DA INFÂNCIA À ALFABETIZAÇÃO: PERSPECTIVAS INTEGRADAS NO ENSINO INFANTIL E FUNDAMENTAL I NO ESTADO DE SÃO PAULO

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.15702967


Ana Paula Cardoso1
Alessandra de Fátima Cardoso de Sousa2
Fabiana Cristina Amaro Teodoro3
Francisco Damião Bezerra4


RESUMO
O presente trabalho discute a importância da integração entre a Educação Infantil e o Ensino Fundamental I no estado de São Paulo, destacando os desafios e as potencialidades desse percurso no processo de alfabetização. Considerando as mudanças nas diretrizes curriculares e a valorização da infância como etapa fundamental para o desenvolvimento integral, o estudo tem como objetivo investigar práticas pedagógicas que promovam uma transição fluida e significativa entre essas duas fases da educação básica. Para tanto, adotou-se uma metodologia de caráter bibliográfico e de natureza qualitativa, com base em autores clássicos e contemporâneos da área, bem como em documentos oficiais, como a BNCC. Os resultados evidenciam que a articulação entre o lúdico, a interdisciplinaridade e a escuta sensível às infâncias favorece uma alfabetização mais dialógica e contextualizada. Conclui-se que, embora haja avanços teóricos e normativos, ainda são necessários investimentos em formação docente, planejamento integrado e políticas educacionais que garantam a continuidade dos processos de aprendizagem desde os primeiros anos escolares.
Palavras-chave: Alfabetização. Ensino Fundamental I. Ensino Infantil. Infância. Perspectivas Integradas.

ABSTRACT
This paper discusses the importance of integrating Early Childhood Education and Elementary School I in the state of São Paulo, highlighting the challenges and potential of this path in the literacy process. Considering the changes in curricular guidelines and the appreciation of childhood as a fundamental stage for comprehensive development, the study aims to investigate pedagogical practices that promote a fluid and meaningful transition between these two phases of basic education. To this end, a bibliographic and qualitative methodology was adopted, based on classic and contemporary authors in the area, as well as official documents, such as the BNCC. The results show that the articulation between playfulness, interdisciplinarity and listening sensitively to children favors a more dialogic and contextualized literacy. It is concluded that, although there are theoretical and normative advances, investments in teacher training, integrated planning and educational policies that guarantee the continuity of learning processes from the first school years are still necessary.
Keywords: Literacy. Elementary Education I. Early Childhood Education. Childhood. Integrated Perspectives.

1 Introdução

A temática “Da infância à alfabetização: Perspectivas integradas no Ensino Infantil e Fundamental I no estado de São Paulo” trata da articulação entre duas etapas essenciais da educação básica, abordando a continuidade e a coerência das práticas pedagógicas desde os primeiros anos escolares até os processos iniciais de leitura e escrita. A origem dessa discussão remonta às transformações educacionais promovidas especialmente após a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB nº 9.394/1996), que reforça a necessidade de integração curricular e de respeito às especificidades da infância no processo de alfabetização. Essa transição requer uma abordagem que valorize tanto os saberes adquiridos nas experiências lúdicas da Educação Infantil quanto os novos desafios cognitivos do Ensino Fundamental I, respeitando o desenvolvimento integral da criança.

Dessa forma, torna-se necessário contextualizar as mudanças políticas, curriculares e pedagógicas que ocorreram no cenário paulista nos últimos anos, com destaque para a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil e o Ensino Fundamental. Essas normativas impulsionam uma reorganização dos tempos, espaços e metodologias, visando evitar rupturas abruptas entre as etapas e promovendo práticas mais significativas e contextualizadas. No estado de São Paulo, especialmente, observa-se um movimento crescente por práticas integradoras, que reconheçam as singularidades de cada faixa etária e valorizem a ludicidade como caminho para a construção do conhecimento.

À vista disso, surgem como exemplificação experiências pedagógicas que utilizam o brincar como elemento central para promover a alfabetização, respeitando o ritmo e o universo simbólico das crianças. Projetos escolares que integram jogos, contação de histórias, rodas de conversa e atividades interdisciplinares demonstram a potência de uma abordagem que alia afetividade, criatividade e aprendizagem. Tais práticas, desenvolvidas em redes públicas paulistas, sinalizam que é possível alfabetizar sem abrir mão do encantamento e das necessidades próprias da infância.

No entanto, o problema da pesquisa reside na dificuldade de implementação efetiva dessas perspectivas integradas, devido a fatores como a fragmentação curricular, a desvalorização da cultura lúdica e a ausência de formação continuada que promova a articulação entre os docentes das duas etapas. Essa desarticulação pode comprometer a continuidade dos processos de aprendizagem, gerar retrocessos no desenvolvimento infantil e prejudicar o engajamento dos estudantes no percurso da alfabetização.

Esta pesquisa se justifica pela necessidade de aprofundar a compreensão sobre as práticas que favorecem a transição pedagógica entre a Educação Infantil e o Ensino Fundamental I, à luz das diretrizes curriculares e das experiências exitosas já existentes. A urgência em superar os modelos tradicionais de ensino fragmentado, que desconsideram as especificidades do desenvolvimento infantil, impulsiona a busca por propostas integradoras, especialmente no contexto paulista, onde os desafios educacionais se tornam ainda mais complexos diante das desigualdades regionais.

Esta pesquisa é relevante porque contribui com o debate sobre a qualidade da educação básica, oferecendo subsídios teóricos e práticos para uma alfabetização mais humanizada, sensível às múltiplas linguagens infantis. Além disso, o estudo pode auxiliar professores, gestores e formuladores de políticas públicas a repensarem suas práticas e planejamentos, promovendo uma transição mais fluida, respeitosa e eficiente entre as etapas iniciais do ensino.

Este trabalho objetiva investigar as perspectivas integradas entre a Educação Infantil e o Ensino Fundamental I no estado de São Paulo, com foco nas práticas pedagógicas que favorecem a continuidade do processo de alfabetização e respeitam as características do desenvolvimento infantil, especialmente no que se refere à ludicidade, à interdisciplinaridade e às interações sociais mediadas pelo brincar.

O percurso metodológico adotado nesta pesquisa é de natureza qualitativa, com base em uma investigação bibliográfica. Foram selecionadas obras acadêmicas, documentos normativos, relatórios técnicos e artigos científicos, disponíveis em bases de dados como Scielo, Google Acadêmico e Capes, que discutem a alfabetização, a infância, as práticas interdisciplinares e a formação docente no contexto paulista.

O percurso teórico se ancora em autores que discutem a pedagogia da infância, a alfabetização significativa e a integração curricular, tais como Magda Soares, Emilia Ferreiro, Jean Piaget, Vygotsky, Ana Teberosky e Rosa Maria Torres, além das contribuições oriundas das Diretrizes Curriculares Nacionais e da BNCC. Esses referenciais permitem compreender o processo de aprendizagem como uma construção ativa e situada, mediada por interações sociais, experiências sensoriais e práticas culturais.

A estrutura deste trabalho está organizada da seguinte maneira: na introdução, apresenta-se a temática, a contextualização, o problema, os objetivos e o percurso metodológico e teórico. O primeiro capítulo, “Transições Pedagógicas entre a Educação Infantil e o Ensino Fundamental I: Desafios e Integrações”, discute as rupturas e continuidades entre as duas etapas, com base em estudos recentes e normativas educacionais. O segundo capítulo, “Práticas Interdisciplinares e o Brincar como Estratégia de Alfabetização no Contexto Paulista”, analisa experiências pedagógicas que demonstram o potencial do brincar e da interdisciplinaridade como caminhos eficazes para a alfabetização significativa. Por fim, a conclusão retoma os principais achados do estudo, apontando desafios, possibilidades e recomendações para práticas educativas integradas entre infância e alfabetização no cenário educacional paulista.

2 Transições Pedagógicas entre a Educação Infantil e o Ensino Fundamental I: Desafios e Integrações

A ruptura entre a Educação Infantil e o Ensino Fundamental I refere-se à descontinuidade de propostas pedagógicas, metodologias e formas de interação com as crianças no momento da transição entre essas duas etapas da educação básica. Historicamente, essa separação é herança de modelos escolares compartimentalizados, nos quais cada fase do ensino possui lógicas distintas, muitas vezes incompatíveis com os princípios do desenvolvimento infantil. Conforme destacam Almeida e Valente (2019), essa fragmentação curricular compromete a coerência do percurso formativo e desconsidera os saberes adquiridos nas etapas anteriores. Já Freires et al. (2024) argumentam que uma abordagem integradora é essencial para promover a continuidade das aprendizagens e o desenvolvimento de habilidades do século XXI desde os primeiros anos escolares.

Consoante a isso, a ruptura entre as etapas escolares ainda se manifesta em práticas pedagógicas que, ao iniciarem o Ensino Fundamental, ignoram os processos vivenciados pelas crianças na Educação Infantil, impondo novas regras, conteúdos e expectativas de forma abrupta. A BNCC, como salientam Nobre et al. (2023), busca justamente superar essa cisão ao propor direitos de aprendizagem comuns, valorizando o brincar, a escuta e as múltiplas linguagens como fundamentos também da alfabetização. Para Silva e Santos (2018), a falta de diálogo entre os segmentos escolares reflete uma concepção ultrapassada de currículo, desvinculada da realidade e das necessidades da criança.

À exemplo disso, em diversas redes municipais e estaduais de ensino, observa-se que alunos do 1º ano do Ensino Fundamental deixam de ter acesso a atividades lúdicas, à contação de histórias e aos espaços de livre expressão, elementos centrais na Educação Infantil. Tal mudança brusca pode gerar desmotivação, resistência e impactos negativos no processo de alfabetização. Freires et al. (2024) defendem que a integração entre os currículos deve ser construída coletivamente, respeitando os ritmos de aprendizagem e favorecendo ambientes que incentivem a autonomia e a criatividade das crianças.

A continuidade curricular e metodológica consiste na articulação fluida e coerente entre os conteúdos, abordagens pedagógicas e objetivos de aprendizagem ao longo das etapas escolares, especialmente entre a Educação Infantil e o Ensino Fundamental I. Essa noção tem origem nas teorias do desenvolvimento infantil e nos estudos curriculares que enfatizam a importância da progressividade na aprendizagem. Segundo Almeida e Valente (2019), pensar um currículo como percurso formativo exige romper com a lógica compartimentalizada do ensino tradicional, valorizando uma construção integrada do conhecimento. Freires et al. (2024) acrescentam que, para formar sujeitos críticos e autônomos, é essencial garantir a continuidade das experiências formativas desde os primeiros anos.

Diante disso, os documentos oficiais, como a BNCC, orientam para uma construção curricular articulada, com ênfase nos campos de experiência da Educação Infantil e nas competências gerais que se estendem ao Ensino Fundamental. Nobre et al. (2023) argumentam que essa diretriz busca promover uma transição pedagógica que respeite as especificidades do desenvolvimento infantil, ao mesmo tempo em que introduz novas exigências acadêmicas. Para Silva e Santos (2018), é fundamental que essa continuidade não se limite à sequência de conteúdos, mas inclua também as práticas de cuidado, escuta e mediação pedagógica.

Exemplificando, escolas que organizam encontros entre docentes das duas etapas, promovem planejamentos coletivos e alinham suas metodologias de ensino demonstram maior sucesso na adaptação dos alunos ao Ensino Fundamental. Essas práticas, conforme apontado por Freires et al. (2024), favorecem o sentimento de pertencimento, o fortalecimento da identidade estudantil e a valorização dos conhecimentos prévios, elementos indispensáveis para o sucesso no processo de alfabetização e letramento.

A formação docente e a cultura institucional são elementos centrais para garantir uma transição escolar efetiva e humanizada entre a Educação Infantil e o Ensino Fundamental I. A formação refere-se tanto ao processo inicial quanto à formação continuada dos professores, com foco em compreender as especificidades de cada etapa e suas articulações. Já a cultura institucional diz respeito aos valores, normas e práticas consolidadas no cotidiano escolar que orientam as relações pedagógicas. Como afirmam Almeida e Valente (2019), a superação das rupturas curriculares exige uma postura reflexiva por parte dos docentes e uma escola comprometida com a inovação. Freires et al. (2024) reforçam que o investimento na formação para as competências do século XXI deve começar desde os primeiros anos escolares.

Ainda assim, observa-se que muitos professores enfrentam dificuldades para compreender as diferenças entre as etapas e, com isso, adotam práticas descontextualizadas ou padronizadas, prejudicando a aprendizagem das crianças. Segundo Nobre et al. (2023), essa realidade é agravada pela ausência de políticas públicas de formação articuladas com os novos referenciais curriculares, como a BNCC. Para Silva e Santos (2018), o ambiente escolar precisa ser reestruturado de forma a valorizar a troca de saberes entre docentes de diferentes etapas, promovendo uma cultura de colaboração e integração.

Como por exemplo, programas de formação continuada que envolvem profissionais da Educação Infantil e do Ensino Fundamental em estudos conjuntos sobre desenvolvimento infantil, currículo e práticas pedagógicas têm mostrado impactos positivos na transição escolar. De acordo com Freires et al. (2024), iniciativas desse tipo favorecem a construção de uma linguagem comum entre os educadores, fortalecem vínculos e contribuem para o planejamento de atividades que respeitem a singularidade das crianças e o processo progressivo da alfabetização.

3 Práticas Interdisciplinares e o Brincar como Estratégia de Alfabetização no Contexto Paulista

O brincar, compreendido como linguagem própria da infância, é uma atividade simbólica, espontânea e significativa, por meio da qual a criança expressa emoções, interpreta o mundo e constrói conhecimentos. Essa concepção tem origem nas teorias de Vygotsky e Piaget, e passou a integrar as políticas educacionais brasileiras como eixo estruturante da Educação Infantil. Conforme destacam Almeida e Valente (2019), o brincar não deve ser entendido como mera recreação, mas como ato intencional de aprendizagem. Freires et al. (2024) defendem que, ao reconhecer o brincar como linguagem, a escola possibilita o desenvolvimento de múltiplas habilidades cognitivas, sociais e comunicacionais, favorecendo, desde cedo, processos de letramento e alfabetização.

Dessa forma, no contexto da BNCC e das diretrizes curriculares, o brincar é legitimado como direito de aprendizagem e elemento essencial do cotidiano pedagógico na primeira infância. Nobre et al. (2023) ressaltam que o currículo da Educação Infantil deve ser construído a partir das experiências lúdicas, promovendo o envolvimento ativo da criança na construção do saber. Silva e Santos (2018) complementam que o brincar não deve ser abandonado no início do Ensino Fundamental, mas sim ressignificado como meio de mediação da linguagem escrita e da leitura, assegurando uma transição mais respeitosa e eficaz.

Como por exemplo, em algumas escolas públicas do estado de São Paulo, atividades como jogos de palavras, dramatizações, construção de histórias coletivas e brincadeiras com sons e letras têm sido utilizadas como estratégias de alfabetização. Freires et al. (2024) evidenciam que essas práticas promovem o envolvimento emocional e a criatividade das crianças, gerando maior interesse pela leitura e escrita. Tais experiências mostram que é possível alfabetizar por meio do brincar, rompendo com modelos tradicionais e promovendo uma aprendizagem mais significativa.

A interdisciplinaridade consiste na articulação entre diferentes áreas do conhecimento, promovendo uma abordagem pedagógica integrada que permite ao estudante compreender a realidade de forma mais ampla e significativa. Essa concepção emergiu das críticas à fragmentação do saber e ganhou força nas discussões curriculares a partir da década de 1980. De acordo com Almeida e Valente (2019), a interdisciplinaridade contribui para uma aprendizagem contextualizada, rompendo com a rigidez disciplinar e promovendo maior engajamento dos alunos. Freires et al. (2024) enfatizam que a formação de sujeitos críticos, criativos e colaborativos exige experiências pedagógicas que integrem conteúdos, linguagens e práticas, desde os anos iniciais da escolarização.

Diante disso, o cenário educacional paulista vem se adaptando às exigências da BNCC, que propõe competências gerais com forte caráter interdisciplinar. Nobre et al. (2023) afirmam que o trabalho com projetos, temas transversais e sequências didáticas integradas favorece o desenvolvimento de competências cognitivas e socioemocionais nas crianças. Para Silva e Santos (2018), essa abordagem se torna ainda mais potente quando articulada ao universo lúdico da infância, permitindo que o brincar se torne ponte entre os campos do saber.

Como por exemplo, projetos escolares que abordam temas como meio ambiente, alimentação ou cultura popular por meio de atividades interdisciplinares têm demonstrado bons resultados na alfabetização. Em algumas escolas públicas paulistas, alunos do 1º e 2º ano participam de feiras de ciências, oficinas de leitura e jogos matemáticos integrados, nos quais o brincar e a resolução de problemas caminham juntos. Conforme apontam Freires et al. (2024), essas práticas incentivam o raciocínio, a linguagem e a cooperação, fundamentais para o processo de letramento.

As experiências pedagógicas exitosas são práticas educacionais inovadoras que alcançaram bons resultados no processo de ensino-aprendizagem, especialmente quando alinhadas aos princípios da ludicidade, da interdisciplinaridade e do respeito à infância. Tais experiências emergem geralmente de iniciativas de professores comprometidos com a transformação da prática pedagógica. Segundo Almeida e Valente (2019), essas ações se destacam por promoverem aprendizagens significativas e por desafiarem os modelos tradicionais centrados na transmissão de conteúdos. Freires et al. (2024) destacam que o reconhecimento e a socialização dessas práticas são fundamentais para inspirar outras redes e escolas a reformular seus currículos e estratégias de alfabetização.

Com isso, observa-se que diversos municípios paulistas vêm desenvolvendo projetos que integram os campos de experiência da Educação Infantil com os componentes curriculares do Ensino Fundamental, respeitando os direitos de aprendizagem da criança. Nobre et al. (2023) identificam que tais projetos valorizam a escuta ativa, a cultura da infância e as múltiplas linguagens, promovendo ambientes de aprendizagem inclusivos e criativos. Silva e Santos (2018) apontam que, quando bem estruturadas, essas iniciativas ampliam o repertório cultural e comunicativo das crianças, favorecendo o desenvolvimento da linguagem oral e escrita de maneira mais natural.

Exemplificando, o projeto “Brincando e Alfabetizando”, desenvolvido em escolas do interior paulista, associa contação de histórias, jogos fonológicos, dramatizações e rodas de conversa ao processo de aprendizagem da leitura e da escrita. Outro exemplo é o programa “Saberes Integrados”, que utiliza temas transversais como base para a organização de atividades interdisciplinares nos anos iniciais. De acordo com Freires et al. (2024), essas experiências demonstram que é possível alfabetizar com qualidade sem abrir mão da ludicidade, da escuta e da participação ativa das crianças no processo educativo.

4 Conclusão

Dessa maneira, o objetivo geral desta pesquisa — investigar as perspectivas integradas entre a Educação Infantil e o Ensino Fundamental I no estado de São Paulo, com foco nas práticas pedagógicas que favorecem a continuidade do processo de alfabetização — foi plenamente atingido. Isso se justifica pelo fato de que o estudo permitiu identificar, por meio de uma abordagem bibliográfica e qualitativa, experiências, fundamentos e diretrizes que sustentam a importância de uma transição pedagógica mais fluida, respeitosa e contextualizada, sobretudo no que diz respeito à valorização do brincar e da interdisciplinaridade como estratégias centrais para uma alfabetização significativa.

Além do mais, os principais resultados apontam que a integração entre as duas etapas iniciais da educação básica demanda um planejamento curricular coerente, formação docente contínua e políticas educacionais que favoreçam a articulação entre práticas lúdicas e cognitivas. Verificou-se que experiências escolares que priorizam o desenvolvimento integral da criança, respeitando seus tempos e modos de aprender, tendem a produzir impactos mais positivos no engajamento e na aprendizagem dos alunos, fortalecendo os vínculos com a escola e com o saber.

Consoante a isso, as contribuições teóricas deste estudo residem na sistematização e análise crítica de um conjunto de referenciais que dialogam com as práticas interdisciplinares e a pedagogia do brincar como fundamentos para uma alfabetização dialógica e democrática. Através de autores como Magda Soares, Emilia Ferreiro, Vygotsky e da interpretação das diretrizes da BNCC, o trabalho oferece subsídios que podem fundamentar tanto a atuação docente quanto a formulação de políticas educacionais voltadas à integração entre as etapas iniciais do ensino.

À vista disso, esta pesquisa não apresenta limitações em seu escopo, visto que os métodos adotados — especialmente a pesquisa bibliográfica de natureza qualitativa — foram suficientes para atender aos objetivos propostos e promover uma análise aprofundada sobre a temática. A seleção criteriosa de fontes atualizadas e a abordagem crítica permitiram compreender a complexidade da articulação entre infância e alfabetização no contexto paulista, sem comprometer a validade ou a abrangência das reflexões produzidas.

Sendo assim, para trabalhos futuros, sugere-se o aprofundamento da temática por meio de pesquisas empíricas em escolas públicas paulistas, com observações diretas, entrevistas com professores e análise de projetos pedagógicos que promovam a integração entre Educação Infantil e Ensino Fundamental I. Além disso, seria relevante investigar a percepção das crianças sobre essa transição, de modo a incluir suas vozes no planejamento curricular. A continuidade dessas investigações pode contribuir ainda mais para o fortalecimento de práticas educativas que respeitem as singularidades da infância e promovam uma alfabetização mais inclusiva, crítica e significativa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Almeida, M. E. B., Valente, J. A. (2019). Tecnologias e currículo: trajetórias convergentes ou divergentes? São Paulo: Paulus.

Freires, K. C. P. et al. Reformulando o currículo escolar: Integrando habilidades do século XXI para preparar os alunos para os desafios futuros. Revista fisio&terapia, v. 28, p. 48-63, 2024. Disponível em: https://revistaft.com.br/reformulando-o-curriculo-escolar-integrando-habilidades-do-seculo-xxi-para-preparar-os-alunos-para-os-desafios-futuros/. Acesso em: 27 ago. 2024.

Nobre, D. B. A., Pereira, F. A., Capilupe, L. L. A., Silva, R. A. de M., & Silva Júnior, S. L. da. (2023). Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e o Currículo Brasileiro na Atualidade. Revista Ilustração, 4(2), 29–36. https://doi.org/10.46550/ilustracao.v4i2.151

Silva, M. V. da, & Santos, J. M. C. T. (2018). A BNCC e as implicações para o currículo da educação básica. In Anais do Congresso Nacional da Diversidade do Semiárido.


1 Mestranda em Educação pela Universidad Europea del Atlántico. e-mail: [email protected].

2 Mestranda em Educação pela Universidad Europea del Atlántico. e-mail: [email protected].

3 Mestranda em Educação pela Universidad Europea del Atlántico. e-mail: [email protected].

4 Doutorando em Ciências da Educação pela Facultad Interamericana de Ciencias Sociales (FICS). e-mail: [email protected].