O AUTISMO E A INTERAÇÃO SOCIAL DA CRIANÇA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.14202065
Nilton Pereira Cunha
RESUMO
O autismo é um fenômeno que nas últimas décadas vem ganhando crescente atenção em nível mundial. Nas primeiras decadas do século XXI houve um salto gigantesco de casos de autismo no mundo. Coincidentemente, também houve uma aumento giganteso do uso de smartphones pelas crianças, inclusive, usados como “babas digitais”, pelos pais e cuidadores, com crianças de seis meses em diante, ao mesmo tempo que a OMS alerta que crianças de até dois anos não devam usar nenhum dispositivo digital. Esta é uma fase importante para a formação de trilhões de conexões neurais, chamado neurogênese. As crianças nessa fase necessitam de interações sociais ricas e variadas, ou seja, contato visual, comunicação verbal e brincadeiras interativas para o seu desenvolvimento social, físico, afetivo, emocional e cognitivo. Não é possível afirmar categoricamente que o impacto do uso excessivo e precoce de dispositivos digitais, entre as crianças, tenha provocado o crescente aumento de número de casos de autismo nesses últimos anos. No entanto, ambos são fenômenos paralelos temporais nessas últimas décadas. Outra questão que não é apenas coincidência, é o fato de que os feitos negativos das “babás digitais” são semelhantes aos sintomas típicos do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Isso remete a necessidade de mais atenção, estudos e preocupação por parte dos pais, professores, cuidadores, espeialistas e de toda a sociedade, já que, os efeitos negativos de um são os sintomas típicos do outro.
Palavras-chave: Autimos. Babas Digitais. Smartphones. Crianças.
ABSTRACT
Autism is a phenomenon that has been receiving increasing global attention in recent decades. In the early 21st century, there was a huge surge in autism cases worldwide. Coincidentally, there was also a massive increase in the use of smartphones by children, even being used as "digital babysitters" by parents and caregivers, with children as young as six months old. At the same time, the World Health Organisation (WHO) has warned that children under the age of two should not use any digital devices. This is a crucial stage for the formation of trillions of neural connections, known as neurogenesis. During this phase, children require rich and varied social interactions, such as eye contact, verbal communication, and interactive play, for their social, physical, emotional, and cognitive development. It is not possible to categorically state that the excessive and early use of digital devices among children has caused the rising number of autism cases in recent years. However, both are parallel phenomena over the past few decades. Another issue that is not merely coincidental is the fact that the negative effects of "digital babysitters" resemble the typical symptoms of Autism Spectrum Disorder (ASD). This underscores the need for more attention, research, and concern from parents, teachers, caregivers, specialists, and society at large, since the negative effects of one mirror the typical symptoms of the other.
Keywords: Autism. Digital Nannies. Smartphones. Children.
1 Introdução
Etmologiamente, a palavra autismo vem do prefixo grego αυτος (autos), que significa ‘si mesmo’, e o sufixo ισμός (ismós) que forma o substantivo abstrato que denota certo tipo de tendência, neste caso a acepcão apropiada corresponde “internar-se em si mismo”, e a palabra é designada a aqueles que ‘se isolam do mundo externo’.
O termo autismo foi criado em 1908 pelo psiquiatra suíço Eugen Bleuler para descrever a fuga da realidade para um mundo interior observado em pacientes esquizofrênicos.
Sim embargo, o autismo foi descrito pela primeira vez em 1943 pelo psiquiatra infantil austro-americano Leo Kanner, que estudou 11 casos de pessoas com dificuldade de relacionamento. Kanner chamou o problema de “distúrbios autísticos do contato afetivo”2.
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um fenômeno que vem ganhando crescente atenção em nível mundial nas últimas décadas. A condição que afeta o desenvolvimento social, comunicativo e comportamental, é considerada uma condição do neurodesenvolvimento, e seus sintomas podem variar ignificativamente entre os indivíduos. Ao longo dos anos, uma maior conscientização e avanços na pesquisa científica têm ampliado a compreensão do autismo, revelando não apenas sua complexidade, mas também sua relevância como um desafio global de saúde pública.
2 O Significaivo Aumento De Crianças Autistas Nas Últimas Décadas
Estudos recentes indicam que a prevalência do autismo tem aumentado, e este fenômeno não está restrito a uma região ou cultura específica. Embora a prevalência exata varie dependendo do país e da metodologia de diagnóstico, a tendência global mostra um aumento no número de diagnósticos.
Em 2000, os Estados Unidos registraram um caso de autismo a cada 150 crianças observadas. Em 2020, houve um salto gigantesco: um caso do transtorno a cada 36 crianças. As estatísticas são do órgão de saúde Centers for Disease Control and Prevention (CDC), esses dados são sempre anunciados pelo menos três anos após a coleta.
As principais hipóteses para detectar este crescimento são:
Maior acesso da população aos serviços de diagnóstico;
Formação de profissionais capazes de detectar o transtorno;
Pais, professores e pediatras mais conscientes e informados para levantar as primeiras suspeitas;
Ampliação da compreensão do que é autismo;
Possíveis fatores ambientais que colaboram para a maior frequência de TEA3.
Na verdade, é um transtorno muito complexo, com múltiplas causas possíveis, que vão além dos fatores genéticos. Uma interação entre genética, ambiente e processos neurobiológicos pode influenciar seu desenvolvimento. É importante reconhecer que cada pessoa no espectro é única, com um conjunto diferente de características, e as pesquisas continuam a avançar para melhor entender todas as variáveis que podem contribuir para o TEA.
3 O Ambiente Social E O Desenvolvimento Infantil Na Sociedade Contemporânea
Entre as hipótese relacionadas acima, o ambiente social deve ter uma atenção espeial, já que as crianças do século XXI estão vivendo numa sociedade de interações sociais e afetivas diferente das crianças dos seculos antecedentes. Ou seja, deste tenra idade, as crianças estão submersas em um mundo caracterizado pela substituição das interações entre pares, pais e cuidadores, isso, pelas telas, especialmente pelos smartphones. Segundo Pierre Levy, o nosso universo mental encontra-se em metamoforse permanente4.
No tocante ao desenvolvimento infantil, os primeiros anos de vida são fundamentais para a plasticidade cerebral, esta plasticidade é um processo dinâmico que consiste na construção, aquisição e interação de novas habilidades. Sendo assim, quaisquer perturbações no ambiente ou no indivíduo impactam substancialmente na aquisição das habilidades das interações sociais, afetivas, motoras e cognitivas.
Nesse contexto, é relevante destacar o que diz o neurocientista António Damásio que: “No nosso cérebro existem bilhões de neurônios e eles são as células essenciais para a atividade cerebral”5.
O cérebro de uma criança, nos primeiros anos de vida, está passando por um processo de desenvolvimento acelerado, com a formação de trilhões de conexões neurais, esse processo é chamado neurogênese. As crianças no período da neurogênese necessitam de interações sociais ricas e variadas, ou seja, contato visual, comunicação verbal e brincadeiras interativas para o seu desenvolvimento social, afetivo e emocional.
A interação direta com pais, pares, cuidadores é essencial para o desenvolvimento da empatia , da compreensão emocional , da linguagem e das habilidades sociais. Por exemplo, as crianças pequenas aprendem muito observando as expressões faciais, ouvindo o tom de voz e praticando a comunicação bidirecional com os adultos. Isso é algo que as telas simplesmente não podem oferecer.
Inclusive, o uso constante da tela pelas crianças e, atualmente, até mesmo bebês, torna-se cada vez mais comum, os pais e os avôs sentem-se orgulhosos, acreditando que aquilo é prova de inteligência de seus pequenos, porém, segundo vários estudos, essa exposição excessiva a dispositivos digitais, não é benéfica tanto para a saude física quanto a mental6.
Relatórios da Academia Americana de Pediatria, da Sociedade Canadense de Pediatria e da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) recomendam que os pais limitem o tempo e filtrem o conteúdo a que seus filhos têm acesso nos dispositivos eletrônicos. Segundo os especialistas em pediatria, o ideal é que antes dos dois anos, a criança não tenha nenhuma exposição à tecnologia. Após os dois anos de idade, elas podem começar a ter 30 minutos de acesso a conteúdos previamente selecionados pelos responsáveis. Já após os seis e até os 12 anos, o tempo pode ser estendido para duas horas, controlando o que estão assistindo, jogando ou conversando. Acima dos 12 e até os 18, é possível deixar os filhos por até três horas, mas ainda é preciso saber o que estão vendo e estabelecer um diálogo franco sobre os conteúdos impróprios. No entanto, o que se observa no dia-a-dia das crianças é que essas recomendações não seguidas pelos pais e responsáveis em cuidar das crianças.
4 O Smartphone: a “Babá Digital”
No atual cenário, o da universalização do uso do smartphone, a tela passou a ser cada vez mais usada para acalmar a criança, começando já desde bebê. Diante disso, as crianças estão sendo levadas a desenvolverem: dificuldades em interações sociais, a comportamentos repetitivos e ao atraso no desenolvimento da linguagem. Segundo especialistas, isso pode afetar profundamente o desenvolvimento do cérebro da criança, especialmente nas áreas relacionadas ao processamente emocional e social. Contribuindo para a falta de estímulo sensorial diversificado, como também a falta da exploração ativa do ambiente ao redor e a hiper ou hipossensibilidade sensorial.
Em crianças de zero a dois anos, o uso de dispositivos digitais não deve ser usado em hipóteses alguma, segundo a Organização Mudial de Saúde (OMC). Nessa fase, o cérebro está se desenvolvendo rapidamente, a interação direta com o ambiente físico e social é crucial para o aprendizado e a formação de conexões neurais. Aqui estão alguns pontos sobre como o uso de telas pode afetar a percepção e o processo de neurogênese (formação de novos neurônios): redução da interação social, já que o tempo exposto no uso da tela, natualmente, vai diminuir o tempo que uma criança passa interagindo com outras pessoas, o que é essencial para o desenvolvimento das habilidades de linguagem, comunicação e empatia. O cérebro da criança está em constante processo de aprendizagem social, e a interação com cuidadores e familiares é fundamental. Em outras palavras, o tempo excessivo e precoce aos estímulos desses dispositivos podem ter efeitos profundos, desde dificuldades na formação de conexões neurais até prejuízos no desenvolvimento motor, sensorial e emocional.
O alerta que se pode ter de tal processo é que, a forma como as crianças estão sendo expostas aos dispossitivos digitais pode contribuir para o desenvolvimento de características autistas, ou seja, o que poderia ser apenas uma predisposição ou susceptibilidade genética poderá desenadear os sintomas do Transtorno de Espectro Autista (TEA): difiuldade de interação social, comunicacionais e emocionais.
No que se refere à educação, o professor Nilton Cunha, no livro: Educação, Família e Geração Digital: desafios e perspectivas da pós-modernidade, comenta que há um abismo entre a diferença cultural ainda presente no processo ensino/aprendizagem escolar, que continua basicamente, no falar, ditar e escrever do professor, não obstante, o processo de interação do universo tecnológico digital, virtual e online vivido pelos alunos é colorido, dinâmico e acelerado, o qual é conduzido pelo uso da tela, especialmente, o smartphone7.
Diante dessa mudança, observa-se também que há uma diminuição nas interações sociais dos alunos no ambinte escolar. Um estudo realizado pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, concluiu que o excesso de tecnologia leva a prejuízos na comunicação entre crianças e jovens, problemas no sono, atrasos no desenvolvimento cognitivo, entre outros problemas8.
Em crianças menores de dois anos, a exposição excessiva e precoce desses dispositovos podem gerar prejuizos profundos e de longo alcance. Essa fase da vida é crucial para o desenvolvimento das conexões neurais e para a formação das bases das habilidades cognitivas, sociais, afetivas e emocionais. A falta de interações ricas e variadas no mundo real pode ter efeitos significativos, que podem se manifestar tanto no presente quanto ao longo da vida.
5 Significativas Diferenças Entre A Socialização Tradicional E A Dos Dispositivos Digitais
Há um abismo profundo no processo de socialização e no desenvolvimento sensorial e emocional no que se refere à forma tradicional de interação social das crianças e no atual estágio da sociedade contemporânea, denominada de pós-moderna.
Não podemos olvidar que, nos primeiros anos de vida, o cérebro da criança está em pleno processo de formação, e as interações sociais e emocionais com o mundo ao seu redor são cruciais para o desenvolvimento saudável. A exposição precoce e excessiva à tecnologia pode prejudicar esse processo de várias maneiras, criando uma desconexão com formas mais naturais e fundamentais de aprendizagem e da interação social e no desenvolvimento emocional e cognitivo da criança.
O uso excessivo e precoce de dispositivos digitais, especialmente quando serve de “babá digital”, tem implicações complexas e é profundamente negativo para o desenvolvimento social, afetivo, emocional e para as conexões dos neurônios da criança, e quanto mais nova mais afetada será.
Podemos citar:
Diminuição da Interação Humana: A exposição precoce a dispositivos digitais substitui a interação humana necessária para o desenvolvimento social e emocional da criança. Quando a tela ocupa um papel importante na vida da criança, ela perde a oportunidade de aprender e praticar habilidades essenciais como olhar nos olhos, compartilhar experiências, ouvir e expressar emoções de forma verbal e não-verbal.
Interferência no Desenvolvimento da Linguagem: A interação verbal direta entre pais e filhos é uma das principais formas de desenvolvimento da linguagem nos primeiros anos de vida. A "babá digital" — seja na forma de vídeos, desenhos animados ou jogos interativos — muitas vezes não oferece uma interação genuína, ou seja, a criança não está ativamente envolvida em uma conversa com uma pessoa, mas apenas consumindo conteúdo passivamente. Isso pode atrasar o desenvolvimento da linguagem e prejudicar a capacidade da criança de se expressar e compreender os outros.
Impacto no Desenvolvimento Emocional: Crianças pequenas precisam de modelos de afeto, empatia e controle emocional fornecidos pelos adultos. Quando um dispositivo digital se torna a principal fonte de interação, a criança perde a oportunidade de observar e aprender essas emoções de forma prática. O resultado é uma dificuldade em reconhecer e lidar com suas próprias emoções e as dos outros, o que pode prejudicar a inteligência emocional a longo prazo.
Alteração na Regulação da Atenção: O cérebro das crianças pequenas é altamente impressionável. O uso excessivo de telas, que oferece gratificação instantânea e estímulos constantes, pode afetar a capacidade de concentração da criança. Isso pode levar a dificuldades na autorregulação da atenção e no desenvolvimento da paciência. Além disso, o tempo de tela excessivo pode interferir nos padrões de sono, impactando negativamente a saúde mental e o desenvolvimento cognitivo da criança.
Desconexão com a Realidade Física: As crianças pequenas precisam explorar o mundo ao seu redor fisicamente para compreender a realidade. A exposição a telas pode inibir essa exploração física e afetar o desenvolvimento motor e cognitivo, além de criar uma percepção distorcida da realidade. Quando a tela se torna uma babá, o mundo físico pode ser visto como menos interessante ou relevante do que o mundo digital, o que pode impactar o desenvolvimento da percepção sensorial e do vínculo com o ambiente.
O "abismo" entre a forma tradicional de interação e o modelo atual dinamizado pelo uso excessivo de telas se reflete no contraste entre o contato físico e emocional direto com o mundo real e a experiência imersiva e solitária proporcionada pelas telas.
Podemos destacar as tais diferenças:
Interação Física vs. Virtual: Antes da popularização dos dispositivos digitais, os momentos em que as crianças eram deixadas sob a supervisão de adultos envolviam brincadeiras ativas, interações afetivas diretas, leituras em conjunto e conversas. Hoje, quando as crianças estão sob a supervisão de dispositivos digitais, elas estão expostas a imagens, sons e movimentos rápidos, mas sem a riqueza das interações humanas diretas que são cruciais nesse período da vida.
Desenvolvimento de Habilidades Sociais e Emocionais: A experiência de brincar com outras crianças e adultos ajuda as crianças a aprender como negociar, compartilhar, cooperar e resolver conflitos. A "babá digital" não oferece essas oportunidades. Pelo contrário, muitas vezes as telas promovem um comportamento passivo, em que a criança apenas observa, sem desenvolver habilidades importantes de socialização.
A Regulação Emocional: O ambiente digital, especialmente no caso de crianças muito pequenas, tende a oferecer gratificação instantânea. Isso pode dificultar o desenvolvimento da paciência e da capacidade de lidar com a frustração, habilidades que são moldadas através de interações humanas e experiências do mundo real.
6 Os Efeitos Negativos Do Uso Excessivo De Dispositivos Digitais E Os Sintomas Típicos Do Transtorno Do Espectro Autista (TEA)
Não é possível, nesse momento, afirmar categoricamente que o impacto entre o uso excessivo de dispositivos digitais, entre as crianças, tenha provocado o crescente número de casos de autismo nesses últimos anos, ou seja, que há uma relação causal direta entre tal fenômeno e a universalização desses dispositivos, especialmente, do uso do smartphone pelas ciranças desde a fase de bebê, no entanto, que ambos têm sido fenômenos paralelos temporais nessas últimas décadas, isso é indiscutível. Tal processo são questões amplamente documentadas e que necessita de uma atenção mais acurada por todos nós: pais, professores, cuidadores, especialistas e pela sociedade de uma forma geral. Não obstante, os dois fenômenos são evidentes, ou seja, o aumento de ambos coincide no tempo, e, diante dessa coincidência, nos remete a disprender uma atenção relevante sobre os efeitos possíveis da tecnologia no desenvolvimento infantil.
É comum, na socieade atual, vermos bebês e crianças muito pequenas usando smartphones, esses dispositivos se converteram em “babás digitais”, como já foi supramente mencionado neste trabalho, pelo fato que muitos pais e cuidadores recorrem a eles ou a elas, “babás digitais”, como uma forma de entreter, acalmar, deixar seus filhos(as) quietos(as).
Quando uma criança fica exposta às telas, seu cérebro pode passar a priorizar esse tipo de estímulo ao invés de explorar fisicamente o ambiente. Ela pode perder o interesse em coisas simples como brincar com brinquedos , interagir com objetos e desenvolver o interesse à passividade da tela. Ou seja, limitando o ineresse pelo mundo real , afetando o seu desenvolvimento motor, sua capacidade de observação e imitação, como também, à perepção do ambiente a sua volta.
Em outras palavras podemos dizer que, quando os dispositivos digitais passam a ter grande importância na interação social, física e emocional de uma criança com menos de dois anos, o cérebro dessa criança pode "se formatar" para esse tipo de interação, afetando sua atenção, interesse e capacidade de se envolver com o mundo real e com os outros. O desenvolvimento de uma preferência por estímulos digitais pode gerar dificuldade na cognição, socialização, para desenvolver habilidades sociais, emocionais e cognitivas.
Isso remete a procuramos fazer a relexão que talvez não seja apenas coincidência: o aumento de ambos (o uso das “babás digitais” e o autismo), já que não é coincidência que o uso excessivo de tais dispositivos afeta o desenvolvimento social (menos interação social e dependência de estímulos visuais), comunicativo (diminuição da comunicação verbal e atraso na linguagem) e comprtamental (maior agitação ou irritabilidade e problema de atenção, comportamente restrito e repetitivos), esses são sintomas do autista. Ou seja, isso não é coincidência, é um fato, que os feitos negativos das “babás digitais” são semelhantes aos sintomas típicos do Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Mesmo que os sintomas possam variar de pessoa para pessoa e o seu grau de intensidade possa ser: leve, moderado ou severo. De forma geral, os sintomas do autismo estão relacionados às duas áreas principais: dificuldades na comunicação social e interação social e o uso excessivo de dispositivos digitais ocasionam tais dificuldades, e que tais dificuldades, entre o efeito que um provoca e o sintoma que o outro possui, não é uma coincidência, mas um fato.
Diante disso, é importante ter em conta que, além de questões genéticas, essas dificuldades podem ser desencadeadas pelo uso excessivo desses dispositivos desde tenra idade. Os especialistas que estudam sobre a neuroplasticidade e o desenvolvimento infantil destacam também sobre a dependência de recompensas imediatas ocasionadas pelo uso da tela. A tela oferece estímulos rápidos, emoções intensas, e a criança fica sem tempo para brincadeiras expontâneas e conflitos saudáveis para o seu bom desenvolvimento social, físico, emocional e cognitivo.
7 Como Mitigar os Efeitos Negativos dos Dispositivos Digitais
Os efeitos negativos devem ser mitigados, já que se pode dectar muitas implicações e coincidências entre o fenômeno do aumento do uso dos dispositivos digitais e do autismo no mundo. Enquanto as causas do autismo ainda não são completamente compreendidas, há estudos robustamente documentados que o uso excessivo dos dispositivos digitais tem promovido significativas mudanças no ambiente social e no estilo de vida das crianças contemporâneas, e que essas mudanças tem impactado signficativamente no desenvolvimento de suas habilidades sociais e comprtamentais. Como também não há dúvidas que, entre as crianças mais afetadas no desenvolvimento de suas habilidades sociais e comprtamentais estão as do Transtorno de Espectro Autista (TEA).
Torna-se fundamental e de extrema relevância, no atual cenário da sociedade contemporânea, que os pais, cuidadores, especialistas e toda a sociedade passem a ter mais atenção e estudo sobre tais fenômenos, já que são temporamente idênticos e há muitas coincidências entre: efeitos e sintomas.
Diante disso, urge a necessidade de mitigar os efeitos negativos dos dispositivos digitais nas crianças desde ontem.
Vamos agora descrever algumas precauções que os pais e cuidadores devem ter:
Estabelecer Limites Claros de Tempo de Tela: Especialistas recomendam que o tempo de tela seja limitado para crianças pequenas, com a Organização Mundial da Saúde (OMS) sugerindo, por exemplo, que crianças menores de 2 anos não tenham exposição a telas, e crianças de 2 a 5 anos tenham no máximo uma hora por dia.
Substituir a Tela por Atividades Interativas: Em vez de deixar a criança sozinha com a tela, é importante que os pais ou cuidadores se envolvam nas atividades que o dispositivo está oferecendo, seja assistindo a um vídeo juntos ou brincando com um jogo interativo. Isso cria uma oportunidade para a interação social e o desenvolvimento emocional, mesmo dentro do contexto digital.
Priorizar Brincadeiras no Mundo Real: Atividades físicas, brincadeiras criativas e a exploração do ambiente são cruciais nos primeiros anos de vida. É essencial garantir que a criança tenha tempo suficiente para brincar ao ar livre, explorar diferentes texturas e movimentos e se engajar em atividades sensoriais que promovem o aprendizado.
Modelo de Comportamento: Os pais devem agir como modelos de comportamento, limitando seu próprio uso de dispositivos digitais e priorizando interações face a face com os filhos.
8 Conclusão
O autismo, enquanto fenômeno mundial, é cada vez mais reconhecido não apenas como uma condição que exige atenção médica e terapêutica, mas também como uma oportunidade para repensarmos as formas de se organiza as sociedades. Ao promover uma inclusão verdadeira, que considere as especificidades de cada indivíduo, é possível criar ambientes mais adaptados e justos para todos, independentemente de suas características neurológicas.
A conscientização e a aceitação do autismo em um nível global são essenciais para garantir que as pessoas com TEA possam ter as mesmas oportunidades de uma vida plena e satisfatória. A construção de uma sociedade mais inclusiva exige mudanças em múltiplos níveis: desde políticas públicas até práticas educacionais, passando pelo apoio psicossocial às famílias e pela redução do estigma em torno da condição. O autismo, mais do que uma condição médica, é também um reflexo das dinâmicas sociais, culturais e científicas que marcam a sociedade global no século XXI.
O uso excessivo de telas como "babá digital" cria um abismo significativo no desenvolvimento social, físico, emocional e cognitivo das crianças pequenas. As interações presenciais e a exploração física do mundo são essenciais para o desenvolvimento saudável das crianças, especialmente nos primeiros anos. Encontrar um equilíbrio entre o uso da tecnologia e a promoção de experiências reais é essencial para garantir que as crianças cresçam com uma base sólida de habilidades sociais, físicas, emocionais e cognitivas, e isso é uma responsabilidade de toda a sociedade.
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Nilton Pereira da Cunha é professor, escritor, psicopedagogo e pesquisador com graduação e pós-graduação lato e stricto sensu na área da Educação, também é graduado e pós-graduado em Direito. Foi professor de Educação Especial por mais de uma década pela Secretaria de Educação do Estado de Penambuco. Autor de mais de uma dezena de livros, tais como: Educação. Família e Geração Digital: desafios e perspectivas da pós-modernidade; O Ensino Superior e a Educação Inclusiva: o direito à igualdade e à diferença. E-mail: [email protected].
1 AUTISMO E REALIDADE. O que é o autismo. Disponível em: https://autismoerealidade.org.br/o-que-e-o-autismo/?gclid=CjwKCAiAudG5BhAREiwAWMlSjCZq_RCxmgjFr8kWpDQc1YwbZ4gNWUb7kzX7iOuAjHZkSD5WFuGhGBoC6ecQAvD_BwE. Acessom em: 13/nov/2024.
2 TENENTE, Luiza. 1 a cada 36 crianças, diz CDC; entenda porque números de casos aumentou tanto nas últimas décadas. https://g1.globo.com/educacao/noticia/2023/04/02/1-a-cada-36-criancas-tem-autismo-diz-cdc-entenda-por-que-numero-de-casos-aumentou-tanto-nas-ultimas-decadas.ghtml. Acesso em: 13/nov/2024.
3 LEVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993, p. 24.
4 DAMÁZIO, António R. O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p. 51.
5 RIO, Marcelo. Babás Digitais. Disponível em: https://facebrasil.com/babas-digitais-na-revista-facebrasil-69/. Acesso em: 13/nov/2024.
6 CUNHA, Nilton Pereira da. Educação, Família e Geração Digital: desafios e perspectivas da pós-modernidade. Recife: Tarcísio Pereira Editor, 2017.
7 FACUNDINI, Diego. Uso de celulares nas escolas traz mais prejuízos do que benefício aos estudantes. Disponível em: https://jornal.usp.br/radio-usp/uso-de-celulares-nas-escolas-traz-mais-prejuizos-do-que-beneficios-aos-estudantes/. Acesso em: 14/nov/2024.