AFETIVIDADE EM SALA DE AULA DE FREUD A VYGOTSKY: UMA REVISÃO DE LITERATURA
PDF: Clique Aqui
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12216373
Helena de Fátima Bernardes Milani1
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo compreender a afetividade que se passa em sala de aula, a partir de uma revisão de literatura, dos autores Freud e Vygotsky e parte da vivência desta pesquisadora como educadora na área da saúde e educação. Também por acreditar que na sala de aula, com a presença do professor e dos alunos há exposição do inconsciente destes participantes junto com a flutuação de suas singularidades. Ambos os autores consideram que é necessária e muito importante afetividade na sala de aula, o ensino torna-se mais prazeroso e eficaz, alcançando o aprendizado.
Palavras Chave: Afetividade, Educação, Sala de Aula
ABSTRACT
The present work aims to understand the affection that goes on in the classroom, from a literature review, by the authors Freud and Vygotsky and part of the experience of this researcher as an educator in the area of health and education. Also because I believe that in the classroom, with the presence of the teacher and the students, there is exposure of the unconscious of these participants along with the fluctuation of their singularities. Both authors consider that it is necessary and very important affectivity in the classroom, teaching becomes more pleasant and effective, reaching learning.
Keywords: affectivity, education, classroom
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como tema afetividade entre professores e alunos na sala de aula, assunto importante e ao mesmo tempo desafiador e inquietante, o que se faz
pensar e buscar alguns elementos que podem contribuir com a indagação: há afetividade entre os professores e os alunos no cotidiano da sala de aula? Pois se sabe que a afetividade exerce um papel importantíssimo em todas as relações, além de influenciar de forma decisiva na personalidade humana.
O interesse pelo tema nasceu da rotina docente nas leituras em artigos e livros conforme consta na referência e também em observações em diferentes locais no Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos: corredores, sala de aula, sala dos professores, núcleo de pesquisa e extensão, biblioteca e em conversas com os colegas docentes.
A partir deste interesse, pode-se dizer o quanto tem sido cauteloso, cuidadoso e instigante refletir sobre ser docente, uma vez que traz uma significação que move o professor ao encontrar seus alunos na sala de aula. Pode-se dizer que é um momento impar, permeado por singularidades, de um lado o professor e do outro os alunos.
A maioria dos autores conceitua a afetividade colocando-a no nível dos fenômenos mentais, dos sentimentos e emoções que influenciam os comportamentos humanos de forma satisfatória ou não, dependendo de suas experiências na vida e a capacidade pessoal de cada um de responder ou reagir a estas.
No Dicionário Aurélio, a palavra afetividade está definida da seguinte forma: “A afetividade é: conjunto de fenômenos psíquicos que se manifestam sob a forma de emoções, sentimentos e paixões, acompanhados sempre da impressão de dor ou prazer, de satisfação ou insatisfação, de agrado ou desagrado, de alegria ou tristeza (2004 CD rom). ”
Falar sobre o ensino-aprendizagem é pautar por diferentes dimensões, é complexo e extenso uma vez que se trata da relação professor-aluno visando o ato de ensinar e também o de aprender em diferentes épocas, é uma abordagem histórica. É falar da essência de todo o trabalho que perpassa as ações pedagógicas na escola. Nesse sentido, percebe-se que o ambiente escolar tem se constituído num espaço de muita complexidade e ao mesmo tempo de muito interesse ao longo do tempo, no que diz respeito ao reconhecimento e à importância de como a temática em si é compreendida e descrita por vários estudiosos da educação, Saviani, 1997; Freire, 2007; Pimenta, 2005; Lukesi, 2011 entre outros.
Para Maciel (2005), o encontro entre Educação e Psicanálise pode ser bastante frutífero. Ele tem uma história, que começa nos primeiros escritos de Freud sobre o tema e se estende até textos de psicanalistas e educadores mais contemporâneos.
As contribuições de Freud à educação dizem respeito primeiramente à transmissão de conhecimento através dos inconscientes. Devemos esclarecer que o inconsciente é o conceito fundamental da psicanálise, Freud (2006). Com esse conceito, podemos nos conceber também como sujeitos do desconhecimento, no qual algo sempre escapa à pretensão de controle consciente, como, por exemplo, de tudo o que aprendemos.
Outra referência de Freud à educação, diz respeito à importância da relação professor-aluno, o que nos leva a pensar na questão da transferência sob o aspecto de um fenômeno que não se passa apenas entre paciente e terapeuta, mas que perpassa todas as relações humanas, Freud, (2006).
Lima & Miller, (2010) escrevem que para Vygotsky (1995) o papel do educador é especialmente complexo porque ele precisa conhecer as regularidades do desenvolvimento psíquico da criança, a dinâmica do ambiente e as possibilidades da atividade pedagógica para que possa elevar o aluno a mais alta condição de consciência, de sua personalidade, pelas vias dos sentimentos o que resultará no aprendizado.
Nas buscas referenciais agrega-se os autores como Freud (2006), Kupfer (1992), Piaget (1962), Vygotsky (1993/2006), Wallon apud La Taille 1992, Libâneo (2010) que tratam e valorizam o relacionamento professor aluno pela via da afetividade e afirmam que este assunto é relevante na construção do ser humano.
Libâneo (2010, p.66) nos fala que “a relação professor-aluno acontece de formas múltiplas, envolvendo aspectos afetivos e emocionais e várias dinâmicas em sala de aula”.
Na psicogenética de Henri Wallon (apud La Taille 1992), a dimensão afetiva está no centro de tudo, na construção da pessoa e também na construção do conhecimento.
Henri Wallon, (2003) considera a pessoa como um todo, afetividade, emoções, movimento e espaço físico e que se encontram num mesmo plano.
Olhando ainda pela perspectiva psicanalítica a afetividade vai se construindo junto com à formação psicanalítica do eu, de maneira que, acredita-se que ninguém nasce pronto, mas ele vai se constituir a partir das relações que o sujeito estabelece; são nessas trocas que irá se constituir as relações de afeto.
Vygotsky (1934) afirma ainda que não se pode separar o afetivo do cognitivo e que um dos grandes problemas de alguns pesquisadores é a ruptura entre o intelecto e o afeto, uma vez que o pensamento vem do que ele chama de esfera de motivação, que corresponde às necessidades, interesses, afetos, emoção, etc
E segundo o autor Briguier (1977, p. 71-72) Piaget afirma que “para que a inteligência funcione, é preciso um motor que é o afetivo. Jamais se procurará resolver um problema se ele não lhe interessa. O interesse, a motivação afetiva é o móvel de tudo.”
Segundo Piaget (1976, p. 16):
....o afeto é essencial para o funcionamento da inteligência. (...) vida afetiva e vida cognitiva são inseparáveis, embora distintas. E são inseparáveis porque todo intercâmbio com o meio pressupõe ao mesmo tempo estruturação e valorização. Assim é que não se poderia raciocinar, inclusive em matemática, sem vivenciar certos sentimentos, e que, por outro lado, não existem afeições sem um mínimo de compreensão.
De acordo com a citação acima, sem afeto então, não há interesse, necessidade e motivação pela aprendizagem, não há também questionamentos, e sem eles, não há desenvolvimento mental. Afetividade e cognição se complementam e uma dá condição para que a outra possa existir e desenvolver. O que vem corroborar com as considerações de Piaget.
Têm-se indagado a partir do campo observado e dos autores consultados: Freud 2006, Piaget 1978, Wallon 2007, Vigotsky1988, La Traille 1992, Millani 2018, que muitas vezes não é valorizado o campo relacional entre o aluno e professor em sala de aula, assim como na evolução do ser humano, a afetividade compõe sua vida, este momento de desenvolvimento e de construção cognitiva. Deve-se estar atento para o que emerge da ordem do inconsciente e de significativo nesta relação, professor-aluno.
Também importante é a observação dos métodos de ensino que se forem observados, podem ser revistos de modo a colaborar com o sentido que se dá ao ensino e na relação professor e aluno em sala de aula.
Sabe-se que o fio condutor de uma boa aula é o conhecimento e domínio do conteúdo pelo professor, mas a metodologia didática não é feita com o professor apenas, é muito importante considerar que todos os alunos trazem consigo uma historia de vida, que juntos irá integrar o processo de ensino e aprendizagem. Acredita-se numa troca, todo potencial do professor vai despertar o interesse e participação do aluno em busca do conhecimento.
Tem-se como hipótese para este trabalho a valorização do professor no momento da aula, será que a relação com os alunos é compreendida e valorizada? Uma vez que pelas leituras acredita-se que há elementos psíquicos que emanam tanto do professor como do aluno. Há uma vulnerabilidade no sentido da afetividade na sala de aula entre o professor e o aluno? Há preocupação neste sentido com os atores aqui pensados?
Faz-se necessário reavaliar que na sala de aula há pessoas, que todo este aparato é necessário, mas é onde também há movimentação de elementos psíquicos, várias subjetividades, sentimentos, emoções, desejos, motivações, afeto, amor, ódio (Kupfer, 2006).
Busca-se num primeiro momento, a identificação que Freud teve com seus mestres e seus pais com a educação e com o que ele deixou para essa reflexão.
Segundo Freud (2006) há referência da influência “que seus mestres e tutores tiveram em sua vida, suas preferências nos estudos busca de compreensão no que fazia” (Kupfer, 2017, pg 23). Verifica-se que tanto com seus professores como com seus pais desenvolveu sua trajetória de estudo de forma apaixonante, era frequente, dedicado e disciplinado em todos os saberes que desafiava seus interesses.
Chama-se atenção o modo como Freud falava sobre cada um de seus mais importantes professores, como eles eram distinguidos por Freud, quanto à sua capacidade profissional. Na verdade, ao longo de sua vida, Freud refletiu sobre a educação e a importância dos professores, como influenciavam seus alunos, a forma de ensinar de cada um, a clareza do processo de transferência e o desejo saciado pelas ricas aulas e preleções, baseado em sua vivência com os seus mestres (Freud, 2006).
Kupfer (2001, p.8) sinaliza que Freud caminhou em direção ao seu próprio método psicanalítico e, foi o verdadeiro produtor da teoria, a psicanálise, trabalhou de forma desejante o que lhe tornou o criador e compreendedor do inconsciente.
Nos estudos freudianos (livros I ao XXIII-2006) verifica-se que Freud caminhou com seus estudos e pesquisas, experiências com seus casos clínicos e psíquicos
em busca da compreensão do inconsciente do homem, desta forma foi o legado por ele deixado para a humanidade.
Freud tinha intimidade com a teoria, com a ciência, o que lhe permite discorrer sobre sua relação com seus mestres, discípulos, analistas e analisados, pois a vida dele foi permeada por esses sentimentos. Freud conviveu com os discípulos de seus mestres. Mais tarde, como o criador da teoria sobre a psicanálise, viveu uma relação de aconchego com algo mais que processos relacionados e psicossociais (Freud, 2006).
Gay (1995, p.160) realça que Freud foi um mestre e vivenciou com muita observação a questão da educação, a partir de sua relação com os seus pais na época de criança, quando fazia perguntas a estes, eles respondiam todas, o que levava Freud compreender que o ensino deveria ser assim: com respostas éticas, verdadeiras e que não houvesse dúvidas, era uma relação original defendida, ali acontecia suas maiores descobertas éticas, sobre a verdade, a sinceridade. Era um garoto que já tentava dar sentido profundo nas pequenas coisas que vivenciava.
Bastos 2017 escreve que Vygotsky é um autor fundamental para a compreensão do desenvolvimento humano no ensino e aprendizagem, pois ressaltou o papel das interações sociais na evolução psíquica, a influência do contexto sócio-cultural, a linguagem e da mediação simbólica e de maneiras singulares no processo de ensino e aprendizagem.
Vygotsky (1998) acreditava que o desenvolvimento e a aprendizagem eram coisas que andavam juntas, uma ocorria através da outra e vice versa, sendo assim, ele acreditava numa aprendizagem sem contextos pré-definidos, isso significa que, ela pode ser adquirida na escola, extra-escolar, pela vivência e outras, assim sendo, todas estas experiências de aprendizagem vão se interligando.
Esse pensamento de aprendizagens interligadas influenciou a base da ideia de interdisciplinaridade, da importância de se valorizar os tipos de conhecimento e ainda demonstrou à importância de se articular a educação escolar com a extra- escolar, o meio de onde o individuo é Vygostky, 1998.
Vygotsky (1998) faz pensar que o educador deve agir como mediador dos conhecimentos prévios dos alunos, pois há uma história de vida, a singularidade, sua inserção na comunidade, o meio social em que vivem, é necessária considerar a história de vida do aluno que vem com ele para a sala de aula, vindo de encontro com os pensamentos psicanalíticos sobre a formação e conservação da personalidade.
Portanto o educador nada mais é do que um intermediário entre o conhecimento e o aluno, ele é uma ferramenta que deverá auxiliar o aluno a entender e apreender o conhecimento, promovendo situações que incentivem isso.
Ainda falando dessa questão da mediação, Vygotsky (1998) dizia que a linguagem é um signo mediador por excelência, e ainda dizia que ela é um veículo de transmissão dos pensamentos, ou seja, a linguagem é uma forma de expressar nossas ideias. Neste contexto, essa ideia foi crucial para os educadores, pelo menos no sentido de avaliar melhor as posturas de linguagens e adaptá-las aos contextos exigidos.
Outra contribuição de Vygotsky (1998) para foi sua teoria sobre a zona de desenvolvimento proximal, onde esta é a distância entre o conhecimento adquirido autonomamente e o conhecimento adquirido com a ajuda de outros elementos de seu grupo social, onde a escola neste caso seria a intermediadora desses conhecimentos. Neste caso, essa teoria leva a pensar que é importantíssimo conciliar os conceitos do cotidiano com o científico, mais uma vez a questão do desenvolvimento atrelado a aprendizagem.
Oliveira (1997) ressalta que Vygotsky diferencia significado e sentido, sendo que o significado se refere ao sistema de relações objetivas que se formam no processo de desenvolvimento da palavra e o sentido refere-se ao valor afetivo da palavra para cada pessoa, ou seja, neste último, conta as experiências individuais e as vivências afetivas, evidenciando a perspectiva de que cognição e afeto são aspectos indissociáveis na constituição do ser humano.
4 - RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para abordar sobre afetividade busca-se num primeiro momento o significado da palavra no dicionário Aurélio (1999), no qual é definido como uma faculdade afetiva, uma qualidade do que é afetivo ou uma função geral, sob a qual se colocam os fenômenos afetivos.
Na obra de Freud (1915a), traz o conceito de afeto (Affekt) está ligado ao de pulsão (Trieb). A pulsão e o desejo compuseram, entre outros, os estudos de Freud que a considerou:
“conceito situado na fronteira entre o mental e o somático, como o representante psíquico dos estímulos que se originam dentro do organismo e alcançam a mente, como uma medida de exigência feita à mente no sentido de trabalhar em conseqüência de sua ligação com o corpo. (Freud,1915ª, p.142)”.
Laplanche e Pontallis (1967, p.34) trazem uma definição de afetividade que a psicanálise foi buscar na terminologia psicológica alemã, que a considera como a expressão de “....qualquer estado afetivo, penoso ou desagradável, vago ou qualificado, quer se apresente sob forma de uma descarga maciça, quer como tonalidade geral”. O que se pode perceber que afetividade é uma força que vem de dentro da pessoa em algum momento e que a faz experienciar diferentes sentimentos como: emoção, amizade, paixão, uma sensação agradável e desejosa. É um sentimento intenso que faz as pessoas modificarem o comportamento.
Em “Estudos sobre a Histeria” de Freud e Breuer, escrito em 1895, sobre a psicoterapia da histeria e a descoberta do valor terapêutico da ab-reação (descarga emocional, pelo qual indivíduo se liberta de um afeto traumático), pode-se verificar que o afeto não está necessariamente ligado à representação; a sua separação garante a cada um diferente destino.
Freud indica diversas possibilidades de transformação do afeto: conversão dos afetos (histeria de conversão), deslocamento do afeto (obsessões), transformação do afeto (neurose de angústia, melancolia). Foi a partir desse período que a noção é utilizada em duas perspectivas: pode ter apenas um valor descritivo, designando a ressonância emocional de uma experiência geralmente forte. Mas a maior parte das vezes ela postula uma teoria quantitativa dos investimentos psíquicos, a única que pode traduzir a autonomia do afeto em relação às suas diversas manifestações.
A questão é tratada sistematicamente por Freud nos seus escritos metapsicológicos (O Recalque, 1915; O Inconsciente, 1915). “O afeto é aí definido como a tradução subjetiva da quantidade de energia pulsional”. Ele utiliza o termo afeto para designar esse outro elemento do representante psíquico da pulsão e o conceitua como correspondendo à pulsão, pois na medida em que esta afasta da idéia e encontra a expressão proporcional à sua quantidade em processos que são sentidos como afetos (Freud, 1915b, 1974.p.176).
Vê-se na vida de Freud, no caminhar da construção da psicanálise, ele teve uma relação muito frutífera com seus mestres, e os modos em que pautou suas experiências para considerações sobre esta vivência. Freud falou várias vezes da
influência “que seus professores e tutores tiveram em sua vida, nas opções, decisões e escolhas pessoais.” (Kupfer, 2007, p.23). Eram relatos a respeito da maneira como foram construídas suas relações interpessoais.
Na verdade ao longo de sua vida Freud refletiu sobre a educação e a importância dos professores, como influenciavam seus alunos, a forma de ensinar de cada um, a clareza do processo de transferência e o desejo saciado pelas ricas aulas e preleções, baseado em sua vivência com os seus mestres.
Ao dirigir o foco para a relação do docente com os alunos, acredita-se na importância de escrever sobre o conceito de transferência, iniciando pela definição proposta por Laplanche e Pontalis (2001, p. 514):
.... designa em psicanálise o processo pelo qual os desejos inconscientes se atualizam sobre determinados objetos no quadro de um certo tipo de relação estabelecida com eles e, eminentemente, no quadro de relação analítica. É classicamente reconhecida como o terreno em que se dá a problemática de um tratamento psicanalítico, pois são a sua instalação, as suas modalidades, a sua interpretação e sua resolução que caracterizam este.
Ao lidar com a transferência na inter-relação docente-aluno, pode-se dizer que aquilo que é transferido do aluno ao professor e vice-versa; são experiências primitivas, que ambos viveram com os seus pais, daí a necessidade de abordar esse assunto, pois a figura dos pais se transfere para a do professor e essa ação pode resultar em uma transferência.
Sobre a transferência, Freud (1914, p. 287) escreveu o seguinte:
.....a natureza e a qualidade das relações da criança com as pessoas do seu próprio sexo e do sexo oposto, já foi firmada nos primeiros seis anos de vida. Ela pode posteriormente desenvolvê-las e transformá-las em certas direções, mas não pode mais se livrar delas. As pessoas a quem se acha assim ligada são os pais (ou substitutos, e os irmãos, as irmãs). Todos que vêm a conhecer mais tarde tornam-se figuras substitutivas desde primeiros objetos de seus sentimentos. Todas as escolhas posteriores de amizades e amor seguem a base das lembranças deixadas por esses primeiros protótipos.
Nessa citação, pode-se entender que o professor imbuído de poder pode revestir sua autoridade aos olhos dos alunos, e acabar transformando o que ele diz e pensa em crenças para os seus alunos, mas também pode acontecer o inverso, nada que o docente faz é aceito ou prestigiado.
Freud (1976, p.342) escreveu e considerou: “o trabalho da educação é algo sui generis: não deve ser confundido com a psicanálise e não pode ser substituído por ela”; o que vem ao encontro da citação de Filloux. Sua teoria, a psicanálise, não veio para substituir nenhuma teoria e nem a educação, ela em seus meandros vai colaborar, uma vez que onde houver pessoas há a relação inter e intrapessoal, a ciência psicanalítica vai propiciar o conhecimento do inconsciente, assim tornando mais fácil as relações humanas.
A relação entre a psicanálise e a educação aqui citada e ao mesmo tempo há um chamamento para atenção de que o professor precisa atentar e compreender sua postura diante dos alunos, postura tem importância e, resulta em indagações para os alunos, tudo que está “posto” terá significados.
Lev Vygotsky (1896-1932) é outro teórico que estudou e deu suas contribuições sobre o desenvolvimento humano para a psicologia e a pedagogia. Nasceu na cidade de Orsha, na Rússia, 1896 e morreu em 1934, com apenas 38 anos; embora sua carreira tenha sido pouco rápida, suas contribuições com a psicologia deram novos rumos as pesquisas nesta área na época e tornaram-se elementares para a compreensão do processo de desenvolvimento do individuo até os dias atuais.
Teve importante papel no desenvolvimento humano na educação, acredita que aprendizagem possibilita interações sociais diversificadas que são responsáveis pela construção e pela transformação de conhecimentos que exigem por parte do sujeito uma atitude ativa e reflexiva, assim o professor era o mediador do conhecimento.
Conforme Bastos (2017) para Vygotsky o funcionamento psicológico do homem está estreitamente conectado com o desenvolvimento humano, a cognição, a intersubjetividade é um processo em constante transformação, sendo mediada pelo contexto social e histórico constituída pelo sujeito a partir de suas influências e determinações do meio, num primeiro momento com a família e a seguir da escola.
Vygotsky (1996) demonstrou ao mundo grande preocupação com a questão do desenvolvimento humano, em seus estudos buscou explicar os processos de aprendizagem e desenvolvimento e sua relação com aspectos sociais. Aqui registram-se as ideias principais de Vygotsky: Sugeriu que os mecanismos pelos quais a cultura torna-se parte da natureza de cada pessoa ao insistir que as funções psicológicas são produtos da atividade cerebral. Conseguiu explicar a transformação dos processos psicológicos elementares em processos mais complexos.
Vygotsky (1996) estudou o processo histórico social e o papel da linguagem no desenvolvimento do individuo, sua questão central é aquisição de conhecimento pela interação do sujeito com o outro, no meio social. Para ele, o sujeito é interativo e dinâmico, adquire conhecimentos a partir de relações intra e interpessoais, faz troca com o meio em que está a partir de um processo chamado de mediação.
Seu olhar às crianças assemelha-se alguns já abordados por Piaget, um dos primeiros a considerar a criança como ela é, com seus processos, fases e feitos, e não um adulto em miniatura.
Para Vygotsky (1996), o homem é um ser biológico, histórico e social. Ele sempre considerou o homem inserido na sociedade e assim seu testudo foi orientado para os processos de desenvolvimento do ser humano com ênfase na dimensão sócio-histórica e na interação do homem com outro no espaço social. Com esta abordagem da interação social buscava caracterizar os aspectos tipicamente humanos do comportamento e elaborou hipóteses de como as características humanas se formam ao longo da vida do indivíduo (Vygotsky, 1996).
Vygotsky et al (1988) acreditou que as características e atitudes individuais estão com detalhes das trocas com o coletivo, pois mesmo o que tomamos por mais individual de um ser humano foi construído a partir de sua relação com outro individuo.
Suas maiores contribuições estão nas reflexões sobre o desenvolvimento infantil e sua relação com a aprendizagem no meio social, e também o desenvolvimento do pensamento e da linguagem.
Pela perspectiva sócio-interacionista, sócio-cultural ou sócio-histórica, abordada por Vygotsky (1996), a relação entre o desenvolvimento e a aprendizagem está atrelada ao fato de o ser humano viver em meio social, sendo este a alavanca para estes dois processos que caminham juntos ,não em paralelo.
Para Vygotsky (1996), o desenvolvimento principalmente o psicológico/mental, que é promovido pela convivência social, pelo processo de socialização, além da maturação orgânica, depende da aprendizagem na medida em que se dá por processos de internalização de conceitos, que são promovidos pela aprendizagem social, principalmente aquela planejada no meio escolar.
Vygotsky (1988) considera-se que não é suficiente ter todo o aparato biológico da espécie para realizar uma tarefa se o indivíduo não participa de ambientes e práticas específicas que propiciem esta aprendizagem. Não podemos pensar que a criança vai se desenvolver com o tempo, pois esta não tem por si só, instrumento para percorrer sozinho o caminho do desenvolvimento, que dependerá das suas aprendizagens mediante as experiências a que foi exposta.
Neste modelo, a criança, é reconhecida como ser que pensa e é capaz de vincular sua ação à representação de mundo que constitui sua cultura, sendo a escola um espaço e um tempo onde este processo é vivenciado, onde o processo de ensino-aprendizagem envolve diretamente interação entre os sujeitos.
Deste modo a função do educador escolar, será a de favorecer esta aprendizagem servindo de mediador entre a criança e o mundo; é por meio das interações no interior do coletivo, das relações com o outro, que a criança terá condições de construir sua própria estrutura psicológica.
Vê-se que a perspectiva de Vygotsky apud Oliveira (1992) é sempre a da dimensão social do desenvolvimento. Para ele, o ser humano constitui-se como tal na sua relação com outro social; a cultura torna-se parte da natureza humana num processo histórico que molda o funcionamento psicológico do homem ao longo do desenvolvimento da espécie e do indivíduo.
A afetividade para Vygotsky possui uma íntima relação entre o ambiente social e os processos cognitivos, porque acredita que o indivíduo é um elemento cultural, em que cada lugar é manifestado de maneira distinta.
Vigotsky (2001) afirma que a emoção é a reação reflexa de certos estímulos que são mediados a partir do meio sócio cultural. As emoções influenciam e diversificam o comportamento, portanto, quando as palavras são ditas com sentimentos agem sobre o indivíduo de forma diferente de quando isto não acontece.
Se fazemos alguma coisa com alegria as reações emocionais de alegria não significam nada senão que vamos continuar tentando fazer a mesma coisa. Se fazemos algo com repulsa isso significa que no futuro procuraremos por todos os meios interromper essas ocupações. Por outras palavras, o novo momento que as emoções inserem no comportamento consiste inteiramente na regulagem das reações pelo organismo (Vigotsky, 2001, p. 139).
Desse modo, se o professor pretende realizar mediações junto ao aluno, é preciso relacionar seu comportamento com uma emoção positiva, para obter o sucesso pretendido no processo de ensino-aprendizagem. Ao professor é necessário que faça não só com que o aluno apreenda e assimile o conteúdo, mas que além de tudo seja capaz de sentir o conteúdo relacionando-o às emoções.
Nesse sentido, Vigotsky (2001) afirma que o professor deve preocupar-se em relacionar o novo conhecimento com a emoção, caso contrário o saber torna-se morto.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com um dos autores pesquisados e estudados neste trabalho verifica-se a consideração do inconsciente das pessoas em suas interações e consequentemente na relação professor – aluno na sala de aula, onde há o processo transferencial entre estes. É claro que a pulsão pelo ensinar ao mesmo tempo o desejo de aprender se faz presente, pois as pessoas são desejantes por natureza, almejam o que lhes fazem sentir bem.
Importante também considerar que os sentimentos expressos no processo de ensino aprendizagem movem ambos: o professor e os alunos e que a afetividade é essencial neste processo seja por meio de palavras, postura e entre os olhares, do que não é dito, mas expresso e tem importante significação.
Outro autor considera a linguagem e a mediação no processo de aprendizagem, mas traz afetividade junto ao biológico, como uma mola propulsora para que junto das emoções primárias, se insira no meio e promova a aquisição do conhecimento.
A partir de ambos os autores pode-se confirmar que os objetivos do trabalho foram atendidos, pois é necessário afetividade na sala de aula, é muito importante que o professor como mediador considere-a e passe compreender que com afetividade o ensino torna-se mais prazeroso e eficaz.
O tema não se esgota, apenas abre-se aqui para maior e mais complexa reflexão sobre a importância da afetividade na sala de aula, entre o professor e os alunos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BASTOS,A.B.B.I. Wallon e Vygotsky: psicologia e educação.São Paulo.Edições Loyola 2007.
CARVALHO, A. B. A relação professor e aluno-Paixão, Ética e Amizade na sala de aula. Editora Appris, 2016.Curitiba. PR .
FILLOUX, J.C. A psicanálise e os impasses da educação. Anais do I colóquio do Lugar de Vida. LEPSI. São Paulo: IP/USP, 1999.
FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. 19 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989.
FREUD, S. Obras completas. Rio de Janeiro: Imago, 2006
_______. Uma dificuldade no caminho da psicanálise (1917 b). In: FREUD, S. Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v. 17, p.171-82.
_______. O futuro de uma ilusão. Edição Standard das Obras psicológicas Completas de Sigmund Freud. v. 21, Rio de Janeiro: Imago, 1996,
_______. O inconsciente. Edição Standard das Obras psicológicas Completas de Sigmund Freud. v. 14, Rio de Janeiro: Imago, 1996.
. O mal estar da civilização. Edição Standard das Obras psicológicas 1996
_______. Algumas reflexões sobre a psicologia escolar. Edição Standard das Obras psicológicas Completas de Sigmund Freud. v. 13. Rio de Janeiro: Imago, 1974.
GAY, P.Freud: uma vida para nosso tempo. São Paulo Companhia da Letras. 1995
KUPFER, M. C. Afetividade e Cognição: uma dicotomia em discussão. São Paulo: Ideias, nº 28, p. 175 – 191, 1997.
MELO, F.C. A Afetividade na sala de aula: reflexões pontuais. Disponível em <www.iniaraxa.edu.br/ojs/index.php/evidencia/article view File/9/8 .>Acessado em 15/11/2018
MENDONÇA, S.G.L. Vigotsky e a escola Atual: fundamentos teóricos e implicações pedagógicas. Araraquara. Cultura Acadêmica Editora 2010.
OLIVEIRA, M. K. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento: um processo sócio- histórico.4. ed. São Paulo: Scipione, 1997.
OLIVEIRA, M. K. O problema da afetividade em Vygotsky. In: LA TAILLE, Y. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. 12. ed. São Paulo: Simmus, 1992.
PIMENTA, S. G. (Org.) Professor reflexivo no Brasil. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2005.
SOUZA, M. T. C. C. As relações entre afetividade e inteligência no desenvolvimento psicológico. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, p. 249-254, 1981. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ptp/v27n2/a05v27n2>. Acesso em: 21 setembro. 2019.
VYGOTSKY, L. S.- 1896-1934. 2. Vida e Obra de Vygotsky - Educação – Pensadores – História. I. Coelho, Edgar Pereira. II. Título
_______,Construção do Pensamento e da Linguagem, São Paulo: Martins Fontes, 2001.
_______, Desenvolvimento Psicológico na Infância. São Paulo: Martins Fontes, 1999
_______, Estudos sobre a História do Comportamento. Porto Alegre: Artmed, 1997
_______, Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. SP: Ícone/EDUSP, 1988.
1 Pós doutora em Educação pela UNESP - Campus de Assis