A INFLUÊNCIA DA CULTURA DE MASSA NA FORMAÇÃO DO POVO BRASILEIRO: UMA ANÁLISE CRÍTICA À LUZ DA ESCOLA DE FRANKFURT
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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.13846889
Elizabeth Ivone Santos Nunez1
Nerilton Vidal de Almeida2
RESUMO
O artigo examina a influência da cultura de massa na formação da identidade do povo brasileiro, utilizando como base os conceitos desenvolvidos pela Escola de Frankfurt, especialmente a crítica à indústria cultural proposta por Theodor W. Adorno. A pesquisa busca entender como a cultura de massa, ao padronizar e homogeneizar expressões culturais, contribui para a alienação das massas e a perpetuação de desigualdades sociais no Brasil. A partir da análise de autores como Edgar Morin, Wolfgang Leo Maar e Christoph Türcke, o estudo discute os mecanismos pelos quais a indústria cultural modela comportamentos e reforça estereótipos raciais, de gênero e de classe. A metodologia envolve uma revisão bibliográfica crítica, focando nas dinâmicas culturais e sociais brasileiras. Os resultados indicam que a cultura de massa, ao promover a hegemonia de determinados valores e estilos de vida, marginaliza expressões culturais periféricas, mas também abre espaço para formas de resistência cultural, como o funk e o rap. Conclui-se que a cultura de massa no Brasil, apesar de sua tendência à homogeneização, contém potencial para ser reapropriada como instrumento de contestação e transformação social.
Palavras-chave: Cultura de Massa. Escola de Frankfurt. Indústria Cultural. Identidade Cultural.
ABSTRACT
The article examines the influence of mass culture on the formation of the identity of the Brazilian people, using as a basis the concepts developed by the Frankfurt School, especially the critique of the cultural industry proposed by Theodor W. Adorno. The research seeks to understand how mass culture, by standardizing and homogenizing cultural expressions, contributes to the alienation of the masses and the perpetuation of social inequalities in Brazil. Based on the analysis of authors such as Edgar Morin, Wolfgang Leo Maar and Christoph Türcke, the study discusses the mechanisms by which the cultural industry shapes behaviors and reinforces racial, gender and class stereotypes. The methodology involves a critical bibliographic review, focusing on Brazilian cultural and social dynamics. The results indicate that mass culture, by promoting the hegemony of certain values and lifestyles, marginalizes peripheral cultural expressions, but also opens space for forms of cultural resistance, such as funk and rap. It is concluded that mass culture in Brazil, despite its tendency towards homogenization, contains the potential to be reappropriated as an instrument of contestation and social transformation.
Keywords: Mass Culture. Frankfurt School. Cultural Industry. Cultural Identity.
1 INTRODUÇÃO
A cultura de massa, enquanto fenômeno sociocultural, tem ocupado um espaço central nas discussões sobre a formação das identidades contemporâneas. Sua influência abrange não apenas aspectos da vida cotidiana, como o consumo de bens e entretenimento, mas também elementos mais profundos, como a construção de valores, crenças e formas de se relacionar com o mundo. A partir do desenvolvimento das mídias de massa no século XX, especialmente com a ascensão da televisão, rádio e, mais recentemente, a internet, a cultura de massa tornou-se uma força hegemônica na modelagem de comportamentos e visões de mundo, atingindo populações em diferentes contextos históricos e geográficos. No Brasil, a cultura de massa adquire contornos particulares, marcados por um processo histórico que combina a herança colonial, o sincretismo cultural e uma estrutura social profundamente desigual.
Dentro dessa perspectiva, teóricos da Escola de Frankfurt, como Theodor W. Adorno e Max Horkheimer, desenvolveram uma crítica contundente à cultura de massa, que eles conceituaram como indústria cultural. Segundo esses pensadores, a cultura de massa não é simplesmente uma forma de entretenimento, mas uma ferramenta ideológica poderosa que serve para reproduzir e legitimar as desigualdades do sistema capitalista. A indústria cultural, ao padronizar os produtos culturais e promover um consumo passivo, impede o desenvolvimento de uma consciência crítica nas massas, alienando os indivíduos de suas próprias realidades sociais e políticas (ADORNO, 1986). Essa crítica é particularmente relevante no Brasil, onde a indústria cultural exerce um papel central na definição dos padrões culturais e sociais, muitas vezes em detrimento da rica diversidade cultural do país.
A questão central que emerge desse cenário é: de que forma a cultura de massa tem influenciado a formação do povo brasileiro, particularmente no que se refere à homogeneização cultural e à perpetuação das desigualdades sociais? Este é o problema que orienta a presente pesquisa, que busca analisar a influência da indústria cultural na construção da identidade nacional no Brasil, com base nos conceitos da Escola de Frankfurt e em diálogos com outros autores que discutem a cultura de massa e suas implicações sociais, como Edgar Morin e Christoph Türcke.
Estudos anteriores já indicaram que a cultura de massa no Brasil desempenha um papel importante na difusão de estereótipos raciais, de gênero e de classe, contribuindo para a marginalização de expressões culturais não hegemônicas e a promoção de uma visão eurocêntrica e elitista da cultura nacional (MAAR, 2000). No entanto, ainda existem lacunas na compreensão de como a cultura de massa se articula com as dinâmicas sociais brasileiras, em particular no que diz respeito à reprodução das desigualdades sociais e à resistência cultural.
O objetivo deste estudo é, portanto, aprofundar a análise da influência da cultura de massa na formação do povo brasileiro, partindo dos conceitos da Escola de Frankfurt e considerando as especificidades do contexto brasileiro. Mais especificamente, a pesquisa busca investigar como a indústria cultural tem moldado as identidades culturais no Brasil, promovendo a homogeneização e a alienação, ao mesmo tempo em que identifica espaços de resistência cultural que desafiam essa hegemonia.
A justificativa para a presente pesquisa reside na necessidade de compreender de forma crítica os mecanismos pelos quais a cultura de massa influencia a sociedade brasileira. Em um país marcado por profundas desigualdades sociais e regionais, a compreensão dos impactos da indústria cultural pode contribuir para a construção de uma cultura mais inclusiva e crítica, capaz de refletir as diversidades que constituem a nação. Além disso, ao analisar a relação entre cultura de massa e identidade nacional, o estudo busca oferecer uma contribuição teórica significativa para o campo da sociologia da cultura, ao mesmo tempo em que se engaja em um debate prático sobre os caminhos para a emancipação cultural e social no Brasil.
Assim, o objeto de estudo desta pesquisa é a análise da influência da cultura de massa na formação do povo brasileiro, com base na teoria crítica da Escola de Frankfurt. A partir dessa análise, espera-se contribuir para uma compreensão mais aprofundada das dinâmicas culturais e sociais que caracterizam o Brasil contemporâneo, bem como identificar possíveis caminhos de resistência e transformação cultural.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA
A relação entre a cultura de massa e a formação de identidades nacionais tem sido um dos tópicos centrais de investigação na teoria crítica da Escola de Frankfurt. Ao articular-se com o Brasil, país de grande diversidade cultural e social, a análise da influência da cultura de massa torna-se ainda mais complexa, considerando as particularidades históricas, sociais e econômicas. Este artigo pretende abordar a influência da cultura de massa na formação do povo brasileiro, utilizando como base os conceitos elaborados por teóricos da Escola de Frankfurt, como Theodor W. Adorno, e dialogando com pensadores como Edgar Morin, Christoph Türcke e Wolfgang Leo Maar.
A Escola de Frankfurt, representada por pensadores como Adorno e Horkheimer, desenvolveu o conceito de indústria cultural como forma de explicar os mecanismos pelos quais a cultura se transforma em mercadoria nas sociedades capitalistas. Segundo Adorno, a indústria cultural é responsável pela padronização e massificação dos produtos culturais, o que leva a uma homogeneização dos comportamentos e, em última instância, à alienação das massas. A crítica de Adorno à cultura de massa enfatiza que a arte e a cultura, que poderiam ser veículos de emancipação e reflexão crítica, tornam-se produtos consumíveis, submetidos às leis do mercado e às exigências do capital (ADORNO, 1986).
No Brasil, a cultura de massa adquire características específicas, à medida que interage com um processo histórico e social marcado pela colonização, pelo sincretismo cultural e pela profunda desigualdade socioeconômica. A cultura brasileira foi moldada por um encontro de influências indígenas, africanas e europeias, criando uma diversidade que, paradoxalmente, a cultura de massa tende a homogeneizar. Isso ocorre porque a indústria cultural, ao promover um conteúdo massificado e voltado para o entretenimento, acaba por simplificar e reduzir essa diversidade a estereótipos facilmente consumíveis.
A partir do referencial teórico de Adorno, é possível observar como a indústria cultural no Brasil promove uma padronização que ignora as complexidades regionais e étnicas do país. As mídias de massa, como a televisão, o rádio e, mais recentemente, a internet, desempenham um papel fundamental na formação das identidades culturais no Brasil. Em seu estudo sobre a cultura de massa no século XX, Edgar Morin (1997) afirma que o fenômeno da massificação cultural contribui para a criação de uma "neurose coletiva", na qual os indivíduos passam a identificar-se com os modelos e valores promovidos pela mídia, em detrimento de suas próprias tradições e vivências.
No Brasil, essa massificação tem implicações profundas para a formação do povo, especialmente no que diz respeito às identidades regionais e raciais. A indústria cultural, ao promover um conteúdo homogêneo, frequentemente reproduz padrões eurocêntricos e elitistas, ignorando ou distorcendo as expressões culturais afro-brasileiras, indígenas e populares. A programação televisiva, por exemplo, costuma exaltar valores de consumo e estéticas de padrão branco e de classe média, marginalizando as manifestações culturais das periferias urbanas e das regiões menos desenvolvidas do país.
Essa tendência à homogeneização é evidenciada no trabalho de Wolfgang Leo Maar (2000), que analisa a produção da sociedade pela indústria cultural. Segundo o autor, a cultura de massa no Brasil atua como um instrumento de controle social, no qual os meios de comunicação em massa, ao promoverem uma cultura popular domesticada e destituída de seu potencial crítico, contribuem para a manutenção das estruturas de poder e desigualdade social. A cultura de massa, nesse sentido, funciona como um mecanismo de controle ideológico que reforça o status quo e dificulta a formação de uma consciência crítica por parte da população.
A televisão, em particular, desempenha um papel central na difusão da cultura de massa no Brasil. Desde sua popularização nas décadas de 1960 e 1970, a televisão tornou-se o principal veículo de disseminação de conteúdos culturais para as massas, influenciando de forma decisiva a formação de opiniões, comportamentos e valores. A telenovela, por exemplo, é um dos produtos culturais mais emblemáticos da indústria cultural brasileira e tem sido amplamente criticada por sua reprodução de estereótipos raciais, de gênero e de classe.
Adorno (1986) observa que os produtos da indústria cultural, como as telenovelas, seguem um padrão pré-estabelecido que visa maximizar a audiência e o lucro. No caso das telenovelas brasileiras, esse padrão frequentemente inclui uma narrativa melodramática, personagens estereotipados e a promoção de um ideal de vida baseado no consumo e na ascensão social. Esse tipo de conteúdo reforça a ideologia dominante e perpetua a desigualdade social, na medida em que naturaliza as hierarquias sociais e raciais.
A crítica de Adorno à padronização cultural também se aplica ao fenômeno das representações midiáticas no Brasil. Os meios de comunicação de massa tendem a retratar o Brasil de forma estereotipada, destacando elementos folclóricos e exóticos da cultura brasileira, enquanto ignoram as complexidades e contradições da realidade social. Essa representação simplificada serve para reforçar a imagem do Brasil como um país de diversidade cultural, mas que, na verdade, está profundamente marcado pela desigualdade e pela exclusão social.
A crítica da indústria cultural proposta por Adorno encontra eco na obra de Christoph Türcke (2010), que analisa a sociedade contemporânea a partir do conceito de "sociedade excitada". Segundo Türcke, a cultura de massa, ao promover um fluxo incessante de imagens e informações, gera uma excitação permanente nos indivíduos, que se tornam incapazes de reflexão crítica. A sociedade excitada é aquela em que o excesso de estímulos sensoriais impede o desenvolvimento de uma consciência crítica e promove a alienação.
No Brasil, a proliferação de conteúdos midiáticos, especialmente através das redes sociais e da internet, contribui para essa "excitação sensorial" descrita por Türcke. O consumo de conteúdos rápidos, superficiais e muitas vezes sensacionalistas, dificulta a formação de uma cidadania crítica e informada. A cultura de massa, ao promover o entretenimento como principal forma de engajamento cultural, desvia a atenção das questões estruturais que afetam o país, como a desigualdade social, o racismo e a violência.
Embora a cultura de massa no Brasil tenha sido amplamente criticada por seu papel na homogeneização cultural e na reprodução das desigualdades sociais, também é possível identificar movimentos de resistência cultural que emergem no interior dessa mesma cultura de massa. A produção cultural periférica, por exemplo, tem se apropriado dos meios de comunicação de massa para criar novos espaços de expressão e contestação.
Movimentos culturais como o funk, o rap e o hip hop, embora inicialmente marginalizados pela indústria cultural, conseguiram conquistar espaços de visibilidade na mídia de massa e se tornaram importantes veículos de expressão das demandas das populações periféricas e negras. Esses movimentos culturais, ao contrário dos produtos massificados da indústria cultural, carregam um potencial emancipatório, na medida em que dão voz a grupos historicamente excluídos e promovem a reflexão crítica sobre as condições sociais e políticas do país.
A influência da cultura de massa na formação do povo brasileiro é um fenômeno complexo, que envolve a interação entre os meios de comunicação de massa, as estruturas de poder e a diversidade cultural do país. À luz dos conceitos da Escola de Frankfurt, especialmente a crítica à indústria cultural de Adorno, é possível compreender como a cultura de massa no Brasil tem contribuído para a homogeneização cultural, a alienação das massas e a perpetuação das desigualdades sociais.
No entanto, é importante reconhecer que, apesar do impacto negativo da cultura de massa, existem também movimentos de resistência cultural que utilizam os meios de comunicação de massa para contestar a hegemonia cultural e promover uma cultura mais inclusiva e crítica. A cultura de massa, portanto, não é um fenômeno homogêneo, mas um campo de disputas e tensões, no qual diferentes grupos sociais lutam por visibilidade e reconhecimento.
A análise da influência da cultura de massa na formação do povo brasileiro, a partir dos conceitos da Escola de Frankfurt, nos permite refletir sobre os desafios e as possibilidades de construção de uma cultura crítica e emancipatória em um país marcado por profundas desigualdades sociais e culturais.
3 METODOLOGIA
Esta pesquisa adota o método de revisão bibliográfica, focando na análise teórica de autores da Escola de Frankfurt e de pensadores contemporâneos que discutem a cultura de massa e suas implicações sociais. A revisão bibliográfica é o método adequado para este estudo, visto que busca-se compreender a influência da cultura de massa na formação do povo brasileiro a partir de conceitos teóricos previamente estabelecidos. Tal abordagem permite o aprofundamento da discussão sobre o tema, com base em diferentes perspectivas críticas, e facilita a identificação das lacunas teóricas existentes na literatura.
O levantamento bibliográfico inclui obras centrais de autores como Theodor W. Adorno, Max Horkheimer e Edgar Morin, além de estudos contemporâneos que exploram o impacto da indústria cultural no Brasil, como os trabalhos de Wolfgang Leo Maar e Christoph Türcke. Foram consultadas fontes primárias e secundárias, incluindo livros, artigos científicos e ensaios, com o intuito de mapear a evolução das discussões sobre a cultura de massa, a indústria cultural e a formação da identidade nacional.
A pesquisa foi conduzida por meio da coleta e análise de textos teóricos, seguidos de uma interpretação crítica à luz das particularidades culturais e sociais do Brasil. Os textos foram selecionados com base na sua relevância para a discussão dos impactos da cultura de massa, especialmente no que se refere à homogeneização cultural, à alienação e às possíveis formas de resistência cultural. A análise crítica visa compreender como essas teorias se aplicam ao contexto brasileiro e identificar os elementos de resistência dentro do próprio fenômeno da cultura de massa.
Ao delimitar o estudo como uma revisão bibliográfica, busca-se alcançar uma síntese crítica e reflexiva sobre o tema, apontando os mecanismos pelos quais a indústria cultural contribui para a formação das identidades culturais no Brasil e as possibilidades de transformação cultural.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS
A análise da influência da cultura de massa na formação do povo brasileiro, baseada nos conceitos da Escola de Frankfurt, revela um panorama complexo, onde a indústria cultural desempenha um papel central na construção das identidades sociais e culturais. Os resultados obtidos por meio da revisão bibliográfica indicam que, no Brasil, a cultura de massa opera como uma força homogeneizadora, capaz de moldar comportamentos e valores a partir de padrões impostos pelos meios de comunicação, especialmente a televisão e, mais recentemente, as redes sociais.
Conforme teorizado por Theodor W. Adorno, a indústria cultural transforma produtos culturais em mercadorias consumíveis, retirando deles seu potencial emancipatório e reduzindo-os a instrumentos de entretenimento e alienação. No contexto brasileiro, essa mercantilização da cultura resulta na reprodução de estereótipos raciais, de gênero e de classe, conforme observado por Wolfgang Leo Maar (2000). A televisão, por exemplo, ao longo das últimas décadas, consolidou-se como o principal veículo de massificação cultural no Brasil, reforçando padrões de comportamento associados à classe média branca e europeia, enquanto marginaliza expressões culturais periféricas e populares.
Os resultados mostram que as telenovelas, principal produto cultural da televisão brasileira, têm sido amplamente criticadas por reproduzir narrativas estereotipadas e excludentes, muitas vezes reforçando a hierarquia racial e social no país. Esses programas refletem os ideais de ascensão social e de consumo, alienando o espectador de sua realidade e incentivando uma identificação passiva com os modelos apresentados. A análise crítica de Adorno (1986) se confirma, à medida que a indústria cultural brasileira usa a telenovela e outros produtos midiáticos para manter as massas distraídas e desconectadas de suas próprias experiências sociais.
Por outro lado, os resultados também revelam que a cultura de massa no Brasil não é um fenômeno completamente monolítico. Dentro dessa mesma indústria, emergem formas de resistência cultural que desafiam os valores hegemônicos. Movimentos culturais periféricos, como o rap, o funk e o hip hop, têm utilizado as plataformas midiáticas para expor a realidade das periferias e criticar as desigualdades sociais. Esses movimentos culturais, que começaram fora dos grandes centros de produção da indústria cultural, têm conquistado cada vez mais espaço nos meios de comunicação de massa, criando uma tensão entre o controle exercido pela indústria e as demandas por visibilidade e reconhecimento de grupos marginalizados.
Esses resultados são coerentes com a análise de Christoph Türcke (2010), que descreve a cultura de massa como parte de uma "sociedade excitada", na qual a proliferação de imagens e informações estimula os sentidos de forma contínua, criando uma sociedade constantemente em estado de alerta e excitação, mas incapaz de desenvolver uma reflexão crítica. A cultura de massa no Brasil, ao promover uma avalanche de conteúdos sensacionalistas e superficiais, dificulta a formação de uma consciência crítica e reflexiva. No entanto, os movimentos culturais emergentes, ao se apropriarem desses mesmos meios de comunicação, demonstram que existe um potencial de transformação dentro do próprio sistema da cultura de massa.
A comparação dos resultados obtidos com outras pesquisas revela que a crítica à homogeneização cultural promovida pela indústria cultural não é um fenômeno restrito ao Brasil. Estudos internacionais indicam que, em diferentes contextos, a cultura de massa tem contribuído para a padronização cultural e para a alienação das massas. No entanto, o caso brasileiro apresenta particularidades que tornam essa análise ainda mais urgente. A profunda desigualdade social, racial e econômica do país faz com que a indústria cultural exerça um papel especialmente poderoso na construção das identidades nacionais, muitas vezes reforçando as hierarquias já existentes.
Os resultados também evidenciam a necessidade de pensar a cultura de massa como um campo de disputas simbólicas, onde diferentes grupos sociais lutam por visibilidade e reconhecimento. A emergência de movimentos culturais periféricos no Brasil, mesmo dentro do contexto da indústria cultural, aponta para a existência de brechas no sistema, através das quais novas formas de expressão e contestação podem surgir.
Portanto, a análise dos resultados permite concluir que, embora a cultura de massa no Brasil tenha um efeito homogeneizador e alienante, ela também oferece oportunidades para formas de resistência cultural que podem contribuir para a construção de uma sociedade mais crítica e inclusiva. A comparação com outros contextos culturais e as teorias da Escola de Frankfurt permitem situar o caso brasileiro dentro de um debate mais amplo sobre o papel da cultura de massa na modernidade, ao mesmo tempo em que destacam as particularidades do país e as formas de resistência que emergem do interior dessa mesma cultura.
5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa confirmou que a cultura de massa exerce uma influência significativa na formação da identidade do povo brasileiro, atuando como uma força de homogeneização cultural que, em grande parte, contribui para a alienação das massas e a perpetuação de desigualdades sociais. A partir dos conceitos da Escola de Frankfurt, foi possível analisar como a indústria cultural, através de produtos midiáticos como telenovelas, programas de entretenimento e as redes sociais, molda comportamentos, valores e visões de mundo, promovendo uma padronização que marginaliza expressões culturais não hegemônicas, especialmente aquelas ligadas às classes populares e periféricas.
O estudo alcançou os objetivos propostos ao demonstrar que, embora a cultura de massa no Brasil tenha um forte caráter alienante, ela também abriga formas de resistência. Movimentos culturais emergentes, como o rap e o funk, conseguiram utilizar os próprios meios de comunicação de massa para contestar as estruturas sociais dominantes, dando visibilidade a questões como a desigualdade racial e a exclusão social. Essa tensão entre homogeneização e resistência revela que, embora a indústria cultural tente uniformizar as expressões culturais, ainda há espaço para a contestação e a transformação social.
As contribuições teóricas do trabalho destacam a necessidade de aprofundar o diálogo entre as teorias da Escola de Frankfurt e o contexto específico brasileiro, oferecendo uma visão crítica sobre a relação entre cultura de massa e desigualdade social. No campo prático, os resultados sugerem a importância de políticas culturais inclusivas que promovam a diversidade e a valorização das expressões culturais marginalizadas.
No entanto, a pesquisa apresenta algumas limitações. Como o estudo se baseou exclusivamente em uma revisão bibliográfica, há uma carência de dados empíricos que possam aprofundar a compreensão de como os indivíduos e grupos sociais percebem e resistem à influência da cultura de massa em suas vidas cotidianas. Sugere-se que pesquisas futuras incorporem métodos qualitativos, como entrevistas e estudos de caso, para explorar com maior profundidade as experiências concretas dos sujeitos frente à indústria cultural no Brasil. Além disso, estudos comparativos entre diferentes contextos nacionais poderiam contribuir para uma compreensão mais ampla dos impactos da cultura de massa em diferentes sociedades.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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MORIN, Edgar. A revolução burguesa no Brasil: ensaio de interpretação sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.
_______. Cultura de massas no século XX: neurose. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997.
1 Licenciada em Letras Português - Espanhol, graduanda em Sociologia, pós graduada em Psicopedagogia, mestranda em Ciências da Educação pela UNISAL. E-mail: [email protected]
2 Licenciado em Matemática, Bacharel em Engenharia Civil, pós graduado em Gestão Pública, especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho, Mestrando em Administração de Empresas pela Must University. E-mail: [email protected]