OLHANDO PARA O HOMO RELIGIOSUS DE FREUD

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REGISTRO DOI: 10.70773/revistatopicos/1754249047


Jesus de Aguiar Silva1
Pedro Francisco Molina2


RESUMO
Este artigo tem como objetivo mostrar o homo religiosus de Freud, ou seja, aquilo que, inconscientemente, estava presente em sua vida em relação à dimensão espiritual de forma velada. Sigmund Schlomo Freud, o filho mais velho de uma família de comerciantes judeus, composta de três irmãos, cujo nome significa alegria em alemão (Freude) , era derivado de Freude, pré-nome do bisavô. Ele foi iniciado por sua mãe, ainda muito cedo, nos textos sagrados. O contato com sua cuidadora tcheca, católica fervorosa, o iniciou na segunda religião monoteísta, levando-o aos cultos de sua igreja. Sua vida foi marcada por um tempo de acomodações e perseguições, das quais os judeus sofriam, deslocando-se de um lugar para o outro, o que não foi diferente para sua família. Um relato marcante em sua vida é a figura do pai, sendo humilhado nas ruas. Ao relatar para o filho sobre um cristão que "atirou seu boné de pele na lama, gritando: ‘Judeu, saia da calçada’", Freud perguntou ao pai o que ele fizera. O pai respondeu: "Recolhi o meu boné." (ROUDINESCO, 2016, p. 24/26). Um relato marcante na vida do jovem Freud, cujas humilhações foram o norte para que ele seguisse seus objetivos na busca do conhecimento, enfrentando com altivez um tempo de perseguições. Isso o fez focar nas pesquisas e na criação de ideais, junto com seus pares, revolucionando o mundo com um brilho que ainda reverbera nos tempos atuais.
Palavras-chave: Psicanálise, Espiritualidade, Inconsciente, Religião.

ABSTRACT
This article aims to explore Freud's homo religiosus, which refers to the spiritual dimension that was unconsciously present in his life in a veiled way. Sigmund Schlomo Freud was the eldest son of a family of Jewish merchants with three siblings. His name, which means "joy" in German (Freude), was derived from his great-grandfather's name. His mother introduced him to sacred texts at a very early age. Later, his fervent Czech Catholic caregiver exposed him to the second monotheistic religion, taking him to her church services. His family, like many Jewish people at the time, faced a period of persecution and displacement, forcing them to move from one place to another. A significant event in his life was his father's humiliation in the streets. When his father told him a story about a Christian man who "knocked his new fur cap into the mud and shouted, ‘Jew! Get off the sidewalk!’" Freud asked his father what he did. His father's quiet reply was, "I went into the roadway and picked up my cap." (ROUDINESCO, 2016, pp. 24-26). This impactful event became a driving force for the young Freud. The humiliations he witnessed fueled his pursuit of knowledge, allowing him to face a time of persecution with dignity. This experience led him to focus on research and develop new ideas with his peers, ultimately revolutionizing the world with an impact that still resonates today.
Keywords: Psychoanalysis, Spirituality, Unconscious, Religion.

INTRODUÇÃO

O construto da psicanálise foi desenvolvido a partir da curiosidade de um jovem incomodado com seu tempo de muitas perseguições e preconceitos. Foi esse o diferencial para revolucionar uma época em que movimentos nascentes borbulhavam com homens que mudaram a história da humanidade, tornando-se um século de inovações em vários campos.

Com seus fundamentos iniciais, Freud, em seus primeiros passos já na clínica como neurologista, incomodava seus pares com observações que confrontavam os estamentos de uma medicina empirista na observação de certas doenças. Com sua percepção, ele vai em busca de novidades, viaja para a França em busca de respostas para suas dúvidas. Ele observava que havia algo que ia além do corpo físico, manifestações que definia como alma, cuja fala não respondia à sua escuta. Havia algo naquele corpo em que a dualidade, denominada por Descartes, fazia sentido. Ele mergulha em um universo proibido, até então velado e desconhecido, de uma situação de impedimentos que levava o sujeito a sofrimentos em que as somatizações aprisionavam as pessoas a diagnósticos revestidos por tabus. O que o incentiva, com sua formação reativa, a procurar respostas para tais situações, que mais tarde denomina como conflitos histéricos, causados por uma neurose (sentido de doenças não conhecidas), como doenças dos nervos.

O que nos motiva a desenvolver e abordar detalhes que o tempo apagou por julgamentos precipitados, é que a psicanálise transitava em formações absolutistas de uma era vitoriana rigorosa, cujos enfrentamentos o jovem Freud e seus pares tiveram que encarar através da epistemologia nascente com as pesquisas iniciais e muitas dificuldades.

DESENVOLVIMENTO

A rotulação de Freud como ateu era uma forma de desconstruí-lo perante a sociedade conservadora de valores religiosos radicais, como ele mesmo dizia sobre sua “ciência judaica”. Sendo judeu, sabendo e inserido nesse contexto de olhares de desconfianças pelos movimentos antissemitas, para que seu trabalho tivesse aceitação e suas ideias pudessem ser divulgadas, houve a necessidade de se tornar isento dos movimentos, principalmente os religiosos, focando na ciência como um bom cientista em sua racionalidade.

Citação: JUNG (2008, p. 25/26),

“Antes do início do século XX, Freud e Josef Breuer haviam reconhecido que os sintomas neuróticos – histeria, certos tipos de dor e comportamento anormal – têm, na verdade, uma significação simbólica. São, como os sonhos, um modo de expressão do nosso inconsciente. E são igualmente simbólicos. Um paciente, por exemplo, que enfrenta uma situação intolerável, pode ter espasmos cada vez que tenta engolir: ‘não consegue engolir’ a situação. Em condições psicológicas análogas, outro paciente terá um acesso de asma: ele ‘não pode respirar a atmosfera de sua casa’.”

Observa-se na atuação em sua clínica que o corpo sofre somatizações de conflitos até então desconhecidos. Manifestações de cunho comportamental, muitos impossibilitados de locomoção, ou internados em manicômios reclusos, confinados a experimentos agressivos na tentativa de solucionar o desconhecido.

Citação: JUNG (2008, p. 102/103),

“Essas forças interiores advêm de uma fonte profunda que não é alimentada pela consciência nem está sob seu controle. Na mitologia antiga, essas forças eram chamadas de mana, ou espíritos, demônios e deuses, e estão tão ativas hoje em dia como no passado. Se eles se ajustam aos nossos desejos, falamos em boa sorte ou inspiração feliz e congratulamo-nos por sermos ‘pessoas tão sábias’. Se as forças nos são desfavoráveis, referimo-nos à nossa pouca sorte, dizemos que alguém está contra nós ou que a causa dos nossos infortúnios deve ser patológica, e assim por diante. A única coisa que nos recusamos a admitir é que dependemos de ‘forças’ que fogem ao nosso controle.”

Apesar de termos avançado com tecnologias e conhecimentos que facilitaram a adaptação da raça humana ao planeta, seus sincretismos religiosos permanecem dentro da mística de um ser em que a metafísica e suas subjetividades são intrínsecas à espécie. Não perdemos nossos laços com o passado, principalmente com o senso comum.

Citação de MEIRELES (2015, p. 12/13),

“Dentre todos os problemas inerentes à antropologia filosófica está o da religião, sendo este considerado como o topos mais antigo da tradição filosófica ocidental (LIMA VAZ, 1991, P. 16). Neste quesito, a pesquisa mais comum por parte da antropologia filosófica é a busca à origem e natureza da religião, compreendida como manifestação da essência do homem. Lima Vaz (1991., v.1, p. 17) compreende que a temática do Homo religiosus, associado às dimensões deste, fornecem um valor heurístico irrecusável na interrogação fundamental sobre o que o homem é.”

Voltar para um tempo, pelos idos do século XVIII, em sua metade, quando surge Freud, cuja pátria escolhida era a Áustria-Hungria, é entender que ele surgiu dentro de uma época de transição, sujeito à cultura de perseguições religiosas, dentro das mais diversas sujeições para a sobrevivência de sua família de cultura judaica e seus costumes.

Os conceitos de homo religiosus estão contidos naquilo que consideramos o núcleo mais profundo do ser humano, sua busca em transcender. Deus, como senhor das religiões, simboliza a crença na harmonia de um todo, desde o Mito da Criação. Então, essa essência que antecede a existência, é possível de ser interpretada erroneamente por nossas projeções, em relação às feridas que carregamos em nosso psiquismo.

Citação: REALE (1994, p. 324),

“No Uno-Bem transcendente, Platão indicou o Princípio de toda a realidade. Ao contrário, Aristóteles negou a existência do Uno-Bem transcendente; mas reafirmou, de modo firme e preciso, a existência de uma realidade transcendente. Antes, justamente a essa realidade, concebida no seu vértice superior como inteligência suprema e, mais precisamente, como Pensamento de Pensamento, atribuiu uma função geral de Princípios como Motor imóvel de todas as coisas [...]”.

Para nos libertarmos de todo erro, é importante desnudar o sagrado que muitas vezes foi revestido de nossas hermenêuticas que tiveram como motivação nossos antropopatismos e antropomorfismos, ligados a pessoas humanamente que representavam o sagrado, e que negativaram à sua imagem. Então, por vezes o problema com a imagem de Deus ou a sua negação, está ligada a feridas humanas não resolvidas. Durante o período de seu livro Interpretação dos Sonhos, encontramos em Freud relatos inconscientes com suas realidades vividas.

Citação: ROUDINESCO (1998, p. 391),

“O ano de 1896 foi marcado, para ele, pela morte de seu pai, Jacob Freud. No prefácio à segunda edição de Die Traumdeutung, em 1908, Freud indicou como esse trabalho fora uma maneira de reagir àquele acontecimento, “a parte mais dilacerante da vida de um homem”. Durante os meses seguintes, esse tema da morte do pai e as lembranças ligadas a ele apareceram como a fonte de diversos sonhos, sobretudo os que Freud denominou “sonhos de Roma”. Entre essas lembranças, a da humilhação que o pai lhes contara haver sofrido como judeu estava ligada ao quarto desses sonhos romanos, no qual se manifestava seu desejo de ver realizar-se em Roma, em vez de Praga, um encontro previsto com Fliess. “Minha nostalgia por Roma”, escreveu Freud numa carta a este último, datada de 3 de dezembro de 1897, “tem um caráter profundamente neurótico. Está ligada a meu amor ginasiano por Aníbal, o herói semita; de fato, tal como ele, mais uma vez não pude, este ano, ir do lago Trasímeno até Roma.” O relato da humilhação paterna provocara no jovem Sigmund uma transposição da admiração para o personagem Aníbal. Didier Anzieu sublimou que essa identificação com Aníbal foi a primeira das identificações heroicas de Freud, que “são, ao mesmo tempo, identificações masoquistas”, coisa de que ele se aperceberia alguns meses depois por ocasião de seu encontro com o mito edipiano. Fliess, esclareceu ainda Anzieu, representou na época uma imagem paterna que frustrou em um desejo cujo sonho constitui a realização.”

Sem nenhum constrangimento, ele se apoia em seus sonhos, assim como em sua vida, para desenvolver a sua humanidade. E é nos sonhos que encontra alguns enigmas, que no passado eram revestidos de forma mística em suas interpretações. Com seus estudos, através de seu livro, ele desvela a sistematização de conceitos baseados em estruturas mentais em sua Psicanálise. Trazendo à prática a função dos sonhos, em que a viagem de sonhar pode estar relacionada às frustrações de realizações cotidianas ou a algo simbólico contido, ainda carente de resoluções em fragmentos de memórias circulares, que muitas vezes são repetitivos como uma mandala, com seus deslocamentos e condensações.

Dentre tantas teorias, a que mais se aproxima entre as contradições existentes temos:

FREUD (2001, p. 93),

“Ela encara os sonhos como o resultado de um despertar parcial – um despertar gradativo, parcial e, ao mesmo tempo, altamente anormal”, para citar um comentário de Herbart sobre os sonhos (1892, p. 307). Assim, essa teoria pode valer-se de uma série de condições de um crescente estado de vigília, culminando no estado completamente desperto, a fim de explicar a série de variações na eficiência do funcionamento mental nos sonhos, indo desde a ineficiência revelada por seu absurdo ocasional até o funcionamento intelectual plenamente concentrado.”

Freud, com seu direito de se arrogar como um pesquisador que mudaria a humanidade, deixa como herança o desvelar de um enigma que desde Artemidoro de Daldis (século II d.C.) e outros personagens bíblicos em seus escritos históricos nos relatam. Abrindo assim, as pesquisas atuais com tecnologias de ponta na prospecção de explicações mais profundas do ponto de vista anatômico e funcional, porém distantes ainda de fundamentos dos quais Freud desenvolveu para ouvir os sussurros da alma em seu tempo.

FREUD E A RELIGIÃO

Educado em seu desenvolvimento sob a condição de seus pais, Freud passa por todos os ritos do judaísmo, com o simbólico da circuncisão, em que seu pai o escolhe e o registra na página inicial de sua Bíblia o seu nascimento. (LUZ, 2014). Mais tarde, já durante sua vida escolar, diz:

LUZ (2014, p. 33),

“Nossos professores livres-pensadores de religião não davam grande importância a que seus alunos adquirissem conhecimento de língua e literatura hebraica (op. cot), embora o ensino religioso fosse algo obrigatório nas escolas públicas e particulares.”

É importante citar que, mesmo no seu tempo, as escolas tinham a liberdade de escolhas e de separar o conhecimento a ser transmitido com imposições religiosas dentro das multiplicidades de crenças existentes. Freud, durante seus estudos e pesquisas, fazia questão de não se manifestar sobre tais manifestações culturais, primando pelo que acreditava.

Citação: LUZ (2014, p. 35),

“Peter Gay fala exatamente de que modo Freud concebeu toda manifestação de fé a partir de sua ótica ateísta. Afirma ele: ‘Visto que Freud considerava a fé religiosa – toda fé religiosa, inclusive o judaísmo – como tema de estudo psicanalítico, só poderia abordá-la da perspectiva ateísta’.” (GAY, 1989, p. 545).

Seu distanciamento foi uma escolha em função do clima de uma época revestida de preconceitos, e assim se isentar para que suas pesquisas em suas teorias não enfrentassem resistência, como ocorreu de fato. Já em uma idade avançada, ele relata seu interesse pela leitura da Bíblia e pela religião.

Citação: LUZ (2014, p. 39),

“Meu profundo interesse pela história da Bíblia (quase logo depois de ter aprendido a arte da leitura) teve, conforme reconheci muito mais tarde, efeito duradouro sobre a orientação do meu interesse.” (FREUD, 1925 [1924], p. 18).

Como um intelectual e admirador das artes, cultivava em sua coleção figuras egípcias, afrescos religiosos, gregos e romanos, em função de sua educação que lhe propiciara um olhar reflexivo e sem preconceitos dos quais sofreu em sua infância, com replicações na fase adulta.

Ele representa para todos os seus discípulos o significado de inteligência e admiração, com sua ética, moral, mantendo em sua dinâmica de ideias sempre aberto às inovações, às boas novas, quando concordantes ou discordantes, nunca se omitindo seus pareceres. Inclusive, foi representado também por sua família, conservadora de valores culturais, porém destruída com o advento do nazismo excludente e eugenista.

Citação: LUZ (2014, p. 147),

“Há momentos em que lemos Freud cientificista à crítica à religião de modo incisivo, porém deixando escapar em pequenos trechos seus próprios questionamentos. Há momentos em que lemos Freud analítico propondo uma tentativa de conhecimento dos processos psicológicos da experiência religiosa. O fato de haver em seus textos dois discursos (um de inspiração cientificista, outro de inspiração analítica) já nos mostra que suas contribuições não podem ser vistas de modo unívoco.”

O que denota sua coragem ao acreditar em suas confabulações, ideias, conceitos e fundamentos pelas práticas, evidenciando seus estudos empíricos em um tempo de transição de ideias surgentes não apenas na psicologia, mas também na sociologia, na física, em experimentos médicos e farmacológicos, dos quais somos agraciados em nossa contemporaneidade.

CARTAS DE FREUD A SUA FILHA (1895-1923)

Em todas as suas viagens, como um escritor que foi premiado e agraciado pelo Troféu Goethe, tinha como hábito corresponder-se por cartas com seus familiares, em particular com sua filha Anna. Na fase em que já convivia com o câncer na boca, viajava para consolidar seus trabalhos, dedicando-se a conhecer Roma e seus arredores, a estar em contato com a cultura da arte e dos afrescos, cujos símbolos em suas significações tiveram representações importantes na construção de sua ciência. O que denota sua aproximação com o sagrado e o respeito aos valores religiosos, dos quais teve que se distanciar como cientista, para assim não macular seus experimentos na dimensão que se apresentava diante de corpos que somatizam suas almas errantes.

FREUD (2014, p. 9/100, Compêndio organizado por TÖGEL,

“Até 1894, todas as suas ações seriam em maior ou menor grau a um determinado objetivo, e o aspecto hedonista era sempre um efeito secundário bem-vindo. A viagem à Inglaterra em 1875 aconteceu, em primeira linha, aos meio-irmãos Phillip e Emanuel, que viviam em Manchester, as estadias em Paris 1885/86 e 1889 foram dedicadas ao seu aperfeiçoamento profissional, e a longa viagem das visitas à sua futura mulher, Martha, em Hamburgo, era antes um incômodo secundário. Sua última grande viagem levou-o – juntamente com sua filha Anna – para Roma no final do verão de 1923, apenas poucas semanas depois de seu acometimento pelo câncer ter sido diagnosticado. A partir de então, o câncer e o necessário contato constante com médicos impediram Freud de fazer outras “viagens de lazer.”

As cartas catalogadas são um resumo de um fim trágico diante do diagnóstico, porém ele não se deixava acomodar em seu racionalismo. Com um breve retorno, termina com a viagem a Roma, talvez por se redimir, mas fica claro seus interesses nas pesquisas, mesmo diante das dificuldades que enfrentou.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O brilhantismo de Freud e sua autenticidade na elaboração de sua obra resumem sua vida dedicada às pesquisas. Somente nas entrelinhas de seus casos, teorias e escritos diversos o homo religiosus se revela. O que nos conduz à descoberta de que se é, no enfrentamento da realidade, a se deparar com realidades profundas. Se no conto grego de Sófocles (497 a. C. – 406 a. C.), sua analogia com o complexo dos conflitos internos dos filhos com o pai e a mãe, o despertar surge no Freud adulto com a humilhação de seu pai na rua onde residiam, em função do preconceito religioso. Mesmo entre ambas as religiões, o judaísmo e o catolicismo, têm como Pai Deus como princípio de todas as coisas, o Sumo Bem. Como relata ROUDINESCO (1998, p. 396), sobre a teoria freudiana, “Pela primeira vez, desenvolve sua concepção do inconsciente, a oposição entre princípios de realidade e prazer, sua concepção de recalque.”

O querer se distanciar no pano de fundo, não é das origens, mas ao contrário, de tudo o que o afastou da essência e o conduziu a um estado de decepção. O resgate de Roudinesco, na colaboração de seus textos, nos alude sobre o homo religiosus, ou seja, pela representação de Freud, diante de imagens presenciadas das dores de seu pai e família.

Citação: ROUDINESCO (1998, p. 396),

“Mais uma vez, Freud contornou nesse livro a história de “sua” descoberta do inconsciente, universalizada mediante a renúncia a qualquer apoio numa religião eletiva. Mais do que isso, entretanto, expôs a história de sua relação ambivalente com sua própria judeidade. Ao desjudaizar Moisés, ele mostrou como o criador ou o fundador – numa palavra, o “grande homem” – é sempre um exilado: quer um estranho na cidade, quer em ruptura com sua época, quer dividido em seu próprio íntimo. É sob essa condição que ele consegue inverter a tradição, suplantar a religião do pai, ter acesso a uma outra cultura e criar novas formas.”

Portanto, o “grande homem” que Freud menciona, foi o que venceu seus medos e traumas, foi capaz de matá-los simbolicamente e tornou-se livre. Na vida humana, nos relacionamentos de Pai e filho, há diversas nuanças, uns que estão mais próximos, outros que estão mais distantes. Em ambos os casos, tem-se a consciência de que aquela presença paterna está ali. Assim, Freud descobriu seu homo religiosus superando a dor do pai, matando inconscientemente a humilhação que o pai sofrera, seguindo seu caminho na solidão da alma, conduzido por suas próprias descobertas.

Na interpretação dos seus pacientes e dos próprios sonhos que Freud analisou e foi analisando-se, o que o permitiu se tornasse o Pai da Psicanálise, mas pai de si mesmo, uma forma de viver o homo religiosus, que é descobrir a si mesmo.

Citação de MELO (2007, p. 150), “Eu procuro por mim, tal qual o artesão procura sua arte escondida nos excessos da matéria bruta de seu mármore.”

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FREUD, Sigmund; Livro: A Interpretação dos Sonhos, Rio de Janeiro, Editora Imago, 2001.

FREUD, Sigmund; Cartas de Freud a sua filha, Organizado por Cheristfried Tögel, colaboração de Michael Molnar, São Paulo, Editora Amarilys, 2014.

JUNG, Carl G.; Livro: O Homem e seus Símbolos, Rio de Janeiro, Editora: Nova Fronteira, 2008.

LUZ, Karla Daniele de Sá Maciel; Livro: Freud A Favor da Religião – Como Assim?, Curitiba, Editora Vanguarda, 2014.

MEIRELES, Marcos Vinícius da Costa; Livro: O Homem religiosus: A antropologia filosófica de Viktor Frank. Mestrado em Ciências da Religião. JUIZ DE FORA-MG, UFJF, Disponível em: https://repositorio.ufjf.br/jspui/bitstream/ufjf/126/1/marcosviniciusdacostameireles.pdf acesso em 22/02/2025, 2015.

REALE, Giovanni; Livro: História da Filosofia Antiga, Vol. II, Platão e Aristóteles, Tradução de Henrique Cláudio de Lima e Marcelo Perine, São Paulo, Edições Loyola, 1994.

ROUDINESCO, Elisabeth; PLON, Michel; Dicionário de Psicanálise, Tradução: Vera Ribeiro, Rio de Janeiro, Editora Zahar, 1998.


1 Tecnólogo em Análise de Sistemas (Unilins – Universidade de Lins), Filosofia (CEUCLAR – Centro Universitário Claretiano), Teologia (Faculdade Dehoniana - Taubaté). Pós-graduação em Filosofia Clínica (INSTITUTO PACKTER), Pós-graduação em Psicologia e Sexualidade (UNIARA) e Pós-graduação em Psicologia Clínica - Psicanálise (UNIARA). Doutorado e Pós-Doutorando em Psicanálise na Emil Brunner World University. E-mail: [email protected].

2 Psicanalista Freudiano – Psicanálise Dinâmica – Academia de Psicanálise e Ciência Humana - São Paulo – Graduado em Filosofia (Licenciatura Plena) pelo Centro Universitário Claretiano (CEUCLAR). Pós-Graduação em “Psicologia Clínica: Psicanálise”, pela Universidade de Araraquara (UNIARA). Pós-Graduação em “Antropologia e Neuropsicanálise”, pela Faculdade Unyleya de Brasília. Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado em Psicanálise na Brunner World University. Pesquisador Literário, Escritor e Participante com Artigos Científicos em Livros. E-mail: [email protected]. (Sugestão: "Participações com Artigos Científicos em Livros" para "Participante com Artigos Científicos em Livros" para concordância com "Pesquisador Literário, Escritor")