CONQUISTAS E DESAFIOS DA EXPORTAÇÃO DE CAFÉ NA REGIÃO SUL DE MINAS GERAIS

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.14231288


Helena Capuzzo Alcântara1
Silvio Ribeiro de Moraes2


RESUMO
O presente estudo tem como objetivo demonstrar a relação direta entre a produção de café na região Sul de Minas Gerais e o desenvolvimento socioeconômico dessa região, desde o início do cultivo até os dias atuais. Aborda desde a introdução do café no Brasil em 1727, passando pela expansão de sua produção no Vale do Paraíba - RJ e em São Paulo, até a posterior ascensão de Minas Gerais como um importante centro cafeeiro, com destaque para a região Sul, que se tornaria a “terra do café”. Além disso, explora as perspectivas e os desafios que contemplam a exportação do café no sul mineiro.
Palavras-chave: Café. Região Sul de Minas Gerais, História, Transformação, Socioeconômica

ABSTRACT
This study aims to demonstrate the direct relationship between coffee production in the southern region of Minas Gerais and the socioeconomic development of this region, from the beginning of cultivation to the present day. It begins with the introduction of coffee in Brazil in 1727, continues with the expansion of production in the Paraíba Valley, São Paulo and Rio de Janeiro, and the subsequent rise of Minas Gerais as an important coffee center, with emphasis on the southern region, which would become the “land of coffee”. In addition, it explores the perspectives and challenges that contemplate coffee exports in the south of Minas Gerais. 
Keywords: Coffee, Southern Region of Minas Gerais, History, Transformation, Socioeconomic

1.INTRODUÇÃO

O café, como uma das principais commodities de exportação do Brasil, teve um papel crucial na formação da estrutura socioeconômica e política do país. Sua influência se estendeu por diversos domínios, tornando a história da cafeicultura nacional indissociável da história brasileira.

Nas últimas décadas, o cenário nacional do café passou por diversas transformações, lançando ao mercado - tanto interno, como externo - novos protagonistas e novos produtos, que têm buscado inovar a produção e reformular o consumo, reinventando o café nacional.

Desde as últimas décadas do século XX, o cerne da produção cafeeira nacional se encontra no estado de Minas Gerais, principalmente na Região Sul de Minas Gerais (RSMG). Durante o período colonial, o estado de Minas Gerais destacou-se pela sua produção aurífera e de pedras preciosas, no chamado “Ciclo do Ouro” (século XVIII). Com o declínio dessa produção, esse estado se viu à margem da Colônia. Porém, com a chegada da família real portuguesa, no início do século XIX, o Brasil, como hoje é conhecido, começou a ser estruturado. Deu-se início à cultura cafeeira nacional, nas regiões do Rio de Janeiro (Vale do Paraíba) e São Paulo; e, graças à proximidade com esses estados, Minas Gerais viu uma oportunidade de crescimento, principalmente, na região Sul. Começava-se, assim, a epopeia do café mineiro.

Sendo assim, o presente artigo, defende a ideia de que o café é mais do que uma commodity, e sim um canal de intercâmbio do Brasil com o mundo, transformando-se na porta de entrada de investimentos nacionais e internacionais no país e, principalmente, no Estado de Minas Gerais. Além disso, não apenas tem mantido sua tradição histórica de ser um importante pilar do agronegócio como tem ampliado sua relevância na pauta exportadora brasileira nos últimos anos. Além desta introdução, o artigo conta com três seções: a primeira, Epopeia do Café Brasileiro, busca narrar a história do café em solo brasileiro, a segunda conta como o café foi introduzido em Minas Gerais e como ocorreu a sua evolução cronológica. Enquanto a terceira e última parte, dedica-se a explorar os ganhos e desafios da cultura cafeeira na Região Sul de Minas Gerais.

2. EPOPEIA DO CAFÉ BRASILEIRO

Assim como todas as narrativas que contam a história do café, a entrada do grão no território nacional é uma mistura de relatos extravagantes com alguns toques de realidade. A similitude da ligação entre essas narrativas se faz em um nome: Francisco de Melo Palheta. Figura histórica, foi o responsável por introduzir, no ano de 1727, as primeiras sementes de café em suas propriedades no Pará. Seu “conto” muito se assemelha aos efeitos alusivos atribuídos ao caráter da bebida, até então desconhecida pelos habitantes dessa terra.(MARTINS, 2012)

Apesar de haver relatos anteriores ao cultivo do café na colônia3, a consagração da figura de Francisco de Melo Palheta ocorreu em 1927, na comemoração do bicentenário da introdução do café no Brasil. Ao que os estudos indicam, a figura de Francisco e a data de 1727 foram “instituídas” graças à significância do seu gesto na política mercantilista do século XVII e por ter cultivado o café de maneira sistemática e em uma escala notável.(MARTINS, 2012)

As primeiras plantas e sementes incorporadas em território nacional originaram da família Coffea arabica, vinda do Jardin des Plantes em Paris. (MARTINS, 2012)

No Maranhão, o grão se aclimatou razoavelmente, permitindo, inclusive, seu despacho para Portugal, protegido por decreto de João V, determinando que seu Reino só entregasse café do Maranhão. Era o incipiente início da formidável aventura econômica do “ouro verde” no Brasil. Em 1731, tem-se notícia da primeira exportação de café para Lisboa: 7 libras (3.213 gramas) da “deliciosa frutinha vermelha", melhor que a do Levante, conforme noticiava a Gazeta de Lisboa. (MARTINS, 2012.).

Porém, mesmo sendo apreciado em solo português e estando isento de imposto,entre as décadas de 1730 e 1740, o “ouro verde” não conquistou os agricultores da colônia no decorrer do século XVII. Restringiu-se a pequenas plantações nas regiões Norte e Nordeste do país, em parte devido à falta de adequação do solo dessas regiões ao plantio.(MARTINS, 2012)

Dessa forma, o “ouro verde” começou a ganhar destaque nacionalmente apenas no desenrolar do século XIX. Com a crise do algodão e do açúcar, devido à concorrência externa, o café começou a se destacar na economia brasileira graças ao aumento dos seus preços no mercado internacional. Contudo, como explica Wilson Cano (1990), a ampliação do cultivo do café no Brasil ocorreu no Vale do Paraíba, região montanhosa localizada perto da cidade do Rio de Janeiro - capital do Império brasileiro. Mais tarde, com a gradual derrocada de terras férteis na região, juntamente com os amplos investimentos ferroviários no estado do Rio de Janeiro, o núcleo da produção foi transferido até o estado de São Paulo, onde, graças à larga gama de terras produtivas, disseminou-se. (CANO,1990). Isso ocasionou uma mudança significativa no cenário agrícola brasileiro e contribuiu para o deslocamento do centro dinâmico da economia colonial do Nordeste para o Sudeste.

De acordo com Cervo e Bueno (2002), no período de 1830 - 1840, o café já representava mais de 16% das exportações brasileiras. A partir daí, rapidamente se tornou o motor da economia nacional, chegando a representar mais de 70% das exportações brasileiras já nas primeiras décadas do século XX. (MORAES,2023).

Além da realocação do plantio de café e as mudanças na economia que ocorreram ao longo do século XIX no Brasil, o período foi marcado por transformações socioeconômicas profundas, principalmente, devido ao engrandecimento do movimento abolicionista que acarretou alterações significativas no cerne da estrutura demográfica e socioeconômica do país. (MORAES,2023)

A reação da aristocracia rural, perante tais acontecimentos, voltou-se para a certificação de seus bens e status. Um exemplo dessa “reação” foi a sanção da Lei de Terras (1850)4 que consolidou os grandes latifúndios como estrutura rural no país, endossou a concentração de terra nas mãos dos mais ricos e impediu o acesso à terra dos escravos libertos e imigrantes recém-chegados da Europa.5

Com essa mudança de cenário6 e com a expansão das lavouras de café, a aristocracia precisava de uma solução rápida para obter mão de obra para trabalhar nas plantações. A solução aparece no exterior: imigrantes. A promoção da imigração internacional foi realizada pelo governo imperial no início do século XIX, porém, ganhou maior destaque quando a oligarquia cafeeira se viu necessitada de mão de obra (FURTADO, 2001).

A chegada dos imigrantes e a instituição de “colônias” espalhadas pelo território nacional - com destaque para a região de São Paulo - mudou drasticamente a história do Brasil, além de ajudarem na implementação de relações capitalistas de produção na economia brasileira, excepcionalmente, no trabalho assalariado. (MORAES,2023). Em razão disso, a produção cafeeira no estado de São Paulo pôde expandir-se (FURTADO, 2001).

Cano (1990) reconhece que o volumoso fluxo migratório no território paulista foi essencial para a consolidação do café no estado, além de tornar o mesmo no principal produtor de café do Brasil no ano de 1885, responsável por mais de 40% da produção nacional. Além disso, a expansão das relações capitalistas de produção, especialmente do trabalho assalariado proporcionou os seguintes benefícios para os produtores de café: 1. aumento da produtividade e diminuição de custos de produção, visto que passaram a utilizar equipamentos agrícolas; 2. a concessão de terras levou ao aumento da renda (monetária e em espécie) dos colonos, o que culminou na diversificação agrícola da região; 3. o trabalho assalariado produziu uma nova classe social com poder de compra, expandindo as perspectivas do mercado interno ; 4. proporcionou a expansão urbano-industrial, e a entrada de imigrantes para trabalhar nas indústrias (CANO, 1990). Essa conjuntura permitiu o crescimento da economia paulista, tanto na zona urbana quanto na zona rural.

Outro ponto essencial para a consolidação do complexo cafeeiro destacado por Cano (1990) é a expansão ferroviária. Em oposto ao que havia acontecido em outras regiões, o estabelecimento das ferrovias no estado de São Paulo contribuiu diretamente para o aumento do desenvolvimento e receita do complexo (CANO,1990).Permitiu também um processo cada vez mais eminente de expansão e interiorização da produção do café pelo estado.

O complexo cafeeiro permitiu uma vertiginosa urbanização e redesenhou a economia nacional, tendo em vista que, com a chegada, cada vez maior de imigrantes, precisou repensar o espaço urbano e a oferta de serviços e produtos, logo surgindo novos comércios, bancos…O capital industrial foi ressignificado, bem como o campo, graças à fabricação de máquinas que foram nele inseridas para aprimorarem a produção do café. Coroada como epicentro do complexo cafeeiro nacional, São Paulo plantava e colhia os lucros do café, tanto no campo quanto na cidade.

“... foi a reprodução do capital cafeeiro a essência do processo de acumulação da economia brasileira até 1930 [...] acredito que a forma pela qual a intermediação financeira se apropriou de grande parte do capital cafeeiro, mascarou a sua origem, não se dando conta de que os capitais industrial, financeiro e comercial são eles próprios, fundamentalmente, faces do capital cafeeiro [...] a própria transferência de capital cafeeiro investido diretamente por fazendeiros - ou via relações familiares - em atividades urbanas é que, em inúmeros casos, o transforma em banqueiro, industrial, comerciante, importador, etc.”(CANO,1990).

Em oposição ao sistema colonial e às oligarquias decadentes do Nordeste - acorrentadas à Metrópole e à Holanda, a nova classe empresarial paulista era composta por homens experientes, com consciência empresarial, que agenciavam a compra de terras, organizavam e dirigiam todos os âmbitos da produção do café, participavam do recrutamento da mão de obra, e ainda, interviam na política. (FURTADO, 2001)

No que tange à política, todas essas mudanças da ordem socioeconômica vão desembocar em desacordos e rixas entre as elites antagônicas, que já se ressentiam do processo abolicionista liderado pelo Imperador Dom Pedro II. (MORAES,2023). A soma desses fatores resultou em uma retaliação à monarquia e nas ações, por parte do Exército, que encaminharam à Proclamação da República no final de 1889. (FAUSTO, 2006) Segundo Furtado (2001), a descentralização do poder permitiu à burguesia cafeeira integrar-se com os ofícios políticos-administrativos do Estado, estimulando o entendimento da relevância do governo como instrumento político-econômico para benefício próprio. O autor também defende que o movimento republicano ampliou a autonomia regional tão desejada pelas elites agrárias, nascendo assim, uma nova classe dirigente nacional que buscava reintegrar o país através de uma lente comercial expansionista. Esse é o começo da chamada República do Café com Leite. Ambientado na Primeira República, o jogo político republicano buscava firmar os interesses das oligarquias regionais e ilustrar o seu poder.

Os primeiros a demonstrarem sua força seriam os paulistas, que baseados no complexo cafeeiro, elegeram os três primeiros presidentes civis entre 1894 e 1902: Prudente de Moraes, Campos Sales e Rodrigo Alves. Entretanto, eles precisam construir alianças regionais para a efetivação e manutenção do sucesso de seus interesses econômicos-financeiros. Nesse sentido, as elites agrárias do estado de Minas Gerais tornaram-se rapidamente os principais aliados dos paulistas. (MORAES, 2023)

Através de poder e influência, as oligarquias paulista e mineira - e, no mais tardar, a oligarquia do Rio Grande do Sul- passaram a controlar a política nacional. Isso culminou em políticas de expansão e controle dos preços do café, por parte dos paulistas e por parte dos mineiros, na ampliação da infraestrutura do estado, proteção dos produtos mineiros e expansão da malha rodoviária em Minas Gerais. (MORAES,2023)

No entanto, as três primeiras décadas do século XX apresentaram vários desafios para os produtores de café, ainda que controlassem a política e a economia nacional. A superprodução de café, no começo do século, levou a uma queda do preço do mesmo. A situação foi controlada através do Convênio de Taubaté (1906)7 que sustentou seu propósito até a eclosão da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a qual desajustou o mercado global, levando a uma nova baixa no preço do café (KOSHILBA,PEREIRA, 2006). Mesmo com o fim da PGM, os problemas relacionados à superprodução continuaram. Como aponta Furtado (2001), nesse período, o Brasil já controlava mais de ¾ (três quartos) da oferta de café no mercado mundial. Cenário que fez com que o Brasil tivesse que implementar diversos mecanismos e políticas de controle e regulação da produção e dos estoques de café a fim de manter os preços internacionais estáveis.

Após a crise de 1929, o cenário mundial sofreu um grande abalo econômico que seria sentido no Brasil, principalmente, na economia cafeeira. Depois da década de 1930, mesmo com a permanência das políticas de valorização do café, a economia brasileira passa a avançar em seu processo de industrialização pelos investimentos do Governo. São Paulo transformou-se no epicentro da expansão industrial brasileira, impulsionando estímulos de complementaridade produtiva que contribuíram para a consolidação do mercado nacional (Cano, 1990). Apesar do complexo cafeeiro paulista permanecer de extrema relevância durante as décadas seguintes, com o passar dos anos, o protagonismo da produção cafeeira foi tomado pelo estado de Minas Gerais, papel que executa até os dias de hoje.

3. JORNADA DO CAFÉ NO SUL DE MINAS GERAIS

Mesmo sendo celebrada como uma região tradicional produtora de café, o Sul de Minas Gerais não dispõe de uma história escrita de sua “tradição produtiva cafeeira”. Escondida por mais de um século, na sombra da produção paulista e fluminense, emancipa-se apenas na segunda metade do século XX, onde passa a ser reconhecida e estudada. De acordo com Filetto e Alencar (2001), pode-se perceber uma lacuna de aproximadamente 150 anos na historiografia cafeeira do Sul de Minas Gerais quando comparado com outras regiões cafeeiras de “maior” destaque, como a região fluminense, o Vale do Paraíba e São Paulo. Tal fato ocorreu, visto que muitas pesquisas científicas se concentraram em analisar a pujança da produção mineira apenas a partir da década de 70, desconsiderando, muitas vezes, as origens do desenvolvimento do complexo cafeeiro no território mineiro.

É apenas na virada do século XX para o século XXI que alguns autores começaram a tentar preencher de forma mais aprofundada essas lacunas da historiografia do café mineiro. Nesse sentido, como explica Silva (1998), os períodos que antecederam o avanço do café, nessa região, foram marcados por um compilado de particularidades, que vão desde as tecnologias utilizadas até às variáveis ambientais da região. Essa combinação foi o que gerou, indubitavelmente, a cafeicultura da Região Sul de Minas Gerais (RSMG). Destaca-se que, no final do século XVII, a região sul-mineira possuía menor rendimento aurífero comparado às outras partes do centro da Capitania. Com a sua produção cada vez mais reduzida, ocorreu o inevitável declínio das vilas próximas à circulação de ouro. (FILETTO, 2000). Sem escapatória, o mineiro se viu preso à terra, transformando uma região minerada em uma região agrícola. O Sul de Minas, graças às suas terras férteis e ao volumoso potencial humano, não ficou imune à mudança. (CARVALHO,1998)

Ferdinando Filetto (2000) dissertou sobre a historiografia da cafeicultura no sul mineiro e a apresentou em três tópicos, tipificados por três períodos históricos que têm como objetivo situar a história da lavoura na região. O primeiro ciclo data do século XVIII até meados do século XIX, enquanto o segundo ciclo abrange a expansão do final do século XIX até os primórdios do século XX. Ao passo que o terceiro ciclo compreende a totalidade da indústria cafeeira do sul-mineiro, a partir dos anos 1970.

Sendo assim, o primeiro ciclo enaltece os fatores que, combinados, atraíram fazendeiros para a região Sul de Minas. Estradas que ligavam Minas Gerais aos portos do estado do Rio de Janeiro, numerosas tropas de mulas e o grande contingente de escravos vindos do litoral propiciaram as “ferramentas” necessárias para o plantio de café na RSMG. (FILETTO, 2000)

Um favorecimento à expansão agrícola e pecuária no Sul de Minas viria com o cultivo do café no Rio de Janeiro e no Vale do Paraíba no início do século XIX. A limitação de terras disponíveis [...] e a existência de trabalho escravo, de elevado custo, implicaram na maior especialização do vale do Paraíba na atividade cafeeira, possibilitando a divisão de trabalho inter-regional, em que o Sul de Minas desempenhava a função de abastecedor do mercado do Rio de Janeiro.(FILETTO, 2000)

Filetto (2000) adota a figura do tropeiro como a responsável pela introdução das primeiras mudas de café no sul mineiro, no término do século XVIII, nas cidades de Aiuruoca, Baependi e Jacuí, localizadas no vale do Sapucaí. Além disso, evidencia que o “Caminho Velho das Minas” foi o responsável por ligar o porto de Parati com o norte paulista.

Dados referentes aos anos 1818/19 já incluem o café como um dos produtos de exportação da economia de Minas, mostrando que, mesmo sem ocupar um lugar distinto nas exportações, o café começava a conquistar um espaço como produto econômico.( FILETTO, 2000).

O cultivo econômico do café na região sul de Minas, ainda que modesto, gerava algumas contribuições à exportação mineira do produto, sendo a quantidade difícil de ser calculada, uma vez que, além da falta de registros, os valores eram incorporados aos do norte paulista. (FILETTO, 2000)

Ademais, a região da Zona da Mata iniciava sua ampliação cafeeira em áreas anteriormente ocupadas pela mineração, possibilitando a expansão do café em lugares até então não ocupados. (FILETTO, 2000)

E o café da Zona da Mata cresceria continuamente em importância como gerador de rendas para a província, relegando a produção cafeeira sul mineira a segundo plano. (FILETTO, 2000)

A década de 1830 foi derradeira para o café brasileiro, pois, graças à conjuntura do mercado internacional, a cultura do café se amplificou de forma acelerada, o que transformou o Brasil no primeiro produtor internacional de café. (FILETTO, 2000) Porém, mesmo nesse cenário expansionista, a RSMG não rivalizava com o aumento produtivo do vale do Paraíba, tendo como um dos empecilhos a distância. Pode-se concluir que as regiões do Sul de Minas - que disputam de maior contingente populacional - eram escolhidas em detrimento das regiões da serra da Mantiqueira, em virtude da altitude da mesma. (FILETTO, 2000)

O maior entrave à expansão da cafeicultura sul mineira, nas primeiras décadas do século XIX, era a dificuldade de transportes. As vias de comunicação eram precárias e as distâncias a serem percorridas muito longas.(FILETTO, 2000)

Diante disso, em 1° de abril de 1835, a primeira Assembleia Provincial votou a lei n° 18 que propunha um projeto de estradas que ligavam Ouro Preto até o Rio de Janeiro, conectando, assim, os principais centros da região com as capitais provinciana e com a capital do Império. (FILETTO, 2000). Infelizmente, pouco desse projeto saiu do papel durante o período monárquico, em razão da falta de recursos financeiros e tecnológicos - o solo acidentado dificultou os traçados das estradas.

Além desses fatores, a política mineira da época não favorecia as mudanças (algo que persistiu por anos), entretanto, favorecia a arrecadação de impostos: em março de 1838 foi estabelecida a Mesa Provincial no Consulado da Corte, que arrecadava e fiscalizava o “dízimo” repassado aos custos da Província. (FILETTO, 2000). Dados referentes ao ano de 1836 apontam que a devastação das matas em prol do alargamento da produção cafeeira no sul mineiro e na Zona da Mata era visível. (TAUNAY, 1945). Mas o precário escoamento do café e as técnicas rudimentares de produção continuavam afligindo o café mineiro e o impedia de se destacar, tanto no mercado interno, como no mercado internacional.

“Se o café de Minas pudesse chegar ao mercado bem acondicionado, sendo preparado do mesmo modo que o café da arábia, poderia talvez obter um terço mais sobre seu preço, do que o café do Rio de Janeiro; mas como ele se deteriora em grande parte nas longas viagens, nós indicaremos os meios de acondicioná-lo, para preservá-lo dos contratempos, quando falarmos de seu ensaque, e mode de transportá-lo”.Relato de Augustinho R. da Cunha, 1844 (ROMERO,ROMERO, 1997)

Além de problemas de logística - transporte e produção - o governo da Corte teve que lidar com problemas de fraude nas guias de café entre as Províncias de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, o que culminou, em 1851, no primeiro acordo sobre café entre províncias. Vale ressaltar que, naquela época, o café era o principal produto de exportação do Brasil. Com isso, o imposto sobre a exportação do café cresceu, se consolidou como um produto de destaque dentro da economia brasileira e tornou-se um produtor de rendas.

Diferente das outras regiões brasileiras, incluindo as outras partes do estado de Minas Gerais, a RSMG possuía uma característica que a tornava única: essas partes não se comunicavam com o restante do estado, estavam conectadas com os seus estados fronteiriços.

[...] a cafeicultura dos vales dos rios Sapucaí, Lourenço Velho, Verde e Grande com a do Rio de Janeiro; a cafeicultura do vale do Rio Pardo, altiplanos de Poços de Caldas, médio e baixo vale do Rio Grande e vale do Camanducaia com a de são Paulo.[...](FILETTO, 2000)

Mas, mesmo diante dessas adversidades, a Zona da Mata, região do Vale do Paraíba e a parte sul de Minas compunham, juntamente com o planalto paulista, a principal região produtora de café do Brasil no século XIX. (VALVERDE, 1967).

É bom salientar que, apesar de expansiva, a cafeicultura sul mineira até o início do último quartel dos novecentos será relativamente discreta, com produção e exportação modesta, frente a concorrência dos cafés localizados mais próximos aos portos de embarque. (FILETTO, 2000)

Dito isso, é importante salientar que a RSMG se desenvolveu em períodos diferentes e por razões diferentes. Enquanto o sul de Minas se expandiu juntamente com a região do oeste paulista (Rio Preto e Campinas), a região norte e mais ao centro do sul-mineiro vincularam sua distribuição produtiva ao Rio de Janeiro, se beneficiando da produção do café e da falta de expansão produtiva (FILETTO, 2000). Em contrapartida, a Região Mogiana paulista e o Vale do Paraíba só estabeleceram o café como uma cultura econômica depois do ano 1850.

Com o advento da década de 1880, as linhas ferroviárias resolveram os problemas de escoamento do café na região, mas não só isso, com o trem, veio o progresso material, como o aumento populacional e urbano, que beneficiaram cidades como Varginha (1892), Poços de Caldas (1886) e Três Corações (1884) (FILETTO, 2000). À vista disso, a região mineira começa a ser redesenhada. No final do século XIX, junto com o norte-nordeste-paulista, Minas Gerais estabeleceu-se como o centro econômico e político do país (FILETTO, 2000). Assim, a classe cafeeira sul-mineira foi adotada pela classe cafeeira paulista, à qual se subordina.

A ligação econômica, ainda hoje presente, entre São Paulo e sul e sudeste mineiros, como um dos mercados principais e grande centro consumidor da produção atual dessas regiões, tem, assim, fortes raízes históricas, num processo de interdependência em que o café desempenha papel preponderante. (FILETTO, 2000)

Com o final do século XIX e início do século XX, o café da RSMG começou a tomar características que o distinguiam dos demais, entrando assim no segundo ciclo do café8. Outro fator que demonstra a notoriedade que o café do sul-mineiro ganhou foi a inauguração da Cooperativa Agrícola Guaxupé, em 1932 - cooperativa de produtos de café. Hoje, rebatizada como Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé LTDA - COOXUPÉ, tornou-se o maior símbolo cooperativista do café no mundo. (FILETTO, 2000). Em 1933, Varginha tornou-se a décima nona produtora de café do Estado de Minas Gerais. (FILETTO, 2000).

O terceiro período cafeeiro no sul de Minas Gerais vai da década de 1950 até a década de 1970. Entre os anos de 1950 e 1958, a produção de café cresceu regularmente; os dados mostram um crescimento de 30% (FILETTO, 2000). No segundo momento, datado entre 1959-64, a produção diminuiu em 40%, se comparado com o ano base (FILETTO, 2000).

As regiões de Minas Gerais que mais se destacaram na produção de café, nos períodos citados, foram as da Mata, Sul e Rio Doce, que participaram, em 1964, com, respectivamente, 30,3%, 28,4% e 20,2% do total produzido.(FILETTO, 2000)

A partir desse momento, fala-se do café mineiro e da RSMG sem relacioná-lo ao café paulista ou ao fluminense, concluindo-se que foi, a partir desse período, que o café mineiro se emancipou.

A maioria das análises do comportamento da atividade cafeeira da RSMG surgiu após 1960, período este relativo ao Plano de Renovação dos CAfezais promovido pelo IBC, que permitiu a esta atividade uma melhor inserção competitiva no cenário nacional, suplantando regiões tradicionais como São Paulo, Paraná e Espírito Santo (FILETTO, 2000).

A partir da década de 1970, a cultura cafeeira de Minas Gerais tem sua dinâmica renovada. Isso ocorreu por três razões: “[...] 1) crédito subsidiado para plantio (...), 2) melhoria dos preços reais do café em relação à pecuária; 3) aumento da produtividade da cultura, causado por inovações tecnológicas” (FILETTO, 2000).

É importante salientar que, mesmo após essas mudanças, o café do Sul de Minas se manteve fiel a uma característica que adquiriu ao longo dos anos: a produção de café de louvável qualidade (FILETTO, 2000). Característica que permite ao café dessa região despontar no mercado nacional e internacional até os dias de hoje.

As melhorias realizadas na produção do café mineiro na década de 70 foram essenciais para a construção de um complexo agroindustrial cafeeiro e despontamento do estado de Minas Gerais na produção nacional, além de contribuir para o desenvolvimento do estado como um todo. (FILETTO, 2000).

4. O CAFÉ MINEIRO NO BRASIL E NO MUNDO: CENÁRIO PRODUTIVO E PERSPECTIVAS E DESAFIOS DE EXPANSÃO INTERNACIONAL

Segundo a Organização Internacional do Café (OIC) ,atualmente, o café é a bebida mais consumida depois da água. No período de 2021/2022, de acordo com a OIC, o mercado da commodity cresceu em 4%. Para o período 2023/2024 as previsões apontam para a continuidade da expansão desse mercado, tendência que se reflete no mercado brasileiro, onde a estimativa é de uma expansão no consumo em torno de 2% ao ano. (MINISTÉRIO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA, 2024).

Diante desse cenário, cabe destacar que o Brasil, além de ser o segundo maior consumidor de café do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, é atualmente o maior produtor de café global.(MINISTÉRIO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA, 2024) No ano de 2023, a produção cafeeira apresentou um crescimento de 8,2% em relação ao ano de 2022, alcançando um rendimento de 55,1 milhões de sacas beneficiadas, consequência da recuperação da produtividade em 6.3%, como mostra o 4º Levantamento de Café 2023, feito pela Companhia Nacional de Abastecimento, (CONAB, 2023).

No período de agosto de 2023 a julho de 2024, as exportações do Café brasileiro alcançaram uma receita de U$10,14 bilhões para o país, como uma produção que atingiu o equivalente a 48,17 milhões de sacas de 60kg (AGÊNCIA GOV,2024). Dentre esse montante de exportações, o destaque ficou com o café verde9 que compõem 92,13% do total geral de vendas, sendo que 80,5% desse montante corresponde à tipologia Coffea arabica (arabica) e os outros 19,5% Coffea canephora (robusta+conilon) (AGÊNCIA GOV,2024).Nesse mesmo montante, o café industrializado representou 7,84% das exportações totais, sendo 98,7% café solúvel e 1,3% restante é o torrado e moído. (AGÊNCIA GOV,2024).

De acordo com o Conselho dos Exportadores de Café (Cecafé), houve um aumento de 10,5% nas exportações se comparados com os dados de 2023. Os principais destinos desse café são a Alemanha, que corresponde a 23.9% das exportações, seguida dos Estados Unidos, com 23,4%, depois a Bélgica, Itália e Japão. (FORBES AGRO,2024). Nos últimos anos, tem se observado que até mesmo o México e o Vietnã, ambos concorrentes diretos do Brasil na exportação cafeeira, têm aumentado as importações do café brasileiro. Em 2023, por exemplo, as exportações para aqueles mercados aumentaram em 155,3% e 432,8% respectivamente. (FORBES AGRO, 2024). Outro destaque foi a Índia com impressionante acréscimo nas importações de 1.356%, adquirindo um total de 225.936 sacas.(FORBES AGRO, 2024).

A análise da Cecafé também detalhou alguns os blocos econômicos:

[...] com exceção ao Mercosul (-29,3%), os demais aumentaram a importação de todos os tipos de café do Brasil. A União Europeia, que responde por 48,1% dos embarques, lidera o ranking com a aquisição de 19,931 milhões de sacas, apresentando alta de 54,5%.
Na sequência, aparecem os países do Tratado de Associação Transpacífico (TPP), com 5,386 milhões de sacas (+39,8%); Oriente Médio, com 2,592 milhões de sacas (+24,7%); BRICS, com 2,173 milhões de sacas (+37,5%); Países Árabes, com 1,955 milhão de sacas (+43%); e Leste Europeu, com 1,608 milhão de sacas (+74,3%) .(CECAFÉ, 2023).

Outra conquista para o mercado cafeeiro mineiro foi o desenvolvimento da plataforma SeloVerdeMG, uma parceria entre o estado, da UFMG, do programa AL-INVEST Verde da União Europeia, e do Instituto Estadual de Florestas (IEF).(FRANÇA, 2024). A jornalista Márcia França classifica essa plataforma como “ uma ferramenta capaz de gerar um diagnóstico socioambiental por análise automática de todos os imóveis rurais mineiros". Está sendo utilizada, também, para comprovar que as principais cadeias produtivas mineiras são sustentáveis. Com isso, o estado consegue comprimir com a certidão de conformidade da União Europeia. O primeiro lote de café exportado dentro das medidas exigidas foi despachado para Dublin, Irlanda, no final de agosto do ano corrente.(FRANÇA, 2024)

De acordo com o ComexStat, no período de janeiro a outubro de 2024, o café alcançou uma participação de 3,2% no total de exportações totais nacionais, somando U$8.961,16 bilhões. Com um aumento de 54,4% em comparação ao ano de 2023, foi o sétimo produto mais exportado do Brasil, como mostra a figura:

Fonte: https://comexstat.mdic.gov.br/pt/comex-vis. Acesso em: 4 de novembro.

Grande parte desse café é proveniente do estado de Minas Gerais, que é atualmente o maior produtor e exportador de café nacional. Destaca-se, ainda, que o grão é o segundo principal produto na pauta exportadora do estado, com quase 17% de participação, ficando atrás apenas do minério de ferro e concentrados (COMEXSTAT,2024).

Minas Gerais apresentou um aumento de 32,1% em comparação ao volume total colhido na safra anterior, justificado pelo aumento de 6,3% na área em produção, pelo ganho de 24,2% na produtividade e, principalmente, pelas melhores condições das lavouras após as últimas safras, caracterizadas por climas adversos.(CONAB, 2023).

Devido a várias questões climáticas - como a seca e a escassez de água - observou-se que o Sul e o Centro-Oeste de Minas Gerais passaram por momentos difíceis no período entre agosto de 2022 e abril de 2023. Porém, mesmo diante de contratempos, a safra colhida entre maio e setembro de 2023 foi maior que a registrada em safras anteriores, mantendo-se a posição de destaque da RSMG (CONAB, 2023).

Entre as 10 cidades que mais exportaram café no país durante o ano de 2023, seis pertencem à região sul/sudeste de Minas Gerais, fazendo com que a região Sul se tornasse a maior região mineira exportadora de café. As exportações somaram, aproximadamente, U$ 4 bilhões que, se comparado com a receita do ano passado, representam um crescimento de valor de 35,3% e aumento de volume de 34,5% (AGÊNCIA MINAS GERAIS, 2024). O principal destino deste café foi a Bélgica que dobrou a quantidade passando o montante atual para 1,6 milhões de sacas.(AGÊNCIA MINAS GERAIS, 2024). Outros países que chefiam as exportações na região são os Estados Unidos, Alemanha, Itália e Japão. (FOLHA DA MANHÃ, 2024).

Outro destino de destaque nas importações da RSMG é a China. Com o acordo firmado pela Agência Brasileira de Promoção à Exportação (ApexBrasil), em junho de 2024, com a Luckin Coffee, maior rede de cafeterias da China, várias fazendas da região foram incluídas no acordo, como a Fazenda das Almas. (AGÊNCIA MINAS GERAIS, 2024). Além disso, o país asiático já alcançava a sexta posição no ranking de países que mais importam café da RSMG e o terceiro maior comprador de café do município de São Sebastião do Paraíso (FOLHA DA MANHÃ, 2024).

Em 2023, os principais municípios mineiros fornecedores de café para o mercado chinês foram Varginha, com o embarque de 19,7 mil toneladas e receitas de US$ 71,9 milhões; Guaxupé (17, mil toneladas e US$ 57,8 milhões de receita); Alfenas (9,03 mil toneladas e US$ 32,1 milhões); Araguari (8,3 mil toneladas e US$ 27,3 milhões) e Paraíso.(FOLHA DA MANHÃ,2024).

Entre as principais cidades produtoras de café do Sul de Minas, pode-se destacar os municípios de Poços de Caldas, Varginha, Alfenas e Guaxupé, que também estão na lista de municípios da RSMG com o maior PIB, terceiro, quarto, quinto e décimo lugar, respectivamente. Enquanto Varginha e Guaxupé ocupam a nona e décima posição, respectivamente, de cidades do sul mineiro com o maior PIB per capita. (EPTV, 2023).

A Unifal-MG - Universidade Federal de Alfenas - realizou uma pesquisa com a população do Sul de Minas que tinha como objetivo desvendar as características da região e do seu povo. No relatório final, divulgado em fevereiro de 2023, batizado como Identidade Sul-Mineira, ranquearam os municípios de Poços de Caldas, Varginha e Alfenas como os principais da região e destacaram um ponto importante: através da pesquisa de campo, concluíram que, enquanto os produtores de milho, feijão e horticultura moram na Zona Rural, as famílias dos moradores da Zona Urbana produzem principalmente café.

Face ao exposto, é perceptível que a RSMG dispõe de várias oportunidades de expansão da produção cafeeira, tanto no que tange a disponibilidade de terras e o clima favorável para o plantio, como na afluência de países que têm buscado expandir o consumo em seus mercados internos, como a União Europeia, a Índia e a China.

No que tange os desafios nesse processo expansionista pode-se citar a “demora” para o cumprimento de exigências externas, sejam eles referentes a selos de sustentabilidade ou de medidas sanitárias, como também as imprevisibilidades naturais como tempestades, secas e queimadas, cada vez mais frequentes diante das mudanças climáticas.

5. CONCLUSÃO

O café, agente de mudanças, gerador de renda e desenvolvimento, consagrou-se como símbolo da cultura mineira, tornando impossível falar da história do estado ou de sua economia sem citar o mesmo, principalmente quando se fala da RSMG.

A safra total brasileira prevista para o período 2024-2025 é de 58,81 milhões de sacas, mostrando o contínuo avanço da produção e dos investimentos no complexo cafeeiro do Brasil e do estado de Minas Gerais.(Agência Gov, 2024) Além disso, como observado ao longo da seção três, boa parte dessa expansão tem se destinado ao mercado externo, em evidente ampliação dos processos de internacionalização da produção nacional do grão, o que corrobora com a hipótese de que o café não apenas mantém sua tradição histórica de ser um importante pilar do comércio exterior como tem ampliado sua relevância nos últimos anos.

Nesse contexto, o Sul de Minas Gerais continua assegurando o título de “Terra do Café”. O café da região movimenta muito mais do que só os campos e fazendas, movimenta a região como um todo: gera empregos, cria oportunidades, transforma a paisagem rural e urbana da região. Reinventa a região constantemente e o mercado agropecuário brasileiro, visto que, graças às iniciativas do estado, o Brasil tem expandido o mercado consumidor do café e diversificado produtos. Isso tem aberto novas oportunidades de pesquisas especializadas, como o Programa de Melhoramento da Epamig e o desenvolvimento do SeloVerdeMG, que contou com a participação do governo estadual (em diversas frentes) e órgãos reguladores europeus.

Por fim, o longo legado do café aliado a sua atual dinâmica virtuosa na produção e no comércio exterior nacional reafirma sua importância como um dos principais responsáveis pela dinamização e prosperidade regional, carregando o passado, o presente e o futuro do agronegócio no Brasil e, em especial, no estado de Minas Gerais.

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1 Graduanda do curso de Relações Internacionais pelo Centro Universitário IESB.

2 Orientador: Bacharel em Relações Internacionais, Mestre em Desenvolvimento e Cooperação Internacional e Doutor em Geografia - Universidade de Brasília (UnB). Professor do Curso de Relações Internacionais do Centro Universitário IESB.

3 Em 1663, o diplomata português Duarte Ribeiro de Macedo já havia introduzido, em sua propriedade, uma pequena plantação de café

4 Assinada em 1850 pelo imperador Dom Pedro II, determinou que a zona rural brasileira seria fragmentada em latifúndios, e não em pequenas propriedades. (WESLIN,,2020)

5 Duas semanas antes, a Lei Eusébio de Queirós (proibiu a entrada e o tráfico de escravos africanos no Brasil em 1850), mostrando como a aristrocacia se posicionava perante a mesma.(FUNDAÇÃO CULTURA PALMARES, 2024).

6 A mudança do declínio do números de escravos entre o ano de 1872 e 1887 era visível: em 1872, o censo apontava que o Brasil abrigava mais de 1,5 milhão de escravos, enquanto, no ano de 1887, o censo apontava a existência de 720 mil escravos, uma redução de mais de 50% (FURTADO, 2001).

7 Trato realizado entre os representantes dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais no qual o Governo, através da compra da produção excedente do café, sustentaria sinteticamente o preço do mesmo no exterior. (KOSHILBA, PEREIRA, 2006)

8 O I Certame Internacional de Cafés de 1928 elegeu o café de Machado como o melhor do mundo (FILETTO, 2000)

9 Uma das principais exportadoras de café do Brasil, a Atlantica Coffe, define café verde como “Grão de café verde, também conhecido como café cru, é o grão de café antes de ser torrado e moído. Eles são obtidos dos frutos do café após descascados e secos. É a semente crua que, após torrada e moída, é usada como infusão para ser consumida como bebida. Antes de serem torrados, os grãos de café verde são muito duros, levemente verdes, com um sabor amargo e desagradável [...]”