A DESVALORIZAÇÃO DA ENFERMAGEM NO BRASIL: UMA ANÁLISE CRÍTICA

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.13358037


Luciene dos Santos Paiva


RESUMO
O presente artigo analisa a desvalorização da profissão de enfermagem no Brasil, destacando as principais causas e consequências dessa situação. A pesquisa utiliza uma abordagem crítica para examinar as condições de trabalho, a remuneração inadequada e a falta de reconhecimento social enfrentados pelos profissionais de enfermagem. Através de uma revisão da literatura e análise de dados recentes, o estudo evidencia como esses fatores contribuem para uma percepção negativa da profissão e para a sua desvalorização. São discutidas as implicações para a qualidade dos cuidados de saúde e para a formação e retenção de enfermeiros. A pesquisa conclui que a valorização da enfermagem é essencial para a melhoria dos serviços de saúde e propõe medidas para mitigar a desvalorização da profissão.
Palavras-chave: Enfermagem. Desvalorização. Remuneração. Reconhecimento. Qualidade dos cuidados..

ABSTRACT
This article examines the devaluation of the nursing profession in Brazil, highlighting the main causes and consequences of this issue. The research employs a critical approach to analyze working conditions, inadequate remuneration, and the lack of social recognition faced by nursing professionals. Through a literature review and analysis of recent data, the study demonstrates how these factors contribute to a negative perception of the profession and its devaluation. The implications for the quality of healthcare and the training and retention of nurses are discussed. The research concludes that valuing nursing is essential for improving healthcare services and proposes measures to mitigate the devaluation of the profession.
Keywords: Nursing. Devaluation. Remuneration. Recognition. Quality of care.

1. INTRODUÇÃO

A profissão de enfermagem desempenha um papel crucial no sistema de saúde, sendo fundamental para a prestação de cuidados diretos e contínuos aos pacientes. No entanto, no Brasil, a desvalorização desta profissão é um problema persistente que afeta diretamente a qualidade dos serviços de saúde e o bem-estar dos profissionais. A introdução deste artigo busca contextualizar o fenômeno da desvalorização da enfermagem, abordando suas principais causas e consequências, além de destacar a relevância do estudo para a melhoria das condições de trabalho e reconhecimento dos enfermeiros.

A desvalorização da enfermagem no Brasil pode ser atribuída a vários fatores interligados. Primeiramente, a remuneração inadequada é um dos principais problemas enfrentados pelos profissionais da área. Estudos mostram que os salários dos enfermeiros são significativamente baixos quando comparados a outras profissões de nível superior e também em relação aos salários de enfermeiros em países desenvolvidos (OLIVEIRA et al., 2020). Esse problema é exacerbado pela carga de trabalho excessiva e pelas condições de trabalho muitas vezes precárias, que incluem longas jornadas, estresse elevado e falta de recursos adequados (SANTOS, 2018).

Outro fator relevante é a falta de reconhecimento e valorização social da profissão. Embora os enfermeiros desempenhem um papel vital no sistema de saúde, frequentemente enfrentam uma escassez de apoio institucional e reconhecimento público. A insuficiência de políticas públicas que promovam a valorização da enfermagem contribui para a perpetuação da desvalorização, impactando negativamente a motivação e a satisfação dos profissionais (MARTINS, 2021). A falta de incentivo e de oportunidades para desenvolvimento profissional e acadêmico também limita a capacidade dos enfermeiros de avançar em suas carreiras e de melhorar suas condições de trabalho (FERREIRA & SILVA, 2019). Além disso, a desvalorização da enfermagem reflete-se na qualidade dos cuidados prestados, com implicações diretas para o bem-estar dos pacientes. Profissionais desmotivados e sobrecarregados podem ter dificuldades para manter a qualidade do atendimento, o que pode resultar em impactos negativos na segurança e na satisfação dos pacientes (SILVA, 2022). Diante desse cenário, torna-se essencial compreender as causas e as consequências , Portanto, este estudo visa investigar em profundidade as múltiplas dimensões da desvalorização da enfermagem no Brasil, analisando as suas causas, consequências e implicações para o sistema.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA

1. Referencial Teórico

A desvalorização da profissão de enfermagem é um fenômeno multifacetado que envolve diversos aspectos teóricos e práticos. Para compreender este problema, é essencial analisar o estado atual da profissão e suas implicações, tendo como base o referencial teórico e as evidências empíricas disponíveis na literatura.

2.1.1 Condições de Trabalho e Remuneração

Um dos principais fatores associados à desvalorização da enfermagem é a inadequada remuneração e as precárias condições de trabalho. Estudos indicam que a remuneração dos enfermeiros no Brasil é significativamente inferior à de outras profissões com nível superior, o que reflete uma discrepância econômica entre a importância da função e a compensação financeira recebida (OLIVEIRA et al., 2020). A baixa remuneração está frequentemente associada a jornadas de trabalho extensas e a condições de trabalho estressantes, o que contribui para o desgaste físico e emocional dos profissionais (FERREIRA & SILVA, 2019). A falta de investimentos em infraestrutura e equipamentos também agrava as condições de trabalho, afetando diretamente a qualidade dos cuidados prestados e a satisfação dos profissionais.

2.1.2 Reconhecimento e Valorização Social

A falta de reconhecimento e valorização social da profissão de enfermagem é outro aspecto crucial. A literatura aponta que, apesar do papel fundamental dos enfermeiros no sistema de saúde, o reconhecimento social da profissão é insuficiente. A ausência de políticas públicas eficazes que promovam a valorização da profissão contribui para a perpetuação desse problema (MARTINS, 2021). Estudos indicam que o reconhecimento institucional e a valorização profissional são essenciais para a motivação e retenção de enfermeiros, e sua ausência pode levar a uma alta rotatividade e à escassez de profissionais qualificados (SANTOS, 2018).

2.1.3 Impactos na Qualidade dos Cuidados

A desvalorização da enfermagem tem impactos diretos na qualidade dos cuidados de saúde. A literatura sugere que a sobrecarga de trabalho e a desmotivação dos profissionais podem comprometer a eficácia dos cuidados e a segurança dos pacientes (SILVA, 2022). A relação entre a satisfação dos enfermeiros e a qualidade do atendimento é bem documentada, com evidências de que condições de trabalho inadequadas e falta de reconhecimento estão associadas a um aumento dos erros e a uma menor qualidade dos cuidados prestados (MARTINS, 2021).

2.1.4 Comparações Internacionais

O estado da enfermagem no Brasil pode ser comparado com a situação em outros países para fornecer uma perspectiva mais ampla. Estudos comparativos revelam que países com sistemas de saúde mais desenvolvidos tendem a oferecer melhores condições de trabalho e remuneração para os enfermeiros, resultando em uma maior valorização e reconhecimento da profissão (SILVA, 2022). Essas comparações destacam a necessidade de reformas estruturais no Brasil para alinhar as práticas e políticas de valorização da enfermagem com as de países com melhores práticas e condições.

2.2 Estado da Técnica (Opcional)

O estado da técnica no campo da enfermagem inclui as abordagens e inovações que têm sido implementadas para melhorar as condições de trabalho e a valorização da profissão. No Brasil, a adoção de tecnologias e novas práticas no setor de saúde pode contribuir para a melhoria das condições de trabalho dos enfermeiros e para a valorização da profissão. Tecnologias como registros eletrônicos de saúde e ferramentas de gestão podem ajudar a otimizar as tarefas e reduzir a carga de trabalho dos profissionais. Além disso, a implementação de políticas de valorização e incentivos à formação contínua são aspectos que têm sido explorados para melhorar as condições e o reconhecimento da profissão (OLIVEIRA et al., 2020).

A análise do estado da técnica revela que, embora existam iniciativas e avanços em algumas áreas, a integração e a aplicação generalizada dessas inovações ainda são insuficientes para abordar completamente os problemas enfrentados pelos enfermeiros no Brasi

3. METODOLOGIA

A metodologia deste estudo foi elaborada para explorar e analisar a desvalorização da profissão de enfermagem no Brasil, utilizando uma abordagem simples e direta. A seguir, estão descritos os principais procedimentos e recursos utilizados para a realização da pesquisa.

3.1 Tipo de Pesquisa

A pesquisa foi conduzida como uma pesquisa descritiva, com o objetivo de identificar e descrever os principais fatores que contribuem para a desvalorização da enfermagem no Brasil.

3.2 População e Amostragem

A população-alvo desta pesquisa incluiu profissionais de enfermagem que trabalham em diferentes tipos de instituições de saúde no Brasil. A amostra foi selecionada de forma não probabilística por conveniência,. A amostragem foi feita levando em consideração a diversidade geográfica e o tipo de instituição (hospitais, clínicas e unidades de saúde pública).

3.3 Instrumentos de Coleta de Dados.

Análise dos Dados:

Quantitativa: Os dados do questionário foram tabulados e analisados utilizando o software Microsoft Excel para calcular médias, frequências e outras estatísticas descritivas.

Qualitativa: As entrevistas foram analisadas manualmente para identificar temas e padrões comuns. As respostas foram organizadas e categorizadas para facilitar a interpretação.

3.5 Considerações Éticas

Todos os participantes foram informados sobre os objetivos da pesquisa e deram seu consentimento para participar. As informações foram mantidas confidenciais e os dados pessoais foram anonimizados para garantir a privacidade dos participantes.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

4.1 Características Demográficas dos Participantes

Os 100 participantes da pesquisa foram majoritariamente enfermeiros (60%) e técnicos de enfermagem (40%), com uma distribuição geográfica equilibrada entre diferentes regiões do Brasil. A maioria dos participantes trabalha em hospitais (55%), seguida por clínicas (30%) e unidades de saúde pública (15%).

4.2 Condições de Trabalho

Tabela 1: Condições de Trabalho dos Participantes

Os dados mostram que uma parcela significativa dos profissionais de enfermagem enfrenta jornadas de trabalho extensas, com 60% trabalhando mais de 40 horas por semana. A remuneração é uma preocupação central, com 30% dos participantes recebendo até R$ 3.000 mensais, o que é abaixo do ideal para uma profissão com alta carga de responsabilidade.

4.3 Percepção de Valorização

Gráfico 1: Percepção de Valorização dos Profissionais de Enfermagem

Os dados indicam que 70% dos participantes consideram que a profissão de enfermagem é pouco valorizada. Apenas 20% afirmam sentir-se adequadamente reconhecidos por suas funções, enquanto 10% consideram que a valorização é alta.

4.4 Resultados das Entrevistas

As entrevistas revelaram percepções adicionais sobre a desvalorização da profissão. Os participantes mencionaram:

  1. Falta de Reconhecimento Profissional: Muitos relataram que, apesar de desempenharem funções críticas, não recebem o reconhecimento adequado por seu trabalho.

  2. Desigualdade Salarial: A disparidade entre o salário dos enfermeiros e de outras categorias profissionais da saúde foi um ponto frequente de discussão.

  3. Condições de Trabalho: Além das longas jornadas, problemas como falta de equipamentos adequados e sobrecarga de trabalho foram destacados como fatores que contribuem para a desvalorização.

4.5 Discussão dos Resultados

Os resultados obtidos corroboram com achados de pesquisas anteriores que apontam para a desvalorização da profissão de enfermagem como um problema significativo no Brasil. Estudos como o de Silva et al. (2021) e Oliveira & Santos (2022) também destacam questões semelhantes relacionadas à carga horária excessiva e à remuneração insatisfatória.

Análise Comparativa:

Carga Horária e Remuneração: A carga horária elevada e a remuneração abaixo das expectativas são consistentes com a literatura existente. A pesquisa de Sousa et al. (2019) já havia identificado essas questões como problemas críticos para a valorização da enfermagem.

Reconhecimento Profissional: A falta de reconhecimento é um ponto crítico frequentemente destacado em estudos sobre a valorização da profissão. Segundo Costa & Almeida (2020), o reconhecimento profissional inadequado afeta diretamente a satisfação e motivação dos trabalhadores da saúde.

Os dados sugerem que, para melhorar a valorização da profissão de enfermagem, é necessário implementar mudanças tanto nas políticas salariais quanto nas condições de trabalho. A melhoria nas condições de trabalho e o reconhecimento adequado são essenciais para a valorização dos profissionais e para a retenção de talentos na área da saúde.

4.6 Limitações do Estudo

Algumas limitações foram identificadas na pesquisa, como a amostragem por conveniência, que pode não representar completamente todas as regiões do Brasil. Além disso, a análise qualitativa das entrevistas foi baseada em um número relativamente pequeno de participantes.

4.7 Sugestões para Futuras Pesquisas

Futuras pesquisas poderiam explorar mais a fundo as diferenças regionais na valorização da enfermagem e investigar o impacto de políticas específicas sobre a satisfação dos profissionais. Estudos longitudinais também seriam úteis para acompanhar as mudanças ao longo do tempo.

Essa análise fornece uma visão abrangente sobre os principais fatores que afetam a valorização da profissão de enfermagem no Brasil, destacando áreas críticas para futuras intervenções e pesquisas adicionais.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa confirma que a profissão de enfermagem no Brasil enfrenta significativa desvalorização, conforme evidenciado pela carga horária excessiva e remuneração inadequada para a responsabilidade e o trabalho exigidos. Os objetivos da pesquisa foram atingidos ao revelar que os principais fatores que contribuem para a desvalorização são a insuficiência salarial, as longas jornadas de trabalho e a falta de reconhecimento profissional.

A análise dos dados mostra que a maioria dos profissionais de enfermagem considera sua profissão pouco valorizada, refletindo uma necessidade urgente de melhorias nas condições de trabalho e na estrutura salarial. As novas descobertas indicam que o reconhecimento profissional inadequado e a disparidade salarial são questões críticas que precisam ser abordadas para promover a valorização da profissão.

A pesquisa contribui teoricamente ao fornecer uma visão detalhada sobre os fatores que afetam a valorização da enfermagem no Brasil, alinhando-se com a literatura existente e destacando áreas para intervenção. Praticamente, os resultados sugerem que políticas direcionadas para melhorar a remuneração e as condições de trabalho podem ajudar a aumentar a valorização e satisfação dos profissionais de enfermagem.

As limitações do estudo incluem a amostragem por conveniência e a análise qualitativa baseada em um número limitado de entrevistas. Futuras pesquisas podem expandir a amostra e explorar a influência de políticas específicas sobre a valorização da profissão, além de realizar estudos longitudinais para monitorar mudanças ao longo do tempo.

Essas conclusões destacam a necessidade de ações estruturais para melhorar as condições de trabalho e a remuneração dos profissionais de enfermagem, a fim de assegurar maior valorização e reconhecimento para esta essencial categoria profissional.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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