COMPULSÕES ORAIS ASSOCIADAS À ANSIEDADE
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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.14626885
Bruna Filippini Cordeiro1
RESUMO
Neste trabalho pretenderam-se estudar as questões de ansiedade ligadas ao que tange exclusivamente aspectos da oralidade, especificamente nos estudantes de psicologia do décimo semestre da Faculdade FMU. Para tal investigação utilizou-se a psicanálise como fonte de análise, baseando-se especialmente em obras de Freud, entre outras que se mostraram pertinentes ao tema.
Aplicou-se uma pesquisa em 88 destes estudantes e por meio deste questionário pode-se constatar a existência da relação entre a ansiedade e as compulsões orais neste grupo, principalmente por se tratar de um momento estressor na vida destes sujeitos.
Palavras-chave: Ansiedade, Compulsão Alimentar, Oralidade.
ABSTRACT
In this work we intend to study anxiety issues related to aspects of orality exclusively, specifically in the psychology students of the 10th semester of FMU Faculty. For this investigation, psychoanalysis was used as the source of analysis, based especially on Freud's works, among others that were pertinent to the theme.
A survey was conducted in 88 of these students and through this questionnaire one can verify the existence of the relationship between anxiety and the oral compulsions in this group, mainly because it is a stressful moment in the life of these.
Keywords: Anxiety, Eating Compulsion, Orality.
1 INTRODUÇÃO
A fase oral é a primeira de nossas organizações sexuais pré-genitais presentes no decorrer do desenvolvimento da sexualidade infantil, segundo Freud (1905) que a descreve em os “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade”, apesar de o senso comum negar a existência da sexualidade infantil.
A função sexual está presente no individuo desde o seu nascimento, trata-se da denominada psicossexualidade infantil, onde o centro do desejo erótico da criança dá-se em causar o agrado por meio da incitação da devida região erógena que foi de alguma forma escolhida, diferenciando-se, porém, da sexualidade característica da puberdade, contudo, essa energia está em constante desenvolvimento até a fase adulta, onde compreendemos que a obtenção do prazer está atribuída diretamente ao genital e também se encontra direcionada ao outro; em comparação, a criança possui o intuito auto erótico, onde o deleite está em estimular a si própria (FREUD, 1905).
Em seguida deve-se ressaltar o significado da palavra libido como forma de sentimento de júbilo, este consegue ser direcionada ao outro; que poderá se tratar tanto de uma pessoa como de um objeto inanimado. Podemos citar que o contentamento da criança está na sucção rítmica de alguma parte da pele ou da mucosa, como por exemplo, mamar, chupar, mamadeira, o dedo ou chupeta (FREUD, 1905). De acordo com o pensamento de Costa (2004) é possível colocar que na cultura contemporânea há uma idealização de que o corpo e as experiências sensoriais irão trazer uma felicidade baseada nas estimulações variadas, por isso acredita-se que se trata de uma ação inata do lactante.
Sigmund Freud traz em suas postulações um bom entendimento sobre a relação entre oralidade e às questões alimentares, as quais exploraremos a seguir.
A primeira fase estudada por Freud (1905) é intitulada como fase oral, que possui este nome porque a criança após o nascimento busca saciar a fome através da boca, como instinto de sobrevivência, neste caso, utiliza-se o seio da mãe ou cuidadora. Percebe-se que há um regozijo neste movimento, logo a excitação está na região dos lábios, podendo-se levantar a hipótese que há uma fixação por parte do bebê neste local.
Podendo também ser denominada de canibalesca, já que nela não há separação entre a nutrição e a estimulação por mero prazer; tendo potencial de haver compulsão a repetição, que nada mais é do que a fixação e posterior retorno a mesma em certas situações, principalmente em episódios que nos causem sentimentos relacionados à ansiedade, gerando certa angústia no indivíduo, podendo tornar-se patológica através de conversão em sintomas corporais se os mecanismos de defesa do ego do mesmo não têm ferramentas para apaziguar estes temas.
Quanto mais intensas as fixações em seu caminho ao desenvolvimento, mais prontamente a função fugirá às dificuldades externas, regressando às fixações — portanto, mais incapaz se revela a função desenvolvida de resistir aos obstáculos externos situados em seu caminho. (FREUD, 1916/1917, p. 68).
Entende-se que, possivelmente há uma relação da oralidade com a alimentação, já que ambas utilizam a região bucal como meio de satisfação pela obtenção de prazer, nos quais os alunos podem recorrer em momentos de ansiedade. E, por meio desta pesquisa de levantamento quantitativo, juntamente com a análise bibliográfica, será possível levantar dados para tal análise.
A ansiedade se dá enquanto uma desorganização dos propósitos pessoais e, com o passar dos anos, consequentemente está cada dia mais presente na vida das pessoas que habitam grandes metrópoles, principalmente na atualidade. Acredita-se que há diversos motivos para isso, levantando-se a hipótese que esse aspecto está presente no desenvolvimento humano quando há uma necessidade de enfrentamento de situações novas. A ansiedade também é um recurso que atua como forma de alerta para que seja possível encarar as adversidades, eliminando assim o perigo, contudo somos capazes de perceber que essa característica possui intensidade e duração diferentes, já que pode variar de acordo com cada um, podendo assim, apresentar sintomas fisiológicos e psicológicos (MAY, 1977).
Na psicanálise encontramos conceitos de Freud (1932/1936), que explicam como a ansiedade opera com sentimentos de prazer e desprazer, sendo um estado afetivo, onde se inicia após o nascimento, intitulada como "Ansiedade Tóxica", por ser puramente orgânica, mas após a aquisição da linguagem ou desenvolvimento do ego, Freud realizou ramificações da ansiedade em Neurótica e Realística.
A Ansiedade Realística é vista como uma reação proporcional frente a uma situação onde há estresse, considerando-a como medo frente ao objetivo, neste momento o sujeito poderá se adaptar ou fugir (FREUD, 1932/1936).
Já a Ansiedade Neurótica é considerada próxima de uma neurose, vista como uma possível patologia. Percebe-se similar a uma fobia, já que se apresenta como um medo desproporcional, por esta razão, entende-se que não há um perigo externo identificável (FREUD, 1932/1936).
Em virtude da individualidade dos sujeitos que compõem a sociedade, acredita-se que todos apresentam certo grau de ansiedade, logo, presume-se que há níveis de ansiedades considerados esperados ou patológicos. No organismo humano há um sistema regulador entre o sistema imunológico e endócrino que atua nos processos de adaptação ao meio. Quando o sujeito se depara com momento de estresse esse circuito regulador envia para a corrente sanguínea encefálica catecolamina e, através glândula suprarrenal, endorfinas, hormônio adrenocorticotrófico - ACTH e hipófise, fazendo com que haja uma resposta para os eventos estressores. É possível levantar a hipótese que após o uso excessivo deste processo, pode-se manifestar como consequência doenças de adaptação (CAPITÃO e TELLO, 2004).
Através da perspectiva de Anastasi e Urbina (2000); Spielberger, Gorsuch e Lushene (1979), entende-se que, a ansiedade pode ser diferenciada em estado ou traço, uma vez que esta característica é conhecida como: ansiedade–E (emocional), que é vista como uma condição emocional temporária, identificada também como sentimento consciente de tensão e apreensão, mas que variam com o decorrer do tempo. Enquanto a ansiedade-T (traço) trata-se da forma que cada indivíduo reage a situações estressantes ou perigosas.
Diante destes dois aspectos, entende-se que há uma propensão das pessoas que se consideram ansiosas buscarem na alimentação algum conforto, conseguindo desta maneira diminuir os sintomas da ansiedade, independentemente do tipo de ansiedade apresentado pelo sujeito, podendo ela ser classificada como T ou E. (CAPITÃO e TELLO, 2004). Vários indivíduos acham na alimentação uma forma de amenizar a ansiedade quando se deparam com uma conjuntura contemporânea em que o desempenho da psique está defasado devido a incapacidade dos mecanismos de defesa do ego de lidarem com situações que despertam ansiedade, logo se entende que há um impedimento substancial de adequação dos sujeitos frente às ocorrências vigentes (ABREU, 1998).
Por fim, vê-se que por conta dos avanços da sociedade contemporânea e globalizada a tendência é de que cada vez mais os cidadãos possuam níveis elevados de ansiedade, impactando na sua saúde, vida pessoal e profissional de diversas formas, canalizando os eventos estressantes através da alimentação, entre outras compulsões orais (MAY, 1977). O estresse pode ser um atenuante no que tange ao aumento das compulsões alimentares, há fatores biológicos que levam o indivíduo a ingestão de alimentos e a liberação do cortisol é o principal responsável por esta resposta do organismo (GLUCK, GELIEBTER e SATOV, 2001).
Partindo do ponto de vista exposto até o momento, passa-se a explorar as características das compulsões alimentares associadas à ansiedade. Podemos encontrar em Transtornos Alimentares alguns pontos relevantes para esta pesquisa. O mesmo caracteriza o Transtorno de Compulsão Alimentar - TCA como uma perturbação no comportamento do indivíduo ou em sua alimentação, afetando a ingestão ou absorção exacerbada de alimentos, influenciando significativamente no funcionamento psicossocial e em sua saúde (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais V – DSM-V).
Sob os critérios do diagnostico, pode-se entender que as pessoas que desenvolvem esta patologia apresentam episódios de compulsão, sendo esse definido com a ingestão de alimentos de forma exagerada e em momentos determinados, contudo um dos principais aspectos é a incapacidade de se controlar frente à comida e o sentimento de culpa associado à ingestão alimentar nestes episódios. Nota-se que está patologia é semelhante com a Bulimia Nervosa, mas se difere pelos comportamentos compensatórios, como o uso de laxantes e diuréticos. É valido ressaltar que está síndrome poderá afetar homens e mulheres, assim como sensibiliza pessoas com e sem sobrepeso (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais V – DSM-V).
Claudino e Borges (2002) explicam que este transtorno tem ganhado maior visibilidade nos últimos 30 anos, mas continua sendo intitulado como transtorno e não como doença, já que não há certeza sobre sua etiopatogenia. Acredita-se que diversos fatores estão ligados ao TCA, biológicos, econômicos e principalmente sociais.
Dadas as informações acima, este trabalho pretende olhar para as questões de ansiedade associadas às alimentares, não descartando a importância de se estudar as demais manifestações da ansiedade, entretanto em estudos oportunos devem-se ser aprofundadas. Evidencia-se a relevância frente à compreensão deste tema, já que há vasta literatura sobre a ansiedade associada às compulsões alimentares, sendo assim, mostra-se se tratar de um estudo de extrema importância para a psicologia. O tema será explorado sob a égide da teoria psicanalítica freudiana e seus expoentes.
2 JUSTIFICATIVA
Reafirma-se a importância deste estudo a partir do já exposto e relevância mencionada, já que visa compreender um comportamento presente na vida de muitos indivíduos, ocasionalmente de forma prejudicial e muitas vezes interferindo em sua rotina.
Este fato também pode ser observado em estudantes universitários, principalmente nos semestres mais avançados da graduação, onde o nível de estresse e ansiedade pode apresentar-se de maneira mais agravada em decorrência da característica natural deste momento da formação, por esta razão, volta-se a ressaltar a importância desta problemática para a psicologia, já que alguns dos transtornos de ansiedade podem ser encontrados em associação aos transtornos alimentares em larga escala ao longo da vida dos sujeitos.
3 OBJETIVO
O presente trabalho busca elucidar a relação entre a ansiedade e o retorno à fixação na fase de estimulação da oralidade, no que tange especificamente as compulsões alimentares, observadas em estudantes do curso de psicologia das Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU, cursando o décimo semestre desta graduação.
Dentre todas as possibilidades de consequência da ansiedade vivida (fumar, mascar chiclete/bala/pirulito, onicofagia ou bruxismo) este trabalho escolhe olhar para aquelas cuja reação tem predominância aos aspectos alimentares. Esta delimitação se dá em decorrência ao curto período, experiências pessoais e de ordem empírica que facilitam a observação deste fenômeno. Tal escolha não exclui a necessidade de se ampliar a investigação para os demais aspectos da oralidade, muito menos a importância de executá-las em momentos oportunos.
4 METODOLOGIA
A síntese dessa pesquisa tem aspecto quantitativo, buscando desenvolver os assuntos descritos através de uma pesquisa por meio da manipulação da plataforma SurveyMonkey, essa que por sua vez foi desenvolvido para levantar dados e realizar pesquisas sobre diversos assuntos, auxiliando no desenvolvimento e gerando dados com base nas respostas obtidas. Aplicou-se o questionário de grande abrangência nos alunos do décimo semestre, no curso de graduação de psicologia da FMU, dos períodos da manhã e noite. Nesta pesquisa, foram elaboradas dez questões como o objetivo principal mensurar e mapear exclusivamente as compulsões orais, em detrimento das demais, por conta do objetivo da pesquisa e também devido a relação com o estresse emocional provavelmente presente ao final do curso e, assim, capturar os dados estatísticos de sua frequência frente a este tipo de comportamento e a associação deste nas situações que causem sentimentos de ansiedade.
Foi aplicado o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) garantindo e assegurando o sigilo dos voluntários, iniciam-se as perguntas adequadas ao tema (a pesquisa completa consta nos anexos deste trabalho), já que tratam sobre as compulsões orais em associação à ansiedade.
Realizou-se neste trabalho uma revisão narrativa da literatura por mostrar-se adequada à hipótese de estudo, investigou-se na literatura científica, em meio eletrônico e nas interpretações e análises críticas das autoras. Foram consultadas as seguintes plataformas: artigos científicos disponíveis no Scielo, Revista da Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde - PUC SP, Biblioteca virtual de Saúde (BVS), além de literatura pertinente ao tema, estes dados serão expostos ao longo do trabalho.
5 RESULTADOS OBTIDOS
A amostra contava com 89 respondentes, porém um deles não se enquadrava no nosso recorte metodológico, já que a pesquisa foi direcionada apenas aos alunos do 10º semestre de psicologia da faculdade FMU, por isso suas respostas foram descartadas da análise dos dados, permanecendo assim 88 respostas.
Fig 1 – Gráfico percentual de gênero declarado pelos participantes da pesquisa
Através da pergunta dois podemos observar que a amostra contou com um público 80% feminino (80,68%) conforme gráfico.
A amostra contou com um público feminino quase que absoluto (80%), bem maior se comparado ao público masculino (19%); e a faixa etária com maior frequência foi entre 20-25 anos de idade (50 pessoas, 57%) como podemos observar no gráfico a seguir:
Fig 2 – Gráfico por faixa etária da amostra (em quantidade por faixa)
A idade mais observada foi o público jovem de 21 a 25 anos, mais da metade dos respondentes da pesquisa (56,82%), como podemos observar no gráfico referente à pergunta três.
Fig 3 – Gráfico de autopercepção da ansiedade
Considerando-se para esta presente pesquisa que, a ansiedade corresponde a um sentimento consciente de tensão e apreensão frente às situações que gerem angústia no sujeito, lembrando que este sentimento trata da subjetividade e varia de acordo com os indivíduos e aspectos culturais (ANASTASI; URBINA, 2000; SPIELBERGER; GORSUCH; LUSHENE, 1979).
Tendo isso em vista, de acordo com a pergunta: Você se considera uma pessoa ansiosa? Mais de 80% dos estudantes da amostra (80,68%) responderam afirmativamente se considerando ansiosos, e 19% não se consideram.
Para quantificar o grau de ansiedade sentida pela amostra avaliada, apresentou-se uma escala na qual o entrevistado deveria apontar o nível de ansiedade sentida de um modo geral (0 ausência de ansiedade, 5 neutros, 10 ansiedade extrema); observou-se que a grande maioria se diz ansiosa (fig 3), pois 67% declaram ter ansiedade acima da média.
Fig 4 – Mensuração do nível de 0 a 10
Observou-se que 71% de 88 (62 pessoas) se dizem ansiosas, no entanto quando solicitado para que indiquem o nível de ansiedade, somente 67% de 88 (59 pessoas) apontaram níveis de ansiedade acima da média. Embora haja discrepância numérica, não existe diferença significativa entre os grupos (3 sujeitos); o que pôde-se verificar, é que provavelmente, quem se considera ansioso acredita estar acima da média e não somente com ansiedade em níveis altíssimos.
Destes 67% que se declararam com ansiedade acima da média, 71% apontaram possuir ansiedade classificada entre 7- 8, o que corresponde aos níveis não extremos, apenas altos o suficiente para que os sujeitos percebam os sintomas.
Fig 5 – Principais hábitos frente às situações ansiógenas
Na figura 5 mais de uma opção de compulsão oral poderia ser assinalada, já na figura 6 apenas a alternativa praticada com mais frequência deveria ser apontada pelos alunos, assim não houve influência sobre os principais hábitos escolhidos por eles frente às situações ansiógenas.
No campo “outros (especifique)” há algumas respostas que foram mais significativos ou que se repetiram, como por exemplo, “vomitar” que se compreende ser algo um pouco mais severo, deve-se ter um olhar de cuidados neste caso, pois pode-se tratar de uma compulsão alimentar patológica (bulimia).
Fig 6 – Hábitos considerados como mais relevantes
Na figura 6 podemos perceber que o alimento foi a principal escolha (50%) como forma de lidar com a ansiedade, seguida por outras compulsões orais.
Fig 7 – Frequência dos hábitos apresentados
A pergunta dez (Qual a frequência com que estes comportamentos se manifestam?) nos traz dados estatísticos de que tratamos com uma população aparentemente saudável, porém em um momento ansiógeno da vida, pois a maioria (80 pessoas, 90,90% da amostra) diz que estes comportamentos se dão sempre ou às vezes, sendo que apenas 8 pessoas (9,1%) dizem nunca ou raramente tê-los.
Os traços de ansiedade elevada estão relacionados à diversos fatores, como o final iminente da graduação, entrega de trabalho de conclusão de curso, realização de estágios, entre outros e podem ocasionalmente se manifestar como episódios de compulsão alimentar, entretanto não é condição para o surgimento de uma patologia. Mas para olhar se existe algo de cunho patológico seria necessária uma investigação individual, o que não é o objetivo deste estudo, já que o enfoque desta pesquisa é mostrar que há traços deste comportamento associado à ansiedade característica ao final da faculdade.
É realmente esperado que apresentem certo grau de ansiedade, ainda sim algo que pode ser tido como sendo sadio, porém chama a atenção por parecer ser algo bem presente neste público e relevante, podendo causar angústia, estresse, entre outros sintomas nos indivíduos afetados, podendo chegar até a complicações de ordem emocionais, que não são bem toleradas, surgirem mediante a manifestações físicas/orgânicas.
6 ANÁLISE DOS RESULTADOS
Com base na pesquisa quantitativa realizada com 88 estudantes do 10º semestre de psicologia da Faculdade FMU, foi possível levantar diversas informações, contudo, o foco deste capítulo é realizar uma análise e compreender os aspectos que elucidam a correlação entre ansiedade e compulsões orais, sempre à luz da psicanálise.
Deve-se ressaltar que neste momento serão enfatizados aspectos que predominam e/ou que se mostraram relevantes aos responsáveis pelo questionário.
- Predominância de mulheres, de 21 a 25 anos de idade a maioria ansiosas.
Inicialmente, observa-se que há predomínio do sexo feminino nas respostas, (80% dos respondentes), assim como há um grande número de estudantes no curso de psicologia com a idade de 21 a 25 anos; nota-se também que maiorias dos alunos se consideram ansiosos.
De acordo com Manual de Diagnostico e Estatístico de Transtornos Mentais V – DSM-V a ansiedade pode ser caracterizada como medo e perturbações comportamentais relacionadas.
A idade e o predomínio do sexo feminino podem ser justificados por conta de o curso de psicologia ser historicamente conhecido por ser uma profissão de cuidar e consequentemente estar relacionado ao feminino, e a faixa etária pode ser explicada pelo grupo ser composto por alunos do décimo semestre da graduação universitária.
Deve-se sobrelevar que, ao categorizarem o seu nível de ansiedade de 0 a 10, obtivemos diversos alunos com respostas de seis a dez, demonstrando um grau de ansiedade acima da média, possivelmente isto ocorre devido a situações como a entrega de trabalho de conclusão de curso, realização de 200 horas de atividades complementares, o cumprimento de dois estágios obrigatórios, entre outros, e é compreensível, e muitas vezes esperado, que o estágio da ansiedade esteja elevado.
“Freud constata a relação antagônica entre ansiedade e sintoma. O sintoma parece absorver a ansiedade, que o antecede. Quando a ansiedade ultrapassa certo limiar, dá lugar ao sintoma. Reciprocamente, se a estabilidade do sintoma é ameaçada (porque a pessoa decide enfrentá-lo, quer concretamente, quer através do procedimento psicoterapêutico), a ansiedade volta a manifestar-se.” (GOLDGRUB, 2010, p. 8).
- Compulsões orais apresentadas frente a ansiedade:
Percebe-se que dentre as compulsões orais poderiam ser, neste caso, o sintoma gerado pela ansiedade para tentar suprimi-la de alguma forma e, consequentemente diminuir a angústia sentida pelo sujeito frente às situações ansiógenas ou que lhe causem certo stress. As demais manifestações orais frente a ansiedade são contempladas no item “outros” e não analisadas neste trabalho, o que não diminui e/ou exclui sua importância, para tal consideração serão necessários novos estudos com este objetivo.
Também se entende que na análise da figura 3 podem haver extremos, já que certos alunos se consideram com zero grau de ansiedade, o que também pode ser prejudicial à vida do indivíduo, tanto quanto ter uma ansiedade elevada, pois a falta dela implica na procrastinação e consequentemente, na falta de organização para itens prioritários, lapso de objetivos de longo, médio e curto prazo, entre outras coisas. Por fim, há apenas catorze indivíduos que se consideram ansiosos em níveis que podem ser tidos como esperados ou comuns.
Após esta questão, os nossos voluntários são levados às duas perguntas alvo da pesquisa: “há o hábito de recorrer a algumas das seguintes situações quando se depara com eventos que despertam sua ansiedade?” e “dentre os hábitos selecionados acima, qual você considera o de maior relevância?” (anexo). Em ambos os casos os respondentes optam pela comida, podemos notar que este comportamento se dá pela dificuldade em trabalhar frustrações, regras e contrariedades que lhes são apresentados no decorrer do semestre em questão (CATANEO, CARVALHO e GALINDO. 2005). Levanta-se a hipótese de que os significantes de alimentos poderiam ser atribuídos à afetividade e tem valor subjetivo para cada indivíduo.
Freud elucida bem esta questão em algumas de suas obras e percebe por meio de análises que, quando tenta se tratar o sintoma diretamente, a ansiedade que havia sido revogada por ele, retorna, já que ambos têm uma relação diretamente proporcional, no caso deste trabalho os sintomas seriam tidos como as compulsões alimentares.
Em seguida, é possível mensurar a frequência com que este comportamento se apresenta na vida do sujeito, considerando-se que em uma pesquisa com 88 voluntários, apenas 35 alunos dizem que sempre recorrem ao alimento, enquanto 45 alunos relatam que mantém essa conduta de forma esporádica
7 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Verifica-se que há diversos aspectos que devem ser analisados ao tentar elucidar o tema deste trabalho, um deles seria entender que a rotina de um estudante universitário no último semestre é exaustiva e permeada por muitos eventos, principalmente nos últimos meses de sua graduação, por isso compreende-se o nível elevado de ansiedade entre eles, devido às diversas entregas que o curso exige.
Por meio da pesquisa realizada com estes alunos, percebe-se que muitos deles recorrem buscar na alimentação algum tipo de conforto, com o objetivo de tentar reduzir seus sentimentos de angústia provocados por este período. Reforça-se que as demais manifestações causadas pela ansiedade não foram abordadas neste trabalho, necessitando de estudos futuros para tanto.
Nos parece que o alimento está diretamente relacionado a subjetividade, isso se daria devido a uma construção individual e estaria ligada à cultura e história de vida do sujeito. Desta forma fica evidente a necessidade de ampliar tal investigação em trabalhos futuros, com o objetivo de elucidar os aspectos subjetivos dos indivíduos que recorrem a este recurso.
Pode-se observar que se a frequência deste comportamento for engrandecida, estará atribuída a consequências como a obesidade, podendo desenvolver problemas de saúde e/ou alguns dos transtornos já abordados no decorrer deste trabalho (bulimia, compulsões alimentares diversas, entre outras).
Por este motivo entende-se que se faz necessária a atenção redobrada em ambientes universitários, para que haja opções de alimentação saudável e com preço acessível como um recurso preventivo destas potenciais patologias, já que se trata de um problema de saúde pública.
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1 Bacharel em Psicologia pelo Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) e Pós-Graduada em Psicopatologia Psicanalítica Contemporânea Inclusive a Psicossomática pelo Centro Universitário São Camilo. Email: [email protected].