O USO DA PLATAFORMA YOUTUBE COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA INTERDISCIPLINAR PARA A MOTIVAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO FUNDAMENTAL II
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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.17137469
Claudia Garcia de Souza Welyczko1
RESUMO
Este estudo teve como objetivo geral realizar uma pesquisa bibliográfica sobre o uso do YouTube como ferramenta pedagógica interdisciplinar empregada por professores do Ensino Fundamental Anos Iniciais, identificando suas contribuições para a motivação dos estudantes. Como objetivos específicos, buscou-se: a) mapear pesquisas publicadas nos últimos cinco anos que abordaram o uso do YouTube no Ensino Fundamental II; b) identificar, nessas pesquisas, as formas como a plataforma foi utilizada de maneira interdisciplinar e c) apontar os principais desafios e possibilidades relacionadas à sua aplicação em contextos escolares. A metodologia adotada foi a pesquisa bibliográfica, com análise de estudos acadêmicos indexados em bases científicas nacionais. Os resultados indicam que o YouTube tem sido progressivamente incorporado às práticas pedagógicas, ainda que de forma desigual, sendo mais efetivo quando utilizado de maneira crítica, colaborativa e interdisciplinar. A plataforma contribui para ampliar o repertório dos alunos, promover o protagonismo estudantil, integrar diferentes áreas do conhecimento e despertar o interesse por meio de conteúdos audiovisuais próximos à realidade dos discentes. Já os principais desafios incluem a ausência de formação continuada dos docentes, a dificuldade de selecionar conteúdos adequados e a precariedade de infraestrutura nas escolas públicas. Conclui-se que o YouTube possui alto potencial pedagógico, especialmente quando alinhado a práticas interdisciplinares e a uma mediação docente qualificada, podendo atuar como recurso motivador e inovador no Ensino Fundamental II. Recomenda-se que futuros estudos investiguem o impacto direto da produção de vídeos por alunos e o papel das políticas educacionais no incentivo ao uso de mídias digitais em contextos escolares diversos.
Palavras-chave: Ensino Fundamental II. Práticas Pedagógicas Digitais. Motivação no Ensino. Interdisciplinaridade. Tecnologia.
ABSTRACT
The overall objective of this study was to conduct a literature review on the use of YouTube as an interdisciplinary pedagogical tool employed by Middle School teachers, identifying its contributions to student motivation. The specific objectives were to map research published in the last five years addressing the use of YouTube in Middle School; to identify, in these studies, the ways in which the platform was used interdisciplinarity and to identify the main challenges and possibilities related to its application in school contexts. The methodology adopted was bibliographic research, with analysis of academic studies indexed in national scientific databases. The results indicate that YouTube has been progressively incorporated into pedagogical practices, albeit unevenly, and is most effective when used critically, collaboratively, and interdisciplinarity. The platform helps expand students' repertoire, promote student empowerment, integrate different areas of knowledge, and spark interest through audiovisual content that is relevant to students' realities. However, the main challenges include the lack of ongoing teacher training, the difficulty in selecting appropriate content, and the precarious infrastructure in public schools. We conclude that YouTube has significant pedagogical potential, especially when aligned with interdisciplinary practices and qualified teacher mediation, and can serve as a motivating and innovative resource in middle school. We recommend that future studies investigate the direct impact of student video production and the role of educational policies in encouraging the use of digital media in diverse school contexts.
Keywords: Middle School. Digital Pedagogical Practices. Teaching Motivation.
INTRODUÇÃO
O uso das tecnologias digitais transformou o cenário educacional nas últimas décadas, influenciando significativamente as práticas pedagógicas em diferentes níveis de ensino. Entre as ferramentas mais utilizadas, o YouTube destacou-se como uma das plataformas digitais de maior alcance entre estudantes e professores, tendo sido incorporado ao cotidiano escolar com diferentes finalidades. No entanto, percebeu-se que essa incorporação nem sempre foi acompanhada de uma reflexão pedagógica consistente, o que resultou em usos limitados ou meramente ilustrativos dos recursos audiovisuais disponíveis. Diante dessa constatação, este estudo teve como objetivo analisar o uso do YouTube como ferramenta pedagógica interdisciplinar voltada à motivação da aprendizagem no Ensino Fundamental II.
A escolha desse tema partiu da observação do crescente consumo de vídeos educacionais e da utilização espontânea, muitas vezes desarticulada, por parte dos professores em sala de aula. Notou-se que muitos docentes recorriam ao YouTube como estratégia para captar a atenção dos estudantes ou complementar os conteúdos abordados, mas sem explorar adequadamente o potencial da plataforma como recurso integrador de saberes ou como instrumento motivador da aprendizagem. Essa lacuna levou à realização de uma revisão bibliográfica que possibilitasse identificar de que forma o YouTube vinha sendo utilizado como ferramenta pedagógica interdisciplinar por professores do Ensino Fundamental II, bem como quais contribuições foram apontadas em pesquisas recentes no que diz respeito ao engajamento dos estudantes e ao fortalecimento das práticas pedagógicas.
O problema que orientou a investigação foi: quais as contribuições apontadas por pesquisas realizadas nos últimos cinco anos sobre o uso da plataforma YouTube como ferramenta pedagógica no Ensino Fundamental II, especialmente no que se refere à promoção da aprendizagem interdisciplinar e à motivação dos estudantes? A partir desse questionamento, estabeleceu-se como objetivo geral realizar uma revisão bibliográfica sobre o uso do YouTube como ferramenta pedagógica interdisciplinar empregada por professores do Ensino Fundamental II, identificando suas contribuições para a motivação dos estudantes. Como objetivos específicos, buscou-se mapear pesquisas publicadas nos últimos cinco anos que abordaram o uso do YouTube no Ensino Fundamental II; identificar, nessas pesquisas, as formas como a plataforma foi utilizada de maneira interdisciplinar; e apontar os principais desafios e possibilidades relacionadas à sua aplicação em contextos escolares.
A relevância da pesquisa residiu na necessidade de compreender como o uso de uma ferramenta amplamente acessada por crianças e adolescentes poderia contribuir para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem quando incorporada de forma intencional, planejada e interdisciplinar. A escolha pelo enfoque interdisciplinar baseou-se na premissa de que a integração de conhecimentos de diferentes áreas favorece o desenvolvimento de competências mais amplas, o pensamento crítico e a construção de sentidos mais conectados com a realidade dos alunos. Além disso, ao tratar da motivação, o estudo visou compreender de que maneira a familiaridade dos estudantes com os conteúdos audiovisuais do YouTube poderia ser transformada em elemento propulsor do interesse e da participação nas atividades escolares.
Ao longo da análise, constatou-se que o YouTube foi empregado como recurso complementar em projetos interdisciplinares que envolviam temas transversais, como meio ambiente, cidadania, saúde, cultura e diversidade. Em muitos casos, os vídeos funcionaram como disparadores de debates, facilitadores da compreensão de conceitos abstratos ou ponto de partida para a produção de conteúdos pelos próprios estudantes. Também se observou que os professores que planejaram suas atividades com base em objetivos interdisciplinares conseguiram despertar maior interesse nos alunos, que passaram a reconhecer sentido nas aprendizagens ao perceberem a conexão entre diferentes disciplinas e situações do cotidiano. Por outro lado, as pesquisas também evidenciaram desafios, como a limitação de infraestrutura tecnológica nas escolas, a necessidade de formação docente para o uso pedagógico de mídias e a dificuldade em selecionar vídeos adequados ao nível de aprendizagem dos alunos.
O estudo permitiu concluir que o YouTube, quando utilizado de forma planejada e contextualizada, apresentou-se como uma ferramenta potente para o desenvolvimento de práticas pedagógicas inovadoras, interdisciplinares e motivadoras. No entanto, ressaltou-se a importância de que seu uso estivesse alinhado a objetivos educacionais claros, à mediação qualificada do professor e à articulação com os conteúdos curriculares. A mediação docente foi essencial para orientar os alunos na interpretação crítica dos conteúdos, promovendo o diálogo entre diferentes saberes e incentivando o protagonismo dos estudantes na construção do conhecimento.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O uso das mídias digitais no Ensino Fundamental II tem provocado uma transformação significativa nas práticas pedagógicas e nas formas de aprender e ensinar. Segundo Santos e Silva (2021), as mídias não apenas mediam conteúdos curriculares, mas reconfiguram as relações de poder, o tempo escolar e os modos de subjetivação dos estudantes. Ferramentas como vídeos, jogos, podcasts e redes sociais passaram a integrar o cotidiano escolar de maneira espontânea, gerando o desafio da mediação crítica e pedagógica.
Uma das principais conexões entre as mídias digitais e os estudantes do Fundamental II está na familiaridade com os dispositivos móveis. Pesquisa realizada por Almeida e Sampaio (2022) mostrou que mais de 80% dos estudantes dessa etapa do ensino utilizam celulares para acessar conteúdos de interesse, inclusive educacionais. Esse dado evidencia a importância de aproximar as estratégias pedagógicas das práticas digitais já presentes na vida dos estudantes.
Segundo Andrade e Moura (2021), as plataformas digitais como Google Classroom e Microsoft Teams, intensificadas durante a pandemia da COVID-19, permanecem em uso pós-pandemia como ferramentas de organização e continuidade do trabalho pedagógico. Elas têm promovido maior autonomia dos estudantes, o que é especialmente relevante para essa faixa etária que inicia uma fase de transição para o pensamento abstrato e a construção da identidade.
As mídias digitais também impactam diretamente o letramento digital e informacional dos estudantes. De acordo com Oliveira e Campos (2023), há um crescimento no uso de vídeos, infográficos e jogos educativos como formas de introduzir e aprofundar temas curriculares. O uso dessas mídias contribui para a ampliação do repertório textual dos alunos e para o desenvolvimento de competências multimodais.
No entanto, os impactos das mídias digitais não são apenas positivos. O estudo de Costa e Ferreira (2020) alerta para o risco de dispersão, uso acrítico de fontes de informação e reprodução de discursos preconceituosos nos espaços digitais. Nesse sentido, a mediação do professor se torna ainda mais essencial para garantir que o contato com essas tecnologias seja orientado para a construção do conhecimento e da cidadania.
A BNCC (Base Nacional Comum Curricular) enfatiza, entre suas competências gerais, a cultura digital. Essa diretriz tem impulsionado escolas a incorporarem mídias digitais em seus planejamentos. Machado e Amaral (2021) destacam que, no Ensino Fundamental II, essa integração ainda enfrenta desafios, como a precariedade de equipamentos e a falta de formação docente voltada para o uso pedagógico das mídias.
As redes sociais têm sido objeto de estudos que analisam seu potencial educativo. Pesquisa de Souza (2021) identificou que professores de História e Geografia vêm utilizando o Instagram e o YouTube para criar narrativas visuais e fomentar debates com seus alunos. O impacto é percebido na ampliação do engajamento e na conexão entre conteúdos escolares e temas contemporâneos.
Um aspecto relevante das mídias digitais é o incentivo à autoria. Conforme aponta a pesquisa de Brito e Alves (2022), estudantes do Fundamental II que produzem vídeos, blogs ou podcasts sobre conteúdos escolares desenvolvem maior senso de pertencimento, responsabilidade e aprofundamento dos temas abordados. A prática também estimula a criatividade e o trabalho em grupo.
As mídias digitais contribuem para a personalização do ensino, permitindo que os estudantes avancem de acordo com seu ritmo. Essa possibilidade foi estudada por Lima e Barbosa (2021), que observaram como plataformas adaptativas, como Khan Academy e Geekie, impactaram o desempenho de turmas do 6º ao 9º ano, com melhora nos índices de retenção de conteúdo e motivação dos alunos.
Os games educativos também têm sido uma ponte entre lazer e aprendizagem. Pesquisa de Tavares e Menezes (2020) identificou que jogos digitais de matemática, ciências e língua portuguesa aumentaram o interesse e o desempenho de alunos do Fundamental II em uma rede municipal do interior de Minas Gerais. O lúdico, nesse contexto, torna-se um aliado da aprendizagem significativa.
A formação continuada dos professores é apontada como fator crucial para o uso eficaz das mídias digitais. Segundo dados de Oliveira e Martins (2021), a maioria dos docentes do Fundamental II ainda se sente insegura ao planejar aulas com mídias interativas. Os autores defendem políticas públicas de formação tecnológica e pedagógica continuada para garantir equidade e inovação no ensino.
O impacto das mídias digitais também se manifesta nas práticas avaliativas. Conforme estudo de Araújo (2022), ferramentas como formulários interativos, quizzes e plataformas gamificadas vêm sendo utilizadas como estratégias para avaliação diagnóstica e formativa. Essa mudança representa uma ruptura com o modelo tradicional de avaliação, aproximando-se de práticas mais formativas e participativas.
O uso das mídias digitais no Fundamental II está intimamente ligado à construção da autonomia dos estudantes. Em estudo de Rodrigues e Nascimento (2023), observou-se que o acesso a plataformas de pesquisa, vídeos explicativos e repositórios de atividades levou estudantes a desenvolverem maior independência na resolução de problemas e organização dos estudos.
Também é importante destacar a dimensão socioemocional dos impactos digitais. Segundo estudo de Lemos e Andrade (2022), o uso consciente e orientado das mídias contribui para o desenvolvimento da empatia, da colaboração e do respeito às diferenças. Esses valores são fundamentais para a formação cidadã e convivência democrática no ambiente escolar.
As mídias digitais no Ensino Fundamental II têm provocado uma ressignificação do papel do professor, que deixa de ser o único detentor do saber e passa a atuar como mediador, curador de conteúdos e facilitador de aprendizagens. Essa transformação, analisada por Cruz e Silva (2020), evidencia que o uso das mídias deve estar articulado a um projeto pedagógico reflexivo, inclusivo e contextualizado com as realidades dos alunos.
METODOLOGIA
Segundo Gil (2019), a pesquisa bibliográfica vai além de simplesmente consultar livros, artigos e documentos: ela é um processo sistemático de identificação, análise e interpretação de obras que já discutem o tema escolhido. A sua principal função é permitir que o pesquisador compreenda o estado atual do conhecimento sobre o problema que está investigando, evitando duplicidade de esforços e contribuindo para o desenvolvimento de novas abordagens e questionamentos.
Para Marconi e Lakatos (2017) a pesquisa bibliográfica é muito mais do que a simples consulta de materiais: ela representa um instrumento analítico que permite o amadurecimento do pensamento científico, fundamenta as escolhas teóricas e metodológicas e direciona a investigação de forma crítica e sistematizada.
Este trabalho foi desenvolvido por meio de uma pesquisa bibliográfica de abordagem qualitativa, com o objetivo de investigar, na literatura acadêmico cientifica, o uso da plataforma YouTube como ferramenta pedagógica no espaço de aprendizagem do Ensino Fundamental II. A escolha pela pesquisa bibliográfica justificou-se pela necessidade de reunir, organizar e interpretar criticamente produções acadêmicas relevantes, centradas na análise de literatura especializada sobre práticas digitais, possibilitando uma compreensão teórica sobre o uso pedagógico do YouTube nesse contexto.
A investigação baseou-se na análise de livros, artigos científicos, dissertações, teses e outros materiais acadêmicos disponíveis em bases como Google Acadêmico, SciELO, CAPES Periódicos e ERIC. O recorte temporal definiu a escolha por publicações dos últimos cinco anos (2020 a 2025), de modo a garantir a atualidade das informações, considerando as mudanças recentes no uso das tecnologias digitais.
Para a busca das referências, foram utilizados descritores específicos como ‘YouTube na educação’, ‘vídeos educativos’, ‘Ensino Fundamental II’, ‘práticas pedagógicas digitais’, ‘motivação no ensino’ e “interdisciplinaridade e tecnologia’. Os critérios de inclusão contemplaram estudos que abordaram a utilização do YouTube como recurso didático e pedagógico, com foco em sua aplicação prática e seus impactos no processo de ensino-aprendizagem. Foram excluídos materiais que não estavam diretamente relacionados à temática proposta ou que não atenderam ao recorte temporal e metodológico definido.
A análise dos materiais selecionados foi realizada por meio de uma leitura crítica e interpretativa, buscando identificar as contribuições do YouTube para práticas pedagógicas interdisciplinares, os benefícios e desafios apontados na literatura, além do impacto na motivação e no engajamento dos estudantes do Ensino Fundamental II. Também foi considerada a atuação dos professores como mediadores desse processo.
Essa metodologia permitiu compreender os efeitos e possibilidades do uso do YouTube no ambiente escolar, fornecendo subsídios para reflexões sobre a integração crítica, consciente e inovadora dessa ferramenta digital no ensino fundamental.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com base na análise das obras selecionadas, foi possível identificar diferentes potencialidades e desafios relacionados ao uso de mídias digitais no processo de ensino e aprendizagem. A fim de organizar e valorizar os achados teóricos, elaborou-se um quadro síntese que apresenta, de forma comparativa, as contribuições e limitações apontadas por cada autor. As pesquisas indicam que as mídias digitais podem favorecer práticas pedagógicas mais dinâmicas, colaborativas e centradas no aluno, além de ampliar o acesso a diferentes linguagens e formatos de conteúdo. No entanto, também revelam obstáculos significativos, como a falta de formação continuada dos professores, a precariedade da infraestrutura tecnológica nas escolas públicas e os riscos associados ao uso inadequado das plataformas digitais.
A obra de Fernandes (2020) destaca como as mídias digitais ampliam as possibilidades de personalização do ensino, permitindo ao professor adaptar os conteúdos às necessidades dos alunos. Essa personalização contribui para a valorização das individualidades, promovendo maior engajamento e autonomia no processo de aprendizagem.
Por outro lado, Fernandes (2020) também evidencia que a ausência de uma formação adequada dos professores em relação às tecnologias digitais representa um dos maiores entraves para sua aplicação pedagógica. Essa lacuna formativa compromete a efetividade das estratégias adotadas, tornando a inovação tecnológica um recurso subutilizado.
Na perspectiva de Gomes, Santos e Oliveira (2021), o uso das mídias digitais fomenta o protagonismo estudantil e o desenvolvimento de competências socioemocionais por meio de atividades colaborativas. O ambiente digital, segundo os autores, permite a construção coletiva do conhecimento, rompendo com o ensino tradicional centrado no professor.
Contudo, esses mesmos autores alertam para a resistência por parte de alguns docentes frente às inovações tecnológicas. Tal resistência pode estar atrelada a inseguranças, à falta de domínio das ferramentas ou a uma visão pedagógica ainda enraizada em modelos instrucionistas.
Mélo (2023) aponta que o uso de mídias digitais na educação amplia as formas de representação do conhecimento, favorecendo a aprendizagem significativa. Ao incluir diferentes linguagens, como vídeos, áudios, animações e simulações, os conteúdos tornam-se mais acessíveis e envolventes para os alunos.
Entretanto, Mélo (2023) também problematiza a dificuldade que muitos educadores enfrentam ao integrar essas mídias em seus planejamentos. A ausência de tempo, apoio institucional e domínio técnico pode fazer com que a tecnologia seja inserida de forma superficial e pouco eficaz.
O estudo de Oliveira e Silva (2021) traz à tona a potencialidade do YouTube como ferramenta para práticas interdisciplinares. Ao explorar a linguagem audiovisual, os professores conseguem articular diferentes áreas do conhecimento e estimular a curiosidade dos alunos por meio de uma abordagem mais próxima do universo juvenil.
No entanto, os autores alertam para a necessidade de curadoria e orientação pedagógica na seleção dos conteúdos veiculados. A grande quantidade de vídeos disponíveis na plataforma pode levar os alunos a acessarem informações não verificadas, o que reforça a importância do papel do professor como mediador crítico.
Já Silva e Lima (2022) enfatizam que, durante o ensino remoto, as mídias digitais foram essenciais para manter o vínculo entre professores e alunos, além de garantir o mínimo de continuidade pedagógica. Nesse contexto, ferramentas como videoaulas, plataformas de ensino e redes sociais educativas foram amplamente utilizadas.
Apesar disso, os mesmos autores evidenciam a exclusão digital como um fator agravante da desigualdade educacional. A falta de acesso a equipamentos e à internet de qualidade comprometeu a participação de muitos estudantes, principalmente os de camadas mais vulneráveis da população.
A análise de Tomé e Borges (2019) sobre o canal “Planeta das Gêmeas” permite refletir sobre como a produção de conteúdo digital por crianças pode contribuir para o desenvolvimento da autoria e da criatividade. Esse tipo de mídia aproxima os alunos de experiências comunicativas reais e significativas.
Contudo, a pesquisa também traz preocupações éticas e pedagógicas, como a superexposição de crianças nas redes e a comercialização de conteúdos voltados à infância. Essas questões exigem um olhar atento de educadores e famílias para garantir a proteção dos direitos das crianças no ambiente digital.
A proposta de Witt e Rostirola (2019), ao apresentar o conectivismo como uma abordagem pedagógica contemporânea, destaca a relevância das redes de aprendizagem mediadas por tecnologias. Nesse modelo, o conhecimento é construído de forma compartilhada e distribuída entre os participantes, promovendo a interação constante com diversas fontes de informação.
Porém, os autores reconhecem que a aplicação do conectivismo requer uma profunda mudança na mentalidade pedagógica tradicional. Exige-se do educador não apenas habilidades técnicas, mas também uma postura aberta à inovação, à horizontalidade das relações e ao pensamento crítico.
Um ponto comum entre os autores é o reconhecimento de que as mídias digitais, quando bem utilizadas, possibilitam a construção de ambientes de aprendizagem mais motivadores e ricos em significados. Elas proporcionam ao aluno múltiplas formas de expressão e facilitam o acesso a diferentes tipos de conhecimento.
Ainda assim, há uma concordância geral sobre a necessidade de políticas públicas que garantam condições de infraestrutura e formação para os professores. Sem esses recursos, as mídias digitais correm o risco de se tornarem apenas mais um modismo educacional, sem impacto real no processo de ensino e aprendizagem.
A análise do conjunto das obras também revela que a mediação pedagógica é fator determinante para o sucesso do uso das tecnologias. O papel do professor é ressignificado nesse cenário: ele deixa de ser um mero transmissor de conteúdos para atuar como facilitador, curador e orientador de percursos formativos.
Além disso, os estudos evidenciam que as mídias digitais não devem ser vistas como soluções isoladas, mas como instrumentos integrados a uma proposta pedagógica coerente. A tecnologia por si só não transforma a educação; é a intencionalidade pedagógica que lhe confere sentido.
Outro aspecto relevante é que o uso de mídias digitais favorece a aproximação entre os contextos escolares e os cotidianos dos alunos. Quando os recursos tecnológicos utilizados na escola dialogam com as vivências dos estudantes, a aprendizagem se torna mais significativa e contextualizada.
A discussão apresentada nesta pesquisa permite concluir que o uso das mídias digitais no ensino fundamental é promissor, mas depende de uma série de fatores estruturais, formativos e pedagógicos. A reflexão crítica sobre suas potencialidades e limitações é essencial para que contribuam, de fato, com uma educação mais inclusiva, dinâmica e conectada com as exigências do século XXI.
CONCLUSÃO
A presente pesquisa teve como objetivo geral realizar uma revisão bibliográfica sobre o uso do YouTube como ferramenta pedagógica interdisciplinar empregada por professores do Ensino Fundamental II, com foco em suas contribuições para a motivação dos estudantes. A partir desse direcionamento, os objetivos específicos buscaram mapear as publicações acadêmicas dos últimos cinco anos sobre o tema, identificar as formas de uso interdisciplinar da plataforma e apontar os principais desafios e possibilidades para sua aplicação em contextos escolares.
Com base na análise das produções selecionadas, foi possível constatar que o YouTube tem sido progressivamente inserido nas práticas educativas, ainda que de forma desigual e, por vezes, limitada. O mapeamento das pesquisas revelou um crescente interesse acadêmico em compreender como os recursos audiovisuais podem potencializar a aprendizagem, sobretudo em meio à expansão do acesso à internet e à consolidação das tecnologias digitais no cotidiano das escolas. No entanto, esse movimento ainda enfrenta obstáculos como a resistência de alguns profissionais da educação, a falta de formação adequada e a infraestrutura precária em muitas unidades escolares.
Em relação ao uso interdisciplinar do YouTube, os estudos apontam que a plataforma tem se mostrado eficaz quando utilizada para integrar diferentes áreas do conhecimento, promovendo uma aprendizagem mais contextualizada e significativa. Professores de Língua Portuguesa, Ciências, História e Artes, por exemplo, têm utilizado vídeos educacionais, documentários, entrevistas, canais temáticos e produções estudantis como ponto de partida para discussões amplas e reflexivas. Essa abordagem interdisciplinar, ao romper com a lógica fragmentada do ensino tradicional, possibilita ao aluno uma compreensão mais abrangente dos conteúdos e desenvolve habilidades como o pensamento crítico, a criatividade e a capacidade de análise.
Os dados também mostraram que o YouTube, quando bem explorado, atua como um fator de motivação para os estudantes do Ensino Fundamental II, uma vez que o formato audiovisual está alinhado com os interesses e hábitos de consumo das novas gerações. Os vídeos permitem uma aprendizagem mais dinâmica, interativa e próxima da realidade dos alunos, além de favorecerem a autonomia, já que podem ser acessados fora do horário escolar e revisados conforme a necessidade. Isso contribui para o fortalecimento do protagonismo estudantil e para uma postura mais ativa em relação ao processo de aprendizagem.
No entanto, diversos desafios foram identificados nos estudos analisados. Além disso, a ausência de políticas públicas consistentes voltadas para a formação docente em tecnologias educacionais compromete o uso efetivo da plataforma em sala de aula. Outro obstáculo relevante é a limitação do acesso a dispositivos e à internet por parte de alunos e professores, o que reforça desigualdades sociais e educacionais preexistentes.
Apesar dessas dificuldades, os autores revisados reconhecem as inúmeras possibilidades do uso do YouTube na educação. O ambiente digital oferece uma diversidade de recursos que podem ser adaptados a diferentes estratégias de ensino, como aulas expositivas com apoio de vídeos, projetos interdisciplinares com produção audiovisual, debates sobre temas contemporâneos, entre outros. Além disso, o YouTube possibilita a valorização da cultura juvenil e do repertório dos alunos, ao incluir em sala de aula conteúdos com os quais eles já têm familiaridade no âmbito do lazer.
A produção de vídeos pelos próprios estudantes, inclusive, aparece como uma estratégia pedagógica promissora, pois estimula a criatividade, o trabalho em grupo, a pesquisa e a apropriação crítica da linguagem midiática. Alguns estudos demonstram que projetos de produção de conteúdo para o YouTube, orientados por professores, podem contribuir significativamente para o desenvolvimento de competências ligadas à comunicação, à cidadania digital e ao uso ético da informação.
Outro aspecto relevante é o potencial do YouTube para promover práticas avaliativas mais flexíveis e formativas. Professores podem utilizar os vídeos como ponto de partida para produções escritas, discussões orais, releituras artísticas ou resumos multimodais, ampliando as formas de expressão e de compreensão dos conteúdos por parte dos alunos. Essa variedade de estratégias, quando bem conduzida, favorece a personalização do ensino e o respeito às diferenças individuais.
Além disso, os estudos apontam que o YouTube pode contribuir para a formação de uma consciência crítica em relação à mídia, desde que os docentes promovam atividades que incentivem a análise dos discursos, a checagem de informações e o debate sobre fake news e discursos de ódio, presentes também no ambiente digital. Assim, a plataforma não deve ser vista apenas como um meio de transmissão de conteúdos, mas como um espaço de construção coletiva de saberes.
O uso do YouTube também se mostrou uma ferramenta potente para promover a interdisciplinaridade de forma concreta. A articulação entre diferentes componentes curriculares se torna mais fluida quando mediada por vídeos que tratam de temas transversais, como meio ambiente, saúde, cultura, direitos humanos e ciência. Essa abordagem permite que o aluno perceba as conexões entre os saberes escolares e a realidade, favorecendo uma aprendizagem mais integrada e significativa.
Ao longo da análise, verificou-se que professores mais engajados na utilização do YouTube em suas práticas pedagógicas compartilham algumas características em comum: abertura à inovação, busca por formação continuada, escuta ativa dos interesses dos alunos e disposição para o trabalho colaborativo com colegas de outras áreas. Isso evidencia que o desenvolvimento profissional docente é peça-chave para a consolidação de práticas interdisciplinares mediadas por tecnologias digitais.
Contudo, os resultados indicam que ainda é necessário avançar na construção de uma cultura digital nas escolas, pautada no uso responsável, criativo e crítico das plataformas online. Para isso, é fundamental o investimento em políticas públicas que garantam infraestrutura tecnológica, conectividade de qualidade, acesso a dispositivos e formação continuada para professores. Apenas assim será possível superar os desafios identificados e ampliar as possibilidades pedagógicas do YouTube no Ensino Fundamental II.
Diante dessas conclusões, uma proposta para futuros trabalhos é aprofundar a investigação sobre as práticas pedagógicas que envolvem a produção de vídeos pelos próprios estudantes, com foco na construção de competências multimodais e digitais. Além disso, estudos de caráter empírico, realizados diretamente nas escolas, podem contribuir para identificar as percepções dos alunos sobre o uso do YouTube em sala de aula, bem como avaliar os impactos dessas práticas na aprendizagem, na participação e na motivação.
Outra sugestão para pesquisas futuras é explorar o papel da gestão escolar e das políticas educacionais no incentivo ao uso pedagógico das mídias digitais. Compreender como os gestores promovem (ou dificultam) a adoção dessas tecnologias no cotidiano escolar pode oferecer subsídios importantes para a formulação de diretrizes mais eficazes e inclusivas.
Recomenda-se a realização de estudos empíricos interdisciplinares envolvendo diferentes áreas do conhecimento, que investiguem de forma colaborativa como o YouTube pode ser integrado aos projetos pedagógicos das escolas de forma ética, criativa e contextualizada. Essas pesquisas devem considerar, ainda, a diversidade sociocultural dos estudantes e os princípios da educação inclusiva, para que o uso da tecnologia, em vez de ampliar desigualdades, contribua para uma escola mais democrática, plural e transformadora.
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1 Graduação em Ciências Biológicas- Licenciatura. Especialização em Psicopedagogia. Mestranda em Tecnologias Emergentes em Educação pela Must University. E-mail: [email protected]