MÍDIAS DIGITAIS NA EDUCAÇÃO: BENEFÍCIOS IDENTIFICADOS POR PROFESSORES E ALUNOS
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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.17137503
Claudia Garcia de Souza Welyczko1
RESUMO
A presença constante das tecnologias digitais tem transformado significativamente o modo como crianças e adolescentes se relacionam com o conhecimento. No contexto educacional, a integração de mídias digitais propicia novas possibilidades de ensino e aprendizagem, promovendo a superação dos limites tradicionais da sala de aula. Este trabalho tem como objetivo compreender como professores e estudantes percebem as contribuições das ferramentas digitais na mediação pedagógica. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, com base em autores que discutem os impactos da tecnologia na educação contemporânea. Os resultados apontam que o uso pedagógico das mídias digitais favorece o engajamento discente, permite maior adaptação às necessidades individuais de aprendizagem e estimula competências cognitivas e socioemocionais. Apesar dos avanços, ainda se observa um distanciamento entre o uso espontâneo da tecnologia em ambientes domésticos e sua aplicação estruturada no espaço escolar. Conclui-se que o aproveitamento efetivo dessas ferramentas depende da formação docente e da intencionalidade pedagógica no uso dos recursos digitais.
Palavras-chave: Tecnologias educacionais. Ensino digital. Prática pedagógica. Formação docente.
ABSTRACT
The constant presence of digital technologies has significantly transformed the way children and adolescents relate to knowledge. In the educational context, the integration of digital media provides new possibilities for teaching and learning, promoting the overcoming of traditional classroom boundaries. This work aims to understand how teachers and students perceive the contributions of digital tools in pedagogical mediation. This is a bibliographical study based on authors who discuss the impacts of technology on contemporary education. The results indicate that the pedagogical use of digital media promotes student engagement, allows for greater adaptation to individual learning needs, and stimulates cognitive and socio-emotional skills. Despite advances, there is still a gap between the spontaneous use of technology in domestic settings and its structured application in the school environment. It is concluded that the effective use of these tools depends on teacher training and pedagogical intentionality in the use of digital resources.
Keywords: Educational technologies. Digital teaching. Pedagogical practice. Teacher training.
INTRODUÇÃO
A presença das tecnologias digitais tem provocado transformações profundas nas práticas sociais e educacionais, especialmente no cotidiano de crianças e adolescentes em idade escolar. Desde os primeiros anos de vida, muitos estudantes já convivem com dispositivos conectados à internet, como smartphones, tablets e computadores, o que impacta diretamente suas formas de interagir, comunicar-se e aprender. Nesse contexto, a escola, enquanto espaço privilegiado de mediação do saber, é desafiada a incorporar tais recursos de forma pedagógica, crítica e significativa.
Compreender como mídias digitais influenciam o processo educativo torna-se fundamental diante da ampliação das possibilidades de acesso à informação e da necessidade de desenvolver competências compatíveis com as demandas da sociedade contemporânea. Este trabalho tem como objetivo compreender como professores e estudantes percebem as contribuições das ferramentas digitais na mediação pedagógica.
A relevância da investigação reside na necessidade de refletir sobre as convergências e divergências entre o uso da tecnologia no ambiente escolar e nas vivências cotidianas dos estudantes fora da sala de aula. Embora o contato com ferramentas digitais já seja naturalizado em contextos informais, ainda persiste um desafio quanto à sua integração pedagógica de forma eficaz e intencional nas instituições de ensino.
Para alcançar os objetivos propostos, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, com base em obras e estudos que abordam o papel das mídias digitais na educação. A escolha dessa metodologia permitiu identificar diferentes perspectivas teóricas sobre o tema e reunir contribuições relevantes para a análise crítica do uso dessas tecnologias no processo de ensino-aprendizagem.
A estrutura do estudo compreende dois eixos principais. No primeiro, discute-se a formação digital e as oportunidades percebidas por professores e estudantes para o desenvolvimento de competências a partir do uso educacional das mídias. No segundo, explora-se a relação entre os diferentes formatos tecnológicos adotados e a construção do conhecimento no contexto escolar, evidenciando tanto os avanços quanto os desafios desse processo de integração.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A inserção de mídias digitais no contexto educacional tem demandado uma reconfiguração das práticas pedagógicas, exigindo do professor não apenas domínio técnico, mas também competências críticas e criativas para integrar esses recursos à sala de aula. Segundo Moran (2015), a formação docente deve considerar não só o uso instrumental da tecnologia, mas principalmente sua apropriação pedagógica, promovendo uma atuação reflexiva e inovadora no processo de ensino-aprendizagem.
Essa formação digital vai além do simples manuseio de ferramentas. Trata-se de desenvolver a competência de utilizar as mídias digitais de forma estratégica e alinhada aos objetivos pedagógicos. Para Kenski (2019, p.4),
a formação de professores deve ser contínua, contextualizada e voltada para a compreensão da cultura digital, permitindo que o educador atue com segurança frente às transformações tecnológicas que impactam a escola. É essencial que essa formação valorize não apenas o domínio técnico das ferramentas, mas também o desenvolvimento de uma postura crítica e criativa diante das múltiplas linguagens digitais. Dessa forma, o professor torna-se agente ativo na construção de práticas pedagógicas inovadoras e significativas, alinhadas às necessidades dos estudantes do século XXI.
A literatura destaca que o uso das mídias digitais favorece o desenvolvimento de diversas competências, especialmente as cognitivas, comunicativas e socioemocionais. Esses aspectos são destacados por Pretto (2021), ao afirmar que a mediação tecnológica, quando bem conduzida, estimula o protagonismo discente, a colaboração entre pares e a construção coletiva do conhecimento, fortalecendo a autonomia dos estudantes.
O ambiente escolar precisa ser repensado como um espaço de múltiplas linguagens e possibilidades. Isso exige que o educador esteja preparado para lidar com novos formatos de conteúdo, como vídeos, podcasts, jogos e plataformas interativas. De acordo com Moran (2015), o educador do século XXI precisa desenvolver habilidades relacionadas à curadoria de conteúdos, avaliação crítica de fontes e estímulo à autoria e criatividade dos alunos.
No entanto, muitos docentes ainda enfrentam desafios na integração das mídias digitais à prática pedagógica. Kenski (2019) aponta que a resistência ao uso de tecnologias está frequentemente associada à formação inicial deficiente, que ainda prioriza métodos tradicionais e pouco dialógicos. Nesse sentido, é urgente que as políticas de formação docente sejam reformuladas para contemplar a cultura digital de maneira efetiva.
A aprendizagem mediada por tecnologias propicia o desenvolvimento de competências alinhadas à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que enfatiza habilidades como pensamento crítico, resolução de problemas, comunicação e empatia. Pretto (2021) reforça que,
o uso consciente das mídias digitais pode potencializar essas competências, desde que haja intencionalidade pedagógica e planejamento adequado por parte do educador. Para que isso ocorra, é fundamental que o professor compreenda o papel mediador da tecnologia no processo de aprendizagem e saiba selecionar recursos que dialoguem com os objetivos educacionais.
Além disso, é necessário que a utilização das mídias esteja integrada ao currículo de forma coerente, promovendo experiências de aprendizagem que estimulem a autonomia, o pensamento crítico e a criatividade dos alunos.
É preciso considerar a equidade no acesso às tecnologias e na formação digital. Em muitas regiões do Brasil, a carência de infraestrutura e a ausência de políticas públicas consistentes dificultam a consolidação de uma cultura digital escolar. Segundo Costa (2020, p.10), “a inclusão digital precisa ser entendida como um direito educacional, que garanta a todos os estudantes oportunidades iguais de aprendizagem mediada por tecnologias”.
Outro ponto relevante é a valorização do protagonismo discente. As mídias digitais, quando integradas de forma crítica e participativa, estimulam a autonomia e o engajamento dos alunos. Moran (2015) ressalta que os estudantes deixam de ser apenas receptores de conteúdo e passam a atuar como produtores de conhecimento, desenvolvendo competências importantes para a vida em sociedade.
A formação digital dos professores também implica uma mudança na postura pedagógica. O educador precisa assumir o papel de mediador, orientador e facilitador das aprendizagens, criando contextos em que o uso das tecnologias seja significativo. Para Kenski (2019), essa mudança de paradigma requer a superação de práticas transmissivas e o incentivo à investigação, à experimentação e ao trabalho colaborativo.
As competências digitais não se restringem ao domínio técnico, mas envolvem também a compreensão crítica da informação, a ética no uso da tecnologia e a capacidade de interagir em ambientes virtuais de forma respeitosa e construtiva. Pretto (2021) argumenta que a escola deve ser espaço de formação cidadã no uso das mídias, contribuindo para o desenvolvimento de uma cultura digital ética e consciente.
A integração das mídias digitais à prática docente pode favorecer processos avaliativos mais dinâmicos e personalizados. Segundo Costa (2020), o uso de plataformas digitais permite acompanhar o progresso dos alunos em tempo real, oferecendo feedbacks imediatos e possibilitando ajustes na abordagem pedagógica de forma mais ágil e eficaz.
Apesar das dificuldades enfrentadas por muitos educadores, há experiências exitosas no uso das mídias digitais, sobretudo quando há apoio institucional, formação continuada e acesso adequado a recursos tecnológicos. Moran (2015) defende que a inovação educacional não depende exclusivamente das tecnologias, mas da capacidade de os professores ressignificarem suas práticas e assumirem uma postura investigativa.
Os cursos de licenciatura, muitas vezes, ainda apresentam uma defasagem em relação à realidade digital vivida pelos estudantes. Kenski (2019) aponta que é fundamental rever as matrizes curriculares da formação inicial docente, integrando as tecnologias desde os primeiros períodos e promovendo práticas pedagógicas que articulem teoria e prática.
Para além da formação técnica, é necessário promover a construção de uma mentalidade aberta à inovação, à experimentação e à colaboração. Pretto (2021) destaca a importância de redes de aprendizagem entre professores, onde a troca de experiências e o compartilhamento de boas práticas contribuam para o aprimoramento coletivo das competências digitais.
O desenvolvimento de competências digitais por meio do uso pedagógico das mídias depende diretamente da formação dos professores, do planejamento intencional das práticas educativas e da garantia de acesso a recursos tecnológicos. É preciso, portanto, investir em políticas públicas que promovam a inclusão digital, incentivem a formação crítica e contínua dos educadores e valorizem a mediação tecnológica como ferramenta potente na construção do conhecimento.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A ampliação do acesso à internet e aos dispositivos móveis trouxe novas possibilidades para o processo de ensino e aprendizagem, especialmente no que diz respeito à diversidade de formatos e plataformas digitais disponíveis. Esses recursos, quando bem utilizados, permitem que o conhecimento seja construído de forma mais interativa, visual e contextualizada. Valente (2022) destaca que os ambientes digitais de aprendizagem favorecem o protagonismo do estudante, estimulando o raciocínio crítico e a autonomia intelectual.
Entre os formatos mais utilizados nas escolas atualmente estão os vídeos educativos, podcasts, jogos digitais, infográficos e objetos de aprendizagem interativos. Tais ferramentas ampliam os modos de representação do conteúdo e atendem a diferentes estilos de aprendizagem. De acordo com Behrens (2021), a utilização de múltiplas linguagens no espaço escolar favorece uma aprendizagem mais significativa e alinhada às demandas da sociedade digital.
As plataformas educacionais, como o Google Sala de Aula, Moodle, Khan Academy e outras soluções personalizadas, também têm ganhado destaque. Elas permitem organizar conteúdos, acompanhar o desempenho dos alunos e promover atividades colaborativas. Segundo Léda (2020), essas plataformas não apenas organizam o processo pedagógico, mas criam ecossistemas de aprendizagem que estimulam o envolvimento e a autoria dos estudantes.
Outro aspecto importante é a gamificação, que vem sendo incorporada como estratégia didática em diferentes disciplinas. Jogos digitais podem ser utilizados para introduzir, aprofundar ou revisar conteúdos, além de motivar os alunos por meio de desafios, metas e recompensas simbólicas. Valente (2022) salienta que o lúdico, aliado ao conhecimento formal, fortalece a aprendizagem ao torná-la mais prazerosa e engajadora.
A personalização da aprendizagem é uma das principais vantagens das plataformas digitais. Elas possibilitam que cada aluno avance em seu próprio ritmo, respeitando suas particularidades e necessidades. Behrens (2021, p.17) afirma que,
a educação digital deve promover a centralidade do aluno no processo de aprendizagem, rompendo com a lógica da uniformização que ainda predomina em muitos contextos escolares. As mídias digitais também potencializam o trabalho interdisciplinar. Ao permitir a integração de diferentes áreas do conhecimento em projetos mediados por tecnologias, os alunos passam a perceber as conexões entre os saberes.
Contudo, o uso pedagógico das tecnologias digitais exige planejamento e intencionalidade. O simples acesso aos recursos não garante resultados positivos na aprendizagem. Para Valente (2022), o professor precisa assumir o papel de designer de experiências de aprendizagem, selecionando os recursos mais adequados aos objetivos educacionais e às características de seus alunos.
A construção do conhecimento mediada por plataformas digitais também estimula o desenvolvimento da competência informacional. Os alunos são constantemente desafiados a buscar, selecionar, avaliar e sintetizar informações provenientes de diversas fontes. Behrens (2021) ressalta que a formação do aluno leitor crítico do mundo digital é uma das tarefas mais urgentes da educação contemporânea.
A abordagem híbrida de ensino, que combina momentos presenciais com atividades online, tem se mostrado eficaz na construção do conhecimento em ambientes digitais. Essa metodologia permite que o aluno explore conteúdos de maneira mais flexível, ao mesmo tempo em que mantém o contato com o professor e os colegas. Léda (2020) defende que o modelo híbrido promove a autonomia sem abrir mão da mediação pedagógica.
Além disso, a possibilidade de criação de conteúdos pelos próprios estudantes é um fator que contribui para o fortalecimento da aprendizagem ativa. Ao produzir vídeos, podcasts, mapas conceituais ou blogs, os alunos mobilizam conhecimentos e habilidades diversas. Valente (2022) enfatiza que esse tipo de atividade rompe com a passividade tradicional do estudante e o insere como sujeito ativo no processo educativo.
A diversidade de formatos digitais também amplia as formas de avaliação. Em vez de provas convencionais, os professores podem utilizar portfólios digitais, produções multimodais, quizzes online e fóruns de discussão. Behrens (2021, p.19) argumenta que “essas estratégias permitem uma avaliação mais formativa, que considera os processos e não apenas os resultados finais”.
Mesmo com todos esses benefícios, ainda há desafios na adoção dos recursos digitais. Muitos professores relatam dificuldades técnicas, falta de tempo para planejamento e insegurança pedagógica. Léda (2020) ressalta que, embora a tecnologia esteja cada vez mais presente nas escolas, ainda existem lacunas significativas na formação docente, tanto inicial quanto continuada. Isso faz com que muitos educadores se sintam despreparados para utilizar as ferramentas digitais de forma integrada ao currículo e alinhada às necessidades dos alunos. A autora enfatiza que a simples inserção de equipamentos tecnológicos não garante melhorias no processo de ensino-aprendizagem, sendo necessário um investimento consistente em formação continuada, que permita ao professor refletir sobre suas práticas, experimentar metodologias ativas e desenvolver segurança para inovar em sala de aula.
Além disso, Léda (2020) defende a criação de espaços colaborativos dentro das instituições escolares, nos quais os docentes possam trocar experiências, compartilhar dificuldades e construir soluções coletivas para os desafios encontrados no uso das tecnologias educacionais.
Outro aspecto fundamental é a questão do acesso desigual à tecnologia entre os estudantes. Em muitas realidades brasileiras, nem todos os alunos dispõem de equipamentos adequados ou de conexão à internet de qualidade, o que limita a participação plena nas atividades digitais. Valente (2022) salienta que a inclusão digital deve ser entendida como um requisito básico para a construção do conhecimento na era tecnológica. Para o autor, a escola precisa assumir o papel de mediadora na busca por estratégias que garantam o acesso equitativo, como a disponibilização de laboratórios de informática bem estruturados, programas de empréstimo de dispositivos e parcerias com órgãos públicos e privados. Ele argumenta que, sem essas condições mínimas, corre-se o risco de aprofundar as desigualdades já existentes, gerando um cenário em que apenas uma parcela dos estudantes se beneficia das possibilidades trazidas pelas mídias digitais, enquanto outros permanecem excluídos do processo de aprendizagem significativa.
O uso de mídias e plataformas digitais, quando realizado de forma planejada e crítica, também pode contribuir para o desenvolvimento de habilidades socioemocionais e cognitivas essenciais no mundo contemporâneo. Behrens (2021) destaca que, por meio da integração tecnológica, os alunos podem aprimorar competências relacionadas à comunicação, à colaboração e à resolução de problemas, habilidades indispensáveis para a inserção ativa na sociedade do conhecimento.
A autora ressalta que, ao trabalharem em ambientes digitais, os estudantes aprendem a negociar ideias, lidar com diferentes perspectivas e desenvolver autonomia na busca por informações confiáveis. Essas experiências, segundo Behrens (2021), promovem não apenas o aprendizado de conteúdos curriculares, mas também a formação de cidadãos críticos e éticos, capazes de atuar de maneira consciente e responsável frente aos desafios de uma sociedade em constante transformação.
Além disso, a autora argumenta que a tecnologia pode potencializar metodologias inovadoras, como a aprendizagem baseada em projetos, a sala de aula invertida e a gamificação, tornando o processo educacional mais dinâmico e conectado à realidade dos alunos. Behrens (2021) afirma que, quando os estudantes são incentivados a criar, investigar e resolver problemas reais utilizando recursos digitais, eles se tornam protagonistas do próprio aprendizado, desenvolvendo um senso de pertencimento e engajamento mais profundo. Esse protagonismo estudantil é essencial para a construção de uma educação significativa e transformadora.
O sucesso da integração tecnológica na educação, portanto, depende de uma articulação equilibrada entre políticas públicas, formação docente e inovação pedagógica. Léda (2020) defende que os gestores educacionais e formuladores de políticas devem considerar a tecnologia não como um fim em si mesma, mas como uma ferramenta estratégica para promover a inclusão, a equidade e a qualidade educacional. Nesse sentido, políticas públicas eficazes devem contemplar investimentos em infraestrutura, programas de capacitação docente e incentivos para o desenvolvimento de projetos pedagógicos inovadores. A autora reforça que a transformação educacional só se torna possível quando há um alinhamento entre os objetivos institucionais, as necessidades dos professores e as expectativas dos alunos.
Valente (2022) acrescenta que a tecnologia, por si só, não transforma a escola. É a forma como ela é utilizada que determina seu impacto. O autor ressalta que, sem planejamento pedagógico e formação adequada, as ferramentas digitais correm o risco de serem subutilizadas ou de se tornarem meros instrumentos de reprodução de práticas tradicionais. Para evitar esse cenário, ele sugere a adoção de planos estratégicos de integração tecnológica, elaborados de maneira participativa, envolvendo professores, alunos, famílias e a comunidade escolar. Tais planos devem incluir metas claras, mecanismos de avaliação contínua e ações de acompanhamento para garantir que as tecnologias realmente contribuam para o aprendizado e não se limitem a um uso superficial.
Outro ponto abordado por Behrens (2021) é a importância da cultura digital dentro das escolas. Para que a inovação pedagógica seja efetiva, é preciso que todos os atores envolvidos — professores, gestores, alunos e famílias — compartilhem uma visão comum sobre o papel das tecnologias no processo educacional. Isso implica repensar práticas tradicionais, flexibilizar currículos e incentivar a criatividade, a colaboração e o pensamento crítico. A autora enfatiza que a construção dessa cultura digital não ocorre de forma imediata; ela exige tempo, diálogo e um esforço coletivo para superar resistências e medos em relação às mudanças. Quando bem implementada, essa cultura possibilita que a escola se torne um espaço vivo de experimentação, aprendizado e transformação social.
A integração tecnológica deve ser vista como uma oportunidade para ressignificar o processo de ensino-aprendizagem, ampliando as possibilidades de construção de saberes significativos. Léda (2020) reforça que a tecnologia não substitui o papel do professor, mas amplia suas possibilidades de atuação, permitindo que ele assuma o papel de mediador, facilitador e orientador do conhecimento. Nesse contexto, a inovação não se restringe ao uso de novas ferramentas, mas envolve uma mudança de mentalidade, na qual o foco está no desenvolvimento integral do estudante e na construção de uma educação mais justa, inclusiva e conectada às demandas do século XXI.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se que os benefícios percebidos por educadores e alunos no uso das mídias digitais no processo educacional são significativos e multifacetados. O estudo evidenciou que, quando utilizadas de forma intencional e planejada, as tecnologias digitais têm o potencial de transformar a dinâmica das salas de aula, favorecendo o engajamento dos estudantes, a personalização do ensino e o desenvolvimento de competências cognitivas, socioemocionais e comunicativas. Essa transformação se expressa na criação de ambientes de aprendizagem mais interativos, nos quais o aluno não apenas recebe informações, mas também participa ativamente da construção do conhecimento, assumindo o papel de protagonista no processo educativo.
O uso das mídias digitais permite que os conteúdos sejam apresentados de maneira mais atrativa e conectada à realidade dos estudantes, despertando interesse e motivação. Além disso, promove a possibilidade de aprendizagem em diferentes ritmos, respeitando as necessidades individuais e estimulando a autonomia. Em um cenário educacional tradicional, muitas vezes, o ensino ocorre de forma homogênea, desconsiderando as particularidades de cada aluno. Com a integração de ferramentas digitais, é possível oferecer atividades personalizadas, avaliações adaptativas e recursos interativos que auxiliam na compreensão dos conteúdos e no desenvolvimento de habilidades específicas.
Outro ponto relevante identificado é que os professores que se apropriam da cultura digital em suas práticas pedagógicas demonstram maior segurança diante das constantes transformações tecnológicas. Esses educadores tendem a adotar uma postura mais aberta à inovação, compreendendo que a tecnologia não é apenas um recurso adicional, mas um elemento central na construção de uma educação mais dinâmica, colaborativa e significativa. Quando o docente domina as ferramentas digitais, ele se sente mais preparado para explorar novas metodologias, como projetos interdisciplinares, gamificação, sala de aula invertida e atividades mediadas por plataformas virtuais. Isso contribui para fortalecer a relação entre professor e aluno, criando uma interação mais próxima e um ambiente de aprendizagem que favorece a troca de experiências e a construção coletiva do conhecimento.
Apesar de todos esses avanços, ainda existem desafios importantes a serem superados. Entre eles, destaca-se a necessidade urgente de formação continuada para os docentes. Muitos professores ainda enfrentam dificuldades para integrar as tecnologias ao currículo de forma coerente e pedagógica, o que pode gerar insegurança e resistência à inovação. Programas de capacitação regulares, com foco no uso crítico e criativo das mídias digitais, são fundamentais para que o professor possa se sentir apoiado e motivado a repensar suas práticas. A formação, entretanto, não deve se limitar ao aspecto técnico, mas também precisa abordar questões éticas, culturais e sociais relacionadas à presença das tecnologias na educação.
Outro desafio que se impõe é a desigualdade no acesso às tecnologias. Embora os recursos digitais estejam cada vez mais presentes no cotidiano, a realidade de muitas comunidades escolares ainda é marcada pela falta de infraestrutura adequada, conexão à internet de qualidade e dispositivos disponíveis para todos os alunos. Esse cenário cria uma barreira significativa para a inclusão digital, reforçando desigualdades já existentes e limitando o alcance das propostas inovadoras. Para superar essa situação, é necessário que escolas, gestores e órgãos governamentais unam esforços para garantir condições mínimas de acesso, por meio de investimentos em equipamentos, melhoria da conectividade e implementação de políticas que visem a equidade no uso das tecnologias.
Além da questão do acesso, a adaptação das práticas escolares a um novo modelo educacional demanda tempo, planejamento e mudanças culturais profundas. Muitas instituições ainda funcionam com uma estrutura tradicional, na qual o professor é visto como a única fonte de conhecimento e o aluno ocupa uma posição passiva. A integração das mídias digitais exige uma ressignificação desse modelo, estimulando práticas participativas, interativas e colaborativas. Essa transição não acontece de forma imediata, pois envolve mudanças de mentalidade, revisão curricular e reorganização das rotinas escolares.
É imprescindível que políticas públicas e ações institucionais sejam fortalecidas para apoiar esse processo de transformação. Tais políticas devem contemplar não apenas a aquisição de equipamentos e recursos tecnológicos, mas também a valorização da inovação pedagógica e o incentivo à experimentação. A escola precisa ser um espaço que dialogue com as realidades e linguagens contemporâneas, acolhendo as vivências dos alunos e integrando saberes diversos. Esse diálogo favorece uma educação mais inclusiva, capaz de atender às demandas de um mundo globalizado, digital e em constante transformação.
O fortalecimento de uma cultura escolar voltada para o uso ético e responsável das mídias digitais também se mostra essencial. É necessário conscientizar professores e alunos sobre os riscos e as possibilidades presentes no ambiente virtual, promovendo práticas seguras e críticas. Essa abordagem contribui para o desenvolvimento da cidadania digital, preparando os estudantes não apenas para o mercado de trabalho, mas também para uma participação ativa e consciente na sociedade. Assim, a tecnologia passa a ser vista como uma ferramenta de empoderamento, capaz de ampliar horizontes e construir pontes entre diferentes contextos sociais e culturais.
A consolidação do uso das mídias digitais como recurso efetivo na construção do conhecimento exige compromisso coletivo. É preciso que todos os atores envolvidos — professores, gestores, estudantes, famílias e comunidade — atuem de forma integrada para promover mudanças reais no sistema educacional. Somente com diálogo, planejamento estratégico e investimento contínuo será possível criar uma educação que seja, ao mesmo tempo, crítica, equitativa e transformadora. Quando bem utilizadas, as tecnologias digitais se tornam aliadas na busca por uma escola mais democrática, que valoriza as potencialidades de cada aluno e contribui para a formação de indivíduos capazes de enfrentar os desafios do século XXI com autonomia, criatividade e responsabilidade.
Dessa forma, a utilização consciente e planejada das mídias digitais não se resume a uma tendência passageira, mas se estabelece como uma necessidade urgente diante das transformações sociais e tecnológicas da atualidade. A educação, enquanto processo em constante evolução, deve acompanhar essas mudanças, mantendo-se aberta à inovação e comprometida com a construção de uma sociedade mais justa, inclusiva e preparada para os desafios do futuro.
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1 Graduação em Ciências Biológicas- Licenciatura. Especialização em Psicopedagogia. Mestranda em Tecnologias Emergentes em Educação pela Must University. E-mail: [email protected]