ALFABETIZAÇÃO DE ESTUDANTE ATÍPICO USANDO A CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10348869


Eder Valadão de Oliveira
Rogério Eduardo da Silva
Karla Isabela da Silva Santos


RESUMO
O processo de aprendizagem não possui uma fórmula única, ele é heterogêneo, quando falamos em alfabetização de estudantes AEE percebemos que é ainda mais difícil este processo devido às barreiras que encontramos, entre elas podemos citar falta de estrutura, falta de professores habilitados e preparados para as diversas síndromes e transtornos que afligem a aprendizagem dos estudantes. O método Fonovisuoarticulatório conhecido como “boquinhas”, que é um método fônico, foi muito bem desenvolvido com uma criança Down na qual estava em um nível pré-silábico e com o trabalho desenvolvido durante sete meses obteve uma consolidação de diversas habilidades estando agora em nível silábico alfabético com certa autonomia na leitura e escrita.
Palavras-chave: Alfabetização, estudante AEE, método fônico. 

1. INTRODUÇÃO
 
A alfabetização é mais do que a simples aquisição da habilidade de ler e escrever, é a chave para desbloquear um mundo de conhecimento e oportunidades. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2018, pag. 57) nos diz que a ação pedagógica deve ter como foco a alfabetização, a fim de garantir amplas oportunidades para que os alunos se apropriem do sistema de escrita alfabética de modo articulado ao desenvolvimento de outras habilidades de leitura, de escrita e ao seu desenvolvimento em práticas diversificadas de letramento isto sendo nos dois primeiros anos de Ensino Fundamental. 
 
No cerne desse processo encontra-se a consciência fonológica, um conjunto de habilidades auditivas e cognitivas que permitem a compreensão e manipulação dos sons da linguagem. É através dessa consciência que as crianças aprendem a decifrar as letras, unindo-as para formar palavras e, por fim, dando significado ao texto escrito. Soares (2017) nos diz que essa capacidade de focalizar os sons das palavras, dissociando-as de seu significado e de segmentar as palavras nos sons que as constituem faz com que a criança compreenda que a escrita representa os sons das falas.
 
Este artigo explora a relação intrínseca entre alfabetização e consciência fonológica de uma criança portadora da Trissomia do cromossomo 21 (Síndrome de Down), destacando sua grande importância no desenvolvimento inicial da leitura e escrita. Ao compreendermos os fundamentos da consciência fonológica e sua influência na aquisição da linguagem escrita, podemos traçar estratégias mais eficazes para apoiar e enriquecer o processo de alfabetização em crianças atípicas portadoras ou não de síndromes e transtornos.
 
Em 1994 a declaração de Salamanca popularizou o termo Educação Inclusiva (UNESCO, 1994), e Vygotsky (1998) nos diz que incluir é bem mais do que matricular uma criança e frequentar a sala de aula. É preciso que a criança tenha oportunidade de participar ativamente das atividades propostas em sala e das atividades extraclasse. Para tanto, de antemão, é preciso conhecer a criança, propor atividades para avaliar seu nível de desenvolvimento real.
 
2. DESENVOLVIMENTO
 
Neste artigo abordaremos o processo inicial de alfabetização de uma criança Down de 08 anos completados em janeiro de 2023, na qual esta alocada em uma sala de 2º ano com 23 estudantes, possuindo uma professora de apoio, em abril foi feita uma sondagem para classificar seu nível de alfabetização, o resultado foi que se encontrava em nível silábico sem valor sonoro, ainda não identificava todas as letras do alfabeto e as que reconheciam era apenas o nome da letra, não associava grafema/fonema. Quando iniciou o processo com a estudante ela apresentava desatenção, teimosia, não conseguia se concentrar nas atividades até então propostas. A partir destes dados buscamos estratégias para que a estudante tivesse essa apropriação. Com auxílio da professora de apoio, as atividades desenvolvidas eram objetivadas e com propósito específico.
 
Como a alfabetização é heterogênea em sala de aula procuramos diversos métodos para alfabetizar esta criança Down, inclusive foi uma aluna retida em ano anterior, mas este ano buscamos o Método Fonovisuoarticulatório, conhecido como Boquinhas, à proposição teórica do Método das Boquinhas viabiliza e favorece a alfabetização por meio da Conscientização Fonovisuoarticulatória (CFA). Assim, se torna um método oralista, fônico e articulatório de alfabetização, que além de viabilizar a aquisição da leitura e escrita pela fala, fortalece a correta articulação, propiciando uma mediação pedagógica e preventiva das alterações fonológicas de fala e processamento auditivo, reforçado nas orientações de atuação da Fonoaudiologia na Educação.
 
O trabalho iniciou com a apresentação das vogais e suas respectivas “boquinhas”, assim que ela se apropriou da grafia e o som de cada letra. Partimos para as consoantes, sempre apresentando a grafia e o som de cada letra a ser trabalhada. As primeiras atividades foram desenvolvidas lentamente, pois a estudante não associava o som à letra, porém o método proposto pelo “boquinhas” foi desenvolvendo e fazendo com que a estudante se apropriasse desta habilidade. Desta forma, foram intensificadas as atividades conforme a estudante ia se apropriando. Após algumas consoantes já serem trabalhadas, iniciou o confronto entre as sílabas e a leitura de palavras.
 
Ferreiro (1986) nos diz que o que define a aprendizagem como um processo ativo no qual o significado se desenvolve sobre a base da experiência - que aqui se apresenta como a consciência fonoarticulatória (Boquinhas), uma ferramenta segura e concreta para o aprendizado da leitura e escrita. Assim, o aluno passa a construir a sua alfabetização por meio de uma representação interna de sua boca que faz sons, que representam letras e estaria aberto à troca, uma vez que todos aprenderiam pela mesma ferramenta.
 
As atividades propostas eram de identificar no texto e grafar a consoante a vogal que estava sendo trabalhada, completar as palavras com as sílabas faltosas, identificar imagens cujo desenho se iniciava com a sílaba em destaque. Com a apropriação do sistema de escrita alfabética relacionando grafema/fonema, mudou se a proposta de atividades, utilizando-se da coletânea MS Alfabetiza (projeto de alfabetização utilizado em Mato Grosso do Sul) iniciou uma nova vivência a estudante, como a coletânea traz uma diversidade de gêneros textuais, aprofundando seus conhecimentos e habilidades.
 
Magna Soares em seu livro Alfabetização: a questão dos métodos (2016) nos traz a reflexão que a alfabetização é o resultado da trajetória da aprendizagem e o ensino da leitura e da escrita ressignificadas pela experiência em contextos escolares. Abordando relações entre a teoria e a prática, concebe a alfabetização como um processo complexo, composto por três facetas: a linguística, a interativa e a sociocultural.
 
Diversos autores defendem a inclusão na alfabetização, observamos Ferreiro e Teberosky (1985) nos diz que a alfabetização é um processo complexo que deve ser adaptado às necessidades individuais de cada estudante, incluindo aqueles com deficiências ou dificuldades de aprendizagem e Mantoan (2006) exclama que alfabetização inclusiva é a base para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, onde todos os indivíduos tenham a oportunidade de desenvolver plenamente seu potencial. Para Silva (2023) alcançar a educação inclusiva para todos não é uma tarefa fácil. Requer um compromisso contínuo de governos, instituições educacionais, comunidades e sociedade em geral. É necessário investir em recursos, formação de professores, infraestrutura adequada e políticas inclusivas para superar as barreiras existentes e garantir que todos os alunos tenham acesso a uma educação de qualidade.
 
3. CONCLUSÃO 
 
O trabalho desenvolvido com a estudante durante estes sete meses buscou-se estratégias para que a mesma avançasse na sua aprendizagem, já está lendo palavras simples, identifica no texto palavras ditadas, tem uma autonomia de leitura de certas palavras. Quanto a escrita possui atraso, pois a mesma ainda escreve com letra caixa alta, ainda não consegue escrever cursivamente.
 
Durante todo esse tempo trabalhado a estudante avançou da fase pré-silábica em que não reconhecia todas as letras ou identificava palavras e nem mesmo as escrevia, para silábica alfabética, onde já desenvolve com certa autonomia a escrita e a leitura de palavras. A estudante nas atividades ministradas tem alcançado o objetivo proposto, desenvolvendo assim, as habilidades necessárias para sua alfabetização. Dentro de suas limitações tem avançado tanto na escrita e na leitura.
 
Alfabetizar uma criança com necessidades educacionais especiais (AEE) é um investimento valioso que vai muito além das habilidades de leitura e escrita. A alfabetização não apenas facilita a comunicação, mas também estimula o raciocínio lógico, a criatividade e a expressão individual, promovendo um desenvolvimento cognitivo mais completo. Além disso, ao proporcionar uma educação inclusiva e acessível, estamos promovendo a igualdade de oportunidades e contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. Portanto, alfabetizar uma criança com necessidades educacionais especiais é um passo crucial para o seu pleno desenvolvimento e para a construção de um futuro mais inclusivo e equitativo para todos.
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 
Brasil. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018
 
Callari, Alexandre e Jardini, Renata Dilema da DesAtenção 2ª edição https://www.skoob.com.br/livro/pdf/o-dilema-da-desatencao/190083/edicao:212309/. Acesso em 16 de out. 2023
 
Ferreiro, Emilia Reflexões sobre Alfabetização encontrado em https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5342947/mod_resource/content/1/Reflex%C3%B5es%20sobre%20Alfabetiza%C3%A7%C3%A3o%20.pdf. Acesso em 16 out. 2023
 
FERREIRO, E.; TEBEROSKY, A. Los sistemas de escritura en el desarrollo del niño. Siglo XXI Editores, 1985.
 
MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão Escolar: O que é? Por quê? Como fazer? Moderna, 2006.
 
Pressuposto teórico do Boquinhas encontrado em https://docs.google.com/document/d/1co109chOZIvoSoJPiahypZaHOP1ySl6H/edit?pli=1. Acesso em 16 out. 2023 
 
Silva, Rogério Eduardo Gestão escolar: desafios, oportunidades e soluções Cap. 08 pag. 88 2023 encontrado em https://ayaeditora.com.br/Livro/26193/. Acesso em 19 out. 2023
 
SOARES, Magda B. Alfabetização: a questão dos métodos. São Paulo: Contexto, 2017 encontrado em http://www.entrepalavras.ufc.br/revista/index.php/Revista/article/view/1428/608. Acesso 16 out. 2023
 
UNESCO. Declaração de Salamanca: sobre princípios, políticas e práticas na área das necessidades educativas especiais. Salamanca-Espanha, 1994.
 
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.