RESILIÊNCIA E INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: DESENVOLVIMENTO INDIVIDUAL E APOIO ORGANIZACIONAL

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.17335946


Wilton Rezende de Freitas1


RESUMO
Este estudo analisa o papel da resiliência e da inteligência emocional no ambiente profissional, destacando sua importância para a adaptação a desafios e a construção de relações interpessoais saudáveis. O objetivo é compreender como essas competências contribuem para o bem-estar individual e o fortalecimento da cultura organizacional, além de identificar os principais obstáculos ao seu desenvolvimento. A pesquisa baseia-se em revisão bibliográfica, com foco em autores da área de comportamento organizacional. Os resultados indicam que a resiliência permite aos profissionais manterem equilíbrio emocional diante de pressões e mudanças, enquanto a inteligência emocional favorece o autogerenciamento e a empatia, essenciais para uma comunicação eficaz e um ambiente colaborativo. Entretanto, o aprimoramento dessas habilidades exige esforço contínuo, autoconhecimento e apoio institucional. Entre os desafios, destacam-se a resistência à mudança, padrões emocionais disfuncionais e a ausência de uma cultura que valorize a saúde emocional no trabalho. Conclui-se que organizações que investem em treinamentos, suporte psicológico e práticas como feedback construtivo e comunicação transparente tendem a formar equipes mais adaptáveis, engajadas e preparadas para os desafios do contexto corporativo atual. Assim, resiliência e inteligência emocional devem ser compreendidas não apenas como características individuais, mas como competências estratégicas que influenciam diretamente o desempenho e a sustentabilidade organizacional.
Palavras-chave: Resiliência. Inteligência Emocional. Resultados. Comportamento Organizaconal.

ABSTRACT
This study analyzes the role of resilience and emotional intelligence in the professional environment, highlighting their importance for adapting to challenges and building healthy interpersonal relationships. The objective is to understand how these competencies contribute to individual well-being and the strengthening of organizational culture, as well as to identify the main obstacles to their development. The research is based on a literature review, focusing on authors in the field of organizational behavior. The results indicate that resilience enables professionals to maintain emotional balance in the face of pressure and change, while emotional intelligence fosters self-management and empathy—both essential for effective communication and a collaborative environment. However, improving these skills requires continuous effort, self-awareness, and institutional support. Among the challenges, resistance to change, dysfunctional emotional patterns, and the absence of a culture that values emotional health in the workplace stand out. It is concluded that organizations that invest in training, psychological support, and practices such as constructive feedback and transparent communication tend to develop more adaptable, engaged teams that are better prepared for the challenges of today’s corporate environment. Thus, resilience and emotional intelligence should not be seen merely as individual traits but as strategic competencies that directly influence organizational performance and sustainability.
Keywords: Resilience. Emotional Intelligence. Outcomes. Organizational Behavior.

INTRODUÇÃO

No cenário corporativo contemporâneo, em que prevalecem constantes transformações tecnológicas, exigências por alta performance e pressões por resultados imediatos, o ser humano é desafiado não apenas por fatores técnicos, mas sobretudo por suas competências socioemocionais. Nesse contexto, a resiliência e a inteligência emocional emergem como habilidades indispensáveis à sobrevivência e ao crescimento profissional. Se, por um lado, a resiliência se refere à capacidade de lidar com adversidades, reorganizar-se diante das dificuldades e manter o equilíbrio emocional frente ao estresse, por outro, a inteligência emocional envolve a habilidade de perceber, compreender e gerenciar as próprias emoções, bem como de interpretar e influenciar positivamente as emoções alheias.

O crescimento de estudos voltados à saúde mental no trabalho, aos transtornos de ansiedade relacionados ao ambiente corporativo e ao fenômeno do burnout evidencia uma mudança de paradigma nas relações de trabalho. A performance individual e coletiva deixou de ser compreendida exclusivamente a partir de competências técnicas, passando a englobar aspectos subjetivos, emocionais e relacionais. Diante disso, torna-se necessário investigar como tais competências podem ser desenvolvidas no cotidiano profissional, quais barreiras internas e externas limitam esse processo e qual é o papel das organizações como espaços formadores e não apenas cobradores de resultados.

Este trabalho tem como objetivo geral analisar o papel da resiliência e da inteligência emocional no contexto organizacional, com ênfase nas estratégias de desenvolvimento dessas competências por parte dos profissionais e no apoio que pode ser oferecido pelas instituições. Como objetivos específicos, pretende-se:

  • Compreender os conceitos fundamentais de resiliência e inteligência emocional, com base em autores clássicos e contemporâneos;

  • Identificar os desafios enfrentados pelos profissionais no processo de fortalecimento dessas competências;

  • Apresentar práticas individuais que favoreçam o aprimoramento da resiliência e da inteligência emocional;

  • Investigar o papel das organizações no estímulo e suporte ao desenvolvimento dessas habilidades, considerando políticas de bem-estar e gestão humanizada.

A questão-problema que orienta a pesquisa é: como os profissionais podem desenvolver resiliência e inteligência emocional, e de que maneira as organizações podem apoiá-los nesse caminho?

Para responder a essa indagação, parte-se das seguintes hipóteses:

  1. O desenvolvimento da resiliência e da inteligência emocional está diretamente relacionado ao nível de autoconhecimento, autorregulação e empatia dos profissionais;

  2. Ambientes organizacionais que promovem cultura de apoio, escuta ativa e valorização emocional favorecem significativamente o fortalecimento dessas competências;

  3. Barreiras como a sobrecarga de trabalho, a ausência de práticas formativas e o foco excessivo em resultados quantitativos dificultam o desenvolvimento emocional no ambiente profissional.

A relevância do tema se destaca à medida que a sociedade contemporânea avança em direção a um modelo organizacional mais humano, ético e sustentável. Em tempos de crescente adoecimento emocional e alta rotatividade profissional, refletir sobre a construção de ambientes que promovam a saúde mental e o florescimento humano deixou de ser uma escolha e passou a ser uma responsabilidade coletiva. A resiliência e a inteligência emocional não apenas aumentam a eficácia individual, mas também contribuem para a criação de relações mais saudáveis, empáticas e colaborativas, impactando positivamente o clima organizacional, a produtividade e a inovação.

A metodologia adotada será a pesquisa bibliográfica, fundamentada em obras de referência e estudos científicos relevantes sobre o tema. O trabalho está estruturado em duas seções principais: a primeira abordará os fundamentos teóricos, os desafios e as estratégias de desenvolvimento individual e organizacional; a segunda apresentará as considerações finais, sintetizando os principais achados e suas implicações práticas para os ambientes profissionais atuais.

1. CONCEITO DE RESILIÊNCIA E INTELIGÊNCIA EMOCIONAL

Em um mundo repleto de incertezas e mudanças rápidas, compreender o que nos permite seguir em frente mesmo diante das adversidades tornou-se uma questão essencial para o bem-estar pessoal e o desempenho profissional. Nesse cenário, os conceitos de resiliência e inteligência emocional ganham relevância por sua capacidade de promover equilíbrio, empatia e autoconsciência nas relações humanas e nos ambientes organizacionais.

A resiliência pode ser compreendida como a habilidade de atravessar períodos difíceis, reconhecendo a dor, enfrentando os conflitos e encontrando, mesmo nas crises, oportunidades de crescimento. Trata-se de uma força interna que combina fatores biológicos e psicológicos, capazes de sustentar o indivíduo durante momentos de adversidade (Flach, 1991). Esse processo não ignora o sofrimento, mas o acolhe, interpretando-o como parte do caminho. Assim, o sujeito resiliente não é aquele que não sofre, mas sim aquele que, apesar da dor, segue adiante com clareza, aprendizado e equilíbrio (Jubram, 2017).

A inteligência emocional, por sua vez, é uma competência igualmente essencial, associada à habilidade de perceber, compreender e gerenciar emoções próprias e alheias. De acordo com Mayer e Salovey (1990), ela faz parte da inteligência social, relacionada à capacidade de monitorar sentimentos e direcionar pensamentos e comportamentos a partir dessa percepção. Para Goleman (2011), a inteligência emocional pode ser desenvolvida com base em cinco componentes: empatia, autonomia, autocontrole, saber ouvir e curiosidade — elementos que, quando trabalhados, tornam-se atitudes naturais no convívio pessoal e profissional.

A presença dessas competências no ambiente de trabalho é decisiva. Um colaborador emocionalmente inteligente e resiliente é mais apto a lidar com situações de pressão, conflitos e mudanças, sem perder sua estabilidade interna. Ao mesmo tempo, organizações que reconhecem o valor das emoções e promovem uma cultura voltada para o equilíbrio emocional criam espaços mais saudáveis, colaborativos e produtivos. Como aponta Cury (2008), quando o ser humano não aprende a educar suas emoções, tende a se tornar vítima — e muitas vezes causador — de situações emocionalmente desgastantes e conflituosas.

Além disso, os gestores têm papel central nesse processo. Eles não apenas devem desenvolver suas próprias habilidades emocionais, mas também atuar como facilitadores do desenvolvimento emocional de suas equipes. Para que isso ocorra, é essencial que a própria organização esteja alinhada a uma filosofia de valorização das emoções e sentimentos no ambiente de trabalho, promovendo a escuta ativa, o respeito aos limites individuais e a construção de vínculos de confiança (Mayer & Salovey, 1990).

A resiliência e a inteligência emocional, portanto, não são qualidades estanques ou inatas, mas sim capacidades que podem ser desenvolvidas ao longo da vida. Quando cultivadas de forma consciente, funcionam como pilares que sustentam o indivíduo diante das dificuldades e o impulsionam a crescer com sensibilidade e sabedoria. Nesse sentido, é possível afirmar que a verdadeira força não está em não sentir, mas em sentir profundamente, aprender com isso e, ainda assim, seguir adiante.

2. O DESENVOLVIMENTO DA RESILIÊNCIA E INTELIGÊNCIA EMOCIONAL NO PROFISSIONAL

No cenário contemporâneo das organizações, marcado por instabilidade, aceleração de processos e constante transformação tecnológica, o desenvolvimento da resiliência e da inteligência emocional emerge como uma competência central para a sustentabilidade da saúde mental e o aprimoramento do desempenho profissional. Esse desenvolvimento, contudo, não ocorre de maneira espontânea: exige um esforço deliberado, contínuo e consciente, centrado no autoconhecimento, na reflexão crítica e na capacidade de transformar adversidades em experiências formadoras.

Segundo Daniel Goleman (2001), o ser humano é dotado de duas mentes: a racional e a emocional. Ambas operam em constante interação e retroalimentação, constituindo sistemas distintos, mas complementares, de conhecimento. Enquanto a mente racional opera por meio da lógica, da análise e da ponderação deliberada, a mente emocional é rápida, automática, impulsiva e se baseia em registros afetivos e reações ancestrais. Quando equilibradas, essas duas dimensões permitem tomadas de decisão mais eficazes, pois a emoção fornece energia e significado à razão, ao passo que a razão organiza e orienta a emoção.

No ambiente profissional, esse equilíbrio é fundamental. Um profissional emocionalmente inteligente é aquele que compreende e administra as próprias emoções, reconhecendo seus estados internos, suas tendências comportamentais e suas limitações. Ele também é capaz de perceber os sentimentos alheios com empatia, modulando sua conduta para promover interações mais harmônicas, colaborativas e respeitosas. Essa competência, quando associada à resiliência, potencializa a capacidade de adaptação e superação diante de pressões, fracassos, críticas e transformações organizacionais (Goleman, 1995; Masten, 2001).

A resiliência, por sua vez, pode ser compreendida como a habilidade de manter-se funcional e orientado para o futuro, mesmo após situações de estresse intenso ou perda. Trata-se de um recurso psíquico e comportamental que permite ao indivíduo reorganizar-se emocionalmente, reinterpretar o sofrimento e reconectar-se com seus propósitos, sem perder o eixo da ação. Conforme aponta Antunes (2008), o desenvolvimento dessa competência passa pela identificação e regulação dos estados emocionais, o que inclui práticas como pausas conscientes, técnicas de respiração e busca de apoio psicossocial, que são fundamentais para evitar a exaustão e o colapso emocional.

Maino (2022, como citado em Pereira, 2024) reforça que a gestão eficaz das emoções depende do conhecimento profundo sobre os próprios padrões emocionais. Nesse sentido, o autoconhecimento se torna um pré-requisito, pois permite perceber antecipadamente reações impulsivas e comportamentos recorrentes que prejudicam o convívio profissional. Estratégias como meditação, escuta ativa, expressão não violenta e diálogo reflexivo funcionam como instrumentos para ampliar a consciência emocional e estabelecer relações mais saudáveis e produtivas.

Essa perspectiva encontra eco nas contribuições do professor PhD Luiz Machado (2005), para quem a inteligência humana está diretamente vinculada a um mecanismo biológico denominado Sape – sistema de autopreservação e preservação da espécie. Segundo ele, a natureza dotou os seres vivos de uma organização funcional voltada à realização de finalidades adaptativas. O ser humano, portanto, é constituído por um conjunto de operações mentais e orgânicas que interagem com o meio para atingir objetivos, sendo a inteligência uma dessas funções superiores de adaptação. Para Machado, a inteligência não nasce pronta, mas se desenvolve a partir da mobilização de reservas cognitivas normalmente adormecidas, através de práticas intencionais e conscientes que envolvem, inclusive, a emoção.

Nessa lógica, a inteligência emocional pode ser entendida como uma capacidade de mobilização dessas potencialidades internas para responder adequadamente às exigências externas, transformando a tensão em ação criativa e o conflito em oportunidade de crescimento. Não basta ter boa memória ou obter altos resultados em testes de QI: o que se requer, de fato, é a habilidade de utilizar o potencial cerebral em prol das necessidades reais, no tempo certo e da forma mais funcional possível (Machado, 1984).

A construção de uma cultura organizacional que valorize o desenvolvimento emocional e a resiliência não deve ser considerada apenas um diferencial competitivo, mas uma necessidade urgente frente aos crescentes índices de adoecimento mental nas corporações. Ambientes profissionais que promovem empatia, acolhimento, escuta ativa e respeito mútuo tendem a gerar mais engajamento, criatividade e senso de pertencimento. A troca de experiências, a valorização do feedback construtivo e o reconhecimento da vulnerabilidade como parte do processo humano contribuem para fortalecer a coesão da equipe e o compromisso coletivo com os resultados.

Por fim, é imprescindível destacar a importância da mentalidade de aprendizado contínuo. Encarar erros e fracassos como parte do processo de desenvolvimento e perguntar-se “O que posso aprender com isso?” ou “Como essa experiência pode me tornar mais preparado?” são práticas que cultivam a resiliência e fomentam uma atitude mais madura diante dos desafios. Tais competências não apenas elevam a performance individual, mas têm o potencial de transformar positivamente a cultura organizacional, tornando-a mais ética, sensível e sustentável.

3. DESAFIOS NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DA RESILIÊNCIA E INTELIGÊNCIA EMOCIONAL

Desenvolver resiliência e inteligência emocional é uma jornada tanto desafiadora quanto transformadora, que exige do profissional um olhar honesto sobre si mesmo e a disposição para promover mudanças significativas. Embora amplamente reconhecidas como competências fundamentais para o sucesso pessoal e profissional, essas habilidades não se desenvolvem de forma imediata ou automática. Trata-se de um processo repleto de obstáculos, que exige esforço contínuo, consciência emocional e compromisso com o próprio crescimento. Entre os principais entraves estão a falta de autoconhecimento, o estigma associado à expressão das emoções no ambiente corporativo e a dificuldade em abandonar padrões de comportamento consolidados, mas ineficazes (Goleman, 1995; Masten, 2001).

Um dos maiores desafios enfrentados pelos profissionais é romper com hábitos emocionais disfuncionais. Como observa Goleman (2012), muitos indivíduos tendem a reagir de forma automática diante de situações estressantes, recorrendo a impulsividade, retraimento emocional ou à evasão de conflitos. Essas respostas, ainda que inconscientes, muitas vezes funcionam como mecanismos de defesa, mas acabam limitando o desenvolvimento pessoal e a qualidade das relações. A desconstrução desses padrões exige paciência e perseverança, pois o fortalecimento da resiliência e da inteligência emocional ocorre gradualmente, como fruto de práticas constantes e reflexão interna.

Outro obstáculo relevante está na forma como as emoções são percebidas no ambiente de trabalho. Em muitas culturas organizacionais, expressar sentimentos ainda é interpretado como sinal de fragilidade, o que leva os profissionais a suprimir suas emoções em vez de aprender a administrá-las de maneira saudável (Antunes, 2008). Esse comportamento, além de prejudicar o bem-estar individual, compromete o desempenho coletivo, dificultando a criação de ambientes colaborativos e relações baseadas na confiança. Ambientes onde a vulnerabilidade é reprimida tendem a inibir a empatia, enfraquecer a escuta ativa e limitar a qualidade da comunicação interpessoal.

A dificuldade em reconhecer e lidar com as próprias emoções representa, também, um entrave central nesse processo. Muitos profissionais foram formados sob a lógica da objetividade extrema, que marginaliza o papel das emoções nas decisões e interações diárias. No entanto, ignorar emoções não as elimina — apenas as desloca para formas menos conscientes e, muitas vezes, mais prejudiciais. Como destaca Masten (2001), o desenvolvimento da inteligência emocional passa pelo reconhecimento das próprias emoções e pela capacidade de utilizá-las de modo construtivo, transformando-as em ferramentas de adaptação e crescimento.

Além dos aspectos internos, os desafios externos exercem influência significativa. Ambientes de trabalho tóxicos, pressão desmedida por resultados e ausência de políticas de apoio ao bem-estar dificultam o cultivo de habilidades socioemocionais. Em contextos em que a produtividade é sobrevalorizada e a saúde emocional é negligenciada, torna-se mais difícil manter o equilíbrio e desenvolver competências como empatia, escuta ativa e gestão emocional. Nessas circunstâncias, o colaborador tende a operar em modo de sobrevivência, o que compromete tanto o desempenho quanto a satisfação no trabalho.

Talvez um dos desafios mais profundos seja a necessidade de transformar a própria visão de mundo e de si mesmo. O desenvolvimento da resiliência e da inteligência emocional vai além de técnicas pontuais: envolve uma mudança de mentalidade. É necessário aceitar as incertezas, reconhecer as falhas como parte do processo e adotar uma postura flexível diante das adversidades. Essa transformação pode ser desconfortável, pois desafia crenças arraigadas e exige esforço contínuo para substituir comportamentos reativos por atitudes mais conscientes e equilibradas.

Apesar das dificuldades, os ganhos advindos desse processo são inegáveis. Cada obstáculo superado fortalece a capacidade de lidar com situações adversas de forma mais serena, estabelecer relações interpessoais mais saudáveis e construir uma trajetória de vida mais significativa. Nesse sentido, desenvolver resiliência e inteligência emocional transcende a esfera profissional: é, acima de tudo, um investimento profundo na qualidade de vida, na maturidade emocional e no bem-estar integral do indivíduo.

4. O PAPEL DAS ORGANIZAÇÕES NO DESENVOLVIMENTO DA RESILIÊNCIA E INTELIGÊNCIA EMOCIONAL DOS COLABORADORES

Organizações de ponta vêm compreendendo que resiliência e inteligência emocional (IE) não são atributos acessórios, mas sim competências estratégicas essenciais à sustentabilidade empresarial em contextos de incerteza, pressão por inovação e mudanças constantes. Desenvolver essas capacidades entre os colaboradores deixou de ser uma iniciativa periférica e passou a integrar a agenda central da gestão de pessoas e da liderança organizacional.

Ao reconhecer que o ambiente de trabalho é um dos principais palcos de desafios emocionais e situações de adaptação, empresas visionárias vêm estruturando iniciativas intencionais para cultivar a autorregulação emocional, a empatia, a consciência relacional e a capacidade de enfrentar adversidades de forma construtiva. Esse investimento não apenas promove o crescimento individual dos profissionais, mas também fortalece a cultura organizacional, gerando um ecossistema mais empático, resiliente e colaborativo.

Essas organizações operam em quatro frentes principais para fomentar o desenvolvimento emocional e adaptativo de seus talentos:

  • Treinamentos e Workshops Práticos: são promovidos cursos presenciais e on-line com foco em autoconsciência, empatia e controle emocional. Tais iniciativas são complementadas por dinâmicas vivenciais — como role plays, estudos de caso e jogos corporativos — que simulam conflitos reais e testam a capacidade de reação sob pressão. A aprendizagem experiencial nesse formato permite a internalização de comportamentos resilientes, fomentando a capacidade de resposta emocional eficaz frente à adversidade.

  • Programas de Coaching, Mentoria e Feedback 360º: o acompanhamento individualizado por coaches especializados em competências socioemocionais possibilita diagnósticos personalizados e planos de desenvolvimento contínuo. Adicionalmente, a adoção de ciclos estruturados de feedback 360º — incluindo avaliações por gestores, pares e subordinados — oferece uma visão holística dos padrões comportamentais, permitindo correções de rota e o fortalecimento de relações interpessoais mais saudáveis.

  • Práticas de Atenção Plena e Bem-Estar: estratégias voltadas à saúde mental e à redução do estresse também ganham espaço, como sessões regulares de mindfulness e meditação, ambientes de descompressão, pausas silenciosas, convênios com psicólogos e o uso de aplicativos de bem-estar. Tais ações ajudam a fortalecer o foco, aumentar a clareza mental e prevenir quadros de esgotamento emocional.

  • Cultura Organizacional e Liderança Exemplar: a liderança exerce um papel determinante na consolidação de um ambiente emocionalmente saudável. Líderes emocionalmente inteligentes promovem uma cultura de segurança psicológica ao reconhecer vulnerabilidades, abordar erros como oportunidades de aprendizagem e manter uma escuta ativa e respeitosa. Além disso, organizações maduras já incluem indicadores de clima, engajamento e saúde mental nos sistemas formais de avaliação de desempenho.

Algumas instituições destacam-se pela implementação sistemática dessas práticas:

  • Natura: A multinacional de cosméticos integra treinamentos de resiliência aos programas de desenvolvimento de liderança, ministrados por psicólogos corporativos. Oferece aulas de inteligência emocional via plataforma digital, workshops bimestrais e sessões de coaching em grupo com foco em feedback 360°, empatia e estilo comunicacional.

  • Itaú Unibanco: Por meio da sua universidade corporativa, criou a “Trilha de Inteligência Emocional”, estruturada em três módulos: autoconhecimento (com testes de perfil emocional), autocontrole (dinâmicas de estresse simulado) e relacionamentos (mediação de conflitos via role play). Os colaboradores têm acesso a um app interno de pausas mindful e até cinco sessões gratuitas de orientação psicológica.

  • Hospital das Clínicas da UFMG/EBSERH: Adotou um programa contínuo de desenvolvimento socioemocional para as equipes de saúde. A iniciativa inclui workshops mensais sobre resiliência, grupos de apoio interprofissionais e supervisões clínicas com foco em empatia e regulação emocional em contextos de alta pressão.

Empresas que priorizam o desenvolvimento da IE e da resiliência colhem benefícios tangíveis, como maior retenção de talentos, menor absenteísmo, melhor clima organizacional e times mais preparados para decisões em ambientes incertos. Métricas como turnover, Net Emotional Value (NEV) e índices de burnout têm sido utilizados como KPIs para avaliar o retorno sobre esses investimentos.

Além disso, novas tecnologias vêm expandindo as possibilidades de treinamento emocional. Plataformas de gamificação promovem simulações de empatia, enquanto o uso de realidade virtual permite recriar situações de crise com alto grau de imersão, oferecendo treinamentos mais eficazes na preparação emocional de líderes e equipes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As análises realizadas ao longo deste estudo evidenciaram a importância estratégica da resiliência e da inteligência emocional no contexto organizacional, sobretudo diante das exigências e instabilidades que caracterizam o ambiente profissional contemporâneo. Essas competências demonstraram ser fundamentais não apenas para o equilíbrio emocional e o fortalecimento das relações interpessoais, mas também para a consolidação de uma cultura organizacional mais saudável, empática e colaborativa. Ficou claro que fatores como autoconhecimento, prática contínua e suporte institucional são indispensáveis para o desenvolvimento dessas habilidades, que não surgem de forma espontânea, mas se constroem a partir de esforços intencionais e de um ambiente que favoreça o aprendizado emocional.

Nesse sentido, destaca-se o papel ativo das organizações na promoção dessas competências, por meio da implementação de políticas que priorizem o bem-estar psicológico, da oferta de programas de capacitação e do incentivo à comunicação aberta e respeitosa. Ao incorporar a inteligência emocional e a resiliência como valores institucionais, as empresas não apenas impulsionam o desempenho individual, mas também fortalecem o senso de coletividade, a adaptabilidade e a capacidade de inovação de suas equipes. Diante disso, os objetivos propostos neste trabalho foram plenamente alcançados, confirmando que o desenvolvimento dessas habilidades representa um diferencial competitivo relevante em um mercado cada vez mais dinâmico, complexo e orientado por relações humanas mais conscientes e maduras

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1 Especialista em Finanças e Controladoria e Comércio Exterior. Professor e Suporte Pedagógico – UNIARAXÁ ORCID: http://orcid.org/0009-0002-7717-3682. CV: http://lattes.cnpq.br/9789408606336999. [email protected]