A CONTABILIDADE GERENCIAL EXECUTIVA NO CONTEXTO DOS NEGÓCIOS INTERNACIONAIS: IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA, FERRAMENTAS DE SUPORTE À DECISÃO E COMPETÊNCIAS DO PROFISSIONAL CONTEMPORÂNEO

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.17196260


Thásia Rachell Maia Morais1


RESUMO
Este estudo discute o papel da Contabilidade Gerencial Executiva no contexto dos negócios internacionais, com foco em sua importância estratégica, nas ferramentas utilizadas no suporte à tomada de decisão e nas competências exigidas dos profissionais da área. A pesquisa é de natureza qualitativa, descritiva e fundamentada em revisão de literatura. Os resultados indicam que a CGE evoluiu de uma função operacional para uma abordagem estratégica, incorporando instrumentos como Balanced Scorecard, target costing e business intelligence, voltados à integração de desempenho financeiro, sustentabilidade e governança transnacional. Identificou-se também que o profissional de Negócios Internacionais deve dominar conhecimentos técnicos e analíticos, habilidades tecnológicas e competências interculturais, a fim de atuar de forma eficaz em ambientes organizacionais globalizados e regulatoriamente diversos.
Palavras-chave: Contabilidade Gerencial Executiva. Negócios Internacionais. Tomada de decisão. Estratégia. Competências profissionais.

ABSTRACT
This study analyzes the role of Executive Management Accounting in the context of international business, focusing on its strategic relevance, the tools used to support decision-making, and the competencies required of professionals in the field. The research adopts a qualitative, descriptive approach, based on a literature review. Findings indicate that Executive Management Accounting has evolved from an operational function to a strategic approach, incorporating instruments such as the Balanced Scorecard, target costing, and business intelligence to integrate financial performance, sustainability, and transnational governance. The study also highlights that International Business professionals must possess technical and analytical knowledge, technological skills, and intercultural competencies to perform effectively in globalized and institutionally diverse organizational environments.
Keywords: Executive Management Accounting. International Business. Decisionmaking. Strategy. Professional Competencies.

1 Introdução

A crescente internacionalização das empresas e a intensificação da complexidade dos ambientes de negócios impulsionaram transformações significativas na contabilidade gerencial. De uma função historicamente voltada ao controle interno e ao registro de custos, para Kaplan (1984), a contabilidade gerencial evoluiu para uma abordagem executiva, orientada à criação de valor estratégico em contextos globais e voláteis. No cenário dos negócios internacionais, a Contabilidade Gerencial Executiva (CGE) assume papel decisivo ao integrar variáveis institucionais, regulatórias e culturais na análise de desempenho, alocação de recursos e formulação de estratégias de longo prazo.

Essa evolução foi acompanhada pelo desenvolvimento de ferramentas sofisticadas de suporte à decisão, como o Balanced Scorecard, o target costing, a análise da cadeia de valor e os sistemas de Business Intelligence. Segundo Guilding et al. (2000), tais instrumentos permitem alinhar métricas financeiras e não financeiras aos objetivos estratégicos das organizações em escala global, promovendo a coerência entre subsidiárias e a responsividade diante de pressões competitivas e socioambientais. Em paralelo, práticas gerenciais informais, desenvolvidas localmente por gestores de unidades internacionais, complementam os sistemas formais ao adaptar-se a realidades culturais e operacionais específicas.

Nesse contexto, o profissional de Negócios Internacionais precisa dominar um conjunto ampliado de competências que vai além das habilidades contábeis tradicionais. De acordo com Arkhipova et al. (2024), é preciso se ter fluência tecnológica, raciocínio analítico, interpretação de dados financeiros e não financeiros em múltiplos contextos regulatórios, além de postura estratégica na governança da informação e na comunicação com diferentes stakeholders. A atuação eficaz requer familiaridade com sistemas de controle multiculturais, capacidade de integrar dados dispersos, interpretar externalidades socioambientais e participar ativamente da definição de políticas corporativas em nível global.

Nesse cenário, a presente pesquisa tem como objetivo discutir a evolução e o papel atual da Contabilidade Gerencial Executiva no contexto dos negócios internacionais, com foco em sua importância estratégica, nas principais ferramentas e relatórios utilizados no processo de tomada de decisão organizacional, e nos conhecimentos essenciais exigidos dos profissionais atuantes nessa área. Para atingir esse objetivo, adotou-se como procedimento metodológico a revisão de literatura, com base em autores reconhecidos nos campos da contabilidade gerencial, estratégia organizacional e gestão internacional.

O estudo teve como objetivo identificar e analisar contribuições relevantes sobre a evolução da Contabilidade Gerencial Executiva aplicada aos negócios internacionais, suas ferramentas de apoio à decisão e as competências demandadas dos profissionais da área.A análise seguiu etapas de leitura exploratória, leitura seletiva e interpretação crítica dos textos selecionados.

2 Importância da Contabilidade Gerencial Executiva para os Negócios Internacionais de uma organização

A Contabilidade Gerencial Executiva constitui um conjunto de práticas projetadas para fornecer aos gestores informações internas críticas à formulação e execução de estratégias em ambientes de negócios complexos. Nos negócios internacionais, seu papel adquire dimensão estratégica ao integrar variáveis multiculturais, legais, econômicas e operacionais no processo decisório, conforme Kaplan & Atkinson (1989). Essa integração se tornou imprescindível a partir do avanço da globalização e da descentralização das cadeias produtivas, que exigiram da contabilidade gerencial uma atuação além do controle orçamentário, passando a incorporar elementos de valor agregado e desempenho global.

De acordo com Ittner & Larcker (2001), a partir das últimas décadas do século XX, a adoção de práticas avançadas de contabilidade gerencial, como o custeio baseado em atividades, benchmarking e indicadores não financeiros, se intensificou nas empresas com operações internacionais, com o objetivo de aprimorar a alocação de recursos e a competitividade global. Essas práticas foram importantes para alinhar as operações descentralizadas às diretrizes estratégicas da organização como um todo, superando limitações de sistemas tradicionais centrados exclusivamente em métricas financeiras. Nesse sentido, a contabilidade gerencial executiva passou a oferecer um suporte decisório orientado à criação de valor sustentável em múltiplas jurisdições.

O caráter executivo dessa contabilidade é apresentado pelo seu foco em decisões de alto impacto, como definição de portfólio global de unidades de negócios, análise de riscos cambiais, precificação internacional e alocação interterritorial de capital, segundo Shields (1998). Estudos em países como Grécia, Turquia e Malásia, demonstraram que empresas com forte atuação internacional tendem a adotar práticas gerenciais mais sofisticadas, com ênfase em técnicas combinadas de controle e desempenho financeiro e operacional. Essas técnicas são importantes para responder às exigências de governança transnacional e às métricas de accountability impostas por investidores e stakeholders globais.

A sofisticação da CGE nos negócios internacionais também está vinculada à sua capacidade de lidar com contingências contextuais, como regimes fiscais distintos, instabilidade política e variações tecnológicas entre filiais. Conforme demonstrado por Haldma & Lääts (2002), a efetividade da contabilidade gerencial depende da sua adaptação às condições institucionais e organizacionais locais. Nesse cenário, o papel executivo da contabilidade não se restringe à geração de relatórios, mas se estende à customização de instrumentos gerenciais capazes de sustentar a performance em ambientes regulatórios e culturais divergentes.

Outro aspecto crucial da CGE internacional está no seu uso para coordenação e controle interorganizacional, especialmente em estruturas matriciais ou holdings com operações multinacionais. Para Abdel-Kader & Luther (2006), técnicas como BSC (Balanced Scorecard) e gestão por indicadores-chave (KPIs) são utilizadas para alinhar objetivos locais e globais, promovendo a coerência estratégica entre filiais. Essa abordagem aumenta a responsividade da organização às flutuações externas e melhora a performance consolidada.

O avanço da transformação digital tem impactado de forma direta as funções executivas da contabilidade gerencial em contextos internacionais. Tecnologias como sistemas integrados ERP, business intelligence, data analytics e inteligência artificial estão sendo incorporadas como ferramentas de suporte à tomada de decisão, ampliando a capacidade da CGE de atuar em tempo real com dados operacionais e estratégicos de múltiplas unidades, segundo Ittner & Larcker (2001). Esse cenário requer contadores com competência técnica ampliada, capazes de interpretar fluxos de dados complexos e convertê-los em modelos de simulação, análise preditiva e suporte ao planejamento global.

A incorporação desses recursos digitais fortalece a CGE como um centro de inteligência estratégica, aproximando-a das funções de governança e compliance em ambientes regulatórios internacionais. Empresas com maior grau de maturidade digital na contabilidade gerencial executiva obtêm vantagens competitivas relacionadas à agilidade na resposta a riscos externos, à capacidade de reconfiguração de recursos e à mitigação de ineficiências em escala global, de acordo com Eker & Aytac (2016). Além disso, a digitalização permite maior granularidade na mensuração de desempenho, com foco em métricas além do resultado financeiro, incluindo tempo de ciclo, satisfação do cliente e indicadores ambientais e sociais.

Outro eixo de transformação refere-se à integração da CGE com diretrizes de sustentabilidade corporativa e estratégias ESG (Environmental, Social and Governance). O papel da contabilidade gerencial passa a incorporar a quantificação de externalidades, avaliação de riscos socioambientais e desenvolvimento de métricas não financeiras que reflitam o desempenho global das unidades em conformidade com padrões internacionais. Essa transição reforça o papel da CGE como agente facilitador da criação de valor sustentável, ampliando seu escopo para além dos limites convencionais da rentabilidade.

No plano institucional, a CGE tende a assumir um papel cada vez mais relevante na modelagem e controle de estruturas multinacionais, especialmente em resposta às exigências de transparência, auditoria e responsabilidade imposta por blocos econômicos e organismos multilaterais. Nesse sentido, sua atuação não se limita à mensuração de resultados, mas abrange o suporte à conformidade regulatória e à harmonização contábil entre jurisdições, exigindo capacidade de adaptação às normas locais e simultaneamente aos princípios internacionais como IFRS, segundo Szychta (2018).

Além disso, segundo Pavlatos & Kostakis (2015), a CGE executiva deve assumir uma postura mais proativa na governança estratégica, sendo incorporada às instâncias de formulação de políticas corporativas em nível global. Essa participação está relacionada ao uso de informações gerenciais em decisões de fusão e aquisição, realocação produtiva, análise de riscos políticos e definição de preços de transferência – atividades sensíveis à gestão de negócios internacionais.

A consolidação do papel executivo da CGE nos negócios internacionais depende da sua capacidade de integrar conhecimento técnico, adaptabilidade institucional e inteligência estratégica. Essa combinação permitirá à contabilidade gerencial não apenas sustentar, mas liderar os processos de internacionalização organizacional, com impacto direto sobre competitividade, sustentabilidade e governança.

3 Principais ferramentas e relatórios da contabilidade gerencial para o processo de tomada de decisão nas organizações

O desenvolvimento da contabilidade gerencial ao longo das últimas décadas mostra mudanças significativas nos ambientes organizacionais, particularmente no contexto da globalização dos negócios. Inicialmente centrada em funções operacionais internas, a contabilidade gerencial era limitada a sistemas de custos tradicionais, voltados à eficiência produtiva e ao controle interno, segundo Johnson & Kaplan (1987). No entanto, as críticas quanto à sua incapacidade de atender às demandas estratégicas das organizações impulsionaram o surgimento da contabilidade gerencial estratégica, cuja proposta ampliava o escopo informacional para incluir elementos externos, como comportamento da concorrência e dinâmicas de mercado, com foco na formulação e monitoramento de estratégias competitivas.

A definição proposta por Simmonds (1981) “a provisão e análise de dados contábeis de gestão sobre uma empresa e seus concorrentes, para uso no desenvolvimento e monitoramento da estratégia empresarial” consolidou uma perspectiva orientada à decisão estratégica. Esta abordagem foi posteriormente aprofundada por Bromwich (1990), ao destacar a importância da análise de custos dos concorrentes, dos mercados de produtos e das estratégias competitivas. Em consonância, Cadez & Guilding (2008) categorizaram as ferramentas da contabilidade gerencial estratégica em cinco eixos principais: custeio estratégico, planejamento e controle estratégico, tomada de decisão estratégica, contabilidade de concorrentes e contabilidade de clientes.

No campo do custeio estratégico, técnicas como o attribute costing, life-cycle costing, target costing e value chain costing, passaram a ser utilizadas como instrumentos de identificação de oportunidades para vantagem competitiva sustentável. Esses métodos permitiram integrar dados contábeis com informações de marketing e estratégia, oferecendo uma base robusta para decisões sobre posicionamento de produtos e precificação em mercados internacionais voláteis, para Guilding et al. (2000).

As práticas de planejamento e controle estratégico foram incorporadas à contabilidade gerencial por meio de instrumentos como o benchmarking e o Balanced Scorecard. O primeiro possibilita a comparação contínua de indicadores com os melhores desempenhos do setor, enquanto o segundo amplia a análise de desempenho ao integrar indicadores financeiros e não financeiros, tais como aprendizado organizacional, processos internos e percepção do cliente. Tais abordagens têm sido aplicadas globalmente por multinacionais na busca por coerência estratégica em múltiplos mercados, segundo Chenhall (2005).

A tomada de decisão estratégica é apoiada por práticas como o strategic pricing, que envolve avaliações complexas sobre elasticidade de preço, reações da concorrência e crescimento de mercado projetado. Adicionalmente, o brand valuation, que combina projeções de ganhos da marca com fatores qualitativos relacionados ao seu posicionamento estratégico, contribui com insights cruciais para decisões de investimento e expansão em mercados externos, segundo Cescon et al. (2019).

No presente, observa-se uma ampliação significativa do papel da contabilidade gerencial como suporte à gestão em ambientes internacionais marcados por volatilidade, incerteza e pressões socioambientais. De acordo com Hall (2010), a literatura recente mostra que, além de sua função informativa, a contabilidade gerencial passou a exercer influência direta na construção do conhecimento estratégico dos gestores, especialmente por meio da geração de métricas acessíveis que traduzem dados técnicos em narrativas compreensíveis sobre o desempenho organizacional. Em contextos de crise, como demonstrado por Hayne (2022), os executivos reavaliam os sistemas formais de contabilidade e desenvolvem ferramentas informais, baseadas em dados confiáveis, para alinhar percepções internas e conduzir a organização por cenários críticos.

Esse movimento inclui o uso de práticas informais, também denominadas vernacular accountings, segundo Kilfoyle et al. (2013), que são criadas localmente pelos gestores e adaptadas às realidades específicas de cada unidade de negócio, especialmente em empresas multinacionais que operam em ambientes culturais e regulatórios distintos. Segundo Wouters & Wilderom (2008), esses relatórios informais são vitais para gerar compreensão operacional quando os sistemas oficiais falham em fornecer respostas rápidas ou específicas. Em paralelo, instrumentos como painéis visuais, sistemas adaptativos e reportes de desempenho sintetizados tornaram-se fundamentais para conectar gestores de diferentes países em torno de objetivos comuns e respostas coordenadas.

Além disso, a contabilidade gerencial tem se consolidado como eixo integrador entre sustentabilidade e estratégia. A inclusão de critérios ESG (ambientais, sociais e de governança) nos relatórios gerenciais internos tem favorecido decisões mais alinhadas às exigências de stakeholders globais e ao cumprimento de metas vinculadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, Burritt & Schaltegger (2010). Nesse sentido, o Internal Integrated Report, inspirado no modelo proposto pelo IIRC, tem sido utilizado como ferramenta decisional nas corporações, promovendo a interligação entre desempenho econômico, impacto ambiental e valor social.

Quanto ao futuro, projeta-se uma intensificação da incorporação de tecnologias de análise avançada, como business intelligence e data analytics, à contabilidade gerencial, com vistas a aprimorar sua capacidade preditiva e prescritiva. Essa tendência exigirá, por parte dos contadores gerenciais, o domínio de competências multidisciplinares, incluindo análise de dados, comunicação estratégica e sustentabilidade. Para Chenhall et al. (2017), a literatura também indica que os relatórios gerenciais deverão se tornar progressivamente mais integrados, ágeis e orientados por cenários, refletindo a necessidade de adaptação a mudanças rápidas nos ambientes globais.

Nesse processo de evolução, a contabilidade gerencial deixará de ser meramente um sistema de medição para tornar-se um componente central da inteligência organizacional. A capacidade de sintetizar, traduzir e comunicar informações críticas será cada vez mais valorizada em ambientes internacionais, em que a tomada de decisão estratégica precisa conciliar múltiplos critérios, demandas institucionais divergentes e horizontes temporais distintos. Dessa forma, a contabilidade gerencial, especialmente quando estrategicamente aplicada, tende a consolidar-se como um instrumento decisivo para a sustentabilidade e competitividade das organizações no cenário global.

4 Conhecimentos essenciais do profissional de Negócios Internacionais sobre a Contabilidade Gerencial Executiva

Davila (2000), mostra que o desenvolvimento histórico da contabilidade gerencial apresenta uma transição significativa da função de mero registro e controle de custos para uma prática voltada à criação de valor, previsão de cenários e apoio à estratégia empresarial. Nesse contexto, o profissional de Negócios Internacionais precisa dominar competências que extrapolam as técnicas contábeis tradicionais e se alinham com as demandas globais e tecnológicas contemporâneas.

A internacionalização das empresas exige que esse profissional compreenda profundamente os impactos das variáveis macroeconômicas e regulatórias nos sistemas de controle gerencial. A capacidade de interpretar indicadores financeiros e não financeiros em ambientes multiculturais, com diferentes práticas institucionais, torna-se uma competência essencial. O conhecimento da contabilidade gerencial executiva, nesse sentido, deve incluir o entendimento sobre métricas de performance adaptadas a distintos contextos de mercado e setores regulados.

Com a ascensão da indústria 4.0 e a digitalização dos processos de controle, é fundamental que o profissional internacional esteja apto a lidar com tecnologias emergentes, como big data, blockchain e sistemas de business intelligence. A capacidade de integrar dados estruturados e não estruturados, oriundos de diferentes jurisdições e fontes, e extrair insights é parte da atuação esperada, de acordo com Arkhipova et al. (2024). Essa competência requer, portanto, um perfil analítico e multidisciplinar.

Outro ponto crítico é a compreensão dos sistemas de custeio e orçamento em um contexto transnacional. O profissional deve entender os impactos tributários, cambiais e logísticos sobre a formação de preços e a alocação eficiente de recursos. Modelos como o Activity-Based Costing (ABC) e o Target Costing, por exemplo, são relevantes para a gestão de produtos em mercados com alta competitividade e pressão por margens.

A gestão de desempenho em negócios internacionais também exige familiaridade com sistemas como o Balanced Scorecard e a análise de indicadores de produtividade e eficiência em múltiplas unidades operacionais e culturas organizacionais. Segundo Arnaboldi et al. (2017), o uso de dashboards customizados e relatórios de análise preditiva não apenas informa, mas orienta a ação dos gestores frente à dinâmica de mercados voláteis e sujeitos a choques externos.

Dessa forma, é esperado que o profissional de Negócios Internacionais domine técnicas de análise financeira, benchmarking global e controle orçamentário, ao mesmo tempo em que desenvolve competências comportamentais, como comunicação intercultural, pensamento estratégico e liderança de equipes multidisciplinares. A contabilidade gerencial executiva, nesse contexto, é não apenas uma ferramenta, mas um elemento estruturante para a tomada de decisão internacionalizada e ágil.

À medida que os mercados se tornam mais integrados e digitalizados, o perfil de atuação desse profissional deixa de ser meramente técnico para incorporar uma postura de parceiro estratégico da alta gestão. Isso implica não apenas reportar dados ou acompanhar indicadores, mas participar ativamente da formulação de estratégias corporativas em ambientes complexos e incertos, de acordo com Burns & Yazdifar (2004). Tal mudança exige competências comunicacionais refinadas, compreensão sistêmica dos modelos de negócio e capacidade de traduzir métricas contábeis em narrativas estratégicas compreensíveis a diferentes públicos e culturas organizacionais.

O domínio das novas dinâmicas organizacionais, como estruturas horizontais, redes interempresariais e plataformas digitais, também é indispensável. Esses arranjos institucionais exigem que o profissional de Negócios Internacionais entenda o papel da contabilidade gerencial em contextos colaborativos e com múltiplos stakeholders. Estudos recentes de Magnacca & Gianneti (2023). mostram que essa atuação requer sensibilidade sociotécnica para alinhar indicadores de desempenho e controle a formas de trabalho mais fluidas, autônomas e baseadas em projetos interdisciplinares.

Além disso, em um cenário caracterizado pela intensificação dos fluxos globais de dados, é esperado que esse profissional seja capaz de gerenciar a qualidade e relevância das informações utilizadas nos processos decisórios. Isso envolve desde a avaliação da integridade de bases de dados financeiras e operacionais até a capacidade de interpretar dados alternativos, como mídias sociais, sensores e fontes não convencionais de informação. Nesse contexto, habilidades como mineração de dados, análise estatística e raciocínio lógico tornam-se complementares às competências tradicionais de contabilidade e finanças.

Outro aspecto é a governança da informação. O profissional de Negócios Internacionais deve ser capaz de assegurar que os sistemas contábeis estejam em conformidade com normas e práticas de diferentes países, respeitando legislações locais e, ao mesmo tempo, alinhando-se a padrões internacionais como IFRS e ESG. Isso requer conhecimento técnico em regulação contábil e sensibilidade ética sobre o uso responsável das informações.

Por fim, o futuro da contabilidade gerencial executiva está intrinsecamente ligado à capacidade de adaptação do profissional às transformações digitais e à ambiguidade dos ambientes globais. É necessário que o profissional seja capaz de aprender continuamente, absorver novas ferramentas tecnológicas e atuar de maneira crítica diante de recomendações algorítmicas, validando decisões com base em critérios econômicos, sociais e ambientais, para Franke & Hiebl (2023). A resiliência intelectual e a mentalidade orientada à solução de problemas passam a ser componentes centrais da formação desse novo perfil.

Portanto, os conhecimentos essenciais da contabilidade gerencial executiva para profissionais de negócios internacionais não se resumem à aplicação de técnicas e abrangem um conjunto integrado de capacidades que envolvem visão estratégica, fluência tecnológica, competência intercultural e postura ética.

5 Considerações Finais

Notou-se que a Contabilidade Gerencial Executiva se consolidou como instrumento estratégico para a gestão de negócios internacionais, ampliando sua atuação para além do controle interno e da mensuração de custos. Sua evolução incorporou práticas voltadas à geração de valor, integração de variáveis institucionais e uso de tecnologias analíticas no suporte à decisão. As ferramentas gerenciais utilizadas passaram a abranger métodos estratégicos e multidimensionais, com ênfase na conexão entre desempenho financeiro, sustentabilidade e competitividade global.

Entretanto, a aplicação dessas ferramentas requer profissionais capazes de interpretar cenários complexos, operar com dados em tempo real e alinhar decisões locais aos objetivos globais das organizações. O domínio técnico da contabilidade gerencial, aliado a competências analíticas, tecnológicas e interculturais, torna-se essencial para atuação eficiente em contextos empresariais globalizados e regulatoriamente diversos.

Portanto, a consolidação da CGE como eixo de apoio à estratégia internacional depende da articulação entre instrumentos de gestão avançados, adaptação institucional e formação profissional compatível com os desafios da digitalização, sustentabilidade e governança transnacional.

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1 Enfermagem. Psicopedagogia e Neurociências. Mestranda em Administração pela Must University. [email protected]