A LITERATURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E SUA IMPORTÂNCIA NA FORMAÇÃO DE LEITORES

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.15794862


Nilton César Cóta1


RESUMO
A presente pesquisa aborda a história da Literatura Infantil no Brasil e as direções percorridas por ela até fortalecer-se nas escolas como uma ferramenta didática, destacando a necessidade de estabelecer-se como obra literária. A Literatura Infantil é um instrumento enriquecedor de aprendizagem e informação, além de possibilitar diferentes meios de ensino para que os alunos possam adentrar ao mundo da leitura. Apresentou-se neste estudo a importância de trabalhar a Literatura Infantil na sala de aula, especialmente na Educação Infantil, visando a formação de leitores críticos e reflexivos, que possam atuar na sociedade em que estão inseridos. Sabe-se que as crianças gostam de histórias e essas contribuem para o desenvolvimento social, cognitivo, emocional e intelectual do educando. Sendo assim, o objetivo geral da pesquisa é: Demonstrar a importância da Literatura Infantil para o desenvolvimento da criança e os específicos são: Conhecer a história da Literatura Infantil no Brasil; Compreender o papel da Literatura Infantil no processo de aprendizagem de leitura e escrita da criança; Identificar os estágios psicológicos da criança na Educação Infantil. A metodologia utilizada foi uma revisão bibliográfica sobre o tema em questão.
Palavras-chave: Literatura Infantil. Aquisição de Leitura. Desenvolvimento Infantil.

ABSTRACT
This research discusses the history of children's literature in Brazil and the directions it has taken to strengthen its position in schools as a teaching tool, highlighting the need to establish itself as a literary work. Children's literature is an enriching tool for learning and information, in addition to enabling different teaching media so that students can delve into the world of reading. This study presented the importance of working with children's literature in the classroom, especially in Early Childhood Education, aiming to develop critical and reflective readers who can act in the society in which they live. It is known that children enjoy stories, and that stories contribute to students' social, cognitive, emotional, and intellectual development. Therefore, the general objective of the research is to demonstrate the importance of children's literature for child development. The specific objectives are to understand the history of children's literature in Brazil; understand the role of children's literature in children's learning to read and write; and identify the psychological stages of children in Early Childhood Education. The methodology used was a literature review on the topic in question.
Keywords: Children's literature. Reading acquisition. Child development.

1 INTRODUÇÃO

A Literatura Infantil pode ser considerada como uma porta de entrada para o mundo encantado da leitura. Sabe-se que para um bom desenvolvimento infantil, são necessárias diferentes estratégias que visam o crescimento integral da criança e a literatura é essencial para que esse desenvolvimento aconteça.

Abramovich (2008) destaca a importância de se ouvir histórias, visto que é a partir disso que se inicia a formação de um leitor. Segundo a autora, escutar histórias pode provocar diferentes sentimentos e emoções essenciais para o desenvolvimento humano, como por exemplo raiva, felicidade, medo, dentre outros, além de ser capaz de inventar lugares e situações por meio da imaginação.

Espera-se que a pesquisa contribua para a formação docente e na prática do cotidiano escolar na Educação Infantil e que o assunto não se esgote aqui, mas sim posteriormente possa aprofundar mais nas teorias como auxílio da prática.

De acordo com Coelho (2010, p.16), a escola é “um espaço privilegiado para o encontro entre o leitor e o livro, nesse espaço, apreciamos os estudos literários, pois de maneira mais abrangente do que quaisquer outros, estimulam os exercícios da mente, a percepção do real em suas múltiplas significações”.

A Literatura Infantil contribui para que a criança desenvolva o senso crítico, ético e cultural, além de proporcionar maior autonomia e capacidade de tomar decisões. Trabalhar histórias infantis na sala de aula amplia a imaginação, o respeito, os princípios, a fala e a escrita do aluno, transformando assim sua vida e colaborando para o pleno desenvolvimento cognitivo, afetivo e social. Assim justifica-se esta pesquisa.

Visando demonstrar a importância da Literatura Infantil para o desenvolvimento da criança, o estudo se propôs a conhecer a história da Literatura Infantil no Brasil; compreender o papel da Literatura Infantil no processo de aprendizagem de leitura e escrita da criança; identificar os estágios psicológicos da criança na Educação Infantil.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

De acordo com Gil (2007) pesquisa é definida como um método lógico e organizado que objetiva buscar solução aos problemas aos quais se propõem no estudo. A pesquisa desenvolve-se por um processo constituído de várias fases, desde a introdução até o referencial teórico.

Quanto aos objetivos, a pesquisa é Exploratória, sendo assim Gil (2007) afirma que sua finalidade é possibilitar vínculos com o problema, buscando explicitá-lo, quanto aos seus procedimentos o estudo valeu dos escritos de Kahlmeyer-Mertens e outros (2007) onde definem pesquisa bibliográfica como aquela produzida por meio de estudos já publicados dando autenticidade aos dados obtidos.

Quanto à natureza, a pesquisa é Básica, que segundo Gerhardt; Silveira (2009) tem o objetivo de produzir novas informações pautadas na ciência, sem que sejam executadas antecipadamente. Abrange apreciações e benefícios universais.

Sua abordagem qualitativa que de acordo com Minayo, (2001) atenta-se para perspectivas reais, pois estas não são quantificadas, direcionando-se no entendimento e elucidação do desempenho do convívio social.

Quanto aos procedimentos, a pesquisa será bibliográfica, que de acordo com Kahlmeyer-Mertens e outros (2007) é construída a partir de conteúdos que já foram publicados e tem a finalidade de transmitir verdade às circunstâncias pesquisadas.

2.1 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Busca-se através de estudos bibliográficos denominar a temática de forma precisa e objetiva, para que outros pesquisadores possam utilizar claramente o estudo compreendendo e interpretando o assunto e futuramente incorporá-los com outras fontes para novos estudos no que diz respeito ao dia-a-dia da instituição escolar.

2.2 O SURGIMENTO DA LITERATURA INFANTIL NO BRASIL

A Literatura Infantil no Brasil surgiu no final do século XIX, por consequência da intensificação da urbanização no país. A partir disso, passa a existir uma grande quantidade de pessoas que passaram a consumir os bens culturais, tornando o conhecimento essencial para o novo modelo social da época (ZILBERMAN, 2012).

Desse modo, o desenvolvimento das traduções e adaptações de obras literárias começam a se estabelecer junto ao público infanto-juvenil, surgindo assim, a percepção da necessidade de se ter uma literatura nacional específica para a criança, que carecia de instrução para se adequar a sociedade moderna (COLOMER, 2013).

A princípio a finalidade dessa literatura era pautada no ensino de Língua Portuguesa, isto é, era uma ferramenta puramente didática, acessível apenas às classes mais altas da população brasileira. De acordo com Sandroni (2007, p. 11) “Até os fins do século XIX, a literatura voltada para crianças e jovens era importada e vendida no mercado disponível apenas para a elite brasileira, constituindo-se principalmente de traduções feitas em Portugal” uma vez que no Brasil não existiam editoras e os autores possuíam os textos impressos na Europa.

Nesse período de relevância do saber, surgem as primeiras demonstrações de reforma pedagógica e literária que objetivava a construção de um novo padrão de geração brasileira. Dessa forma, Monteiro Lobato foi o precursor da Literatura Infantil no Brasil com a divulgação de sua obra, como cita Sandroni (2007, p. 13) “Com a publicação de ‘A menina do narizinho arrebitado’, em 1921, José Bento Monteiro Lobato inaugura o que se convencionou chamar de fase literária da produção brasileira destinada especialmente às crianças e jovens”, tornando-se referência na literatura infantil nacional, pelo fato de usar em suas histórias, a realidade habitual e familiar da criança, com uma linguagem simples e acessível, mais próxima da realidade infantil, promovendo maior interação e gosto pela leitura e escuta dessas narrativas.

Monteiro Lobato incorporou temas do folclore em suas obras, influenciando diversos autores, sobretudo a partir da década de 1970, que produziram um novo modelo de literatura infantil, levantando temas e problemas da sociedade brasileira, utilizando, contudo, uma linguagem inovadora e poética, com enfoque ao humor, o imaginário, possibilitando assim, que a criança leitora se tornasse mais reflexiva e participativa. Lobato acreditava na capacidade dos pequenos leitores em adquirir consciência crítica baseada na simplicidade das palavras que eram compreendidas com facilidade pelas crianças (BORDINI, 2010, p. 72).

Assim, com o reconhecimento e valorização da cultura popular, apareceram diversos autores que se empenharam em incorporar em suas obras as convicções direcionados por Monteiro Lobato visando o crescimento e aprimoramento da Literatura Infantil brasileira (KRAMER, 2012).

Com a ascensão da escolarização na década de 1980, as narrativas passaram a exprimir divergências e indagações entre criança e mundo, e as imagens e escrita se destacaram no material, motivando assim, o senso crítico e reflexivo das crianças, além de seu pleno desenvolvimento cognitivo, afetivo e apropriação de conhecimentos e aprendizagens de variados tipos de linguagem (ABRAMOVICH, 2008).

As narrativas literárias promovem reflexões de caráter afetivo e cognitivo, oportunizando ao leitor adentrar em um universo desconhecido, contudo, inspirador, que desenvolve a fantasia e aguça a curiosidade. Sendo assim, considerando a leitura como uma maneira de compreender o universo e a realidade que o envolve, a literatura propicia a formação de sujeitos aptos a interpretar a realidade da sociedade, atuar nela e modificá-la quando necessário (COLOMER, 2013).

Desde as origens, a literatura aparece ligada a essa função essencial: atuar sobre as mentes, nas quais se decidem as vontades ou as ações; e sobre os espíritos, nos quais se expandem as emoções, paixões, desejos, sentimentos de toda ordem […]. No encontro com a literatura (ou com a arte em geral) os homens têm a oportunidade de ampliar, transformar ou enriquecer sua própria experiência de vida, em um grau de intensidade não igualada por nenhuma outra atividade (COELHO, 2010, p. 29).

Sendo assim, trabalhar a literatura infantil na sala de aula, possibilita a criança construir diferentes significações sobre o que lê ou escuta, utilizando seus conhecimentos prévios, produzindo imagens relacionadas às suas vivências e interações sociais, visando construir múltiplos conceitos, conforme interage com outras crianças e adultos, analisando e dialogando com as histórias (LOPES; NAVARRO, 2014).

No entanto, caso a escola necessite mudar a maneira de trabalhar as narrativas literárias, a escolha do material deve ser atualizada, sem que haja predileções pedagógicas, variando segundo a visão social e cultural de formação do sujeito, visando a adequação dos textos aos diferentes estágios do desenvolvimento infantil (COELHO, 2010).

Trabalhar literatura na Educação Infantil possibilita a criança conhecer a si própria e a realidade que a circunda, pois estimula a curiosidade, a investigação, a imaginação e indagação de questões relacionadas ao meio e as ensina a se comunicar com os outros, proporcionando a socialização e interação, que são inerentes ao seu desenvolvimento humano (ABRAMOVICH, 2008).

De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) a configuração da Literatura Infantil modificou-se, conferindo a ela um destaque maior no diálogo com a escrita “Sobretudo a presença da literatura infantil na Educação Infantil introduz a criança na escrita: além do desenvolvimento do gosto pela leitura, do estímulo à imaginação e da ampliação do conhecimento de mundo” (BRASIL, 2017, p.38).

Sendo assim, trabalhar a literatura na Educação Infantil é fundamental para que a criança amplie sua visão de mundo, não focando apenas na escrita, ela deve ser capaz de contribuir para a formação de verdadeiros leitores que interagem no processo de ensino e aprendizagem, partilhando experiências por meio das situações vividas e posicionando-se de forma crítica e reflexiva diante da sociedade.

2.3 A FUNÇÃO DA LEITURA NA ESCOLA E NA SOCIEDADE

A visão social da criança transformou-se ao longo dos anos e atualmente ela é considerada protagonista de sua evolução como um ser ativo na formação dos saberes e na concepção do mundo. Ser protagonista é saber que o sucesso da vida depende de si mesmo, em razão disso, o estudante deve buscar as informações que necessita para o processo de ensino e aprendizagem, de maneira autônoma, que vise seu desenvolvimento social, cultural, ético e moral.

Nesse sentido, a criança é um sujeito atuante que produz e reproduz cultura, que constitui seu sistema de ensino e aprendizagem, e, por isso, é importante que a criança seja ouvida e tenha seus interesses respeitados por todos, para posteriormente possibilitar incentivos que aumentem seus conhecimentos culturais pessoais e sociais, pois de acordo com Freire (2016, p. 52) “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua própria construção ou produção”.

Frente às mudanças sobre as novas maneiras de compreender o universo e sua existência, a escola assume a função de contribuir significativamente na formação do indivíduo para que esse se torne um agente transformador inserido na sociedade letrada de modo justo e igualitário, por meio da comunicação direta com o universo da leitura e sua importância na vida do sujeito (BELO, 2016).

Dessa forma, os conhecimentos adquiridos por meio das metodologias de ensino que as escolas oferecem, devem ser pautados nos direitos sociais garantidos a todos os estudantes. E para que as instituições consigam atingir os objetivos propostos, suas condições de ensino devem ser capazes de atrair os alunos no universo das letras com entusiasmo e obter novas conquistas e o gosto pela leitura.

A escola assume o papel de direcionar os alunos a descobrirem os saberes de modo que eles sejam reconhecidos como sujeito na obtenção de conhecimentos, por isso, é essencial que o método de leitura seja percebido como algo responsável pela mudança nos hábitos e que admita o entendimento da leitura e escrita, sendo que estão relacionados pelo mesmo conhecimento e aptos a transformar a realidade.

A instituição educativa precisa despertar nas crianças a motivação à leitura, de forma prazerosa e questionadora que remete a reflexões na perspectiva de contribuir para a formação de uma sociedade letrada e competente na técnica da escrita e, dessa forma demonstrar mais eficiência na produção individual, perceptível mediante a descoberta de habilidades valorizadas e socialmente indispensáveis na inserção social digna e conquistada nos diversos espaços de produção (BELO, 2016, p. 29).

Sendo assim, a prática de leitura e escrita assume papel de grande importância na formação da criança, o professor deve planejar bem suas aulas, com estratégias capazes de estimular o educando a tomar gosto pela leitura e que ao mesmo tempo possam desenvolver no aluno habilidades e competências inerentes ao processo de ensino e aprendizagem.

De acordo com Charmeux, 1994, apud Martins (2012, p.67) “a leitura tornou-se hoje uma ferramenta indispensável à vida em sociedade, mesmo que não levemos em conta qualquer preocupação cultural [...] mesmo havendo outras formas de acesso ao patrimônio cultural, graças às técnicas audiovisuais”, a leitura permanece como um instrumento de grande valia para o enriquecimento pessoal e social.

Dessa forma, para que os alunos tenham prazer em ler é necessário que a escola e os docentes mobilizem os educandos intrinsecamente, visto que aprender a ler exige esforço, e, para isso, é essencial fazer com que entendam que a leitura é algo importante e desafiador, que quando aprendida integralmente, pode trazer autonomia e liberdade (ROSSINI, 2015).

2.4 O PAPEL DA LITERATURA INFANTIL NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM DE LEITURA E ESCRITA DA CRIANÇA

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) de Língua Portuguesa a escola deve proporcionar situações necessárias para que a prática de leitura aconteça. Além disso, o documento dispõe diversas orientações aos docentes, como por exemplo disponibilizar ambientes adequados com diversificadas obras literárias ou outros materiais de leitura, para que as crianças possam manuseá-las; preparar momentos de leitura e planejar atividades relacionadas; incentivar a escolha de livros pelos estudantes, dentre outros (BRASIL, 1997).

Toda aprendizagem se dá através das interações sociais somadas às experiências que o sujeito vivencia. Os espaços, quando organizados em diferentes ambientes, promovem aprendizagens significativas, pois estes devem atender às funções que têm relação com o desenvolvimento infantil e a leitura contribui para a socialização da criança, pois desenvolvem habilidades que contribuirão em todo seu processo de desenvolvimento.

É importante que o trabalho com o texto literário esteja incorporado às práticas cotidianas da sala de aula, visto tratar-se de uma forma específica de conhecimento. Essa variável de constituição da experiência humana possui propriedades compositivas que devem ser mostradas, discutidas e consideradas quando se trata de ler as diferentes manifestações colocadas sob a rubrica geral de texto literário. (BRASIL,1997, p. 29).

Dessa forma, a leitura deve ser uma prática diária na sala de aula. O professor deve propor atividades e projetos de leitura visando a formação de leitores aptos e qualificados, para assim serem inseridos na sociedade e poder atuar nela de forma crítica e reflexiva. A leitura oportuniza as crianças a desenvolverem o canal de comunicação com os adultos, estabelecendo assim seu controle íntimo, autoestima, confiança dentre outros.

No faz-de-conta, fantasia, brincadeira e nos sonhos é que as crianças se realizam. Quando criança as histórias vão além da fantasia, elas contribuem no desenvolvimento infantil, e quando adultos passam a ser entretenimento e lazer, ou às vezes no seu processo de formação. Assim, o hábito da leitura desde cedo na vida das crianças, bem como a relevância desse uso de maneira livre no sentido em que adultos precisam se atentar ao fato de que essa liberdade, implica inúmeros benefícios no desenvolvimento das crianças.

O aluno precisa ter acesso a variados tipos de materiais que estimulem a leitura e a escrita, sendo que sua percepção deve ser aguçada com os materiais do seu cotidiano e os novos devem ter sentido e aspectos diversos. O desenvolvimento da linguagem deve ser objetivo do professor, não apenas durante as atividades específicas de linguagem oral, mas durante todo o dia escolar. Todas devem falar livremente de si mesmas, de seus sentimentos, de suas ações e trabalhos, darem opiniões, dialogando com o professor e colegas. A criança que não se manifesta oralmente deve ser estimulada a fazê-lo (FERREIRO, 1998).

Ainda de acordo com os PCN’s, um dos seus objetivos é “valorizar a leitura como fonte de informação, via de acesso aos mundos criados pela literatura e possibilidade de fruição estética, sendo capazes de recorrer aos materiais escritos em função de diferentes objetivos”, isto é, a literatura oportuniza ao aluno ampliar seus saberes por meio da leitura de seus textos (BRASIL, 1997, p.33).

Portanto, ensinar literatura infantil na escola é de suma importância, pois este ambiente é propício para se trabalhar a literatura, visto que é o melhor local para serem divulgados projetos e estímulos que possibilitarão adquirir novos saberes, especialmente porque “criança e literatura infantil compartilham da mesma natureza, isto é, ambas são lúdicas, mágicas e questionadoras – e essas afinidades fazem com que seja a literatura infantil o mais poderoso aliado do professor e da criança” ao longo de sua vida, na incessante procura de compreender o mundo e o ser humano (FRANTZ, 2013, p.16).

2.5 ESTÁGIOS PSICOLÓGICOS DA CRIANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

A seleção de textos para as crianças está relacionada às diferentes fases do desenvolvimento infantil, isto é, devem ser considerados os estágios psicológicos de cada criança, pois esses estágios independem da idade. Deve-se levar em conta o grau de amadurecimento, conhecimento e domínio da leitura (COELHO, 2010).

De acordo com Coelho (2010), existem cinco etapas do desenvolvimento psicológico da criança: o pré-leitor, leitor iniciante, leitor em processo, leitor fluente e leitor crítico. O primeiro se divide em duas fases: a primeira infância, que inicia aos 15/17 meses de idade e vai até os três anos e a segunda fase, que começa por volta dos três anos de idade. Na primeira infância, a criança começa a reconhecer o mundo a sua volta através do tato e do contato com o outro.

É ainda nesta fase que acontece a aquisição da linguagem, levando a criança a nomear o que está a sua volta. Já na segunda infância, o egocentrismo passa a fazer parte da vida da criança, visto que ela está mais adaptada ao ambiente e sua linguagem mais elaborada, os livros que apresentam contexto familiar e que prevalecem as imagens, além dos humorísticos e de mistério são os mais indicados a aguçar a curiosidade das crianças (ABRAMOVICH, 2008).

A segunda etapa – leitor iniciante – se apresenta a partir dos seis anos de idade, uma vez que a criança passa a decodificar símbolos gráficos. Os adultos assumem um importante função nesta etapa como agente estimulador, proporcionando leituras que contenham linguagem simples, e narrativas que contenham começo, meio e fim. Obras que retratam o comportamento humano são as mais indicadas para estimular o leitor a criar o gosto pela leitura (COELHO, 2010).

A etapa “leitor em processo” se dá a partir dos 8/9 anos de idade. Nesta etapa, a criança já tem o domínio do mecanismo de leitura. Seu raciocínio está mais desenvolvido, o que possibilita executar determinadas operações mentais. As leituras humorísticas são as mais atrativas nesta fase, linguagens simples e objetiva são essenciais para que o leitor se sinta motivado a participar do processo de leitura (COELHO, 2010).

O leitor fluente começa a partir dos 10/11 anos de idade. Fase em que a criança estabelece os mecanismos de leitura e aptidão em se concentrar e entender o universo da leitura. A partir disso, ela desenvolve o pensamento hipotético dedutivo e habilidade em abstrair as informações. As obras que contenham natureza política e ética, heróis e heroínas são as mais indicadas para os leitores nesta etapa (LOPES; NAVARRO, 2014).

Por fim, a última etapa é a do leitor critico, que se inicia a partir dos 12/13 anos de idade. Nesta fase o leitor já domina plenamente a leitura e a escrita. Para Coelho (2010, p. 39) “A intertextualização é uma realidade possibilitada pela capacidade de reflexão aumentada. A consciência crítica em relação ao mundo, bem como sentimentos como saber, fazer e poder são elementos desta etapa”. Sendo assim, o leitor dessa fase deve utilizar as técnicas de leitura para se posicionar criticamente nos assuntos em questão.

A partir do momento em que o professor apresenta a literatura infantil aos seus alunos, ele demonstra uma conexão dialógica com o educando, o livro, sua cultura e realidade. Ademais, a prática de contação de histórias gera situações para que as crianças demonstrem suas ideias e interajam com os colegas, além de proporcionar a construção de novas histórias que resgatem vivências e memórias das crianças.

Ler histórias para crianças, sempre, sempre. É poder sorrir, rir, gargalhar com as situações vividas pelas personagens, com a ideia do conto ou com o jeito de escrever dum autor e, então, poder ser um pouco cúmplice desse momento de humor, de brincadeira, de divertimento. É também suscitar o imaginário, é ter a curiosidade respondida em relação a tantas perguntas, é encontrar outras ideias para solucionar questões (como as personagens fizeram). É uma possibilidade de descobrir o mundo imenso dos conflitos, dos impasses, das soluções que todos vivemos e atravessamos de um jeito ou de outro - através dos problemas que vão sendo defrontados, enfrentados (ou não), resolvidos (ou não) pelas personagens de cada história (cada uma a seu modo). É a cada vez ir se identificando com outra personagem (cada qual no momento que corresponde àquele que está sendo vivido pela criança). E, assim, esclarecer melhor as próprias dificuldades ou encontrar um caminho para a resolução delas (ABRAMOVICH, 2008, p. 16).

A leitura é algo essencial na vida das pessoas, especialmente das crianças matriculadas na Educação Infantil, pois o hábito de ler possibilita que o ser aguce a criatividade, trabalhe a imaginação, exercite a memória, além de contribuir para o desenvolvimento da linguagem e comunicação, aprimora a escrita e ajuda na formação do senso crítico. Portanto, cabe ao professor e a família, estimular as crianças desde cedo a serem leitores assíduos, que certamente se tornarão adultos mais críticos, reflexivos e atuantes na sociedade em que vivem.

3 CONCLUSÃO

Levando em consideração os aspectos observados, compreende-se que a leitura deve ser incentivada desde cedo nas crianças. Os estímulos externos são de grande valia para que o processo de aquisição de leitura seja realmente eficaz e prazeroso. A literatura infantil contribui para o desenvolvimento emocional, cognitivo e social da criança, além de melhorar a criatividade, imaginação, comunicação e escrita, o sujeito se torna capaz de interagir com o meio e expressar suas ideias no ambiente ao qual está inserido.

A literatura é uma ferramenta que motiva e desafia, sendo capaz de modificar o ser em um sujeito ativo, reflexivo, que consegue entender o universo e também transformá-lo quando preciso, consequentemente ela exerce uma função social na vida das pessoas. Posicionar-se criticamente e questionar assuntos relevantes a sua existência, só são possíveis se houver leitura. Senso assim, é essencial estimular as crianças a se tornarem leitores, para assim poderem atuar e transformar a realidade do mundo.

Portanto, a literatura deve ser trabalhada sistematicamente nas escolas, desde as primeiras séries da educação básica. A prática da leitura necessita ser efetiva e prazerosa para que os estudantes tenham gosto pelos livros e não ler por obrigação. Os professores assumem importante papel na formação dos leitores, pois devem mediar o saber por meio de atividades que incentivem as crianças a lerem por prazer e se tornarem leitores assíduos e interessados em transformar a sociedade em que vivem.

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1 Mestrando em Ciências da Educação, Universidad Columbia Del Paraguay, 2021. Graduado em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Alegre – FAFIA. Pós-Graduado em Planejamento Educacional. E-mail: [email protected]