DOENÇA CISTO RENAL EM CÃO
PDF: Clique Aqui
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.13119530
Luana Braga Basílio1
RESUMO
O objetivo desse trabalho é relatar o caso de doença cisto renal em cão fêmea da raça shitzu, 10 anos, atendida no setor de clínica do hospital veterinário Vetvogas, onde foi realizada drenagem cística renal e métodos de tratamento paliativo para conforto do paciente, que ficou um longo período na internação do hospital com quadro de inapetência. Foram realizados exames de sangue, ultrassonografia, raio X, acompanhamento de parâmetros e do quadro geral do caso. Foi diagnosticada a reincidiva dos cistos onde o tutor decidiu optar pela eutanásia. O corpo foi encaminhado para necropsia onde foi coletado a cápsula cística e enviada para análise histopatologica.
Palavras-chave: Doença cisto renal. Cistos. Drenagem de cistos
INTRODUÇÃO
“A doença renal policística em cães é uma doença de caráter genético, caracterizada pela formação de cistos renais de variados tamanhos e quantidade. A presença dos cistos no rim compromete a funcionalidade do néfron, unidade funcional do rim. A doença renal policística não tem cura e leva o paciente a insuficiência renal crônica. Os sinais clínicos são poliúria, polidipsia, sepse por infecção secundária, hematúria, infecção no trato urinário, apatia, dor, vômito, anorexia, hipertensão, tremores, dispneia, convulsão, aumento séricos de ureia e creatinina e distensão abdominal. O diagnóstico é feito através do exame de imagem para visualizar os rins. Não existe tratamento específico para a doença renal policística, sendo necessário tratamento paliativo para alívio dos sintomas. O objetivo desse trabalho é relatar um caso deum cão com doença renal policística”
(Júnior JES, Medeiros JG, Oliveira SAM. DOENÇA RENAL POLICÍSTICA EM CÃES. Anais do 23° Simpósio de TCC do Centro Universitário ICESP. 2022(23); 598- 602.)
RELATO DE CASO
Cão, fêmea, da raça shitzu, castrada, 6,3k e 10 anos de idade. Diagnosticada com cisto renal de difícil acesso, impossibilitando retirada cirurgicamente. Apresentando dor, score corporal grau 3, mucosa hipocorada, TEMPERATURA 36,9C, frequência respiratória 36, frequência cardíaca 152, apresentando bastante dor abdominal e abdômen bem abaulado.
Estava apresentando comportamento normal, porém houve piora súbita, se contorcendo de dor e tutora administrou Novalgina.
Foram coletados exames com os seguintes resultados:
Perfil doença transmitida pelo carrapato 03/03: IGG REAGENTE IGM INDETERMINADO: BABESIA
03/03: BUN 48, LAC 6,89
07/03: CREATININA 2,1, BUN 31, ALB 2,1, ALKP 260
Figura 01: Exame
O EXAME ULTRASSONOGRÁFICO APRESENTOU AS SEGUINTES ALTERAÇÕES:
O EXAME ULTRASSONOGRÁFICO REVELOU, REDUÇAO DE TAMANHO DO BAÇO, PRESENÇA DE DISCRETO LÍQUIDO LIVRE, AMBOS OS RINS COM PERDA DA ARQUITETURA RENAL, SEM DEFINIÇÃO CORTICOMEDULAR, DEVIDO A FORMAÇÃO DE CISTOS COMPLEXOS, NO QUAL OS MAIORES, MEDINDO 8CMX6CM NO RIM DIREITO. TAMBEM FOI OBSERVADO, HEPATOPATIA CRÔNICA DIFUSA DISCRETA, LAMA BILIAR DISCRETA E CISTITE.
Figura 02 e 03
Após resultados de exames e laudo ultrassonográfico, a paciente foi submetida a internação para tratamento paliativo e controle da dor. Foi preciso uso de oxigênio pois apresentou dificuldades respiratória. Durante o período de internação, após estabilizar os parâmetros, foi submetida a uma laparotomia para drenagem dos cistos e foi realizado a citologia dos líquidos cavitários, que constatou amostra por células degeneradas e debris celulares. Foi iniciado cuidados paliativos e a paciente se manteve responsiva com alimentação e ingestão hídrica espontânea, urina em aspecto normal; visto que a glicemia estava baixa foi mantida em acesso venoso com soro glicosado, assim normalizando os parâmetros da paciente. Foi ministrado 1° dose de imizol e teve alta médica. Após 2 dias animal retornou para aplicação de Convenia (0,6ml), pois tutor não estava conseguindo realizar medicações via oral, foi receitado Tramadol e Ondansetrona suspensão pois a paciente estava tendo dificuldades de ingerir comprimidos.
Após 4 dias paciente retornou inapetente, iniciou tosse, espirro e secreção nasal. Foi realizado radiografia que não apresentou alteração ou sugestão de pneumonia aspirativa. Foram realizados exames comparativos que demonstraram piora da anemia. O exame clínico apresentou mucosas hipocoradas, desidratação (mucosa ressecada, TPC 2"). A paciente permaneceu internada para reidratação, e foi medicada para controle de náusea e dor. Após a liberação de alta foi sugerido retornar todos os dias para realização de medicação injetável (Cerênia e Dexametasona), foi solicitado em 48 horas, hemograma comparativo.
HEMOGRAMA 14/03: ANEMIA (HCT 19, ERITRÓCITO 3,22, HEMOGLOBINA 5,9), LEUCOCITOSE (27,7) POR NEUTROFILIA (22,6), MONOCITOSE, BAND, TROMBOCITOSE (629)
Figura 04: Exame comparativo
Figura 05: Exame comparativo
RADIOGRAFIA TORÁCICA 13/03: SEM CARACTERÍSTICA DE PNEUMONIA ASPIRATIVA
No dia 19/04 Animal retornou com quadro de constipação e dor abdominal. Já se passava quase 02 meses da drenagem dos cistos, estava fazendo uso de eritropoietina 2 vezes na semana, Apetivin e Foli B. Dificuldade de alimentação espontânea, edema na região renal, temperatura 39,4 °C, dificuldade de expandir os pulmões. Foi realizado radiografia que constatou intenso tamanho dos rins bilateralmente e compressão do diafragma na cavidade torácica.
Figura 06: Fotografia abdômen da paciente
Imagem realizada 22/04/2024 paciente em posição ventral, percebe-se claramente aumento dos rins sobressaltando lateralmente, ultrapassando tamanho normal.
Figura 07: Raio X
RADIOGRAFIA 19/04: COMPRESSÃO DO CORAÇÃO E PULMÃO, RINS INTENSAMENTE AUMENTADOS
Figura 08: Exame comparativo
Figura 9: Exame comparativo
HEMOGRAMA 19/04: BAND, MONOCITOSE, TROMBOCITOSE
O EXAME ULTRASSONOGRÁFICO APRESENTOU AS SEGUINTES ALTERAÇÕES:
O EXAME REVELOU BAÇO COM DIMENSÕES REDUZIDAS SUGESTIVO DE CONTRAÇÃO ESPLÊNICA, AMBOS OS RINS COM INÚMERAS FORMAÇÕES CÍSTICAS, PRESENÇA DE CONTEÚDO ANECOGÊNICO E ACENTUADA CELULARIDADE. FORMAÇÃO CÍSTICA MEDINDO NO RIM ESQUERDO 8.30CM DE PROFUNDIDADE E NO RIM DIREITO 8.24CM DE PROFUNDIDADE, PROMOVENDO A PERDA DA DEFINIÇÃO CORTICOMEDULAR ADQUIRINDO FORMATO AMORFO E POR ESSE MOTIVO NÃO FOI POSSÍVEL FAZER A MENSURAÇÃO DO COMPRIMENTO TOTAL DA ESTRUTURA.
Figura 09 e 10: Ultrassonografia
FIGURA 11: CISTOS RENAIS
Os cistos renais foram abertos e dentro deles foi encontrado uma secreção de aspecto seroso de cor vermelha amarronzada. As cápsulas císticas foram enviadas para avaliação laboratorial. Foi realizado o exame histopatológico e foram visualizados, as seguintes alterações:
DESCRIÇÃO MACROSCÓPICA
Recebido dois frascos identificados.
1. Rim direito: Recebido fragmento irregular de tecido sugestivo de rim previamente seccionado, medindo 8,0x8,5x6,5 cm, de consistência tensa elástica. Aos cortes observa-se cavidade cística medindo 6,0x5,0 cm, com cápsula espessa medindo de 0,1 cm e 0,2 cm, com superfície interna irregular de coloração parda amarelada com pontos focais de coloração marrom escuro. Observa-se área de aparente parênquima medindo 1,7x1,4 cm, de superfície sólida a friável, aspecto homogêneo e coloração marrom claro.
2. Rim esquerdo: Recebido fragmento irregular de tecido sugestivo de rim previamente seccionado, medindo 10,0x 7,5x4,5cm, de consistência tenso elástica. Aos cortes observa-se cavidade cística medindo 8,0x6,0 cm, com parede espessa medindo de 0,7 cm e 0,1 cm, com superfície interna irregular, de coloração parda clara a parda. Observa-se área de aparente parênquima medindo 4,0x1,8cm, de superfície sólida, aspecto homogêneo e coloração marrom claro avermelhado. Observa-se ponto focal extenso de superfície amolecida e coloração parda clara avermelhada.
DESCRIÇÃO MICROSCÓPICA
1. Rim direito: O exame dos cortes histológicos revelou fragmento de rim apresentando proliferação neoplásica, multilocular, moderadamente celular, bem delimitada e não encapsulada, composta por células em arranjo papilar, com poucas áreas tubulares, com uma a três camadas de células, delimitadas por delicado estroma de tecido conjuntivo. As células apresentam moderada relação núcleo: citoplasma, citoplasma moderado eosinofílico, núcleos redondos, cromatina irregular e nucléolos pequenos evidentes. Há moderada anisocitose, anisocariose, e pleomorfismo, cerca de duas figuras de mitose em 10 campos de maior aumento (40x/2,37mm²), com células binucleadas e ocasional cariomegalia. Notam-se áreas extensas de necrose e hemorragia, bem como áreas acentuadas de fibrose. Verificam-se múltiplas formações císticas, apresentando cápsula fibrosa, alguns contendo no interior debris celulares, hemácias, macrófagos e neutrófilos degenerados. O parênquima renal apresenta infiltrado inflamatório multifocal moderado composto principalmente por linfócitos e plasmócitos, com poucos macrófagos. Os glomérulos apresentam-se por vezes escleróticos (glomeruloesclerose), alguns com moderado espessamento de cápsula glomerular, e os túbulos encontram-se moderadamente dilatados, por vezes contendo células degeneradas e material amordo eosinofílico no interior. Ainda, focos de mineralização.
2. Rim esquerdo: O exame dos cortes histológicos revelou fragmento de rim apresentando proliferação neoplásica, multinodular, moderadamente celular, bem delimitada e não encapsulada, composta por células em arranjo papilar, com poucas áreas tubulares, com uma a três camadas de células, delimitadas por delicado estroma de tecido conjuntivo. As células apresentam moderada relação núcleo: citoplasma, citoplasma moderado eosinofílico, núcleos redondos, cromatina irregular e nucléolos pequenos evidentes. Há moderada anisocitose, anisocariose, e pleomorfismo, cerca de nove figuras de mitose em 10 campos de maior aumento (40x/2,37mm²), e ocasional cariomegalia. Notam-se áreas extensas de necrose e hemorragia, bem como áreas acentuadas de fibrose. Verificam-se múltiplas formações císticas, apresentando cápsula fibrosa, alguns contendo no interior debris celulares, hemácias, macrófagos e neutrófilos degenerados. O parênquima renal apresenta infiltrado inflamatório multifocal a coalescente acentuado composto por neutrófilos, macrófagos, linfócitos e plasmócitos. Os glomérulos apresentam-se por vezes escleróticos (glomeruloesclerose), alguns com moderado espessamento de cápsula glomerular, e os túbulos encontram-se moderadamente dilatados, por vezes contendo células degeneradas e material amordo eosinofílico no interior. Ainda, focos de mineralização e infiltrado multifocal de macrófagos com hemossiderina. Há também fragmento de adrenal apresentando congestão moderada e hematopoiese extra medular, além de fragmento de linfonodo apresentando hiperplasia linfoide reativa discreta.
MARGENS CIRÚRGICAS
1 e 2. Exíguas.
DIAGNÓSTICO / CONCLUSÃO
1. Rim direito: CARCINOMA RENAL E CISTOS RENAIS.
2. Rim esquerdo: CARCINOMA RENAL E CISTOS RENAIS.
Conclui-se que a doença renal cística é uma patologia de fácil diagnóstico, porém complexo tratamento, sendo crônica e progressiva. Dependendo do estadiamento da doença, muitas vezes é necessário o tratamento paliativo para fornecer qualidade de vida e conforto ao animal afetado. São necessários maiores esforços para que terapias como uso de células tronco e transplantes se tornem viáveis e mais próximas da realidade da clínica cirúrgica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Revistas USP. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/rfmvusp/article/download/62384/65185/81337>
CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA: DOENÇA RENAL POLICÍSTICA EM CÃES. Disponível em: <http://nippromove.hospedagemdesites.ws/anais_simposio/arquivos_up/documentos/artigos/4577d615c43953a5b55f8502c859fe43.pdf>
1 Graduanda Curso de Medicina veterinária Una Contagem