HISTERIA NA MODERNIDADE: UMA ANÁLISE INTERDISCIPLINAR DAS SUAS MANIFESTAÇÕES

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10655800


Daniele Maria da Silva Tosatti¹


RESUMO
Este trabalho investiga a histeria ao longo da história, desde suas raízes mitológicas até suas manifestações contemporâneas na era digital. Associado inicialmente a participação supersticiosa, a histeria evoluiu para análise científica e psicológica, especialmente com as contribuições de Freud. A pesquisa destaca a relevância histórica e contemporânea da histeria, explorando seu impacto na percepção social e no tratamento ao longo do tempo.
Além disso, o estudo analisa a interseção entre história e cultura contemporânea, particularmente nas redes sociais. Com o surgimento das comunicações sociais, novas formas de expressão emocional e pressão social emergiram, levantando questões cruciais sobre saúde mental. O trabalho não busca esgotar o tema, mas oferece uma visão abrangente da história na atualidade, contribuindo para o entendimento psicológico e promovendo uma atuação mais abrangente no âmbito clínico e social. O método proposto envolveu uma revisão bibliográfica extensa, com abordagem nas obras fundamentais que moldaram a compreensão da histeria ao longo do tempo. A investigação histórica percorreu mitos antigos, conceitos medievais de possessão demoníaca, chegando à Revolução Freudiana, marcada pela transição da história de uma condição predominantemente física para uma compreensão mais aprofundada de seus componentes psicológicos. Foram examinados os impactos das teorias de Freud e a evolução do diagnóstico de histeria ao longo do século XX. Essa abordagem multidimensional proporcionou uma visão mais holística da histeria, não apenas como uma relíquia do passado, mas como uma entidade dinâmica que se adapta e se manifesta de maneiras singulares na era digital.
Palavras-chave: Histeria, História, Psicologia, Psicanálise.

ABSTRACT
This work investigates hysteria throughout history, from its mythological roots to its contemporary manifestations in the digital age. Initially associated with superstitious participation, hysteria evolved into scientific and psychological analysis, especially with the contributions of Freud. The research highlights the historical and contemporary relevance of hysteria, exploring its impact on social perception and treatment over time.
In addition, the study analyzes the intersection between history and contemporary culture, particularly on social media. With the emergence of social communications, new forms of emotional expression and social pressure have emerged, raising crucial questions about mental health. The work does not seek to exhaust the topic but offers a comprehensive view of history today, contributing to psychological understanding and promoting a more comprehensive approach in the clinical and social spheres. The proposed method involved extensive bibliographic review, with an approach to the fundamental works that shaped the understanding of hysteria over time. The historical investigation covered ancient myths, medieval concepts of demonic possession, and reached the Freudian Revolution, marked by the transition from a predominantly physical condition to a deeper understanding of its psychological components. The impacts of Freud's theories and the evolution of hysteria diagnosis throughout the 20th century were examined. This multidimensional approach provided a more holistic view of hysteria, not only as a relic of the past but as a dynamic entity that adapts and manifests itself in unique ways in the digital age.
Keywords: Hysteria, History, Psychology, Psychoanalysis

INTRODUÇÃO

Fingimento, teatro, simulação, falta do que fazer, fraude, fraqueza, fragilidade, loucura, possessão demoníaca. Esses são alguns dos nomes que eram insistentemente forjados às mulheres em intenso sofrimento psíquico e físico. Consideradas e interpretadas como mulheres insanas, misteriosas, que não sabem o que querem, a histeria historicamente foi se endereçando de diferentes formas e modos de subjetivação ao longo dessa jornada temporal. Sua etimologia vem da Grécia antiga em que a histeria era frequentemente relacionada ao útero (do grego "hystera" que significa útero). Os gregos acreditavam que a histeria era causada por um deslocamento ou movimento anormal do útero dentro do corpo, o que resultava em uma variedade de sintomas (BERCHERIE, 1989).

Durante a Idade Média, a histeria era frequentemente interpretada como possessão demoníaca ou resultado de feitiçaria (BERCHERIE, 1989). As mulheres que apresentavam os então sintomas histéricos eram muitas vezes submetidas a exorcismos. No período do Renascimento, começou a surgir uma compreensão mais racional desse processo envolvendo a história da histeria. Ou seja, ela era vista como uma condição médica relacionada a distúrbios emocionais e nervosos, embora as causas ainda não fossem bem compreendidas e analisadas por conta das lacunas em relação ao fenômeno ainda muito permeado de preconceito e violência em sua forma de “acolhimento e tratamento”.

No século XIX que foi possível testemunhar uma revisão de teorias sobre a histeria, graças às várias abordagens médicas para seu tratamento que iam surgindo e despertando a curiosidade do campo de pesquisa (BERCHERIE, 1989). Por essa via que, as ideias revolucionárias de Freud geraram apreensões na sociedade vitoriana, especialmente no que diz respeito às suas concepções sobre a sexualidade. Naquela época, o tema da sexualidade foi discutido de forma aberta. No entanto, apesar de não agradar a todos, os estudos de Freud foram reconhecidos como sendo de grande importância. Uma das principais contribuições de Freud foi desvincular a histeria da antiquada hipótese uterina, que se relacionava diretamente ao útero. Essa mudança permitiu uma abordagem mais abrangente da histeria, indo além das explicações puramente físicas (JANIK; TOULMIN, 1991; ROUDINESCO; PLON, 1998).

Foi assim que, Sigmund Freud, o pai da psicanálise, desempenhou um papel importante na compreensão dessa estrutura de funcionamento psicológico denominada na clínica psicanalítica de histeria. Freud (1893-1895/2016) argumentou que muitos casos de histeria foram enraizados em traumas psicológicos reprimidos em conflitos internos que obedeciam a três condições básicas: o infantil, o recalcado e o de natureza sexual.

Nesse caso, mesmo que rapidamente, vejamos cada um. O recalcado significa as

experiências traumáticas e os conflitos psicológicos reprimidos no decorrer da vivência do sujeito. Por isso que as suas discussões teóricas de que memórias relacionadas a eventos traumáticos e a desejos reprimidos, especialmente de natureza sexual, seriam armazenadas no inconsciente e teriam suas manifestações por maneiras específicas, por exemplo, mecanismos de defesa como a repressão, é uma forma pela qual o inconsciente utiliza para que se tenha a manutenção das memórias e desejos do sujeito de um modo que ele não se lembre daquilo exatamente, é um saber sem saber, pois está reprimido no inconsciente (FREUD, 1900/1996). Assim, a histeria era uma forma de lidar com a tensão entre o que estava reprimido e o que estava consciente. Logo, quando essas memórias e desejos recalcados não podem ser expressos deliberadamente, eles encontram uma via de se manifestar por sintomas físicos e psicológicos (FREUD, 1893-1895/2016).

Daí o extenso desenvolvimento a respeito dos “Três ensaios sobre a Teoria da Sexualidade Infantil” (1901-1905) para encontrar respostas chaves acerca dos fenômenos psíquicos que adentravam a clínica. O infantil constitui a reorganização de Freud sobre o complexo de Édipo, que passou a desempenhar um papel importante na compreensão da histeria. Os conflitos edipianos não resolvidos, especialmente entre os pais/cuidadores mais diretos e filhos, de caráter sexual e emocional, desempenharam um papel importante na gênese da histeria com materiais significativos para o esclarecimento dos sintomas de histeria na idade adulta, já que eles eram frequentemente reprimidos e contribuem para esses sintomas. Quer dizer, conforme Freud (1893-1895/2016), os conflitos inconscientes vividos no interior da dinâmica familiar inauguraram a manifestação histérica e também remeteram para a constituição da sexualidade infantil bem como a internalização dos principais tabus para a vida em sociedade.

Certamente, o modelo de tratamento da histeria, desenvolvido por Freud por meio da técnica da psicanálise, representou uma ruptura significativa em relação aos métodos médicos convencionais da época, que eram predominantemente focados na observação direta e no tratamento físico. Antes de Freud, abordagens médicas para tratar a histeria envolviam práticas como hipnose e intervenções físicas.

A inovação de Freud consistiu em deslocar a atenção do corpo para a mente, afastando-se do olhar, toque e exame físico para adotar a escuta ativa dos processos simbólicos e linguísticos dos pacientes. Ele propôs que os sintomas histéricos eram expressões simbólicas de conflitos inconscientes e que a chave para a cura residia na exploração desses conteúdos psíquicos.

A técnica psicanalítica priorizou a comunicação verbal, encorajando os pacientes a expressarem livremente seus pensamentos, emoções e memórias. Ao analisar essas verbalizações, Freud acreditava ser possível identificar os elementos inconscientes que desempenhavam um papel central nos sintomas apresentados. Essa mudança de paradigma, da abordagem médica e anatomoclínica para a exploração profunda da psique por meio da linguagem, marcou uma transformação crucial no entendimento e tratamento da histeria e influenciou profundamente a evolução da psicanálise como uma disciplina terapêutica.

Com o famigerado convite para falar livremente sobre seus pensamentos, sentimentos e experiências, tudo o que vem à cabeça, o autor cunha o termo de associação livre, e sua esperança era a de que essa técnica pudesse trazer a revelação dos conflitos reprimidos, as memórias e os desejos inconscientes, permitindo que o paciente trabalhasse com eles e, assim, aliviasse os seus sintomas e pudesse ressignificar sua narrativa e sensação em relação ao próprio sofrimento.

Em outras palavras, a transformação de seu método de escuta das pacientes ofertou um estilo de terapia analítica para tratar a histeria que se organizava pela cura através das palavras ou da fala. Nascia a psicanálise. A observação freudiana era de que assim como a química medicamentosa, a palavra tem um efeito tão potente ou maior no funcionamento do corpo, nas ações, sentimentos e pensamentos. Com isso, nas entradas do século XX, à medida que a psicologia e a psiquiatria avançavam em suas conquistas, a condição de histeria passou a ser inserida ou reformulada em categorias mais amplas de transtornos mentais. O termo histeria foi gradualmente sendo substituído por diagnósticos mais específicos, como transtorno de conversão, transtorno somatoforme e transtorno de somatização os quais, basicamente, configuram: paralisias inexplicáveis, cegueira histérica, desmaios e outros sintomas somáticos que não podiam ser explicados por causas médicas naquela época. Tais sintomas eram expressões simbólicas de conflitos inconscientes e frequentemente tinham uma base psicológica, muitas vezes relacionada a questões sexuais reprimidas (FREUD, 1893-1895/2016).

A compreensão moderna da histeria enfatiza fatores psicológicos e sociais na gênese de sintomas somáticos. Portanto, ao longo do tempo, a compreensão da histeria evoluiu de explicação básica na mitologia, superstições e crendices para abordagens mais científicas e psicológicas, à medida que o conhecimento médico e psicológico também foram se aperfeiçoando e progredindo.

Este trabalho tem o objetivo de compreender o fenômeno da histeria para psicologia, bem como sua constituição ao longo da história. Entender as suas origens, a evolução conceitual, as manifestações clínicas e o impacto na sociedade e na cultura contemporânea e compreender os impactos na saúde mental dos sujeitos e como este tema está mais atual e presente no papel do Psicólogo, havendo a possibilidade de uma atuação mais qualificada, para um melhor atendimento prestado a essa população é uma oportunidade para reflexão,

Além disso, como objetivo específico o trabalho busca analisar a relação entre histeria e cultura contemporânea com vistas a entender como a histeria se manifesta na atualidade da cultura digital por meio das redes sociais e avaliar como o uso excessivo das redes sociais e da busca por validação online contribuem para a manifestação da histeria.

Para isso, como metodologia foi realizada uma revisão bibliográfica sobre a história da histeria, suas principais teorias, conceitos e transformações ao longo do tempo. É importante dizer que a pesquisa sobre histeria não somente destaca sua relevância histórica e contemporânea como abre novas discussões no campo da saúde mental e da sociedade em geral, a histeria tem sido uma condição complexa e muitas vezes incompreendida ao longo da história, influenciando a forma como as pessoas são percebidas, renovadas e tratadas.

Junto disso, o impacto da histeria nas redes sociais e na cultura digital contemporânea trouxe à tona novos desafios para a compreensão e o tratamento dessa condição. Com o advento das mídias sociais, as pessoas encontraram novas maneiras de expressar suas emoções e experiências, mas também estão sujeitas às formas de pressão social e busca por validação online. Isso levanta questões sobre a saúde mental e a necessidade de compreender como a histeria se manifesta nesse contexto.

É importante ressaltar que este estudo não pretende esgotar o tema, mas sim fornecer uma visão acerca da histeria na contemporaneidade. Enfatizar suas formas de manifestação na atualidade, tornou-se uma questão de interesse devido às experiências clínicas realizadas e aos estudos teóricos em psicanálise. Além de pensar em uma contribuição no âmbito das questões ligadas à histeria, no campo da Psicologia e no contexto acadêmico, o que indica a relevância social desta pesquisa para esse grupo e aos que com ele convivem.

2. METODOLOGIA

A revisão bibliográfica de acordo com Minayo (2001) é uma etapa fundamental na pesquisa qualitativa, que ajuda os pesquisadores a situar seu trabalho no contexto do conhecimento existente, a identificar lacunas, a definir abordagens metodológicas e a embasar teoricamente sua investigação. Enfatiza-se, assim, a importância de realizar uma revisão criteriosa e crítica da literatura para que a pesquisa qualitativa seja bem fundamentada. Entende-se pesquisa como um processo no qual o pesquisador tem “uma atitude e uma prática teórica de constante busca que define um processo intrinsecamente inacabado e permanente”, pois realiza uma atividade de aproximações sucessivas da realidade, sendo que esta apresenta “uma carga histórica” e reflete posições frente à realidade (MINAYO, 1994, p.23).

Minayo (2001) ressalta a importância de uma abordagem multidisciplinar na pesquisa, por exemplo, com temas em saúde, não se restringindo apenas aos aspectos clínicos, mas também os sociais, culturais e psicológicos envolvidos em qualquer condição de saúde. Nesse sentido, investigar a história da histeria requer uma análise abrangente que leve em consideração não apenas os aspectos médicos, já que não é o nosso foco, mas, fundamentalmente, os fatores psicológicos, sociais e culturais que podem influenciar a manifestação e tratamento do objeto de discussão, a histeria.

De acordo com Minayo (2001), um processo de pesquisa envolve três etapas distintas, são elas: a) Fase Exploratória: nesta fase, o foco está na maturação do objeto de estudo, bem como na definição precisa do problema de pesquisa. b) Fase de Coleta de Dados: durante essa etapa, o pesquisador se dedica à reunião de informações que visam responder ao problema de pesquisa estabelecido. c) Fase de Análise de Dados: é a fase na qual os dados coletados são submetidos a um tratamento que envolve inferências e interpretações, com o intuito de extrair conhecimento relevante.

Conforme destacado por Minayo (2001), a análise de dados tem como propósito primordial aprofundar a compreensão do material coletado. Nesse processo, busca-se a confirmação ou refutação das premissas da pesquisa, bem como a expansão do entendimento dos contextos para além daquilo que pode ser observado superficialmente no fenômeno. Por isso, para Minayo (2001) devemos descrever com clareza como os dados serão organizados e analisados. Por exemplo, as análises de conteúdo, de discurso, ou análise e interpretação de dados e cada uma dessas modalidades preconiza um tratamento diferenciado para a organização e sistematização dos dados.

Tudo isso envolve o desdobramento de outros fatores para que a pesquisa possa ser organizada dentro de uma sistematização, tal como a organização lógica através da qual os dados devem ser apresentados em uma sequência lógica que permita uma compreensão clara do desenvolvimento do estudo. O detalhamento é fundamental para fornecer pontos específicos sobre os dados, incluindo informações relevantes, como datas, locais, características dos participantes, etc. A citação de exemplos concretos do material coletado para ilustrar conceitos ou resultados é também um elemento que fortalece a discussão dos dados. Nesse sentido, a contextualização visa descrever a partir do que e como os dados foram coletados, fornecendo informações sobre o ambiente, as circunstâncias e as condições que podem afetar a sua interpretação, evitando generalizações precipitadas (MINAYO, 2001).

Na análise do discurso segundo Minayo (2001) seu objetivo básico é realizar uma reflexão geral sobre as condições de produção e apreensão da significação de textos produzidos nos mais diferentes campos de modo a compreender seu funcionamento, os princípios de organização e as formas de produção de seus sentidos.

Suas técnicas visam inferir, a partir dos efeitos de superfície (a linguagem e sua organização), uma estrutura profunda: os processos de sua produção, a análise de discurso procura entender o sentido dado pelo sujeito às palavras e não a seu conteúdo transparente e simples (Caregnato e Mutti, 2006).

Minayo (2001) enfatiza a importância da sensibilidade do pesquisador ao contexto e à linguagem, buscando ir além das palavras para entender as nuances do discurso. A análise do discurso é uma ferramenta valiosa na pesquisa qualitativa, especialmente quando se trata de compreender como as pessoas expressam suas experiências, percepções e significados através da linguagem. Ela parte do pressuposto que a linguagem está condicionada pelas estruturas macrossociais e, ao mesmo tempo, esta condiciona estas estruturas, ou seja, o discurso é determinado por condições de produção e por um sistema linguístico.

Na análise de discurso visa-se conhecer as construções ideológicas do texto, ou seja, quais ideologias estão por trás das falas dos interlocutores. Além disso, a pesquisa bibliográfica vem contribuir de uma forma confiável para se pensar na atuação do psicólogo na formação de profissionais da área clínica, entende-se ainda a importância da pesquisa como um processo de investigação, para solucionar, responder ou aprofundar sobre um questionamento no estudo de certo fenômeno.

Para Gil (2002) a pesquisa bibliográfica deve realizar uma síntese do conhecimento existente integrando as informações obtidas com o desenvolvimento em curso da pesquisa, para assim destacar um fenômeno mais abrangente. Além disso, Gil (2002) diz que: “A pesquisa é requerida quando não se dispõe de informação suficiente para responder o problema, ou então quando a informação disponível se encontra em tal estado de desordem que não pode ser adequadamente relacionada ao problema” (p.17).

Para Andrade (2010, p. 25):

A pesquisa bibliográfica é habilidade fundamental nos cursos de graduação, uma vez que constitui o primeiro passo para todas as atividades acadêmicas. Uma pesquisa de laboratório ou de campo implica, necessariamente, a pesquisa bibliográfica preliminar. Seminários, painéis, debates, resumos críticos, monográficas não dispensam a pesquisa bibliográfica. Ela é obrigatória nas pesquisas exploratórias, na delimitação do tema de um trabalho ou pesquisa, no desenvolvimento do assunto, nas citações, na apresentação das conclusões. Portanto, se é verdade que nem todos os alunos realizaram pesquisas de laboratório ou de campo, não é menos verdadeiro que todos, sem exceção, para elaborar os diversos trabalhos solicitados, deverão empreender pesquisas bibliográficas (ANDRADE, 2010, p.25).

Portanto, a pesquisa bibliográfica é uma etapa fundamental em todo trabalho científico que influenciará todas as demais de uma pesquisa, na medida em que der o embasamento teórico em que se estrutura o trabalho. Consistem no levantamento, seleção, fichamento e arquivamento de informações relacionadas à pesquisa. Entende-se ainda a importância dessa pesquisa como um processo de investigação para discutir e esclarecer ou possivelmente aprofundar sobre um questionamento no estudo da histeria.

Para encontrar material de pesquisa para o presente trabalho, ter um histórico sobre o tema e fazer uma atualização sobre o mesmo, bem como encontrar respostas para os problemas formulados, realizou-se uma revisão da literatura científica com a busca de documentos digitais em base de dados que trouxesse as seguintes temáticas: histeria, história da histeria, psicossomática, psicanálise, subjetividade, corpo, dor crônica. O objetivo principal foi o de compreender sobre o fenômeno da histeria para psicologia, bem como sua constituição ao longo da história. Entender suas origens, evolução conceitual, manifestações clínicas e o seu impacto na sociedade e na cultura contemporânea. Além disso, discutir a relação entre histeria e cultura contemporânea com vistas a entender como a histeria se manifesta na atualidade da cultura digital por meio das redes sociais e avaliar como o uso excessivo das redes sociais e da busca por validação online contribuem para a manifestação da histeria.

O levantamento sistemático de dados ocorreu a partir das bases Scientific Electronic Library Online (SCIELO), o Medline, que compila pesquisas da National Library of Medicine, Google Acadêmico, Portal de Periódicos da CAPES. Foram utilizados alguns livros concentrados nos temas sobre a histeria, psicanálise, e corpo. Artigos científicos de periódicos acessados nas bases de dados publicados nos últimos 10 anos, entre 2013 a 2023, com foco em estudos que discutiram a relação entre dor crônica e histeria na modernidade, considerando elementos psicossomáticos sob a égide da psicanálise. As combinações para os termos de busca foram: histeria OR dor crônica AND psicanálise; histeria OR psicossomática AND psicanálise; histeria AND história; histeria AND corpo AND psicanálise; histeria AND redes sociais. Os descritores usados foram os seguintes: Histeria, história, psicanálise, corpo, dor, redes sociais.

Os critérios de inclusão se deram pela seleção de trabalhos em língua portuguesa, para garantir a compreensão e acessibilidade dos resultados. Além disso, foi essencial que os estudos tivessem uma base na área da psicologia. Nos Critérios de Exclusão, portanto, foram os dados fora do intervalo ou do período de tempo especificado e que não trouxessem a discussão psicanalítica da histeria e sua relação na modernidade. A partir dos artigos selecionados, foram feitas análises temáticas a fim de identificar os principais elementos que estivessem minimamente em consonância e relevância com o contexto e com os objetivos da presente pesquisa, aplicamos os critérios para a seleção e a avaliação dos artigos disponíveis na literatura.

No processo de análise dos dados obtidos, adotamos uma abordagem quantitativa, que tinha o objetivo de fornecer informações quantitativas sobre o número de artigos identificados, os descritores utilizados e as plataformas científicas usadas na seleção. Além disso, esta análise quantitativa também abordou a metodologia geral dos estudos. Esta análise qualitativa foi conduzida com base no referencial teórico da Psicanálise permitindo-nos contextualizar e interpretar os resultados à luz deste enquadramento teórico. Assim, apresentaremos a análise e resultados mais significativos dos estudos escolhidos.

CAPÍTULO 1: HISTERIA E HISTÓRIA: DA POSSESSÃO DEMONÍACA A UMA EXPRESSÃO DE LINGUAGEM E SOFRIMENTO

1.1 Breves aspectos socioculturais relacionados à histeria ao longo do tempo

Para uma compreensão contemporânea da histeria no século XXI, o ideal e essencial seria traçar a evolução das percepções e concepções ao longo da história. Mas este item do capítulo tenta oferecer uma análise bem sucinta da trajetória desse fenômeno ao longo do tempo, explorando as interpretações de alguns autores em relação à condição histórica nos dias atuais. Sabemos que para uma melhor compreensão da evolução desse tema seria necessária executar uma implicação de grande contextualização em cada período histórico, abrangendo desde a Grécia Antiga até a Idade Média, adentrando no século XIX com o renomado estudioso da histeria, Charcot, e culminando nas contribuições de Freud, para, por fim, alcançar uma visão contemporânea sobre a histeria. No entanto, dado os limites e a impossibilidade de esgotar a temática, dialogamos e examinamos as perspectivas dos autores clássicos e atuais e, finalmente, destacamos as interpretações atuais dessa condição.

Dito isto, o termo "histeria" já era utilizado antes do desenvolvimento da psicanálise, em um contexto não relacionado à análise psicológica. Na sua origem, a palavra estava associada ao útero (hystera). Hipócrates (460-377 a.C) foi um dos primeiros a considerar a histeria como uma condição que afetava exclusivamente mulheres. Na época, acreditava-se que essa patologia se originava no útero e se manifestava no corpo, causando sensações de "nós", "engasgos" e "sufocamentos", era dada uma atribuição de autonomia ao útero. Nessa visão, o útero era considerado um pequeno ser com vontade própria, capaz de se deslocar dentro do corpo. Dependendo de onde esse "serzinho" se alojasse e do órgão que ele pressionava, surgiam sintomas histéricos como desmaios, catalepsia e dificuldades respiratórias. (ROUDINESCO; PLON, 1998).

Com base nas premissas de Hipócrates, Platão (427-327 a.C) concluiu que essas manifestações eram apenas uma forma de o útero sinalizar a necessidade de relações sexuais após um longo período de esterilidade ou abstinência, algo semelhante ao que a medicina romana de Sorano e Galeno concluiam sobre a histeria que se manifestava especialmente em mulheres que experimentaram abstinência sexual. A histeria era associada ao desequilíbrio dos humores corporais, sendo vista como uma enfermidade relacionada à bile negra e outros elementos fisiológicos. As explicações para a histeria eram frequentemente ancoradas em concepções mitológicas, onde a doença era atribuída a influências divinas ou à possibilidade de possessão por espíritos malignos.

De acordo com essa crença, a solução para reverter esses sintomas era a gravidez, o ato sexual ou, em algumas circunstâncias, a recomendação de atividades manuais. (ROUDINESCO; PLON, 1998). Essas concepções antigas sobre a histeria refletem a compreensão limitada e estereotipada da condição daquela época. O conhecimento médico e científico da antiguidade tende a atribuir os sintomas da histeria exclusivamente às mulheres e vinculá-los a questões relacionadas à função reprodutiva (BERCHERIE, 1989).

Contudo, na Idade Média, essas noções médicas foram relegadas ao esquecimento. A mulher histérica passou a ser vista simplesmente como alguém possuído pelo demônio. Nessa perspectiva, o exorcismo ou, no caso de mulheres condenadas por bruxaria, até mesmo a pena de morte eram tidos como soluções, com as atenções voltadas para a intervenção dos líderes religiosos. Os sintomas da histeria vinculada ao útero começaram a enfraquecer durante a Idade Média, devido à enorme influência e poder da Igreja naquela época. A Igreja justificou os sintomas histéricos usando uma abordagem religiosa, atribuindo-os à ação do diabo que supostamente possuía o corpo de mulheres consideradas pecadoras e feiticeiras. Consequentemente, essas mulheres eram punidas por comportamentos que divergiam das orientações religiosas, associando a histeria a más condutas e falta de religiosidade (LE GOFF E TRUONG, 1924).

Para os médicos da antiguidade”, escreve o grande historiador do Pensamento médico Mirko D. Grmek, “todas as doenças eram somáticas. As doenças da alma não passavam, para eles, de invenção dos moralistas. O resultado dessa tomada de posição era a divisão do campo das doenças psíquicas entre os médicos e os filósofos. Mas para o homem da Idade Média, tanto nas civilizações cristãs quanto no mundo islâmico, não era possível separar os acontecimentos corporais de sua significação espiritual. Concebia-se a relação entre a alma e o corpo de uma maneira tão estreita e imbricada que a doença era necessariamente uma entidade psicossomática.” Por essa razão, a maior parte dos milagres atribuídos aos santos são milagres de cura (LE, GOFF E TRUONG, 1924, p.108).

Como exposto, na Idade Média, a histeria foi amplamente interpretada sob a ótica religiosa e demonológica. Tal condição era frequentemente ligada à noção de possessão demoníaca vista como um sinal de impureza ou pecado. Mulheres que apresentavam sintomas histéricos muitas vezes eram rotuladas como bruxas ou indivíduos possuídos pelo mal, sendo submetidas a rituais de exorcismo e sujeitas a punições rigorosas. Essas interpretações estigmatizantes da histeria contribuíram para a marginalização e perseguição das pessoas afetadas, agravando o sofrimento tanto emocional quanto físico associado ao transtorno (MOLINA, 2011).

No contexto do Renascimento, as mulheres histéricas enfrentaram punições diversas, incluindo a terrível prática de queima em fogueiras da Inquisição, como uma forma de coibir comportamentos respeitados diferentes ou pecaminosos pela Igreja. A partir do final do século XVII, na Europa Ocidental, a histeria voltou a ser debatida como uma condição que imitava outras doenças, as quais não podiam ser plenamente compreendidas ou toleradas naquela época. No entanto, mesmo com a crescente busca por inspiração para o sofrimento associado à histeria, as abordagens tradicionais não eram suficientes para compreender completamente essa condição. Assim, as justificativas relacionadas ao útero ressurgiram como uma tentativa de explicar a histeria (KAUFMANN, 1996).

Assim, no século XVII, os profissionais médicos reassumem a discussão sobre a histeria, e muitas ideias da antiguidade são retomadas após a tradução de obras gregas no período pós-renascença. Uma dessas concepções resgatadas é a noção de que vapores circulam dentro do corpo humano, não mais pelos vasos sanguíneos como anteriormente acreditado antes da compreensão da circulação sanguínea, mas sim através dos nervos. Estes vapores, influenciados pela fermentação corporal, teriam um impacto direto na saúde. Nesse contexto, sugere-se que os fermentos do esperma, tanto feminino quanto masculino, liberariam os vapores histéricos, sendo que somente os vapores femininos chegariam ao cérebro. Essa teoria abandona a concepção exclusiva do útero como causa da doença, introduzindo o cérebro como novo elemento na explicação (MOLINA, 2011).

No século XVIII, a origem das "doenças dos nervos" se fixa no cérebro. E Franz Anton Mesmer, médico alemão, mexe com a imaginação da Europa ao apresentar os poderes do "magnetismo animal". A ideia é que Mesmer possuía em seu corpo um magnetismo especial, oriundo de sua conexão com os ritmos da natureza e do universo. Portador e transmissor desse magnetismo, Mesmer declarava-se capaz de alterar estados histéricos ao tocar as pacientes.

Essas mudanças históricas evidenciam a evolução das compreensões sobre a histeria, influenciadas pela Igreja e suas crenças religiosas, e refletem os desafios enfrentados para entender essa condição complexa e tentar exercer controle de fenômenos desconhecidos. Como assinala Herculano-Houzel (2014), essas variações nas concepções sobre a histeria ao longo do tempo refletem as perspectivas culturais e sociais dominantes em cada época, demonstrando a complexidade das interações entre crenças médicas, culturais e religiosas nas civilizações antigas. Com o tempo, a psicanálise, desenvolvida por Sigmund Freud e outros, abre novas perspectivas para a compreensão da histeria, desvendando sua natureza psicológica e confiante para uma abordagem mais abrangente e menos estigmatizada. Ainda no século XVII, a histeria começou a ser mais estudada pela medicina e recebeu maior atenção científica.

O médico francês Jean-Martin Charcot, no final do século XIX, desempenhou um papel fundamental no estudo da histeria. Com sua habilidosa técnica de hipnotizar pacientes, ele observou, demonstrou e documentou, a partir de meados do século XIX, casos de mulheres histéricas no Hospital Salpêtrière, em Paris, e desenvolveu técnicas de hipnose para a possibilidade de aliviar os sintomas histéricos e tratá-los (KAUFMANN, 1996). Sua abordagem buscava, inicialmente, descobrir uma origem orgânica para a histeria, o que levou ao estudo e tratamento dessas manifestações por meio da hipnose (ROUDINESCO; PLON, 1998).

No século XIX, conhecido como a Era Vitoriana (1837-1901), foi marcado pelo reinado da Rainha Vitória no Reino Unido e testemunhou a consolidação da Revolução Industrial, bem como a publicação do livro de Charles Darwin (1809-1882) sobre A Origem das Espécies. Embora o poder supremo fosse representado por uma mulher, a Rainha Vitória, os papéis de homens e mulheres eram rigidamente definidos na sociedade.

Durante esse período, de acordo com Janik e Toulmin (1991), os papéis do gênero foram altamente estratificados. A mulher era submissa e confinada ao ambiente doméstico. Os homens exercem domínio e superioridade na sociedade, inclusive dentro das próprias famílias. Os homens deveriam se dedicar aos negócios e, encorajados a se casar somente aos 25 ou 26 anos de idade, e isso muitas vezes envolvia a necessidade de adquirir dotes financeiros para o casamento. Para satisfazer suas necessidades sexuais, os homens tinham a opção de procurar uma prostituta - uma prática socialmente aceita em contraste com a situação das mulheres. As mulheres, por sua vez, eram ensinadas a se abster de relações sexuais até o casamento, o que limitava significativamente suas experiências afetivas e sexuais (JANIK; TOULMIN, 1991).

Cabe ressaltar que nesses períodos históricos, os pais e os irmãos exerciam um domínio e uma posição de superioridade sobre as mulheres. Nas sociedades antigas, a principal expectativa em relação às mulheres era que elas buscassem a comodidade financeira através do casamento, sendo comum a ocorrência de casamentos entre homens mais velhos e mulheres jovens. Para essas mulheres, a sociedade esperava que fossem excelentes mães e donas de casa (MOLINA, 2011). Essa proteção nos papéis de gênero e nas expectativas sociais moldou a vida das pessoas, especialmente durante a Era Vitoriana, refletindo os valores e normas da época. No entanto, com o passar do tempo, o cenário social evoluiu e novas perspectivas inspiradas, abrindo caminho para mudanças nos padrões de comportamento e nas relações de gênero ao longo dos séculos seguintes.

Durante a Era Vitoriana, período no qual a teoria psicanalítica fora se desenvolvendo, o padrão estético amplamente valorizado era definido pela população branca e incluía características como magreza e palidez. Para alcançar esses ideais de beleza, as pessoas utilizam diversos elementos como chapéus, saias largas e espartilhos. No entanto, a sociedade vitoriana era caracterizada por uma visão de gênero altamente desigual. As mulheres eram consideradas intelectualmente inferiores e tinham poucas oportunidades de progredir em suas carreiras e estudos. Suas vidas eram predominantemente centradas na família e nas responsabilidades domésticas. Durante essa época, a legislação civil impunha às mulheres uma completa submissão aos homens, tanto em suas vidas pessoais, no ambiente doméstico e em relação aos filhos. Como resultado, elas não possuíam direitos legalmente reconhecidos pela sociedade civil (MOLINA, 2011).

A mulher vitoriana esperava cumprir seu papel de esposa e mãe, sendo relegada a um espaço limitado dentro da esfera doméstica. As expectativas sociais colocavam restrições emocionais às mulheres. Essas normas sociais restritivas eram uma característica proeminente da sociedade vitoriana, mas com o tempo, o movimento pelos direitos das mulheres e outras mudanças sociais exigiam desafiar e transformar essas estruturas rígidas, abrindo caminho para uma maior igualdade de gênero e oportunidades para as mulheres, (ZOLIN, 2003).

Estudo da histeria e suas origens psíquicas

Como é possível identificar, a forma de visualizar o sofrimento do corpo feminino passou por grandes modificações, e isso se deve muito à forma do discurso, à maneira de falar e especialmente ao espaço diferenciado ofertado para que essa desmaterialização sintomática pudesse ocorrer sem prejuízos ou censuras. Supõe-se, desse modo, que desde o período em que Freud iniciou seus estudos e tratamentos da histeria, no final do século XIX, os discursos predominantemente presentes na cultura passaram por modificações. Considerando que a mudança é uma característica intrínseca do progresso, no sentido de evolução ao longo do tempo, os sintomas podem ter adquirido novos significados ou até mesmo se manifestado de modos diferentes. É plausível que a histeria, enquanto manifestação social, possa não ser mais reconhecida da mesma forma que o era no passado, já que a maneira de escutá-la se alterou. Entretanto, ao contrário do que frequentemente se afirma sobre seu desaparecimento, evidências sugerem que ela continua a se manifestar e, claro, de outros modos, como sentenciam Melman (2003) e Quinet (2005).

O psicanalista lacaniano francês, Melman (2003), argumenta que a histeria mantém seu espaço clínico relevante, conforme é detalhado em seu trabalho "Novas Manifestações Clínicas no Início do Terceiro Milênio". Além da histeria, Melman também destacou a depressão, as dependências químicas, toxicomanias e as psicoses como questões clínicas contemporâneas igualmente pertinentes. Nesse contexto, Quinet (2005) compartilha dessa visão ao sugerir que, embora tenha sido relegado a um segundo plano nas abordagens psiquiátricas convencionais, a histeria ressurge no cenário cotidiano por meio de várias manifestações distintas, revelando-se através de múltiplas perspectivas.

Além disso, é importante enfatizar que, por perdurar na contemporaneidade, o tema da histeria mantém uma notável significância, relevância e suas manifestações evoluíram em resposta às mudanças culturais desde a fundação da psicanálise até os dias de hoje. Compreender essa trajetória permitirá estabelecer conexões essenciais com os conceitos pioneiros propostos por Sigmund Freud, amplamente reconhecido como o Pai da Psicanálise.

O contexto histórico mostra que nem sempre a histeria foi abordada com uma visão predominante de cuidado e tratamento humano. No século XIX, esse distúrbio foi motivo de grande inquietação. Naquela época, tanto a maioria das pessoas quanto os profissionais de saúde tendiam a enxergar os sintomas histéricos apenas como simulações ou exageros por parte das mulheres que os apresentavam. Esse estigma e credibilidade em relação à histeria persistem ainda nos dias atuais, apesar dos avanços sociais e científicos. Inicialmente, foi o trabalho de Freud e sua colaboração com Charcot que ajudou na identificação da histeria como um distúrbio legítimo, merecendo assim atenção médica e pesquisas no campo. Isso representa uma mudança significativa, uma vez que, anteriormente, essa condição psíquica era frequentemente desacreditada e confundida com fraude, encenação teatral, ou até mesmo considerada uma manifestação de possessão demoníaca, entre outras interpretações errôneas como apresentamos no início do trabalho.

Dessa forma, nossa discussão e diálogo aqui busca não apenas traçar parte da evolução das manifestações da histeria, mas também estabelecer uma ponte entre os conceitos fundamentais propostos por Freud e as perspicazes percepções oferecidas por autores diversos, permitindo uma análise mais contextualizada e reconfortante da histeria ao longo do tempo. Essa jornada nos permite entender como a histeria continua a se manifestar e evoluir em resposta às transformações culturais, modulando os comportamentos e características das relações e modos de subjetivação, isto fornece insights profundos sobre a mente humana e a sociedade em que vivemos, em consonância a isso, temos a seguinte consideração:

É pela inauguração de um novo estatuto do corpo que nasce a psicanálise. Freud, ao se distanciar da organicidade pela qual se explicava os fenômenos do corpo, introduz a vigência de um corpo pulsional, que dá à luz o psiquismo, revestido pela sexualidade. Ao ouvir as histéricas, Freud pôde observar uma estreita articulação no sintoma que se faz diálogo, de onde sobressai um conflito inconsciente, endereçado a um desejo de ordem sexual. Freud dá ao corpo o lugar de palco, que encena, por meio do sintoma, uma linguagem da ordem do inconsciente. Este corpo é abordado pela sua anatomia imaginária, localizada no âmbito da linguagem enquanto constituição fantasmática (LAZZARINI, 2006; VIANA, 2006; LINDENMEYER, 2015).

Para somar a essa discussão, com Freud (1893-1895/2016) a histeria poderia ser definida como a condição em que uma oportunidade de excitação sexual despertasse sentimentos predominantemente ou exclusivamente desprazerosos em uma pessoa, independentemente de ela ser capaz ou não de produzir sintomas somáticos. Essa visão ampliou a compreensão da histeria, destacando o papel dos aspectos emocionais e psicológicos no desenvolvimento dos sintomas.

Nesse contexto, Freud atribui ao corpo o papel central, transformando-o em um palco onde se desenrola, por meio dos sintomas, uma linguagem que pertence à esfera do inconsciente. Este corpo é analisado sob a perspectiva de sua anatomia imaginária, situada no domínio da linguagem enquanto construção fantasiosa. Esse fenômeno psicológico destaca a inauguração de um novo estatuto do corpo e também a inauguração da teoria psicanalítica. Como exposto na citação, Freud introduziu a ideia de um corpo pulsional que dá origem ao psiquismo, revestido pela sexualidade, ao se afastar da organicidade que explicava os fenômenos do corpo ao ouvir suas pacientes.

Logo, a técnica para fazer o paciente falar era através da utilização da hipnose, por meio da qual o paciente recordava e reproduzia a experiência traumática. A experiência histérica, segundo Freud (ano/2016), consistia em doses de excitação que não haviam sido descarregadas adequadamente. Posteriormente, Freud substituiu a hipnose pelo método da associação livre, em que o paciente era encorajado a falar livremente sobre tudo o que lhe viesse à mente. Nesse novo enfoque, a escuta do paciente e o discurso passaram a ser elementos cruciais no processo de cura dos sintomas histéricos. Essa mudança permitiu uma abordagem mais profunda e ampla do inconsciente, desvendando as raízes psicológicas dos sintomas e contribuindo para o desenvolvimento da psicanálise como uma importante ferramenta terapêutica.

Ao valorizar e escutar as mulheres histéricas, Freud deu início a uma abordagem terapêutica que considerava a subjetividade e as vivências individuais das pacientes. Ele rompeu com a visão reducionista que associava os sintomas da histeria a uma mera simulação ou fraqueza feminina. Em vez disso, buscou entender a origem desses sintomas e como eles se relacionavam com a história de vida e as experiências emocionais das pacientes.

Essa abordagem abriu caminho para uma compreensão mais profunda da histeria e contribuiu para a construção da psicanálise como uma disciplina que se preocupava com a singularidade de cada indivíduo. A escuta atenta e empática de Freud permitiu que as mulheres histéricas encontrassem uma voz e um espaço para expressar seus sofrimentos e conflitos internos, proporcionando uma abordagem terapêutica mais humanizada e centrada no sujeito. Portanto, ao ouvir e acolher as mulheres de carne e osso, Freud possibilitou uma nova perspectiva sobre a histeria e a psicologia humana como um todo, marcando um ponto de virada na história da psicanálise e da compreensão da mente humana.

Em outros termos, Freud, ao se distanciar da visão puramente orgânica que explicava os fenômenos do corpo, introduz a ideia de um corpo pulsional, o qual dá à luz o psiquismo, revestindo-o com a complexidade da sexualidade humana. Ao escutar atentamente as histórias das histéricas, Freud foi capaz de observar uma estreita articulação no sintoma que se transforma em diálogo, de onde emerge um conflito inconsciente, profundamente ligado a desejos de natureza sexual. O psicanalista passou a entender que os traumas não necessariamente tinham origem física, mas sim psíquica. Ele percebeu que os sintomas histéricos poderiam ser resultantes de fantasias e desejos inconscientes, em vez de experiências reais de sedução ou abuso. Essa mudança de perspectiva levou ao desenvolvimento da teoria psicanalítica, na qual a sexualidade é entendida como uma força poderosa e complexa, moldada por impulsos e desejos inconscientes.

Assim, a análise da histeria e suas concepções avançam para o fato de que seus sintomas são expressões simbólicas de conflitos e desejos inconscientes, representando uma transformação significativa na forma como Freud compreendia a mente humana e a origem dos sofrimentos psicológicos. Essa nova abordagem abriu caminho para o desenvolvimento da psicanálise como uma ciência do inconsciente e da subjetividade, ampliando nossa compreensão da complexidade da mente humana. É importante destacar que os casos de histeria investigados por Freud eram predominantemente relatados por mulheres. Para Freud, a moral que prevalecia na sociedade daquela época era a origem de muitas doenças neuróticas (BOCCA, 2011).

A repressão dos desejos e a impossibilidade de sua expressão direta, de acordo com Freud (1908/2015) em “a moral sexual “cultural” e o nervosismo moderno” levavam a uma construção inconsciente de fantasias e símbolos, que encontraram a expressão nos sintomas neuróticos. O estudo da histeria, com suas origens psíquicas, ajudou no desenvolvimento da teoria do inconsciente e a compreender melhor a dinâmica interna dos pacientes, sendo para Freud (1908/2015) o neurótico como aquele que sob a influência da educação e das demandas sociais, é possível reprimir os instintos pervertidos. No entanto, essa supressão é considerada falsa, já que os instintos sexuais inibidos não se manifestam mais como tais, o que é visto como bem sucedido no processo. Eles conseguem encontrar outras formas de se expressar, igualmente garantidas para o indivíduo, tornando suas manifestações anteriores ultrapassadas. Isso representa o fracasso do processo, cujo impacto negativo é considerado maior do que sua parcela de sucesso.

A esse respeito, Melman (2003) observa que a histeria em sua configuração moderna tornou-se menos comum e deu espaço a aparências mais alinhadas ao contexto teatral, caracterizando-se por uma tendência cultural ao espetáculo e à superficialidade. Essa transformação da histeria pode ser interpretada como um sintoma social contemporâneo, refletindo uma adaptação ao ambiente cultural dominante. Melman argumenta que, à medida que a sociedade moderna evoluiu, as formas de expressão da angústia e do sofrimento psicológico se modificaram. As manifestações histéricas, que outrora eram mais prevalentes, deram espaço a comportamentos que refletem a busca por reconhecimento e validação nas redes sociais e na esfera pública. A cultura contemporânea muitas vezes promove a exposição constante de aspectos pessoais, criando um ambiente propício para a busca de atenção e aprovação.

Nesse cenário, a histeria assumiu novas formas, adaptando-se às dinâmicas sociais em evolução. Uma queixa histérica frequentemente resulta em prescrições médicas, seguindo diretrizes nosográficas e evitando considerar qualquer ligação possível com fatores psíquicos, embora essa abordagem seja imperfeita. O inconsciente persiste em emergir, mesmo diante de várias tentativas de suprimi-lo e silenciá-lo. Isso nos leva a refletir no que Lacan discute em um dos seus seminários a respeito do tema:

Por onde andarão as histéricas de outrora, essas mulheres maravilhosas, as Anna O.; as Emmy von N.? Elas representavam não apenas um certo papel, mas um papel social certo. Quando Freud se pôs a escutá-las, foram elas que permitiram o nascimento da psicanálise. Foi a partir de sua escuta que Freud inaugurou um modo inteiramente novo de relação humana. O que substitui hoje estes sintomas histéricos de outrora? A histeria não se deslocou, no campo social? A maluquice psicanalítica não a teria substituído? (LACAN, 1977/2007, p. 17)

Lacan (1977/2007) nos incita a refletir sobre as manifestações históricas na sociedade atual, considerando suas particularidades, especialmente a ênfase nos excessos. Enquanto as histéricas de Freud focaram em cenas teatrais que causavam impacto na sociedade da época, na nossa sociedade, que já é por si só, um espetáculo, essa ênfase nos excessos não é mais surpreendente e nem novidade.

Essa adaptação da histeria à cultura contemporânea lança luz sobre a interconexão complexa entre os fenômenos psicológicos individuais e os fatores culturais e sociais que moldam a expressão e compreensão das doenças mentais. Ela destaca como a psicanálise e a psicologia devem continuar a evoluir para entender e tratar essas manifestações contemporâneas da angústia humana. Essa metamorfose da histeria, de um fenômeno psicopatológico mais restrito a uma expressão mais teatral e superficial, talvez sugira uma mudança na maneira como a sociedade lida com a angústia e a tensão psicológica. Ela pode ser vista como uma resposta à crescente pressão do ambiente cultural, onde a exposição pública e a busca por validação social se tornaram mais proeminentes. Essa evolução levanta questões fascinantes sobre como os sintomas psicológicos podem ser influenciados e moldados pelas tendências culturais e sociais de uma época.

Nesse contexto, é plausível argumentar que a neurose, como uma resposta à ausência de autenticidade no presente contexto, funciona como uma defesa contra os excessos. Essa perspectiva poderia contribuir para a compreensão de vários sintomas na atualidade, independentemente de serem categorizados como manifestações orgânicas ou psicológicas. A histeria se manifesta através de uma variedade de quadros clínicos. Alguns desses quadros são tão diversificados que seus sintomas podem conter elementos de outras estruturas psicológicas. Em relação a essa multiplicidade de manifestações e sintomas, a psicanalista Palonsky (1997) argumenta que os quadros clínicos atuais são notavelmente diferentes daqueles descritos no final do século XIX.

Naquela época, tanto Freud quanto Charcot descreviam pacientes com sintomas graves, incluindo paralisias profundas e perturbações chamadas de "grandes conversões histéricas". No entanto, de acordo com Palonsky (1997), pacientes com essas características não são predominantes nas práticas clínicas dos analistas contemporâneos. Isso sugere que a aparência dos sintomas na contemporaneidade pode divergir daquela observada nos tempos de Freud.

Essa evolução na apresentação dos sintomas ao longo do tempo ressalta a importância das identificações e influências culturais na formação e expressão dos sintomas. Isso significa que um diagnóstico estrutural não pode ser estabelecido apenas com base em um tipo específico de estrutura psicológica, mas sim considerando toda a complexidade da sintomatologia apresentada pelo paciente (PALONSKY, 1997). Portanto, a compreensão dos sintomas histéricos na contemporaneidade requer uma análise sensível e abrangente das identificações e influências que moldam sua expressão.

Trazer essa temática para a contemporaneidade permite compreender como a histeria se manifesta na sociedade atual, analisando as mudanças em sua apresentação e abordando as condições enfrentadas pelas pessoas que vivenciam esse sofrimento. É relevante destacar que, mesmo hoje, a histeria pode ser sujeita a reducionismos e uma falta de reconhecimento de sua natureza complexa.

Sendo assim, podemos trazer para o fechamento do capítulo um pouco dos principais sintomas da histeria na atualidade que de acordo com Fernandes (2003) são os sintomas somáticos “inexplicados” quando as pessoas podem experimentar dores de cabeça, dores no corpo, fadiga extrema, problemas gastrointestinais e outros sintomas físicos que não têm uma causa médica óbvia. Esses sintomas podem ser manifestações de estresse, ansiedade ou outros transtornos emocionais. Os sintomas dissociativos no qual ocorrem episódios de despersonalização como o sentimento de estar fora do próprio corpo ou de desrealização tal como o sentimento de que o mundo ao redor não é real. Esses sintomas podem ser um componente para os transtornos dissociativos. Sintomas de ansiedade e ataques de pânico em que existe uma ansiedade intensa que pode levar a sintomas físicos como palpitações, sudorese e dificuldade respiratória. Os sintomas de conversão psicossomáticos pelos quais o paciente pode experimentar perda de função motora, cegueira, surdez seletiva ou outros sintomas psicossomáticos, que agora seriam categorizados como transtornos de conversão ou transtornos somatoformes (FERNANDES, 2003).

Somando a isso, temos também o estresse sociocultural que desempenha um papel significativo na manifestação da histeria. Em sociedades onde há altos níveis de pressão social, competitividade, expectativas elevadas e normas restritivas, os indivíduos podem manifestar sintomas histéricos como uma resposta a essas pressões. O estresse relacionado ao trabalho, às relações interpessoais, à discriminação e a outros fatores socioculturais pode contribuir para o surgimento e a intensificação dos sintomas histéricos.

Por fim, destacamos a complexidade psicológica dessa condição. Neste conciso capítulo tentamos mostrar o caminho que houve para que fossem de uma vez por todas rejeitadas e substituídas as ideias antigas de causa exclusivamente física e centrada no feminino. Foi evidenciado como Freud explorou o papel do inconsciente e da repressão de desejos e traumas emocionais na manifestação dos sintomas histéricos, trazendo uma perspectiva mais profunda e abrangente para o estudo da histeria. Portanto, é importante reconhecer que a concepção histórica da histeria evoluiu ao longo do tempo, e a psicanálise desempenhou um papel fundamental em desvendar as complexidades dessa condição, permitindo uma compreensão maior dessa estrutura neurótica, descentralizando do gênero feminino e também com menos estigma no fenômeno. Afinal, conforme infere Molina (2011) às pacientes de Freud não estavam completamente submissas às premissas dessas épocas, não obstante a grande repressão. As mulheres corajosamente expuseram, por meio da fala, suas condições e sintomas. Ouvi-las e acolhê-las em suas experiências permitiu que fossem enxergadas como pessoas reais e complexas em sofrimento, fato que rompe com as convenções sociais dessas épocas (MOLINA, 2011).

CAPÍTULO 2: AVANÇOS TECNOLÓGICOS E OS IMPACTOS DAS REDES SOCIAIS NA EXPRESSÃO DA HISTERIA NA ERA DIGITAL

2.1 Manifestações contemporâneas da histeria e sua relação com o meio digital

Como podemos notar até aqui, a histeria é explicada como uma gama bem complexa e profunda envolvendo uma maneira de sofrimento. Por isso mesmo, é preciso enfatizar que os sintomas histéricos não podem ser tratados como meras simulações, mas sim como expressões genuínas de dor emocional e psicológica, já que "afetado pela ausência, o corpo dói" (FERNANDES, 2003, p. 84).

Não se pode confundir as explicações de Freud como sendo uma ênfase da histeria com a teatralidade única e simplesmente pela forma como ela se expressa. Essa má interpretação é decorrente da modernidade em que vivemos, constituída em tempos de um verdadeiro espetáculo na cena social. Nesse sentido, é interessante agregar para a discussão a relação da histeria com o meio digital. Segundo Birman (2000), a "captação narcísica do outro" torna-se uma condição de sedução e fascínio, sendo a imagem um elemento central nesse processo. Nas redes sociais, a imagem-plateia é reforçada, com a cena sendo valorizada ou desvalorizada com base no número de visualizações, interações ou likes em diferentes plataformas.

Conforme expresso por Bollas (2000), a internet se torna um cenário convidativo para a "performance" do "corpo-teatro" de uma histeria, um espaço privilegiado para a oferta de imagens e exibicionismo. A questão da imagem e do olhar do outro assume um papel de destaque nas redes sociais, tornando-se um lugar privilegiado para identificações e expressões de bem-estar a qualquer custo. Porém, por trás dessa mostração de momentos felizes e perfeitos, existe uma realidade mais complexa e, muitas vezes, um sofrimento abismal que não é visível além da tela dos dispositivos eletrônicos. A sintomatologia subjacente a essa busca incessante por validação e reconhecimento virtual pode envolver ansiedade, solidão, comparação constante e até mesmo uma busca desenfreada por aceitação.

A necessidade de exibir uma vida aparentemente perfeita nas redes sociais pode estar ligada a um interesse identificatório com modelos idealizados de sucesso e felicidade. É uma tentativa de obter validação e se sentir parte de um grupo socialmente aceito. A sociedade contemporânea está constantemente em busca de meios para alcançar a felicidade através do prazer, evitando a todo custo o sofrimento. No entanto, permitir uma busca desenfreada e uma suposta evitação completa do sofrimento poderia ser extremamente prejudicial para a estrutura da pessoa do indivíduo. Nesse sentido, é essencial introduzir o princípio da realidade. Conforme apontado por Saroldi (2012), atualmente, há uma dificuldade em pensar de forma coletiva, e essa busca excessiva pelo prazer pode levar o ser humano a um estado de barbárie, afastando-o da cultura.

Em resumo, a exibição excessiva nas redes sociais é uma manifestação contemporânea da “teatralidade” da histeria, onde a imagem é usada como ferramenta de sedução, fascínio e busca por reconhecimento. Porém, por trás dessa performance, muitas vezes há um sofrimento que é encoberto ou minimizado, levando a uma reflexão sobre o significado e os impactos dessa busca incessante pela validação virtual.

Conforme observado por Birman (2000), estamos imersos em um contexto social onde o foco excessivo no “eu,” atinge níveis notáveis e espetaculares. Isso ocorre em uma época em que se pode perceber a "estetização da existência" e a "exaltação do eu próprio" (BIRMAN, 2000, p. 186), com a intenção de exibição e mise-en-scène (encenação). Esses comportamentos direcionam-se para a exterioridade e a economia libidinal. Essa necessidade de exibição constante e a busca por aprovação nas redes sociais refletem a dinâmica da histeria, onde o desejo de ser visto, reconhecido e admirado pelo outro desempenha um papel central. No entanto, assim como na histeria, a manifestação nas redes sociais pode muitas vezes esconder vulnerabilidades, angústias e inseguranças emocionais que não são reveladas na vida cotidiana.

Dessa forma, a histeria contemporânea se revela nas redes sociais como uma forma de dramatização e teatralidade, onde as pessoas buscam constantemente a aprovação e o olhar do outro. É importante lembrar que essa representação idealizada nas redes sociais nem sempre corresponde à realidade vivida, e que por trás dessa busca por atenção e validação podem existir questões emocionais mais complexas que precisam ser consideradas e compreendidas de forma mais profunda.

A histeria, ao longo da história, evoluiu para se tornar um fator compartilhado, adquirindo força por meio da dinâmica coletiva. Freud em sua obra “A Interpretação dos Sonhos” (1900/1996) já havia apresentado uma histeria epidêmica, na qual os sintomas histéricos se difundiam e se espalharam na sociedade. Para ser ouvida e detalhada, a histeria abandonou sua manifestação no corpo e passou a se expressar principalmente por meio das palavras e agora, talvez, através de reflexos de si nos espelhos virtuais divulgados nas redes sociais.

Tudo isso vem a corroborar com as questões levantadas por Freud em seus estudos sobre a histeria, ou seja, em sua dinâmica básica de funcionamento por haver a divisão subjetiva e a marca da castração, o sintoma histérico adquire um caráter universal e atemporal, persistindo independentemente das variações em sua manifestação ao longo do tempo e em diferentes contextos culturais, irá evidentemente se moldar ao tempo em que está inserido. (FREUD, 1900/1996).

Freud (ano/2016) leva em conta dois eixos para fazer um diagnóstico diferencial entre as dores orgânicas, hipocondríacas e histéricas. O primeiro diz respeito à relação entre o corpo e a fala e o segundo, entre a dor e o prazer. A esse respeito, afirma Silvia Alonso:

Enquanto o paciente orgânico descreve as dores com precisão e clareza, o neurastênico tem que fazer um grande esforço intelectual para descrevê -las, como se lhe faltasse palavras.A histérica, quando se refere a dores, deixa inferir que sua atenção está detida em outro lugar, em pensamentos reprimidos e sensações que se entrelaçam com as dores. Enquanto para os Hipocondríacos, a linguagem é demasiadamente pobre para descrever as sensações, para a histérica, sobram pensamentos, que tecem o corpo imaginado- representacional- sobre o qual se produzem sintomas. ALONSO, S. L (2011, pp. 190-91).

A histeria, então, transcende os limites individuais e se conecta à experiência coletiva, tornando-se um fenômeno compartilhado e influenciado pela dinâmica social, pela indústria cultural e pelas novas tecnologias digitais e seus dispositivos. Assim, a histeria se adapta às mudanças culturais e ao desenvolvimento da sociedade, mas a essência de sua natureza psicológica perdura como uma expressão das questões emocionais e subjetivas mais profundas que permeiam a experiência humana, como uma metáfora retirada do contexto social, que pode influenciar certos comportamentos na cultura contemporânea. A histeria configura a representação que funda a organização social, tornando o corpo histérico uma caricatura de dor e sofrimento.

Por exemplo, a histeria também pode ser influenciada pela tecnologia e por suas representações culturais, como filmes, literatura e mídia em geral, visto que a cultura do consumo desempenha um papel significativo na forma como a histeria é vivenciada e expressa. A forma como ela é retratada nessas representações pode afetar a percepção pública do transtorno e moldar as crenças e atitudes em relação a essa estrutura. Os personagens histéricos frequentemente são retratados de forma estereotipada e caricatural, reforçando visões distorcidas e preconceituosas em relação à doença. Isso tudo dá um tom característico da histeria na contemporaneidade (BIRMAN, 2000; FERNANDES, 2001).

As redes sociais podem intensificar os sentimentos de pressão, comparação e busca por validação (LIRA et al, 2017). Em certos momentos da história, a histeria foi essencial como motor libidinal para a força e manutenção de movimentos sociais e questões culturais mais amplas. Por exemplo, durante o final do século XIX e início do século XX, o movimento sufragista e a luta das mulheres por direitos políticos e igualdade de gênero coincidiram com um aumento do diagnóstico de histeria em mulheres (MICHELS, 2001). Isso pode ser interpretado como uma forma de medicalização e descredibilização das reivindicações femininas, com a intenção de desvalorizar e desacreditar as mulheres ativistas.

Esse corpo-dor é uma manifestação da incompletude permanente do sujeito, simbolizando as cicatrizes deixadas por traumas passados e a saudade de um prazer que nunca foi alcançado como bem considera Freud (1893-1895/2016). Como resultado, os sujeitos constroem mecanismos de defesa para proporcionar segurança emocional, desviando a energia da libido. Esses mecanismos de defesa podem se manifestar de diversas maneiras, desde a busca incessante por prazeres imediatos à evitação de situações desafiadoras até a representação de uma felicidade aparentemente perfeita nas redes sociais. A cultura contemporânea muitas vezes valoriza a imagem da felicidade e o sucesso instantâneo, levando as pessoas a suprimirem ou mascarar suas emoções e dificuldades internas.

No entanto, essa supressão do sofrimento e a busca incessante por prazer podem ser reflexos da condição humana, marcada por uma incompletude e um desejo constante de satisfação. A histeria, como metáfora do corpo caricatural de dor, pode ser entendida como uma expressão da complexidade psicológica do sujeito contemporâneo e de sua busca contínua por um equilíbrio emocional e satisfação pessoal.

2.2 Tecnologia e suas relações com a histeria contemporânea

Os avanços tecnológicos têm tido um impacto significativo na sociedade e, consequentemente, nas manifestações da histeria. O surgimento e a disseminação de tecnologias modernas têm alterado a forma como as pessoas vivenciam, expressam e lidam com a histeria. Neste capítulo, exploraremos como esses avanços têm influenciado a compreensão e o manejo da histeria contemporânea. As transformações sociais, econômicas e culturais interferem nos modos de subjetivação. Dentre os fatores que contribuem para esse processo podemos destacar as transformações nos laços sociais, como a passagem da família extensa para a família nuclear, a valorização do narcisismo, a televisão como condição de socialização e de subjetivação, a morte do sujeito freudiano, o sujeito da dúvida, crítico, e o surgimento de um novo sujeito precário, acrítico e incapaz de simbolizações (DUFOUR, 2004, 2005).

A proliferação das tecnologias de comunicação, especialmente a internet e as redes sociais, tem proporcionado às pessoas uma plataforma ampla para compartilhar suas experiências e buscar apoio. Indivíduos afetados pela histeria podem encontrar comunidades online, grupos de apoio e informações sobre o transtorno de forma mais acessível do que antes. Além dessas transformações, nos deparamos com a revolução tecnológica que, segundo Nicolaci (2002), alterou a organização dos laços sociais, produzindo novas formas de constituição subjetiva. A autora faz uma comparação entre a Revolução Industrial e a revolução da tecnologia e diz que: "(...) tal como a primeira Revolução Industrial deu origem a um longo processo de mudanças que resultou na emergência do homem do século XX, a Revolução da Internet desencadeou um processo de transformações, ainda em curso, que está gerando o homem do século XXI" (NICOLACI, 2002, p. 199).

No entanto, a tecnologia também pode apresentar desafios. A exposição constante a informações, imagens e opiniões nas redes sociais pode intensificar o estresse e a ansiedade, potencialmente agravando os sintomas histéricos. Além disso, a comparação social exacerbada nas redes sociais pode contribuir para a percepção distorcida da própria experiência e gerar pressão adicional para corresponder a padrões irreais. O uso das novas tecnologias de informação na infância modificou as formas de brincar e de se relacionar. Os objetos eletrônicos se tornaram novos brinquedos para as crianças, que passaram a ter contato com os aparelhos digitais, tais como tablets, smartphones, etc., em idades cada vez mais precoces, alterando as formas de brincar e de tempo livre, trazendo novas linguagens e novas necessidades de consumo (MENDES, 2020).

O desenvolvimento das tecnologias digitais que traz para o mercado e para os lares, de forma intensa e acelerada, o uso de aparelhos eletrônicos cada vez mais sofisticados, primeiro pelos adultos e depois pelas crianças e adolescentes, traz mudanças significativas no interior dos lares e nas formas de interação social, (DUFOUR, 2004, 2005). Se até há pouco tempo a fonte de fetiches era a televisão, agora, a Internet enfeitiça pela ilusão de que se está relacionando com o mundo todo (CHEBABI, 1999). Nessa sociedade do espetáculo, os espectadores são estrelas e o ser humano, histérico, clama deciframento, solicitando que o outro fale dele.

A histeria contemporânea é uma representação do espetáculo do funcionamento dos instrumentos midiáticos e permite ao corpo histérico compor a história de como o sujeito imagina ser o desejo do outro, uma história previsível, sob controle e com início, meio e fim: uma história hiperreal (CHEBABI, 1999). Por meio de um discurso fundado na simulação, a histérica lança mão da sedução como simulacro de afetos. Já dizia Baudrillard (1991, p. 137):

A maioria dos signos e das mensagens (dos outros também) hoje nos solicita para esse modo histérico, para o modo do fazer-falar, do fazer crer, do fazer-gozar por dissuasão, para o modo da chantagem que visa a uma transação cega, psicodramática, para os signos despidos de sentimento e que se multiplicam e hipertrofiam justamente porque já não têm segredo, já não tem crédito [...]

Os avanços tecnológicos têm desempenhado um papel significativo na compreensão e manejo da histeria na contemporaneidade. Embora ofereçam oportunidades promissoras, é importante abordar os desafios e as limitações que essas tecnologias também podem apresentar. Uma abordagem equilibrada e integrada, que considere tanto os aspectos positivos quanto os potenciais riscos, é essencial para uma compreensão completa da influência dos avanços tecnológicos nas manifestações da histeria.

Na tentativa de ser reconhecido (atitude própria dos desejos contemporâneos), de ser inserido num contexto social como alguém “querido”, os usuários assumem amigos virtuais, transformando o desconhecido em algo totalmente conhecido. O desconhecido, já dizia o pensador Nietzsche (1984), assusta, amedronta. A contemporaneidade se caracteriza por uma época em que as figuras paradigmáticas de autoridade estão lentas e progressivamente sendo destruídas com a desvalorização dos ícones culturais, com o descrédito nas religiões e governantes corrompidos. Há um excesso de representação que deriva de uma patologia, uma doença da representação, uma histeria (PAIVA, 2000).

A histeria nas redes sociais é uma manifestação contemporânea interessante e complexa. Com o advento das plataformas de mídia social, muitas pessoas encontraram um novo espaço para expressar seus sentimentos, pensamentos e experiências. No entanto, algumas delas podem recorrer a estratégias de dramatização e exagero para chamar a atenção e obter validação online. Embora novas imagens tenham surgido – reflexos das mudanças dos tempos –, elas continuam, no entanto, a guardar a mesma característica das imagens dos corpos retorcidos das histéricas de outrora, ou seja, a imagem do velamento do sofrimento psíquico, do tumulto, do conflito, da dor (FERNANDES, 2001).

As redes sociais oferecem uma plataforma onde as pessoas podem compartilhar suas vidas, idéias e emoções. Para muitos, receber atenção e validação online tornou-se uma parte importante de sua experiência online. Alguns indivíduos podem exagerar ou dramatizar situações pessoais na esperança de receber apoio, simpatia e interações de outros usuários (LIRA et al, 2017).

Um comportamento muito comum é a valorização do comportamento e da opinião do outro, que, segundo Gallese (2005) se deve à ativação dos neurônios-espelho que ativam a mesma área do cérebro responsável pela observação das atitudes dos indivíduos e sua reprodução, inclusive, como forma de aprendizagem.

Segundo Bikhchandani et al. (1992), nas redes sociais, a dinâmica do comportamento de manada é evidente. Quando um usuário obtém atenção por meio da dramatização, outros podem imitar esse comportamento na busca pelo mesmo reconhecimento. Isso pode criar um ciclo em que as histórias e os sintomas são cada vez mais exagerados. O uso frequente de dramatização e exagero nas redes sociais pode ter um impacto psicológico nas pessoas envolvidas. Elas podem começar a confundir a realidade com a persona online que criaram, o que pode levar a uma sensação de alienação e isolamento no mundo real.

O tipo de conteúdo publicado e consumido pelos usuários é ainda mais impactante na saúde mental. Sabe-se que muitas publicações reforçam o narcisismo, os padrões de vida, de consumo e o status, de forma que têm contribuído com o aumento na prevalência de vários transtornos psiquiátricos, incluindo sintomas depressivos, ansiedade e baixa autoestima (LIRA et al, 2017).

A busca por apoio é importante para reconhecer que muitas pessoas recorrem a essas estratégias porque estão realmente buscando apoio e compreensão. O ambiente das redes sociais pode ser um espaço onde indivíduos se sentem mais à vontade para expressar suas preocupações e emoções, especialmente quando enfrentam dificuldades na vida. O avanço tecnológico é importante para o conhecimento e preparação da sociedade, porém, a influência das mídias sociais pode comprometer a percepção da realidade da vida, especialmente, para os adolescentes (SILVA JÚNIOR et al, 2022). Santrock (2014) defende que a partir da geração 1980, as pessoas ficaram reféns da tecnologia, cuja principal preocupação é sempre ficar conectadas ao mundo das redes sociais, na perspectiva de diminuir o sentimento de solidão.

Conectar-se a uma rede social proporciona aos usuários uma sensação de segurança, mas quando a realidade não supera as expectativas, pode gerar sentimento de insegurança, desconforto, ansiedade, solidão, impotência e depressão (SILVA JÚNIOR et al, 2022). É fundamental que profissionais de saúde mental estejam atentos a esse fenômeno e considerem o impacto que as redes sociais podem ter na saúde emocional de seus pacientes. Oferecer orientação sobre o uso responsável das redes sociais e a busca de ajuda adequada offline pode ser benéfico.

Em resumo, a histeria nas redes sociais é um fenômeno complexo que reflete a interação entre as necessidades humanas de atenção, validação e expressão emocional em um ambiente digital. Compreender esse fenômeno é essencial para promover uma cultura de apoio e compreensão online, ao mesmo tempo em que se reconhece a importância de um equilíbrio saudável entre a vida online e offline.

2.3 Cultura do consumo e sua relação com a histeria contemporânea

O que buscamos trazer até aqui é que a compreensão da histeria não pode ser dissociada das complexas influências socioculturais. A maneira como a histeria é percebida, diagnosticada e tratada tem sido constantemente moldada por uma intersecção de fatores culturais, crenças sociais e expectativas coletivas ao longo de diferentes eras. Esses aspectos refletem as crenças, valores, normas e expectativas prevalentes nas diferentes sociedades ao longo da história. Conforme destacado por diversos estudiosos, como Palonsky (1997c), a histeria é um fenômeno que se adapta. As concepções de feminilidade, masculinidade, moralidade e saúde mental, por exemplo, variam amplamente de acordo com as características culturais e temporais de cada sociedade. Tais elementos influenciam diretamente na compreensão e abordagem da histeria.

Conforme apontado por Alonso (2011), quando abordamos a histeria, é crucial verificar que estamos, na verdade, referindo-nos a surtos ou padrões de determinadas condições de saúde. Estes surtos, como enfatiza o autor, muitas vezes surgem em paralelo com a proeminência de tópicos na mídia, exercendo uma influência marcante no sistema simbólico de uma determinada época. Além disso, na contemporaneidade, Alonso (2011) observa que a máscara histérica parece ter perdido relevância, revelando, em vez disso, um corpo deserotizado e, por conseguinte, "histericizado". Esse corpo, muitas vezes evitado tanto por ela mesma quanto pelos outros, passa a ocupar o espaço outrora ocupado pela máscara, e os sintomas que se aproximam de outras estruturas originariamente começam a surgir.

A supervalorização do corpo nas redes sociais e a influência do discurso capitalista perpetuam uma ilusão de plenitude, que, por sua vez, gera sofrimento e insatisfação. Nas sociedades contemporâneas, as manifestações histéricas não assumem mais um papel de destaque, como ocorria na era de Freud. Eles agora desempenham um papel secundário, enquanto os psicofármacos tentam suprimir os sintomas histéricos, ecoando a ideia de Lacan (1977/2007) de que esses medicamentos buscam conter a histeria.

Os sintomas histéricos que encontramos na sociedade contemporânea têm raízes profundas na visão de Debord (1967/2006) de uma "sociedade do espetáculo". Nesse contexto, existe uma pressão constante para buscar uma satisfação ilimitada, reflexo de uma cultura onde a imagem desempenha um papel central. Segundo Debord, essa sociedade é essencialmente moldada pela economia do consumo, com as mercadorias no epicentro da vida social, resultando na transição do "ser" para o "ter". As coisas são produzidas como "pseudo-necessidades". A sociedade do espetáculo, como descreve Debord (1967/2006), é aquela mediada pelas imagens, onde a comunicação se baseia na exibição de imagens, criando uma ilusão de aparência que muitas vezes restringe o reconhecimento do sujeito.

A cultura do consumo, definida pelo desejo constante de adquirir bens materiais e experiências, pode gerar ansiedade e insatisfação crônicas. Em um mundo onde a imagem, o sucesso e a felicidade são frequentemente calculados pelo que se possui e se exibe, muitos indivíduos enfrentam uma pressão constante para atender a essas expectativas (Debord, 1967/2006).

Consciência é auto conformação, autoafirmação, amor próprio, contentamento com a própria perfeição. Consciência é a marca característica de um ser perfeito. Consciência existe somente num ser satisfeito, completo. A própria vaidade humana confirma esta verdade. O homem se mira no espelho, ele se agrada com a sua figura. Este agrado é uma consequência necessária, espontânea da perfeição, da beleza da sua imagem. A bela imagem é contente de si mesma, tem necessariamente alegria de si mesma, reflete-se necessariamente em si mesma. Vaidade é apenas quando o homem namora sua própria forma individual, mas não quando ele admira a forma humana. Ele deve admirá-la, não pode conceber nenhuma forma mais bela. Mais sublime do que a humana. Certamente, todo ser ama a si mesmo, a sua essência e deve amá-la. O ser é um bem, tudo diz, que é digno de ser, é também digno de ser sabido. Francis Bacon (1561-1626). Tudo que é bom, tudo que é, tem valor. É um ser de distinção, por isso ele se afirma, mais a mais elevada forma de afirmação de si mesmo, a forma que é ela mesma, uma distinção, uma perfeição, uma felicidade, um bem, é a consciência. Feuerbach, Ludwig, (1804-1872).

Nosso tempo, sem dúvida, prefere a imagem à coisa, à cópia, à original, à representação, à realidade, à aparência, ao ser. O que é sagrado para ele não passa de ilusão, pois a verdade está no profano, ou seja, à medida que descreve a verdade, a ilusão aumenta e o sagrado cresce a seus olhos de forma que o cúmulo da ilusão é também o cúmulo do sagrado. Feuerbach, Ludwig, (1804-1872).

No século XX, houve uma transformação na concepção do corpo, evoluindo para a ideia de um corpo único, sem a distinção tradicional entre corpo físico e espiritual (ARANHA E MARTINS, 1993). Del Priori (2000) destaca que neste mesmo século, o corpo começou a ser exposto publicamente, impulsionado pela influência da mídia e das praias. Esse destaque do corpo revelou imperfeições que levaram ao desenvolvimento de produtos como cremes, colágenos, vitaminas e silicones, na busca por retardar os sinais de envelhecimento.

Atualmente, os estudiosos afirmam que o corpo é moldado e influenciado pelas relações sociais. Ele é fortemente influenciado pelos valores e padrões de beleza estabelecidos por uma sociedade impulsionada pelo capitalismo e pela mídia. Essa padronização, muitas vezes associada à chamada “cultura da vaidade”, pode, em última instância, contribuir para a superficialidade cultural (MALUF, 1999).

Ao analisar o panorama social contemporâneo, torna-se evidente o aumento da insatisfação corporal e a busca incessante pela imagem ideal. Isso se reflete no número crescente de pessoas que recorrem a uma variedade de procedimentos estéticos, consomem produtos cosméticos e seguem regimes alimentares tidos como saudáveis. Essas questões foram questões controversas amplamente discutidas por profissionais de saúde e até mesmo pela Organização Mundial de Saúde (OMS), devido ao potencial de impacto negativo na saúde física e mental das pessoas.

Segundo pesquisas realizadas pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) em 2016, o Brasil liderou as estatísticas globais em cirurgias plásticas, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. No total, foram realizadas 1.472.435 cirurgias plásticas, das quais 57% foram procedimentos estéticos e 43% reparadores. As cirurgias mais frequentes na área estética envolvem o aumento de mama, representando 19% do total. Já nas cirurgias reparadoras, as mais comuns estavam relacionadas a tumores cutâneos, totalizando 40%. Além disso, esses dados indicam um aumento de quase 30% nas cirurgias estéticas realizadas em homens.

Outro aspecto a ser destacado é o crescimento da indústria de beleza no Brasil. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC) em 2018, o Brasil se tornou o terceiro maior mercado de estética do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos (16%) e da China (10%) . Isso é notável, considerando que a economia brasileira ocupa a 11ª posição no cenário mundial, conforme dados do Fórum Econômico Mundial de 2018. Além disso, observa-se uma demanda crescente por alimentos rotulados como saudáveis, como produtos diet, light, suplementos e anabolizantes, o que, por sua vez, reforça a ideologia da magreza e pode contribuir para o desenvolvimento de distúrbios alimentares.

Um aumento no número de academias que promovem treinamentos intensivos como meio de alcançar o ideal de beleza também é notável. Esses estabelecimentos muitas vezes prometem resultados rápidos em direção à conquista de um corpo definido. No entanto, essas abordagens aparentemente inofensivas podem ser uma porta de entrada para uma série de preocupações psicológicas, uma vez que a busca incessante pela conformidade com os padrões de beleza pode levar a conflitos e questionamentos significativos (SOUZA, 2010).

Além disso, vemos um aumento na popularidade de tatuagens, piercings, cursos de maquiagem e outros adornos corporais. Esse processo reflete a pressão para se adequar ao ideal de beleza ditado pela cultura midiática, perpetuando a busca incessante por uma perfeição física. Nesse contexto, a identidade do corpo feminino contemporâneo se alinha com a tríade beleza-saúde-juventude, enquanto as mulheres se veem cada vez mais pressionadas a se submeterem aos padrões sociais de aparência (DEL PRIORI, 2009).

O espetáculo, compreendido na sua totalidade, é simultaneamente o resultado e o projeto do modo de produção existente. Ele não é um complemento ao mundo real, um adereço decorativo, é o coração da irrealidade da sociedade real, sob todas as suas formas particulares ou propaganda, publicidade ou consumo direto do entretenimento e da imagem perfeita. O espetáculo constitui o modelo presente da vida socialmente dominante. Ele é a afirmação onipresente da escolha já feita na produção e no seu corolário - o consumo. A forma e o conteúdo do espetáculo são a justificação total das condições e dos do sistema existente. O espetáculo é também a presença permanente desta justificação enquanto a ocupação principal do tempo vivido fora da produção moderna (DEBORD, 1967/2006).

3. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS

No artigo “Histeria ainda hoje, por quê?”, de Lang e Costa (2016) o objetivo foi analisar a presença e manifestação da histeria na contemporaneidade, considerando as mudanças culturais ocorridas desde os primórdios da psicanálise até os dias atuais. O estudo baseou-se nas contribuições de Charles Melman, um psicanalista que aborda a posição do sujeito nas condições culturais ocidentais modernas. A pesquisa destaca como a neurose histórica ainda se manifesta no contexto contemporâneo, partindo da indicação de que houve uma transformação cultural, passando de uma cultura propensa à neurose para uma propensa à perversão. Nesse novo cenário, a histeria coletiva surge como um espaço de reivindicação dos sujeitos, que buscam redefinir seu lugar na sociedade e recriar uma figura paterna que parece ter perdido sua relevância.

No trabalho “Aux limites de l'hystérie, la douleur chronique”, de Zanotti et al (2013) é um artigo escrito em francês, cujo título em português é “Nos limites da histeria, a dor crônica”, foi uma exceção de trabalho em outro idioma porque foi um dos poucos tratando a discussão da histeria com a dor crônica. O artigo apresenta uma reflexão sobre a etiologia e o tratamento da dor crônica dentro do referencial teórico da psicanálise. Ele discute a ideia de que a dor crônica pode ser considerada uma manifestação contemporânea da histeria. O artigo enfatiza o papel da dor, que varia de acordo com as especificidades de cada caso, e considera que o sintoma é uma forma singular de satisfação e um meio de inserção do sujeito no vínculo social.

No artigo “Freud e os desdobramentos da questão histérica na história de Christoph Haizmann”, autoria de Leite (2019), discute a história de Christoph Haizmann e como ela se relaciona com a histeria e a figura paterna, e como Freud estudou esse caso, já que Haizmann era um pintor, artista que sublimava, porém, como aponta o artigo, ele por ser “acossado por convulsões e alucinações assustadoras, resolve fazer um pacto com o Diabo”. Desse modo, Freud estabelece as relações entre a imagem do demônio e a figura paterna destacando uma questão fundamental para o estudo da histeria que servirá para as posteriores elaborações de Lacan sobre o tema. O trabalho conclui que o discurso da histeria fornece a compreensão da “lógica presente em cenas mais amplas da vida social, onde, por exemplo, posições de demanda, provocação ou sedução, antes ocupadas pelo demoníaco da idade média, são encarnadas por indivíduos ou por pequenos grupos que reivindicam seus direitos diante de representantes de saberes oficiais” (p. 161).

Em “As histéricas de Freud, a dor orofacial e a histeria na clínica psicanalítica atual”, de Faria (2021), é discutida a conexão entre casos clínicos de histeria relatados por Sigmund Freud e a dor orofacial crônica em odontologia. O autor explora os conceitos que abrangem tanto a odontologia quanto a psiquiatria e psicanálise, estabelecendo uma relação entre os casos clínicos de Freud em seus "Estudos sobre a histeria" (1893-1895) e casos clínicos da Policlínica Piquet Carneiro da UERJ relacionados à dor crônica orofacial. A conclusão enfatiza a importância de encaminhar pacientes com sintomas de dor orofacial, mas sem sinais orgânicos evidentes, para um espaço psicanalítico, onde a dor de origem psicológica pode ser explorada, reconhecida e reinterpretada, uma vez que é uma experiência singular pertencente ao sujeito que a vivência.

No trabalho “A dor crônica entre o silêncio e o grito”, de Fortes; Winograd; Medeiros (2015), é abordado a dor crônica como sendo uma manifestação da pulsão de morte. Os autores exploram como a dor crônica reside no reino silencioso da pulsão de morte, mas também pode se manifestar como um grito, representando uma tentativa de expressão quando as palavras falham. O artigo destaca a capacidade de a dor crônica criar ruídos que possibilitam a inscrição psíquica daquilo que a pulsão de morte representa, mas que não pode ser totalmente representado.

No artigo intitulado “Coletividade e histeria: psicanálise e manifestações sociais”, de Ferreira (2018), é destacada a relação entre a histeria, conforme entendida pela psicanálise, e as dinâmicas de grupos e sociedades. O trabalho fundamenta-se nas teorias de Freud e Lacan sobre a identificação por meio do sintoma e dos discursos. A autora argumenta que a histeria pode se manifestar em dois desdobramentos distintos: a histeria coletiva e o discurso da histeria. O artigo contribui para uma compreensão mais profunda das possibilidades e limitações das manifestações da histeria na atualidade e em grupos e sociedades, particularmente na análise de eventos políticos recentes no Brasil.

Em “Manifestações da histeria na contemporaneidade”, de Oliveira e Winter (2019) são discutidas as manifestações contemporâneas da histeria com base em conceitos de corpo e sintomas como construções subjetivas de acordo com Freud e Lacan. É proposto que o conceito de "histeria" de Lacan serve para compreender os sintomas históricos atuais, que se manifestam como produtos do agenciamento de gozo corporal no registro Real (que é aquilo da ordem do impossível de explicar), diferenciando-se das histerias clássicas de Freud com base no ordenamento simbólico. Essa forma de histeria exige uma abordagem clínica orientada para o real e uma escuta diferenciada, já que destacaria a dificuldade de os pacientes encontrarem nomes para suas dores e sensações.

No artigo “Não há neurose sem corpo: Um estudo sobre o lugar do corpo na histeria e na neurose obsessiva”, de Costa e Ferreira (2019), é explorada a relação entre o corpo e as neuroses. Os autores investigam como o corpo desempenha um papel crucial na psicanálise, desde os primeiros estudos de Freud sobre a histeria até o conceito de gozo em Lacan. Eles destacam a presença do corpo tanto na formação do desenvolvimento psicossexual e nas estruturas clínicas, quanto como o local onde os sintomas neuróticos se manifestam a partir da insuficiência da linguagem em explicar aquilo que está sentindo no próprio corpo.

No trabalho “O corpo entre o sintoma e cultura”, de Lindenmeyer (2015), mostra como Freud subverte a concepção de um corpo puramente orgânico ao estabelecer uma ligação estreita entre o corpo e a sexualidade. Ele vai além, argumentando que é a partir do corpo que o psiquismo tem sua origem. Isso marca o surgimento da psicanálise e a ideia de que a anatomia corporal é sobreposta por uma vida interior intensa, cheia de fantasias. Nessa perspectiva, a anatomia do corpo se torna uma espécie de palco onde se envolve conflitos inconscientes de diversas naturezas, como se o corpo se transformasse em um teatro para encenar esses conflitos.

Em “Trauma infantil e manifestações histéricas na atualidade: uma revisão da literatura”, de Zatti et al (2021), este estudo explora as manifestações históricas contemporâneas, destacando a influência de reações corporais e emocionais que afetam significativamente a vida dos pacientes. Partindo de questionamentos sobre a natureza atual da histeria e a compreensão histórica na literatura, o objetivo é descrever aspectos teóricos sobre a histeria e sua ligação com o trauma infantil, conectando-os à prática clínica atual. Uma revisão da literatura, conduzida pelo método narrativo, revelou 106 estudos nos últimos 6 anos, com uma diminuição nas publicações após 2017. Embora a categoria psicopatológica da histeria tenha desaparecido de manuais, na prática clínica, as manifestações históricas são frequentemente confundidas com outros transtornos. As manifestações somáticas surgem no corpo como uma forma de comunicar eventos traumáticos não processados pelo aparelho psíquico. Conclui-se que as manifestações históricas persistem na contemporaneidade, e a psicoterapia desempenha um papel crucial na promoção de ressignificações para esses eventos traumáticos, especialmente no contexto da relação entre sintomas históricos e traumas infantis.

No artigo “Psicossomática: um fenômeno entre o saber e o gozo”, de Alves; Amparo; Chatelard (2023), é dissertado sobre as características psicossomáticas na prática psicanalítica, explorando as perspectivas Freud lacanianas. Destaca a distinção entre o sintoma conversão na histeria e o envolvimento corporal na psicossomática, ressaltando que esta última não carrega uma mensagem interpretável, sendo mais um efeito de uma escrita não decifrável. O texto fundamenta-se na ideia de "letra" em Lacan, explorando as implicações para a psicanálise no tratamento de casos psicossomáticos, onde a escrita permanece cristalizada no campo do gozo, carente de representação psíquica. Assim, as queixas de dores em alguma parte no corpo do paciente não necessariamente haveria uma correspondência com um fenômeno psicossomático, ou seja, nem toda dor seria uma histeria ou psicossomatização, podendo sem regras um estar presente sem o outro. Os autores ressaltam ainda que “nem sempre o sujeito chega com a demanda de tratar a afecção psicossomática que possui, podendo ela ficar em segundo plano e só no decorrer do processo advir como uma questão” (p. 175).

O artigo “A fotografia e a descoberta da histeria”, de Florsheim (2016), examina a interseção entre a fotografia e a percepção da histeria, conforme apresentado por Florsheim (2016). Ele destaca a influência histórica na concepção da histeria, destacando a dicotomia entre aspectos orgânicos e psíquicos. Jean-Martin Charcot, segundo o autor, utilizou a fotografia como meio para categorizar a humanidade. A análise crítica da formação desses conceitos é apresentada como uma contribuição valiosa para uma compreensão mais aprofundada em psicopatologia, enfatizando a importância de considerar a alteridade.

Através da leitura e análise cuidadosa desses materiais, o estudo identificou e compreendeu as mudanças na manifestação da histeria ao longo do tempo. Ao confrontar as informações que decorrem com os casos clínicos históricos, foi possível inferir que a histeria permanece presente nos dias atuais, embora seus sintomas possam ter evoluído e se manifestado de maneira diferente em relação ao que foi inicialmente relatado por Freud. De modo geral, deixamos aqui outras possibilidades de se pensar a pesquisa em histeria, por exemplo, gênero e Histeria; neurociência e histeria; histeria em contextos não clínicos.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao concluir esta pesquisa, que tem como objetivo destacar as complexidades inerentes à estrutura histérica no decorrer da história e suas representações mais atuais, pode se dizer que este trabalho nos permitiu explorar formulações psicanalíticas essenciais que ainda exigem uma análise mais aprofundada. Embora a histeria contemporânea compartilhe semelhanças com aquela da época de Freud, sua manifestação adquire novas formas, ela persiste de maneiras diversas e muitas vezes sendo confundida com outros transtornos. O que nos chama a atenção é como as mudanças sociais e as opiniões influenciam os sintomas clínicos nos processos de identificação do sujeito, especialmente porque o sofrimento do histérico está intrinsecamente ligado ao seu relacionamento com o outro. A sobreposição de síndromes, como fibromialgia e fadiga crônica, destaca a complexidade dessas manifestações, muitas vezes ligadas a eventos traumáticos contidos no psíquico. A relação entre corpo e psiquismo é fundamental também na compreensão das manifestações da histeria, pois Freud subverte a ideia de um corpo puramente orgânico, enfatizando sua importância no nascimento do psiquismo com o corpo tornando-se um “teatro” para os conflitos inconscientes.

Nessa busca incessante por algo que simboliza o feminino, o sujeito histérico, perpetuamente insatisfeito, estabelece uma relação ambivalente com seu corpo: uma luta constante de mal-estar, sentindo repulsa, ou uma busca incansável pelos padrões de beleza, frequentemente de forma excessiva. O sujeito histérico é perpetuamente cativado por algo que nunca existiu, resultando em uma busca incessante e, consequentemente, em constante angústia ao se aproximar desse anseio. Esse processo culmina invariavelmente na desilusão da incompletude, destacando a denúncia do outro castrado. Na histeria, a capacidade de nomear a insatisfação e o desejo é quase inalcançável, pois o faria equivaler a assumir a posse do falo, assumindo a posição masculina. No entanto, esta resposta não satisfaz à pergunta fundamental do sujeito histérico: "O que é ser mulher?", restringindo-o a um lugar de carência permanente.

É crucial esclarecer que o sujeito histérico abordado aqui não é o sujeito real que aparece na análise, mas sim o sujeito simbólico, repleto de suas representações e rótulos. Dessa perspectiva, a psicanálise não tem por objetivo curar o sujeito, muito menos eliminar o seu sintoma. Pelo contrário, visa a afastar o sujeito da condição de diagnóstico clínico, uma vez que o sintoma é inerente à sua constituição. O convite do analista ao sujeito em análise é para que ele explore e dê forma ao seu sintoma. O sintoma não incapacita o sujeito, pois ele representa o ponto de partida para a expressão do seu discurso e, a partir dessa fala, ele pode emergir como um sujeito viável. A abordagem Psicanalítica continua a ser uma ferramenta avançada na compreensão e tratamento das manifestações da histeria contemporânea. Essas considerações finais apontam para a complexidade e relevância contínua da histeria, incorporando perspectivas históricas, teóricas e clínicas na compreensão dessas manifestações psíquicas e somáticas.

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1 Trabalho de Conclusão do Curso, apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Psicologia, realizado sob a orientação do professor Me. Marcelo Gonçalves Rodrigues