municipal de Boa Vista; Secretaria Municipal de Educação e Cultura, Boa Vista, Roraima, 2018.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Educação é a base. Ministério da Educação; Secretaria Executiva; Secretaria de Educação Básica; Conselho Nacional de Educação; Conselho Nacional de Secretários de Educação – CONSED; União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação – UNDIME. Brasília, 2017.
CHIZZOTTI, A. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 2013. (Biblioteca da educação. Série 1. Escola; v. 16)
COSTA, Edith Gonçalves; ALMEIDA, Ana Cristina Pimentel Carneiro de. Ensino de ciências na educação infantil: uma proposta lúdica na abordagem ciência, tecnologia e sociedade (CTS). Ciência & Educação, Bauru, v. 27, e21043, 2021.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6. ed. 3. reimpr. São Paulo: Atlas, 2010.
GONÇALVES, Evanuzia da Silva et al. Brincando com poesias: a experiência com projetos de aprendizagem na Educação Infantil. Revistaft, Pedagogia, Volume 28, Edição 136, Julho/2024/11/07/2024, REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12727172. Disponível em: <https://revistaft.com.br/brincando-com-poesias-a-experiencia-com-projetos-de-aprendizagem-na-educacao-infantil/>
GONÇALVES, Antonio José da Silva; MACEDO, Guadalupe Edilma Licona de. O Ensino de Ciências na Educação Infantil: Observação e Prática. In.: Anais do IX Congresso Nacional de Educação – IX CONEDU, Educação Infantil – Vol. 02, pp. 173-189, 2023.
SERIBELLI, Vanessa Helena; WIZIACK, Suzete Rosana de Castro. Educação ambiental na primeira infância: relação necessária ao desenvolvimento humano. Scientia Vitae, Volume 17, número 44, ano 11, jan./fev./mar. 2024.
SILVEIRA, D. T.; CÓRDOVA, F. P. Unidade 2 – A pesquisa científica. In.: GERHARDT, T. E.; SILVEIRA, D. T. (Orgs.). Universidade Aberta do Brasil – UAB/UFRGS; SEAD/UFRGS. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009.
Anexos
Anexo 1 – Produções práticas: Borboletas confeccionadas com material reciclável
Anexo 2 – Experimento: Confecção de um mini borboletário.
Anexo 3 – Plantio de mudas no jardim.
Anexo 4 – Apresentação do projeto na FEIC BV: Etapa Escolar
Anexo 5 – Apresentação do projeto na FEIC Municipal
1 Pedagoga (Universidade Estadual de Roraima – UERR, 2007), Especialista em Metodologia do Ensino de Arte (Centro Universitário Internacional – UNINTER, 2019). E-mail: [email protected]
2 Mestre em Ensino de Ciências (UERR, 2022), Especialista em Gestão do Trabalho Pedagógico: Administração, Orientação e Supervisão (Instituto Brasileiro de Pós-Graduação e Extensão – IBPEX, 2009) e em Educação Especial e Inclusiva (Universidade Barão de Mauá, 2017) e licenciada em Pedagogia (UERR, 2007) e em Educação Física (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Roraima – IFRR, 2012).
3 Pedagoga (Faculdade Estácio da Amazônia, 2013), Especialista em Educação Infantil com habilitação em Educação Especial (Faculdade de Ciências, Educação e Teologia do Norte do Brasil – FACETEN, 2019).
4 Graduada em Educação Física (Centro Universitário do Norte – UNINORTE, 2018), e Especialista em Educação Física e Psicomotricidade (Faculdade Famart, 2022).
5 Pedagoga (Faculdade de Ciências, Educação e Teologia do Norte do Brasil – FACETEN, 2011). Especialista em Educação Especial e Inclusiva (Faculdade de Educação São Luiz, 2020).