A ORIGEM E EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INCONSCIENTE

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REGISTRO DOI: 10.70773/revistatopicos/1754173750


Pedro Francisco Molina1
Jesus de Aguiar Silva2


RESUMO
Este artigo visa instigar a curiosidade no conceito de inconsciente freudiano, com o intuito de estimular o interesse pela sua história e pelos continuadores pontuais que tanto colaboraram com as ideias de Freud na construção da Psicanálise.
Pretende-se despertar o interesse pelas origens e nuances da evolução desse conceito, dentro das expectativas histórico-filosóficas, e pelos movimentos que surgiram após o impacto em uma sociedade engessada em valores seculares. Tudo isso diante da linguagem de seu sistematizador revolucionário de origem judaica, dotado de uma coragem admirável.
O texto também busca pontuar seus fundamentos, assim como as ideias de seus principais interlocutores ao longo de seus afetos e desafetos mais proeminentes.
Palavras-chave: psicanálise, inconsciente, consciente, pulsão, instinto, sonhos

ABSTRACT
This article aims to spark curiosity about the Freudian concept of the unconscious, with the goal of stimulating interest in its history and the key figures who significantly contributed to Freud's ideas in building psychoanalysis.
It seeks to awaken interest in the origins and evolving nuances of this concept within historical and philosophical contexts, as well as the movements that emerged after its profound impact on a society rigid with secular values. This is all presented through the lens of its revolutionary Jewish systematizer, a man of admirable courage.
The text also highlights the foundational principles of the unconscious and the ideas of its main proponents, exploring their most prominent relationships and disagreements.
Keywords: psychoanalysis, unconscious, conscious, drive, instinct, dreams

Introdução

A palavra inconsciente tem sido, nos últimos tempos, motivo de introspecções mais contundentes, especialmente após o uso de Freud dentro de seu sistema para definir uma linguagem não verbal e, assim, sistematizar seus estudos sobre observações clínicas experimentais na criação de sua Psicanálise.

Portanto, ele utilizou um termo do qual não foi o criador, pois a palavra é mais antiga, presente em conceitos diversos ao longo do tempo. Sua popularização coube a Freud, mas sua origem advém de tradições filosóficas muito antes de suas formulações psicológicas.

Sua origem etimológica depende de cada língua, apesar de ser originária do latim, no sentido de "não saber". Também de seu sufixo "in", que pode ser traduzido como interno, sob ou abaixo. Do latim, vem de inconscius, cujo significado pode ser "não consciente" ou "sem conhecimento" em sua origem. No entanto, o sufixo "in" pode também ter o significado de negação, cuja origem remonta a raízes indo-europeias mais antigas, podendo significar "não", utilizado em algumas línguas como "ne".

Enquanto isso, seu antagônico, dentro do binarismo limitador, a raiz "conscius", significa ter consciência, ou conhecimento, estar ciente, com seu prefixo "com" (junto) e "scire" em sua composição, que significa conhecer, saber. Uma construção de signos que foram formados no tempo para decodificar sons articulados por grafias em suas representações gráficas.

Sua abordagem como signo em sua evolução pós-freudiana estabeleceu a ideia de que o inconsciente é algo que nos remete à filogenética de continuidade de memórias herdadas, assim como o consciente é algo guiado de algo mais profundo no processo de percepção, cujo norte é a interação entre o exterior e o interior, de forma integrada de comunicação e interação do ser em seu habitat natural. Assim define Cazelli (2023, p.312):

Observa-se, assim, que há não só uma dimensão inconsciente mais primitiva, arcaica, não elaborada, mas há também uma dimensão superior, inconsciente, que abrange uma cognição mais elaborada; superior; perceptiva; sábia; adequada e transpessoal, característica de um processo superior diferenciado, a qual é passível de ser estimulada e acessada, sob certas circunstâncias, ou manifestar-se espontaneamente.

Desenvolvimento: Históricos e Suas Possíveis Origens do Significado de Inconsciente

A palavra inconsciente em seu uso e significado não é propriedade de uma só língua e não se restringe ao latim. No francês, no inglês, em sua linhagem latina, passa pelo alemão, cujas origens são germânicas e românicas.

Freud usou a terminologia no significado de "Unbewusst", um termo substantivado, cunhado pelo filósofo do século XVIII Friedrich Schelling, ou por Ernst Platner (1776), do qual Freud se utilizou para definir seu inconsciente em suas primeiras formulações. No inglês, seu significado é de adjetivação, surgindo em 1712 com o significado de desatenção, tendo como registro no Oxford English Dictionary (1678) o registro mais antigo.

Evoluindo por Hobbes (1860), com o significado de insensível, abatido, como substantivo "the unconscious", já no sentido psicológico sobre a mente, traduzido do alemão "Unbewusste", registro de 1876. No entanto, Freud o traduz no sentido de adjetivação em suas teorias, com registro de 1912.

Portanto, não surge do nada ou é uma invenção própria de Freud, pois origens mais antigas foram sendo traduzidas para significações adaptadas a cada tradução, moldada à linguagem, pois essa é apenas o meio da sonorização de um pensamento que antecede como origem de algo. A grafia é a resultante de um registro como meio e não fim, como querem alguns dialéticos.

Temos aí a riqueza dos significados, que explodiu em meados dos séculos XVIII e XIX, como reflexões profundas da terminologia inconsciente, entre outras, padronizando seu uso na psicologia até a atualidade e que requer expansão com adventos modernos e novos conhecimentos das neurociências.

Na filosofia, em seus primórdios socráticos (Sócrates, 490-399 a.C.), já se usava algo semelhante como "akrasia", para algo fora do controle de si mesmo, atribuído a forças impulsionadoras relacionadas à vontade. Hipócrates (ca. 460-377 a.C.) dizia que o corpo em suas inadequações às suas vontades não era de seu domínio, mas sim o cérebro, através de forças mentais, em seu tratado sobre a epilepsia.

Plotino (205-270 d.C.), referido como o primeiro filósofo do inconsciente como seu revelador, atribuía aos processos psicológicos quanto à percepção consciente a falta de provas. Explorou o intelecto como forma de maior importância do pensar, afirmando que o "in" é superior ao "com", como algo anterior à consciência.

Aspectos advindos de civilizações como os Vedas (entre 2.500 e 600 a.C.) apresentam registros do uso relacionado ao inconsciente, encontrados na medicina Ayurvédica. Assim como na Idade Média e no Renascimento, na cultura árabe, por Ibn al-Haytham (965-1040), relacionando o olho como objeto de prospecção, que dentro de seu construto pode formar ilusões, falsas imagens, de aparências enganosas, em que a consciência pode ser duvidosa e não era o controle das coisas. Portanto, foi atribuído a Paracelso (1567), em sua obra Von den Krankheiten, a primazia de mencionar aspectos da cognição e sua relação com o inconsciente.

A importância que devemos ter com as pesquisas como norteadoras do pensamento de outrora é entender o presente como continuidade e não como negação de uma nova construção baseada na dominação da mente humana, na tentativa de desconstruir algo que desconhecem ou querem apagar diante dos avanços no conhecimento libertador.

Mente e Consciência

Temos que ter uma perspectiva integral entre mente e consciência como algo separado de um sistema binário limitador, de uma expectativa esquizoide na formulação de "caixinhas separadas" que desemboca na separação do "eu" e do "tu", que é apenas uma relação de identificação semântica. Assim nos mostra (FREUD, 19--, p.46).

Nossas hipóteses quanto às fixações disposicionais na paranóia e na parafrenia tornam fácil perceber que um caso pode começar por sintomas paranóides e, apesar disso, transformar-se em demência precoce, e que fenômenos paranóides e esquizofrênicos podem achar-se combinados em qualquer proporção. E podemos compreender como um quadro clínico como o de Schreber pode ocorrer, e merecer o nome de demência paranóide, a partir do fato de que, na produção de uma fantasia de desejo e de alucinações, ele apresenta traços parafrênicos, enquanto que, na causa ativadora, no emprego do mecanismo da projeção, e no desfecho, exibe um caráter paranóide.

A partir de Descartes (1596-1650), em seu dualismo entre a dúvida e a certeza, em que a formação da entidade corpo e alma se assume como algo independente, a consciência se separa de forma desastrosa no que se refere ao seu grande erro.

Mas outros desafios surgem com Baruch Spinoza (1632-1677), com seus impulsos inconscientes, relacionados ao descontrole em seus desejos nas pulsões humanas, sendo impulsionadas por algo que não controlam. Mas foi com Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716) e suas pequenas percepções ocorrentes nas mentes, que não nos são conhecidas, que nos moldam as experiências. Portanto, as percepções independem da consciência, mas podem ser levadas à conscientização pelo ato de perceber-se, atribuindo a coisas separadas entre percepção e consciência.

Foi com Immanuel Kant (1724-1804) no uso do significado de inconsciente, sem a significação do inconsciente freudiano, que sua crítica lançou bases sobre o pensamento inconsciente. Teve importância mais tarde em novas formulações para as psicanálises vindouras no sentido de reformulação ou interpretações no mundo dialético da reconstrução.

Culminando no romantismo alemão com Ernst Platner (1776) e sua ampliação no uso do significado de Unbewusstsein (inconsciente), com seus Aforismos Filosóficos. Seguido por outros da mesma escola na disseminação do irracional, o individual e o místico, como Hartmann, Herder, Goethe e Schelling no movimento iluminista racionalista do século XVIII, relacionando o ser e a natureza.

Tendo aí Carl Gustav Carus (1789-1869), médico, considerado o primeiro a sistematizar o termo inconsciente no conceito em seu livro de 1846, incluindo talvez Carl Jung como tal. Sua teoria relacionava o conceito de alma na teoria da mente e sua essencialidade com o inconsciente.

Mas foi com Arthur Schopenhauer (1788-1860), com sua obra O Mundo como Vontade e Representação, que a vontade foi apresentada como força vital, como alavanca subjacente do inconsciente, porém cega e irracional, sem propósito com a realidade ou o existencial. Sua visão era da superficialidade da mente, sujeita à repressão que seria os impeditivos para a conscientização do ser. (SCHOPENHAUER, 2007, p.11) nos conduz a seguinte reflexão:

Aquele que conhece todo o resto, sem ser ele mesmo conhecido, é o sujeito. Por conseguinte, o sujeito é o substratum do mundo, a condição invariável, sempre subentendida de todo fenômeno, de todo objeto, visto que tudo o que existe, existe apenas para o sujeito.

Eduard von Hartmann (1842-1906), em seu livro Philosophie des Unbewussten (Filosofia do Inconsciente), que alcançou grande fama, representa o ápice do romantismo alemão. Com a possibilidade de ter influenciado Freud, quanto a Jung. O qual via o inconsciente como algo absoluto em atividade sobre todas as coisas quanto à vontade.

Friedrich Nietzsche (1844-1900) explorou de forma particular em suas obras, principalmente no livro Humano, Demasiado Humano (1876), a mente sonhadora e seus desvios, influenciando nossos sonhos, como algo pulsando dentro da humanidade.

O que fica claro é o significado de força e uma interferência nos processos inconscientes, mesmo distantes do significado de consciência. No entanto, a integralidade não é negada dentro dos postulados atuais no funcionamento da mente humana, na transição conceitual na transformação adjetiva de Freud em suas ideias estruturais de seus modelos fundantes da Psicanálise.

O inconsciente é a grande resistência ao processo de massificação, opondo-se ao Iluminismo nascente em Descartes com sua dicotomia estabelecida. Mas foi com Freud que surgiram controvérsias profundas sobre a liberdade do pensar humano em respeito à singularidade, até então combatido pelo materialismo dialético em função de movimentos como os neopositivistas transformadores a caminho do caos.

Freud e os Movimentos Posteriores

Freud (1856-1939) fez da psicanálise, em função das críticas à popularização de seus conceitos, o componente central de seus estudos, assim como a divulgação de forma pioneira nos enfrentamentos de estamentos críticos que mais contribuíram para sua divulgação.

Sua obra impactou tratamentos tradicionais no quesito "doentes mentais", principalmente com a força do inconsciente, apesar do racionalismo com sua visão de uma época em transição entre o absolutismo e o relativismo de movimentos de físicos emergentes, contrapondo a física mecanicista, mexendo com o comportamento humano.

Citação, FREUD (2021, p.17), “Chegamos ao conhecimento desse aparelho psíquico através do estudo do desenvolvimento individual do ser humano”.

A construção dos conceitos freudianos foi consequência de sua formação e seu despertar como curioso às pesquisas, e de uma inteligência única dentre seus pares. Teve início com os primeiros contatos com o sistema nervoso central das enguias, iniciado na busca de anestésico com a cocaína, seus embates com os fisicalistas localizacionistas em relação à linguagem como Broca e Wernicke, com observações sobre a integralidade do cérebro e não algo fixo. Durante a clínica, observou movimentos cujos diagnósticos não concordava durante seus estágios primeiros em hospitais. Curiosamente, foi para a França conhecer uma metodologia de um médico chamado Jean-Martin Charcot (1825-1893), de quem se tornou amigo e tradutor de suas obras para outras línguas, com o qual pagava suas despesas.

Em sua obra A Interpretação dos Sonhos (1900), deparou-se com a formulação do inconsciente, não como algo separado do consciente, mas uma interação existencial, fazendo de sua visão pavimentos para solidificar sua ciência, apesar das dificuldades, críticas e abandonos de parceiros.

Citação, FREUD (1948, p.907),

“No habían nunca reflexionado que lo inconsciente es em realidad, algo que no <<sabemos>>, pero que nos vemos obligados a deducir, y lo suponian algo capaz de la percatación consciente, pero em lo que no se había pensado todavía por hallarse fuera del <<punto de mira, de la atención>>. [...] mi impresión es la de que ai aceptación de lo inconsciente halla em su caminho grandes obstáculos afetctivos, fundados em que no queremos conocer nuestro inconsciente y, portanto, hallamos um cómodo expediente em negar em absoluto su posibilidad”.

Seu modelo topográfico, em seu princípio, tinha uma formação trina, formada pelo consciente, subconsciente e inconsciente. Logo após, desistiu do subconsciente, em seu lugar a construção do "eu" do ser. Citação, FREUD (2021, p.17), “a essa área de nossa vida anímica damos o nome de “Eu”.

Cujo modelo estrutural antropológico é constituído do ID, como registros herdados de uma fase primitiva, motivado pelos instintos, desejos, sobrevivência, sem regras, anárquico, operando nos impulsos em busca da satisfação ou gratificação imediata, movido pela libido como energia sexual.

O EGO, com sua percepção externa na interação entre os impulsos e as regras impostas pelo outro, operando na superfície do consciente, porém com ações inconscientes, relativizando no equilíbrio das manifestações de seu "irmão gêmeo" do ID.

O SUPEREGO, o grande vigilante e limitador dos irmãos menores, cuja função nasce com a socialização no ambiente familiar, desde sua primeira formação, cujas regras determinadas deveriam ser cumpridas, suas hierarquias constituídas nos grupos em suas primeiras hordas. Internalizando, apesar de um consciente atuante, é controlado em suas instâncias com as repressões, proibições, castração e imposições das leis.

Porém, percebeu que, apesar das condições impostas de controle, havia um componente central que denominou à primeira vista de instinto, mas que os movimentos agiam de forma impulsiva, por uma força interior, sendo que mais tarde deixou em aberto para novas pesquisas vindouras para melhor ser definida, portanto, não pacificada. Com alusão de que talvez antecedesse aos instintos, mas que do ponto de vista prático experimental criou uma solução pelos princípios do insights e catártico, a conscientização no momento da pulsão, antecipando o recolhimento do ato, de um superego fortalecido.

Correlaciona a pulsão com os estímulos para com o orgânico, “sendo um dos mecanismos que a pulsão sofre para ativar o psíquico”.[…]. À pulsão, por sua vez, jamais atua como uma força momentânea de impacto, mas sempre como uma força constante.” FREUD (2021, p. 17/19).

A princípio, pensou na Educação como fonte de ataque para sua Psicanálise, porém não conseguiu seu intento, em função dos preconceitos ativos sobre sua linguagem não compreendida. Pois, ali, na formação de valores morais e éticos, seria a sedimentação de uma sociedade sadia no controle de seus traumas e conflitos de um ambiente familiar destrutivo e fundamentalmente o conhecimento na construção do eu social.

Quando diz "fatores inconscientes", não quer dizer apenas o desconhecimento, mas o controle de sentimentos primários como os impulsos, instintos sexuais ou libidinais, até mesmo os de morte (Thanatos), ativos desde o nascimento. Como diz (FREUD, 19--b, p.67):

Parece uma tentativa de transfiguração teórica da comum oposição entre amar e odiar, que coincide, quem sabe, com a outra polaridade, atração e repulsão, que a física supõe existir no mundo inorgânico. Contudo, deve-se observar que essa hipótese, não obstante, é sentida por muitas pessoas como inovação e, na verdade, como inovação das mais indesejáveis, que deveria ser eliminada tão depressa quanto possível. Suponho que nessa rejeição está em jogo um poderoso fator afetivo.

A formação dos conflitos gerados pela ansiedade ou forças defensivas, como a angústia, em que através da mente se manifestavam como os atos falhos, chistes, ironias, como manifestações latentes, em suas manifestações espontâneas, ou associações livres logo após o abandono da hipnose e seus entraves.

Portanto, sendo ele o precursor de uma terapia da mente, sendo destituído de tecnologias e estudos mais complexos hoje existentes, não é motivo de questionamentos atuais sobre a não cientificidade exigida na contemporaneidade, pois suas construções permearam séculos de embasamento para muitos que, apesar das distorções, se utilizam de suas estruturas e sistema para explicarem e fundamentarem as heranças de suas ideias práticas experimentais.

Mas, algo maior objetivava com sua psicanálise, ou seja, a formação do “eu”, sendo o “isso” na composição com o anímico que se manifesta no orgânico, em sua relação entre a percepção e o corporal e ações musculares, pois sua relação com a sobrevivência, armazena experiências, seus estímulos, na formação de suas memórias. No “eu” esta contido sua filogenética, enquanto no superego a imposição da socialização.

Citação FREUD (2021, p.19),

“Na medida em que esse supereu se separa do Eu ou a ele se contrapõe, ele se torna um terceiro poder de que o Eu deve dar conta.[...] Uma ação do Eu é, portanto, correta se supre as exigências do Isso, do Supereu e da realidade”.

Experimentos de seu legado nas contribuições, sendo vitais na compreensão definidas por sua densa obra, que motivaram especulações, sistematizações de conceitos filosóficos, psicológicos e para psicoterapias atuais.

Inconsciente Coletivo de Carl Gustav Jung

Carl Jung (1875-1961), o inconsciente aparece em seus ensaios de 1916, "A Estrutura do Inconsciente", cujo papel em sua Psicologia Analítica no tratamento da alma em geral, em que havia divergência de conceitos com seu professor Freud. (CAZELLI, 2023, p.313) nos aponta que:

A individuação é uma das ideias mais fundamentais elaboradas por Jung em toda a sua visão da psique humana. Trata-se de um sentido para o qual se orienta a energia psíquica, como um processo contínuo, um “caminho rumo à totalidade, trilhado naturalmente pela psique, ou seja, é um processo que faz parte da própria constituição da mente humana, que o promove desde que esteja saudável”. Numa compreensão bem próxima à de Maslow, Jung também entende que o adoecimento se relaciona com o impedimento do livre fluir da energia psíquica em direção ao que ele chama de “totalidade”, que representa a união de partes separadas da constituição psíquica em uma instância superior, que integra os conteúdos conscientes e inconscientes, chamada por Jung de Self.

Dentre eles, a libido como força sexual para Freud, em seus fundamentos uma força para a vida com formas pré-existentes. Daí divaga sobre os arquétipos, com seus estudos sobre mitologias de fatos, ocorrências inconscientes que funcionam como mandalas no tempo. Portanto, herdados, nada diferente do que Freud dizia da filogenética e do arcaico, porém revestidos de conhecimentos alquímicos e de uma base independente do indivíduo, pois os elementos constituídos são básicos da psique inconsciente. Sendo pessoal a cada um, que influencia a consciência individual através das heranças herdadas. Assim, (FREUD, 19—b, p.51) expressa:

Mas, identificando-se com o objeto, o ego recomenda-se ao id em lugar do objeto e procura desviar a libido do id para si próprio. Já vimos que, no decurso de sua vida, o ego assume dentro de si um grande número de precipitados, como este das mencionadas catexias objetais. O ego deve, no geral, executar as intenções do id, e cumpre sua atribuição descobrindo as circunstâncias em que essas intenções possam ser mais bem realizadas. A relação do ego para com o id poderia ser comparada com a de um cavaleiro para com seu cavalo. O cavalo provê a energia de locomoção, enquanto o cavaleiro tem o privilégio de decidir o objetivo e de guiar o movimento do poderoso animal.

O Inconsciente Estruturado na Linguagem de Lacan

É importante citar que, diante da premissa do movimento francês, invertendo de forma a colocar a linguagem precedente ao pensamento, tudo muda na abordagem desse autor. Lacan coloca que o inconsciente é uma invenção de Freud e que temos em nossos significantes reprimidos uma cadeia de manifestações metafóricas e metonímicas de ações equivocadas nos sintomas psiquiátricos, sua formação.

Distante dos conceitos freudianos, alimenta com sua desconstrução explicar Freud, adentrando no movimento pós-revolução no positivismo materialista que tinha como norte primeiro a psicanálise freudiana. Após recusa, vê a oportunidade de notabilizar as estruturas em suas divagações para suprir as necessidades do movimento concretista liderado por Breton e outros.

Divaga sobre o inconsciente dos movimentos da psicologia combatente até então, assim como no linguista Ferdinand Saussure (1857-1913), o precursor na autonomia da linguagem e preservação de sua etimologia na formação das palavras, inspirado na antropologia de Lévi-Strauss (1908-2009). Inspirado no movimento, Lacan debate sua linguística no movimento dialético ideológico como um soldado que se coloca à disposição de seus pares, assim suprir a negativa de Freud ao convite de recebimento em sua casa, cônscio das finalidades propostas, recusa.

Sua demonstração a partir de então, Lacan, avança na reconstrução e assumindo-se como psicanalista, porém incorporando do lacanismo ideológico em sua propagação dialética, com tendências de expressões e divergências teóricas.

Aproveita-se da dialética para formular a teoria do espelho, assim como o inconsciente é estruturado como linguagem ou um discurso do outro, sendo o Grande Outro a ordem simbólica, ou seja, a linguagem, a lei e as estruturas sociais constituídas de classes e suas diferenças, entre o capital e o socialismo.

O contraditório em suas sessões de curta duração, diminuição do tempo de 50 minutos colocado por Freud, baseado no tempo analítico, Lacan demonstra sua avidez pelos valores cobrados. Sua escola foi permeada de personalismos, suprindo veículos ideológicos principalmente no Brasil, cuja fundação de sua República no positivismo com participações francesas nas formações de nossas universidades e suas influências ideológicas.

Sabemos que existem tensões no estudo do inconsciente entre o rigor científico e suas estruturas idealizadas em suas interpretações. A mesma resistência de que Freud não tinha embasamento científico para suas formulações, mas esquecem que suas práticas foram seus campos experimentais, mas constituídos de ideias. Enquanto a aceitação de Lacan é bem-vinda como veículo de posse de uma psicanálise tomada e não herdada, que nada há de psicanálise em sua essência. Como disse Lacan: "com o tempo Freud será esquecido, apenas eu permanecerei". Porém, o que vemos é o contrário, com a morte dele, seus estudos e escolas desapareceram, sendo sustentadas por alguns na tentativa de dar continuidade de seu formato ideológico, nada mais.

Portanto, o inconsciente é uma porta aberta para pesquisas com o advento dos estudos do cérebro humano, não sendo, portanto, algo pacificado pela ciência. Desafios epistemológicos estão em curso com a neurociência em seus estudos e experimentos atuantes, tendo as mesmas dificuldades, apesar de equipamentos modernos que favorecem as pesquisas, mas distantes no quesito pensamento, mente e suas subjetividades, em seus estudos mentais.

Considerações Finais

Apesar de não haver uma pacificação em torno do assunto e conceitos sobre o inconsciente, demonstra-se ser muito antigo em sua formulação, passando por diversas abordagens até culminar com Freud. Desde as reflexões dos filósofos como Plotino, Sócrates, dentre outros, as observações médicas de Hipócrates, Galeno, sobre funções corporais involuntárias, percepções como Leibniz, para compreensão do consciente e inconsciente. Do movimento alemão capitaneado por Carus, Schopenhauer, Hartmann, influenciadores diretos e indiretos de Freud.

Não podemos negar que é inegável a importância de Freud com o desenvolvimento da Psicanálise, do qual tinha consciência dos seus feitos, cujo intuito de seus detratores coloca como invenção, no sentido de "inventado", com o intuito de desqualificar o que desconhecem ou como retórica de frases constituídas e narrativas levianas.

Em que seus continuadores como Jung, Ferenczi, Rank, Stekel, dentre tantos outros, em formulações diversas na criação de terapias com os mesmos propósitos de tratamento de saúde mental, diversificações convergentes e divergentes a partir dos conceitos freudianos, que tanto contribuíram para estudos de conflitos na resolução da mente humana.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAZELLI, Felipe Ribeiro. A busca pelo sentido em Psicologia Transpessoal:a espiritualidade como dimensão constitutiva humana. REFLEXUS - Ano XVII, n. 2, 2023. Disponível em: <https://revista.fuv.edu.br/index.php/reflexus/article/view/2654/2445>. Acesso em: 26/05/2025.

FREUD, Sigmund; Livro: As Pulsões e seus Destinos, Belo Horizonte, editora: autêntica, 2021.

FREUD, Sigmund; Livro: Compêndio de Psicanálise, Belo Horizonte, editora: autêntica, 2021.

FREUD, Sigmund; Livro: Obras Completas, V. 1, Tradução do Alemán por Luis Lópes – Ballesteros y de Torres, Madrid, Editorial Biblioteca Nueva, 1948.

FREUD, Sigmund. Novas conferências introdutórias sobre psicanálise e outros trabalhos. Volume XXII (1932-1936) [recurso eletrônico]. Tradução Inglesa. 19--b. E-book, PDF.

FREUD, Sigmund. O caso Schereber, artigos sobre técnica e outros trabalhos. Volume 12 (1911-1913) [recurso eletrônico]. Tradução Inglesa. 19--. E-book, PDF.

SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e representação. Tradução: M.F. Sá Correia. 1. Ed. Rio de Janeiro: Contraponto Editora, 2007.


1 Psicanalista Freudiano – Psicanálise Dinâmica – Academia de Psicanálise e Ciência Humana - São Paulo – Graduado em Filosofia (Licenciatura Plena) pelo Centro Universitário Claretiano (CEUCLAR). Pós-Graduação em “Psicologia Clínica: Psicanálise”, pela Universidade de Araraquara (UNIARA). Pós-Graduação em “Antropologia e Neuropsicanálise”, pela Faculdade Unyleya de Brasília. Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado em Psicanálise na Brunner World University. Pesquisador Literário, Escritor e Participante com Artigos Científicos em Livros. E-mail: [email protected]. (Sugestão: "Participações com Artigos Científicos em Livros" para "Participante com Artigos Científicos em Livros" para concordância com "Pesquisador Literário, Escritor")

2 Tecnólogo em Análise de Sistemas (Unilins – Universidade de Lins), Filosofia (CEUCLAR – Centro Universitário Claretiano), Teologia (Faculdade Dehoniana - Taubaté). Pós-graduação em Filosofia Clínica (INSTITUTO PACKTER), Pós-graduação em Psicologia e Sexualidade (UNIARA) e Pós-graduação em Psicologia Clínica - Psicanálise (UNIARA). Doutorado e Pós-Doutorando em Psicanálise na Emil Brunner World University. E-mail: [email protected].