DESCONSTRUINDO O CAPACITISMO NA EDUCAÇÃO: ESTRATÉGIAS DE PRÁTIVAS INCLUSIVAS PARA ALUNOS COM AUTISMO NO ENSINO MÉDIO REGULAR
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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.16777213
Cassiana Maria Arruda Ferreira1
RESUMO
O presente trabalho tem como tema a desconstrução do capacitismo na educação, com foco na promoção de práticas inclusivas para estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no ensino médio regular. O objetivo geral da pesquisa é analisar, com base na literatura recente, estratégias pedagógicas que promovam a inclusão e respeitem as singularidades dos alunos autistas, contribuindo para o enfrentamento das barreiras atitudinais e estruturais presentes no ambiente escolar. A pesquisa adota uma abordagem qualitativa, com delineamento bibliográfico, fundamentando-se em autores brasileiros contemporâneos que discutem inclusão, neurodiversidade e direitos educacionais. A partir da análise de obras como as de Dickel e Hounsell (2024), Rocha, Lima e Torres (2024), e Silva e Brandão (2024), verificou-se que o uso de tecnologias assistivas, como os jogos digitais, bem como a formação docente continuada, são elementos centrais para a construção de uma prática pedagógica mais inclusiva e eficaz. Os resultados apontam que, embora haja avanços legais e metodológicos, o capacitismo ainda persiste de forma velada em discursos e práticas escolares, o que exige maior sensibilização da comunidade educativa, revisão curricular e apoio institucional. A discussão evidencia que a inclusão de estudantes com TEA não se limita à presença física na sala de aula, mas envolve o reconhecimento de suas potencialidades, interesses e modos de aprender. Conclui-se que a desconstrução do capacitismo demanda um compromisso coletivo com a equidade e o respeito às diferenças, apoiado por políticas públicas, formação crítica dos professores e valorização da diversidade no cotidiano escolar.
Palavras-chave: inclusão escolar; capacitismo; autismo; ensino médio; práticas pedagógicas.
ABSTRACT
This paper deconstructs ableism in education, focusing on promoting inclusive practices for students with Autism Spectrum Disorder (ASD) in regular high schools. The overall objective of this research is to analyze, based on recent literature, pedagogical strategies that promote inclusion and respect the unique characteristics of autistic students, contributing to addressing the attitudinal and structural barriers present in the school environment. The research adopts a qualitative approach, with a bibliographic design, based on contemporary Brazilian authors who discuss inclusion, neurodiversity, and educational rights. Based on the analysis of works such as those by Dickel and Hounsell (2024), Rocha, Lima, and Torres (2024), and Silva and Brandão (2024), it was found that the use of assistive technologies, such as digital games, as well as continuing teacher training, are central elements for building more inclusive and effective pedagogical practices. The results indicate that, despite legal and methodological advances, ableism still persists in a veiled form in school discourse and practices, requiring greater awareness within the educational community, curricular revision, and institutional support. The discussion highlights that the inclusion of students with ASD is not limited to their physical presence in the classroom, but involves recognizing their potential, interests, and ways of learning. It is concluded that deconstructing ableism demands a collective commitment to equity and respect for differences, supported by public policies, critical teacher training, and the appreciation of diversity in everyday school life.
Keywords: school inclusion; ableism; autism; high school; pedagogical practices.
1 INTRODUÇÃO
A educação inclusiva tem se consolidado como um dos principais desafios e compromissos das políticas públicas educacionais contemporâneas, especialmente no que se refere ao atendimento de estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) nas escolas regulares. Contudo, apesar dos avanços legislativos e normativos que asseguram o direito à educação inclusiva, o capacitismo entendido como o preconceito e discriminação contra pessoas com deficiência ainda se mantém presente de maneira sutil, muitas vezes invisível, no ambiente escolar. Este cenário demanda uma reflexão profunda sobre as práticas pedagógicas adotadas, a formação dos educadores e a organização do espaço escolar, para que a inclusão ultrapasse a mera presença física e garanta efetivamente o direito à aprendizagem e ao desenvolvimento pleno dos estudantes com autismo.
O tema deste estudo, portanto, concentra-se na desconstrução do capacitismo na educação, com enfoque nas estratégias de práticas inclusivas para alunos com TEA no ensino médio regular. O objetivo principal é analisar, a partir de uma pesquisa bibliográfica recente, as metodologias, recursos e abordagens pedagógicas que favoreçam um ambiente escolar mais acolhedor, equitativo e sensível às necessidades e potencialidades desses estudantes. Essa investigação busca contribuir para o debate sobre a inclusão verdadeira, que reconhece e valoriza a diversidade humana, combatendo práticas e discursos capacitistas que limitam o acesso ao conhecimento e ao desenvolvimento social e emocional dos alunos com autismo.
A metodologia adotada para este trabalho é a pesquisa bibliográfica, que permite a análise crítica e sistematizada de textos acadêmicos, artigos científicos, legislações e outras publicações relevantes sobre o tema. A opção pela pesquisa bibliográfica justifica-se pela necessidade de fundamentar a discussão em bases teóricas sólidas, evidenciando o estado da arte sobre o tema e possibilitando a identificação das principais estratégias inclusivas, bem como dos desafios enfrentados para a efetivação da educação sem capacitismo. Foram selecionados autores brasileiros contemporâneos que abordam o autismo na escola, as tecnologias assistivas, a formação docente para a inclusão e o enfrentamento das barreiras atitudinais no contexto educacional, como Dickel e Hounsell (2024), Rocha, Lima e Torres (2024), Silva e Brandão (2024), entre outros.
O problema que orienta esta pesquisa reside na persistência do capacitismo nas práticas educacionais voltadas para alunos com TEA no ensino médio regular. Apesar da ampla legislação e das diretrizes educacionais que afirmam a necessidade de inclusão, observa-se que a efetivação desses preceitos encontra barreiras significativas, desde o preparo insuficiente dos professores até a falta de recursos adequados e o preconceito institucionalizado, que pode se manifestar tanto de forma explícita quanto velada. Tais dificuldades comprometem o desenvolvimento acadêmico, social e emocional dos estudantes autistas, que frequentemente enfrentam isolamento, baixa autoestima e exclusão disfarçada dentro do ambiente escolar.
A justificativa para este estudo baseia-se na urgência de promover uma educação que respeite e valorize as diferenças, garantindo o direito à aprendizagem e à convivência social para todos os estudantes, independentemente de suas condições. O ensino médio representa uma etapa crucial para a formação cidadã e para a preparação para a vida adulta, o que reforça a importância de práticas inclusivas que favoreçam a permanência, o progresso e o protagonismo dos alunos com autismo. Além disso, a desconstrução do capacitismo na escola contribui para a construção de uma sociedade mais justa, plural e democrática, na qual as pessoas com deficiência possam exercer plenamente sua cidadania.
Este trabalho pretende, portanto, colaborar para a ampliação do conhecimento sobre estratégias inclusivas eficazes, enfatizando a importância da formação contínua dos profissionais da educação, do uso de recursos pedagógicos adaptados, como as tecnologias assistivas, e da sensibilização da comunidade escolar para a promoção de um ambiente verdadeiramente inclusivo. A reflexão crítica sobre o capacitismo e suas manifestações no cotidiano escolar é fundamental para que se possam implementar ações educativas que respeitem as singularidades e potencialidades dos estudantes com TEA, rompendo com práticas excludentes e construindo uma cultura escolar baseada na equidade e no respeito à diversidade.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Práticas Inclusivas e Desconstrução do Capacitismo para Estudantes com Autismo no Ensino Médio Regular
A inclusão de estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no ensino médio regular tem ganhado crescente atenção na literatura educacional brasileira, destacando a necessidade de práticas pedagógicas que ultrapassem a mera inserção física dos alunos na escola. Segundo Silva e Brandão (2024), a efetivação da inclusão demanda uma formação docente contínua e crítica, que sensibilize os professores para as especificidades do autismo e para o enfrentamento das barreiras atitudinais, como o capacitismo, ainda presente nas escolas brasileiras. Para esses autores, a preparação docente deve incluir não apenas conhecimentos técnicos, mas também a reflexão ética sobre o respeito às diferenças e a valorização da diversidade.
Em consonância, Dickel e Hounsell (2024) enfatizam que os jogos digitais configuram uma importante ferramenta de tecnologia assistiva, capaz de proporcionar um ambiente de aprendizagem adaptado às necessidades dos estudantes com TEA. A ludicidade e a interatividade presentes nesses recursos facilitam o desenvolvimento de habilidades cognitivas, sociais e emocionais, promovendo maior engajamento dos alunos no processo educacional. Os autores destacam, entretanto, que a eficácia desses jogos depende da sua adequação às diretrizes de acessibilidade, garantindo que todos os estudantes possam usufruir das funcionalidades propostas.
A questão da acessibilidade nos jogos digitais é aprofundada por Pereira, Cysneiros Filho e Aguiar (2021), que apresentam diretrizes específicas para o desenvolvimento de jogos sérios voltados para aprendizes no espectro autista. Eles apontam que a personalização dos conteúdos, a interface intuitiva e a minimização de estímulos sensoriais excessivos são fundamentais para evitar sobrecarga cognitiva e garantir a efetividade do recurso. Além disso, ressaltam a importância da participação de especialistas e famílias na concepção dessas tecnologias para assegurar que as necessidades reais dos estudantes sejam contempladas.
Rocha, Lima e Torres (2024) contribuem para a discussão ao destacar que os jogos digitais, quando integrados a uma prática pedagógica inclusiva, ampliam as possibilidades de aprendizagem dos estudantes com TEA, sobretudo no desenvolvimento de competências sociais e comunicativas. Para esses autores, o uso desses recursos deve ser mediado por professores capacitados, que saibam explorar as potencialidades dos jogos e adequá-los aos objetivos curriculares, respeitando o ritmo e os interesses individuais dos alunos.
No que tange à formação dos professores, Silva e Brandão (2024) reforçam que a capacitação deve ser contínua e estar ancorada em abordagens que dialoguem com a neurodiversidade e a pedagogia inclusiva. Eles ressaltam que o preconceito estrutural e o capacitismo institucional são obstáculos significativos que só podem ser superados por meio de processos formativos que promovam a conscientização e o comprometimento ético dos educadores com a diversidade.
Santos, Lima e Santos (2021) analisam a gamificação como estratégia pedagógica para estudantes com autismo, ressaltando seu potencial motivador e facilitador da aprendizagem. Eles destacam que a gamificação, quando aplicada de forma planejada, pode contribuir para a melhoria do desempenho acadêmico e para a inclusão social dos alunos, ao favorecer o engajamento e a interação em atividades escolares.
Sousa e Malheiro (2025) discutem o papel dos jogos digitais no desenvolvimento de habilidades funcionais em estudantes com TEA, enfatizando que esses recursos auxiliam no aprendizado de competências essenciais para a autonomia pessoal e social. Eles destacam que o uso desses jogos deve ser parte de uma intervenção multidisciplinar, envolvendo educadores, terapeutas e familiares.
A importância do apoio institucional para o sucesso da inclusão é destacada por Rocha, Lima e Torres (2024), que afirmam que políticas públicas claras, recursos adequados e a valorização do trabalho docente são essenciais para que as estratégias inclusivas possam ser implementadas de forma consistente e eficaz. A ausência desses elementos, segundo os autores, compromete a qualidade do atendimento e a permanência dos alunos com TEA na escola regular.
Além das tecnologias assistivas, a sensibilização da comunidade escolar é um aspecto relevante abordado por Silva e Brandão (2024), que defendem a realização de campanhas e ações educativas voltadas para o combate ao capacitismo e para a valorização da diversidade. Eles argumentam que a mudança cultural é fundamental para que a inclusão seja percebida como um direito e uma prática cotidiana, e não apenas como uma obrigação legal.
Pereira, Cysneiros Filho e Aguiar (2021) ressaltam que o envolvimento das famílias no processo educativo é um fator determinante para o sucesso da inclusão, especialmente para estudantes com TEA. A colaboração entre escola e família promove uma rede de suporte que potencializa as intervenções pedagógicas e favorece o desenvolvimento integral dos alunos.
Segundo Dickel e Hounsell (2024), o desenvolvimento de jogos digitais voltados para o público TEA deve considerar a diversidade de perfis presentes no espectro, evitando abordagens generalistas que possam excluir ou não atender adequadamente alguns estudantes. A personalização e a flexibilidade dos recursos são apontadas como estratégias essenciais para garantir a efetividade do aprendizado.
Santos, Lima e Santos (2021) destacam que a gamificação pode ser aliada no combate ao isolamento social dos estudantes autistas, uma vez que promove a interação e a colaboração em ambientes controlados e estruturados. Isso contribui para o desenvolvimento de habilidades sociais e para a construção da autoestima dos alunos.
Sousa e Malheiro (2025) defendem que a inclusão verdadeira envolve a adaptação curricular e metodológica, considerando as especificidades de cada estudante com TEA. Eles alertam que a rigidez curricular e a falta de flexibilidade são formas de capacitismo que comprometem o processo de aprendizagem e a participação plena desses alunos.
Rocha, Lima e Torres (2024) destacam ainda que a avaliação inclusiva deve ser repensada, incorporando critérios que considerem o progresso individual e as estratégias utilizadas pelos estudantes, evitando a reprodução de padrões excludentes que privilegiam apenas o desempenho acadêmico tradicional.
Silva e Brandão (2024) afirmam que a construção de uma escola inclusiva e anticapacitista depende de um compromisso coletivo que envolve gestores, professores, famílias e alunos, sustentado por políticas públicas eficazes, formação continuada e uma cultura escolar que valorize a diversidade como riqueza.
3 METODOLOGIA
A presente pesquisa caracteriza-se como um estudo de natureza bibliográfica, que tem como objetivo reunir, analisar e sistematizar informações já publicadas sobre o tema da desconstrução do capacitismo na educação e as estratégias de práticas inclusivas para alunos com autismo no ensino médio regular. A escolha da pesquisa bibliográfica justifica-se pela necessidade de compreender o estado da arte sobre o assunto, possibilitando uma fundamentação teórica consistente e atualizada para o desenvolvimento do trabalho.
Para a coleta dos dados, foram utilizados artigos científicos, livros, teses, dissertações, publicações acadêmicas e documentos oficiais disponíveis em bases de dados eletrônicas confiáveis, como Scielo, Google Acadêmico, Portal de Periódicos CAPES, entre outros repositórios nacionais. A seleção do material seguiu critérios de relevância, atualidade — privilegiando publicações dos últimos cinco anos — e pertinência ao tema em questão, com ênfase em autores brasileiros que abordam a inclusão, o autismo e o combate ao capacitismo no contexto educacional.
A análise dos textos coletados foi feita de forma qualitativa, por meio da leitura crítica e da interpretação dos conteúdos, buscando identificar convergências, divergências e lacunas no conhecimento produzido. Esse processo permitiu a construção de um panorama abrangente sobre as práticas pedagógicas inclusivas e as estratégias para desconstruir o capacitismo, além de evidenciar os desafios enfrentados por alunos com TEA no ensino médio regular.
Destaca-se que a pesquisa bibliográfica, por ser documental, não envolve coleta de dados primários nem a aplicação de instrumentos diretos com sujeitos da pesquisa, o que permite que o estudo tenha caráter exploratório e reflexivo. A metodologia adotada contribui para fundamentar teoricamente as propostas e discussões apresentadas no trabalho, oferecendo subsídios para a implementação de práticas educativas mais inclusivas e anticapacitistas.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A desconstrução do capacitismo na educação passa inevitavelmente pela transformação da cultura escolar e das práticas pedagógicas que envolvem alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Silva e Brandão (2024) evidenciam que ainda há uma grande lacuna no preparo dos profissionais da educação para lidar com a diversidade funcional, o que impacta diretamente na qualidade do atendimento aos estudantes autistas. A formação continuada, quando realizada de forma efetiva, promove a reflexão crítica sobre preconceitos e barreiras invisíveis, permitindo que o professor desenvolva práticas menos capacitistas e mais acolhedoras.
Rocha, Lima e Torres (2024) chamam atenção para o fato de que a inclusão vai muito além da simples presença física do aluno com autismo na sala de aula. Eles destacam que o ambiente escolar deve ser estruturado para reconhecer e valorizar as diferenças, adotando metodologias que promovam a autonomia e o protagonismo do estudante. Isso demanda a revisão das estratégias pedagógicas tradicionais, que frequentemente ignoram as necessidades específicas desses alunos, mantendo, mesmo que de forma implícita, posturas capacitistas.
Pereira, Cysneiros Filho e Aguiar (2021) aprofundam a discussão ao trazer a acessibilidade digital como um recurso fundamental para a superação do capacitismo. Para eles, a utilização de jogos digitais e ferramentas tecnológicas adaptadas não só amplia o acesso à aprendizagem como também contribui para a construção da autoestima e da identidade do aluno autista, rompendo com a ideia de que esses estudantes são incapazes ou dependentes.
No entanto, Sousa e Malheiro (2025) argumentam que a tecnologia por si só não é suficiente para combater o capacitismo. É necessário um compromisso institucional e coletivo que promova a cultura da inclusão de maneira integral, envolvendo gestores, professores, familiares e estudantes. Eles reforçam que a desconstrução do capacitismo exige a transformação das atitudes e das práticas pedagógicas, além de garantir que a tecnologia seja empregada como um meio para ampliar as possibilidades de aprendizagem, e não como um fim isolado.
Santos, Lima e Santos (2021) enfatizam que a gamificação, quando implementada com planejamento pedagógico adequado, pode ser uma poderosa estratégia para engajar alunos com TEA. A ludicidade, além de facilitar o acesso aos conteúdos, possibilita a construção de vínculos sociais e a redução do isolamento, frequentemente intensificado por atitudes capacitistas na escola. O uso dessas metodologias, entretanto, requer que os educadores estejam preparados para acompanhar e adaptar as atividades às necessidades individuais dos alunos.
Hummel e Ferreira (2023) reforçam essa ideia, ao apontar que os jogos digitais atuam como tecnologia assistiva, adaptando a aprendizagem ao ritmo e estilo de cada estudante. Eles destacam que a personalização do ensino, por meio dessas ferramentas, colabora para que o aluno com autismo possa desenvolver habilidades cognitivas e sociais, muitas vezes prejudicadas por práticas pedagógicas tradicionais que não consideram as especificidades do espectro.
Dickel e Hounsell (2024) aprofundam a discussão sobre o design de jogos digitais, ressaltando que para serem efetivos, eles precisam considerar as particularidades sensoriais e comportamentais dos estudantes com TEA. Isso significa que a acessibilidade deve estar presente desde o planejamento, para evitar a exclusão de alunos que possam ter dificuldades com estímulos visuais ou auditivos, por exemplo. Essa perspectiva contribui para combater a visão capacitista que limita o potencial desses estudantes.
Silva e Brandão (2024) destacam que a formação dos professores para o uso desses recursos tecnológicos é essencial para a efetividade da inclusão. Profissionais preparados conseguem não só aplicar as tecnologias de forma mais adequada, mas também reconhecer e confrontar práticas capacitistas presentes no cotidiano escolar, promovendo um ambiente mais acolhedor e diversificado.
Para Rocha, Lima e Torres (2024), a acessibilidade deve ser entendida em um sentido amplo, que ultrapasse a adaptação física e tecnológica e incorpore também a reorganização das práticas pedagógicas, favorecendo a participação ativa e o desenvolvimento integral do aluno. Eles alertam para o risco de se implementar ações superficiais que mantenham a exclusão estrutural e o capacitismo, mesmo diante da presença formal da inclusão.
Pereira, Cysneiros Filho e Aguiar (2021) reforçam que as políticas públicas voltadas para a inclusão ainda enfrentam desafios em sua implementação prática, especialmente no que tange à capacitação docente e ao suporte técnico e pedagógico necessários. Isso evidencia que a desconstrução do capacitismo é uma tarefa complexa, que demanda investimento contínuo e compromisso coletivo.
Sousa e Malheiro (2025) acrescentam que a valorização da diversidade funcional é um princípio fundamental para a educação inclusiva. Isso implica repensar o currículo, as avaliações e as relações interpessoais no ambiente escolar, a fim de garantir que os alunos com TEA tenham acesso equitativo às oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento.
Santos, Lima e Santos (2021) destacam ainda que a ludicidade e a interação proporcionadas pela gamificação podem ser meios eficientes para promover o engajamento e a motivação desses estudantes, elementos essenciais para o sucesso escolar e a superação do capacitismo internalizado, que muitas vezes limita o potencial dos próprios alunos.
Hummel e Ferreira (2023) apontam que o reconhecimento da tecnologia assistiva como direito educacional pode fortalecer a luta contra o capacitismo institucionalizado, garantindo recursos e políticas que apoiem as práticas inclusivas e o desenvolvimento das habilidades dos alunos com autismo.
Dickel e Hounsell (2024) reforçam que a inclusão efetiva depende da articulação entre tecnologias, práticas pedagógicas e mudanças culturais no ambiente escolar, que só se consolidam com o engajamento de todos os atores educacionais, promovendo o respeito às diferenças e a valorização da diversidade.
Silva e Brandão (2024) concluem que a desconstrução do capacitismo é um processo contínuo e multidimensional, que envolve a formação, a prática e a cultura escolar. Somente por meio dessa transformação será possível garantir uma educação realmente inclusiva e justa para os estudantes com TEA no ensino médio regular.
5 CONCLUSÃO
A presente pesquisa evidenciou que a desconstrução do capacitismo na educação é um processo essencial e urgente para garantir a inclusão real de estudantes com autismo no ensino médio regular. Tal desconstrução exige que a escola se transforme em um ambiente que respeite as diferenças, valorize as potencialidades e promova a autonomia de todos os seus alunos, rompendo com as barreiras invisíveis que ainda mantêm a exclusão e o preconceito. A educação inclusiva deve ir além da simples inserção física dos alunos no ambiente escolar, sendo necessário um compromisso efetivo com a adaptação das práticas pedagógicas, da gestão escolar e da formação dos profissionais da educação.
A análise realizada demonstra que o capacitismo se manifesta não apenas em atitudes explícitas, mas principalmente em práticas e estruturas institucionais que limitam o desenvolvimento dos alunos com necessidades educacionais especiais. Assim, combater essas práticas exige um olhar crítico sobre as formas tradicionais de ensinar e avaliar, possibilitando a construção de metodologias flexíveis que atendam às especificidades dos estudantes no espectro autista. É fundamental, portanto, que a escola promova um ambiente que incentive a experimentação, a ludicidade e o protagonismo dos alunos, utilizando recursos didáticos e tecnológicos acessíveis e adaptados.
O uso de tecnologias assistivas, como os jogos digitais, mostrou-se uma estratégia promissora para fortalecer a aprendizagem, a motivação e a interação social dos estudantes com autismo. Essas ferramentas possibilitam que os alunos experimentem o aprendizado de forma personalizada, respeitando seus ritmos e interesses, o que contribui para o desenvolvimento de habilidades cognitivas e socioemocionais. Entretanto, a tecnologia não deve ser vista como solução isolada, mas sim como parte de um conjunto de ações integradas que envolvem a capacitação dos professores, a adequação curricular e o envolvimento da comunidade escolar.
Outro ponto importante é o papel do professor, que precisa estar preparado não apenas para utilizar recursos tecnológicos, mas para compreender as particularidades do espectro autista e desconstruir seus próprios preconceitos e limitações. A formação continuada deve ser um eixo central para garantir que os profissionais estejam aptos a planejar, executar e avaliar práticas pedagógicas inclusivas, fomentando o desenvolvimento integral dos alunos. Além disso, a sensibilização de todos os atores da comunidade escolar é fundamental para a construção de um ambiente acolhedor, onde as diferenças sejam celebradas como elementos que enriquecem o processo educativo.
A gestão escolar também desempenha papel crucial na promoção de práticas inclusivas que combatam o capacitismo. É necessário que as políticas e ações escolares priorizem a inclusão como um valor estruturante, garantindo recursos, apoio técnico e estratégias de monitoramento para que as práticas pedagógicas realmente atendam às necessidades dos alunos com autismo. Sem essa articulação institucional, as iniciativas pedagógicas tendem a ser fragmentadas e pouco eficazes, limitando os avanços no processo de inclusão.
Além disso, a participação das famílias e da comunidade no processo educacional deve ser estimulada, considerando que a construção de uma educação inclusiva requer o diálogo constante entre todos os envolvidos. O fortalecimento dessa rede de apoio contribui para a continuidade das práticas inclusivas para além do ambiente escolar, ampliando as oportunidades de aprendizagem e socialização dos alunos com TEA.
A desconstrução do capacitismo na escola implica também a revisão dos materiais pedagógicos e das avaliações, tornando-os mais acessíveis, flexíveis e representativos da diversidade presente na sala de aula. A avaliação inclusiva deve reconhecer o progresso individual de cada aluno, valorizando seus esforços e conquistas, e não apenas o cumprimento de padrões rígidos e uniformes.
A transformação necessária para garantir a inclusão de estudantes com autismo no ensino médio regular é ampla e multifacetada. Ela envolve mudanças culturais, pedagógicas, tecnológicas e institucionais que, juntas, possam proporcionar uma educação que respeite e valorize as singularidades de cada aluno. A desconstrução do capacitismo, portanto, deve ser vista como um compromisso ético e social, que busca assegurar direitos e promover a equidade no acesso ao conhecimento e ao desenvolvimento humano.
Somente com essa visão integrada e comprometida será possível construir ambientes escolares verdadeiramente inclusivos, que preparem todos os estudantes para a vida em sociedade, reconhecendo o valor da diversidade como um potencial transformador da educação e da convivência humana.
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1 Mestranda em Tecnologias Emergentes em Educação pela Must University. Email: [email protected]