AS CONTRIBUIÇÕES DA AFETIVIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.16945482


Elgita Andréa do Amparo Pereira1
Carolina Gabriela Santos Sousa2
Márcia Regina Pereira3


RESUMO
O objetivo deste estudo foi descrever por meio de uma pesquisa bibliográfica, coleta e digitação de dados qualitativos sobre a importância e benefícios da afetividade na relação professor e aluno para o ensino e aprendizagem na Educação Infantil/ pré-escola. A interação afetiva no processo de desenvolvimento da aprendizagem é importante para que a criança esteja motivada na escola, pois além dos conteúdos aplicados pelos professores, a atenção, o carinho e a dedicação são fundamentais para que este desenvolvimento educacional aconteça de maneira positiva. Acredita-se que no âmbito escolar deve haver uma relação de afeto entre professor aluno, e que isso pode ajudar a construir um ser humano psicologicamente saudável. Isso pode contribuir para que o ser humano revele seus sentimentos em relação a outros seres e objetos e assim, comunicar-se e criar vínculos. Conclui-se que a afetividade constitui-se como a facilitadora no processo ensino/ aprendizagem. A metodologia utilizada para pesquisa do artigo científico foi a qualitativa baseada em uma pesquisa bibliográfica com pesquisas em artigos, livros, dissertações e sites, demonstrando o conceito e a importância da afetividade na formação do aluno na pré-escola e perspectivas para novas ações docentes.
Palavras-chave: Aprendizagem. Afetividade. Educação Infantil.

ABSTRACT
The objective of this study was to describe, through bibliographical research, collection and typing of qualitative data about the importance and benefits of affection in the teacher and student relationship for teaching and learning in Early Childhood Education/preschool. Affective interaction in the process of learning development is important for the child to be motivated at school, as in addition to the content applied by teachers, attention, affection and dedication are fundamental for this educational development to happen in a positive way. It is believed that in the school environment there must be a loving relationship between teacher and student, and that this can help to build a psychologically healthy human being. This can help human beings reveal their feelings towards other beings and objects and thus communicate and create bonds. It is concluded that affectivity constitutes a facilitator in the teaching/learning process. The methodology used to research the scientific article was qualitative, based on bibliographical research with research in articles, books, dissertations and websites, demonstrating the concept and importance of affectivity in student education in preschool and perspectives for new teaching actions.
Keywords: Learning. Affectivity. Child education.

1 INTRODUÇÃO

Esta pesquisa busca analisar os efeitos da afetividade no processo de aprendizagem na Educação Infantil e como esta pode interferir no desenvolvimento da criança no âmbito escola.

Parte-se do princípio que a afetividade tem papel imprescindível no desenvolvimento da criança. Entende-se a afetividade como o conjunto de processos decorridos ao longo da vida do ser humano, desde o nascimento até sua morte, se manifestando de várias maneiras, podendo ser sensações agradáveis ou desagradáveis que de alguma maneira influenciarão na formação da personalidade do indivíduo.

A carência afetiva de alguma maneira acaba prejudicando o desenvolvimento cognitivo e a aprendizagem. Muitas vezes, o docente não consegue identificar que existem alguns transtornos que ocorrem devido a falta de uma atenção à afetividade.

Uma criança que recebe afeto desde sua infância parece se desenvolver com maior facilidade do que indivíduos que carecem desse sentimento, podendo de alguma maneira influenciar no desenvolvimento da criança na escola, bem como o desempenho em seu aprendizado, estão ligados a este sentimento, desde o acolhimento do aluno pela escola como um todo e principalmente pelo professor que conviverá com essa criança.

Deste modo, como resposta ao objetivo proposto pergunta-se: qual a importância da afetividade na educação infantil e o que representa seus conceitos para o processo de ensino e aprendizagem?

Na pré-escola há uma grande necessidade de favorecer um ambiente escolar agradável e com uma boa convivência para um ensino significativo, pois os alunos estão no início da vida escolar, desta forma, resgatar esse tema como um impulso para novas ações no ambiente educacional faz com que o professor atual busque novas perspectivas no processo de ensino-aprendizagem, buscando partir dos processos cognitivos e das emoções, promovendo novos conhecimentos e contribuindo para o aprendizado.

Parte-se do princípio que o ser humano precisa de afeto para adquirir segurança, trazendo benefícios no desenvolvimento cognitivo e no aprendizado da criança. Assim, é relevante que o professor desenvolva suas habilidades emocionais e dos alunos para que possam compreender seus comportamentos de forma eficaz. É neste momento que o sujeito necessita de um profissional que estabeleça limites necessários ao seu desenvolvimento. Parece importante criar um vínculo de amizade, respeito, saber escutar o aluno, motivá-lo, mas sempre respeitando a individualidade de cada um, tornando o aprendizado prazeroso. Assim justifica-se a presente pesquisa.

Assim, pretende-se compreender algumas dificuldades encontradas no âmbito escolar no processo de ensino e aprendizagem, se a falta de disciplina e interesse está relacionada à falta de afeto por parte dos professores; compreender possíveis pontos positivos e negativos da afetividade na relação professor aluno.

O objetivo central deste estudo foi descrever por meio de uma pesquisa bibliográfica, coleta e digitação de dados qualitativos sobre a importância e benefícios da afetividade na relação professor e aluno para o ensino e aprendizagem na Educação Infantil/ pré-escola.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA

A educação pode ser definida como sendo o processo de socialização dos indivíduos que em seu processo de aprendizagem assimilam e adquirem conhecimentos envolvendo também uma sensibilização cultural e de comportamento, onde as novas gerações captam as formas de ser e estar na vida e compreendem as nuances das gerações anteriores.

Segundo Lewin (1998), um determinado grupo pode mudar a educação, mas a sociedade nem sempre vai agir desta forma.

A realidade e a sociedade sempre estão envolvidas nestes aspectos, não existe uma educação baseada somente em fatos do passado, mas sim na integração da educação com o mundo atual.

Para Oliveira (2001, p.17), “as aprendizagens situadas em tempos e espaços determinados e precisos atravessam a vida dos sujeitos”.

A responsabilidade de cada profissional na área da educação é muito grande em relação ao aprendizado, pois a educação é a base para que se alcance todos os objetivos planejados.

Repensando a formação dos professores a partir da prática pedagógica, Pimenta (2002) identifica o aparecimento da questão dos saberes como um dos aspectos considerados nos estudos sobre a identidade da profissão do professor. Segundo a autora a identidade é construída a partir da:

[...] significação social da profissão; da revisão constante dos significados sociais da profissão; da revisão das tradições. Mas também da reafirmação de práticas consagradas culturalmente e que permanecem significativas. Práticas que resistem a inovações porque prenhes de saberes válidos às necessidades da realidade. Do confronto entre as teorias e as práticas, da análise sistemática das práticas à luz das teorias existentes, da construção de novas teorias. (PIMENTA, 2002, p. 19).

Dessa forma, ela resgata a importância de se considerar o professor em sua própria formação, num processo de autoformação, de reelaboração dos saberes iniciais em confronto com sua prática vivenciada. Assim, seus saberes vão se construindo a partir de uma reflexão sobre a prática. O paradigma do professor reflexivo Perrenoud, (2002), isto é, do professor que reflete sobre a sua prática, que pensa e que elabora em cima dessa prática, é o paradigma dominante na área de formação de professores, na atualidade.

[...] temos necessidade de desenvolver um pensamento apto a perceber as ligações, as interações, as implicações mútuas a par e ao mesmo tempo em perceber a diferenciação, a oposição, a seleção e a exclusão. Ambas as percepções são necessárias. Pois, “O processo é circular, passando da separação à ligação, da ligação à separação, e, além disso, da análise à síntese, da síntese à análise. Ou seja: o conhecimento comporta, ao mesmo tempo, separação e ligação, análise e síntese.” (MORIN, 2002, p. 24)

A formação não se constrói por acumulação de cursos, de conhecimentos ou de técnicas, mas sim através de um trabalho de reflexividade crítica sobre as práticas e de (re) construção permanente de uma identidade pessoal. (NÓVOA 1995).

Convém salientar que a sociedade contemporânea atribui elevado grau de importância ao conceito de educação contínua e permanente, observando que o processo educativo não ocorre somente nas etapas de infância e juventude, já que o ser humano adquire conhecimentos por toda a sua a vida. 

O professor como educador deve adotar em sala de aula é uma medida necessária para atender os anseios dos alunos.

[...] com relação à atividade escolar, é interessante destacar que a interação entre alunos também provoca intervenções no desenvolvimento das crianças. Os grupos de crianças são sempre heterogêneos quanto ao conhecimento já adquirido nas diversas áreas e uma criança mais avançada num determinado assunto pode contribuir para o desenvolvimento de outras. Assim como o adulto, uma criança também pode funcionar como mediadora entre uma criança, ações e significados estabelecidos como relevantes no interior da cultura. (OLIVEIRA, 1998, p.45).

A escola é para todos os alunos e não apenas para os bem sucedidos, pois a nossa responsabilidade é determinante na aprendizagem e motivação do aluno.

De acordo com Nóvoa (2000), os professores passam por dois estágios no início da carreira: a “sobrevivência” e a “descoberta”. O primeiro, diz respeito ao confronto com a realidade, até então obscura.

Assegurada pelo modelo humanitário igualitário, desenhado na Constituição Federal Brasileira de 1988 (Art. 205), a educação se apresenta como “direito de todos. Um direito que deve ser promovido e incentivado para o desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho, pautada nos princípios de “igualdade de condições ”, liberdade de aprendizagem e ensinagem, “pluralismo de ideias e concepções ”para o exercício pedagógico, “gratuidade do ensino público ”, valorização dos profissionais da Educação, gestão de ensino democrática; e, por último, mais igual em importância, a “garantia do padrão de qualidade ”(art. 205, incisos I a VII) (BRASIL, 2006, p. 126).

Como afirma Machado (2000), a Educação em seus primórdios não foi capaz de discernir sobre a necessidade de se respeitar todos os povos, suas culturas, e aceitar que todos os indivíduos agem e reagem de forma diferente, pecando durante muito tempo ao ser incapaz de dizer um basta a esta situação caótica que se instalou no sistema educacional brasileiro.

Machado (2000) elucida que durante muito tempo, a escola foi castrada na possibilidade de cumprir, plenamente, a sua missão institucional, visto que durante as décadas de 1970 e 1980, as políticas expansionistas marcaram pelo centralismo, autoritarismo e pelas estruturas burocráticas verticais.

Segundo Mello (1993), a atividade escolar era quase que totalmente determinada de fora para dentro. Formalmente, não existia ou era muito restrito o espaço que a escola possuía para as tomadas de decisões sobre seus próprios objetivos, organização e gestão, modelo pedagogia e, principalmente, sobre suas equipes de trabalho.

A Educação, desde os mais remotos tempos, delegou-se o feito de transformação da sociedade, o permitir ao s indivíduos o galgar de degraus sociais, por meio da ascensão cultural-profissional que, consequentemente, levam a ascensão econômica. Único processo capaz de dissolver as grandes desigualdades sociais e culturais, por meio da promoção da equipar ação dos direitos e o combate às iniquidades. Assim, a escola concebida como meio de ascensão social, de erradicar a pobreza e minimizar a violência é valorizada nacional e internacional (GOMES, 2007, p. 1).

Como afirma Menezes Filho (2001), a Educação é o veículo para a construção de uma sociedade igualitária, visto que a “desigualdade é em grande parte resultado da péssima distribuição educacional existente, tanto em termos pessoais como entre grupos de indivíduos com características similares”

Vale ressaltar que a preocupação com a democratização e descentralização da escola, cujo ápice compreende a promulgação da Lei referida, data, no Brasil, desde a década de 1930. A Manifestação dos Pioneiros da Educação de 1932, já enfatizava a autonomia administrativa da escola nos aspectos técnicos, administrativos e econômicos (SAVIANI, 1998).

A escola (democrática e descentralizada) permite que educadores reencontrem e reconstruam o sentido e o prazer de educar; permite a construção de uma nova educação, gerada no interior das escolas, que ressignificando o ato educativo -pedagógico; e a produção de novos conhecimentos sobre o aprender e sobre a sala de aula, que, inclusive, gerando ricas terminologias , como, por exemplo, “ensinagem”, “aprendência”, “ecologia cognitiva ”e “sociedade aprendente entre outras” (WITTMANN, 2000).

Entretanto, para Machado (2000, p. 6):

[...] a autonomia e a descentralização exigem a ação diferenciada dos gestores educacionais, a nível de sistema e de escola, visto que o enfoque da educação deixa de ser o processo e passa a contemplar o resultado. Não mais existe um processo único, mas sim flexibilidade na execução que, de fato, possa atender as demandas dos alunos de uma determinada escola: cada um encontra seu caminho na busca da qualidade do ensino. Não existe uma receita pronta, mas modelos exitosos. O importante é o objetivo almejado e o resultado a se alcançar.

Portanto, nas escolas mais organizadas as interações das pessoas conscientes das suas responsabilidades, ao assumir o cargo de gestor, terão todas as chances de se sobressaírem melhor na formação humana. São as relações humanas e sociais construídas com consciência no cumprimento de suas obrigações, que vão fazer a diferença das características interativas das instituições escolares. Como Barreto (2005, p.57-58) ressalta:

A consciência da necessidade da escola, tão difícil de criar em outras épocas, chegou-nos, assim de imprevisto, total de sôfrego, a exigir, a impor a ampliação das facilidades escolares. Não podemos ludibriar essa consciência. O dever do governo – dever democrático, dever constitucional, dever imprescritível – é o de oferecer ao brasileiro uma escola primária capaz de lhe dar a formação fundamental indispensável ao seu trabalho comum, uma escola média capaz de atender à variedade de suas aptidões e das ocupações diversificadas de nível médio, e uma escola superior capaz de lhe dar a mais alta cultura e, ao mesmo tempo, a mais delicada especialização. Todos sabem quanto estamos longe dessas metas, mas o desafio do desenvolvimento é o de atingi-las, no mais curto prazo possível, sob pena de perecermos ao peso do nosso próprio progresso (NEVES. 1999, p.33).

Portanto, importante ressaltar que a autonomia da escola compreende uma conquista contínua, que requer tanto a preparação da escola quanto dos indivíduos para a autonomia pessoal como prerrogativa necessária para a qualidade da educação (VYGOTSKY, 2000).

No espaço da escola surge o dualismo tão discutido por teóricos como Anísio Teixeira, Max e outros. Uma escola para ricos e outra para pobres, espaços que evidenciam a relação de poder presente entre leigos e catedráticos. Sobre estas questões, Freire (1996, p.67) comenta:

Um dos piores males que o poder público vem fazendo a nós, no Brasil, historicamente, desde que a sociedade brasileira foi criada, é o de fazer muitos de nós correr o risco de, a custo de tanto descaso pela educação pública, existencialmente cansados, cair no indiferentismo fatalistamente cínico que leva ao cruzamento dos braços. ‘Não há o que fazer’ é o discurso acomodado que não podemos aceitar.

Com base no conceito de desenvolvimento humano amplamente discutido por Dellors (1998), no qual ele destaca que seria necessário englobar, ultrapassar e analisar todas as questões relativas à sociedade (crescimento econômico, trocas, empregos, liberdades políticas, valores culturais, entre outros), a Comissão internacional sobre educação para o século XXI da UNESCO direcionou a sua reflexão sobre a educação, expressando claramente nos 4 pilares da educação este desejo: aprender a ser, aprender a conhecer, aprender a fazer e aprender a viver junto.

Dentro desta discussão, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e alguns documentos de orientação curricular e formação de professores foram criados. Em virtude das transformações ocorridas durante os últimos 30 anos, se fez necessário repensar a educação, pela percepção de que as mesmas não conseguiram alterar as diretrizes do ensino, conhecimento, além da relação professor – aluno – desta forma acentuando ainda mais o conservadorismo educacional. (BRASIL, 1998)

O professor já não pode ser mais o que professa o saber, o conhecedor de todas as coisas, o que ilumina o aluno “sem luz”, sem o saber, dependente do seu mestre para ser educado. Surge então a imagem do facilitador, o gerenciador de ideias, o dinamizador da inteligência coletiva, o que problematiza e questiona e não traz mais as respostas, como antes feito pelo professor. Sua função não é mais a de saber todas as coisas e trazer todas as respostas prontas. Realidade de um pequeno e elitizado grupo social (FREITAS, 2000).

O desenvolvimento do ser humano é um processo contínuo que ocorre no decorrer de sua vida, pois o homem nunca está preparado e capacitado, esse desenvolvimento refere-se ao mental e ao crescimento orgânico, em processo de mudança contínuo. Assim ele vai se constituindo como pessoa.

Entende-se ser conveniente iniciar o presente capítulo pelo entendimento do conceito da expressão afetividade. “A palavra afeto vem do latim affectu, part. de afficere, ‘afetar’ elemento básico da afetividade”. (FERREIRA, 1999, p.62).

Desse modo, é possível compreender que o afeto é um sentimento em si e para o outro, presente em todas as circunstâncias da vida, desde o nascimento até a velhice.

A afetividade, de acordo com Almeida e Malhoney (2007, p. 17) ao manifestar o pensamento de Wallon, “refere-se à capacidade, à disposição do ser humano de ser afetado pelo mundo externo e interno por meio de sensações ligadas a tonalidades agradáveis e desagradáveis”.

Cabe ressaltar, no entanto, que:

Existem alguns transtornos que ocorrem devido à ausência ou pouco recebimento de afeto, onde os mais evidenciados são depressão, fobias e ansiedade generalizada. Pessoas com recordações e experiências ruins e/ou tristes se tornam apáticas, ou seja, pessoas que excluem a afetividade de sua vida e que se tornam frias e ausente de emoção. (ALMEIDA, 2001, p.29).

Para essa autora, salienta-se a importância que o afeto traz no desenvolvimento mental de todos os indivíduos permanecendo ao longo da vida.

Nas pesquisas relacionadas a afetividade não se pode deixar de citar Henri Wallon, um grande estudioso nesta área, que dedicou seus estudos relacionados ao desenvolvimento da criança, sendo a afetividade um tema central em sua obra.

Segundo Capelatto (2002), Wallon acredita que as emoções são manifestações fisiológicas que constitui o ponto de partida do psiquismo, que começa no período que ele denomina impulsivo-emocional e se prolonga ao primeiro ano da vida.

Percebe-se que uma criança que recebe afeto desde a infância acaba se desenvolvendo com segurança, e a ausência, de alguma maneira prejudicará seu desenvolvimento, podendo ocasionar vários transtornos à sua vida.

De acordo Barros (2003, p.1) é antes do nascimento e ainda no ambiente intrauterino que ocorre os vínculos afetivos.

A afetividade acompanha o ser humano desde a sua vida intrauterina até a sua morte, se manifestando-se como uma fonte geradora de potência e energia. A afetividade pode ser comparada ao alicerce sobre o qual se constrói o conhecimento racional” e por isso deve ser “prazerosa e ligada à ação afetiva.

A afetividade está presente na vida do ser humano desde o nascimento e esta vai se modificando ao longo da vida, podendo ou não ser modificados a partir das situações.

Acredita-se que os gestos estão ligados a vários acontecimentos afetivos.

O sofrimento bruto que respondia a seus paroxismos é drenado, deslocado, diluído, sutilizado e finalmente integrado a atos psíquicos que gradualmente vão mudando sua tonalidade penosa e transformando-a em simples dores de consciência. Essa evolução pode ser acompanhada na criança ao longo das etapas que balizam os progressos de sua afetividade. (WALLON 2010, p.119).

Os educadores devem acolher as crianças com dificuldades, mesmo não sabendo quais são suas dificuldades de aprendizagem, criadas dentro do âmbito escolar.

3 METODOLOGIA

Foi realizado um estudo sobre a temática deste trabalho, o qual foi realizado a partir de uma pesquisa bibliográfica, com a preparação de materiais já publicados em artigos de revistas e livros. Desse modo, a busca bibliográfica é "[...] um panorama geral dos principais trabalhos já realizados, sendo importante, poder fornecer dados atuais e relevantes relacionados ao assunto" (LAKATOS & MARCONI, 2003, p. 158).

A pesquisa foi realizada por meio de materiais bibliográficos: livros e artigos disponibilizados na internet. Os descritores para a busca de artigos são: aprendizagem. afetividade. Educação Infantil.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Entende-se que a afetividade ocupa um lugar de destaque no desenvolvimento humano para educar e entender o indivíduo é preciso considerar a importância dos vínculos afetivos, sendo um aspecto de grande importância na constituição da pessoa.

O indivíduo percorre várias etapas ao longo de sua existência que é composto por quatro níveis funcionais que são: Segundo Wallon (2007, p.117) ”afetividade, do ato motor, do conhecimento e da pessoa.”

O conhecimento da pessoa, do aluno na escola, impede que a falta de interação abale o comportamento nas fases de aprendizagem na escola e sua socialização com o meio.

Neste sentido Barros (2003, p. 90) ressaltam que:

Nos momentos afetivos do desenvolvimento o que está em primeiro plano é a construção do sujeito que faz pela interação com os outros sujeitos, naqueles de maior peso cognitivo, é o objeto, a realidade externa, que se modela, á custa da aquisição das técnicas elaboradas pela cultura. Ambos os processos são, por consequência, sociais, embora em sentidos diferentes: no primeiro, social e sinônimo de interpessoal; no segundo, é o equivalente de cultural.

O desenvolvimento da criança só se torna possível através da interação social e do ambiente em que está inserida.

Freire (2002, p. 52) acrescenta que o professor deve estar atento em cada um de seus alunos. “Coragem de querer bem aos educandos e a própria prática educativa de que participo”.

“É inevitável que as influências afetivas que rodeiam a criança desde o berço tenham sobre sua evolução mental uma ação determinante” (WALLON, 2007, p. 122).

Wallon realizou estudos no desenvolvimento da criança. Dividindo o desenvolvimento em cinco etapas:

Estágio 1

Impulsivo

Emocional

0 a 3 meses

3 meses a 1 ano

Estágio 2

Sensório-motor

Projeto

1 ano a 18 meses

3 anos

Estágio 3

Personalismo

- Crise de oposição

-Idade da graça

- Imitação

1a 6 anos

3 a 4 anos

a 5 anos

a 6 anos

Estágio 4

Categorial

6 a 11 anos

Estágio 5

Adolescência

Predominância funcional

A partir de 11 anos

QUADRO 1 – ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA, SEGUNDO HENRI WALLON.
Fonte: Wallon (2007).

Analisando a teoria do desenvolvimento, é possível perceber em cada período a importância afetiva e cognitiva de acordo com Wallon (2007, p.47):

Impulsivo-emocional: ocorre nos primeiros estágios de vida percebidos nas reações dos bebes e sua forma de se relacionar com o ambiente exterior, físico, sensório-motor e projetivo: ocorre até os três anos de vida da criança com a aquisição proporcionando autonomia para a manipulação de objetos e espaços por ela explorados além do desenvolvimento da função simbólica e linguagem. O termo projetivo está relacionado aos gestos e pensamentos da criança traduzidos para o mundo a sua volta por meio de seus atos motores e mentais; personalismo: ocorre dos três aos seis anos a partir do momento em que a criança constrói a sua consciência e interesse pelas demais pessoas e crianças, percebidos também nos primeiros anos de inclusão escolar, categorial: é o interesse da criança pelas coisas e pelo mundo e a forma como observa e conquista seu espaço com o mundo exterior, seus progressos intelectuais; predominância funcional: são os contornos da personalidade e sua definição ao passo que as modificações do corpo resultam na ação hormonal influenciando as suas ações pessoais, sua existência e moral.  

Na concepção de Wallon, a pessoa é considerada como um ser social capaz de se socializar, determinar e pensar além de reformular e buscar alternativas para seus problemas pessoais, frutos de seu desenvolvimento humano.

A aprendizagem traz vários desafios aos profissionais da educação, portanto pensar em aprendizagem não é só pensar em conhecimento, mas nas dificuldades que está pode ter devido a falta de uma relação de afetividade no âmbito escolar.

Desse modo, Wallon (2010, p.33), esclarece que, “o educador que se mantiver atento a essas manifestações da criança terá elementos extras para compreender e manejar o processo de aprendizagem.” Ou seja, a afetividade na aprendizagem é um grande componente para um ambiente acolhedor e facilitador para a criança. O professor ao observar como a criança aprende, percebe que é de forma afetiva e acolhedora que o aluno poderá aprender melhor.

A educação escolar deve ser de caráter especificamente científico, mas também apoiado no respeito e na afetividade. De acordo com Freire (1996, p. 141) “a afetividade não se acha excluída da cognoscibilidade”.

A escola é o local onde se constrói e orienta a criança para que ela se torne um adulto capaz de pensar e agir para o bem comum. E a especificidade da relação dos professores com seus alunos é fator determinante para uma relação de confiança e afetividade. Desse modo, é correto afirmar:

A educação é a ação exercida, pelas gerações adultas, sobre as gerações que não se encontram ainda preparadas para a vida social; tem por objeto suscitar e desenvolver, na criança, certo número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política, no seu conjunto, e pelo meio especial a que a criança, particularmente, se destine. (BARROS, 2003, p. 49)

Segundo Chalita (2001, p.149), “o professor só conseguirá atingir seus objetivos se for amigo dos alunos. E se for amigo verdadeiro, terá todo o respeito porque um amigo respeita o outro”.

Pode-se destacar que, no âmbito escolar devemos nos aproximar dos alunos, saber ouvi-los esse é um fator fundamental na relação entre professor/aluno. Em relação aprendizagem “é possível compreender que uma relação saudável entre professor e aluno só contribuirá para o crescimento e a realização de ambos”. (CHALITA, 2001, p.151).

Neste contexto, Marchand afirma que:

As reações sentimentais do professor variarão em função de cada aluno, segundo seus êxitos escolares, seu comportamento, seu caráter. Na prática pedagógica que coloca frente a frente o educador e o aluno, pode surgir atração ou repulsão como resultada do confronto entre dois caracteres. Todas estas atitudes sentimentais influem sobre as metodologias, com o risco de alterá-las, e provocam na criança, rudes transformações afetivas mais ou menos desfavoráveis ao ensino. (MARCHAND, 1985, p. 19).

Acredita-se que as relações sentimentais do professor podem contribuir e interferir de alguma maneira a forma de aprendizado de cada aluno, a interação do professor afetivo é fundamental no âmbito escolar, para que a aprendizagem ocorra.

5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se com este estudo que a afetividade está envolvida com a resolução de conflitos. Os professores devem acolher as crianças com dificuldades, ainda que não se possa saber de antemão se suas dificuldades de aprendizagem são sintomas ou manifestações sintomáticas criadas no interior das relações escolares.

A maior preocupação não é como a criança se socializa, mas como a sociedade socializa a criança. A concepção moderna de infância é contraditória. Muitas vezes a criança é vista como ser puro e inocente, sem maldade, que precisa ser protegido. Outras vezes a criança é vista como um ser de más qualidades, que precisa ser domado para ser útil à sociedade.

Através dessas diversas interações, escola / família, professor / aluno, o meio proporciona experiências essenciais para a construção da personalidade da criança, caracterizando-a assim como ser humano, como sujeito do conhecimento e do afeto, possibilitando um maior crescimento.

Lembrando também que a criança precisa ser reconhecida, ser elogiada, isso nutre a afetividade da criança, pois demonstra o interesse do professor pela criança, fazendo com que ela se sinta importante.    

As dificuldades de aprendizagem das crianças encontram origem na forma como são tratadas em casa e na escola. Dessa forma o ato educativo deve estar presente no desenvolvimento do bem estar das mesmas, a educação deve auxiliar a criança desde a infância, conseguindo alcançar seu objetivo que é, de adquirir uma aprendizagem significativa, uma educação de qualidade que o acompanha por toda a sua vida. No cotidiano escolar os alunos vêm crescendo cada vez mais no processo de aprendizagem, pois a escola os acolhe de forma motivadora e afetiva, a família deve também motivar e estimular os filhos antes mesmo de frequentarem a escola.

O desenvolvimento emocional e o senso de auto estão enraizados na experiência da primeira infância e continuam a se desenvolver ao longo dos anos da infância. O desenvolvimento afetivo típico nesses anos refere-se à compreensão e regulação das emoções e à organização do autoconceito.

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1 Mestranda em Tecnologias Emergentes da Educação pela Must University. E-mail: [email protected]

2 Mestranda em Tecnologias Emergentes da Educação pela Must University. E-mail: [email protected]

3 Mestranda em Tecnologias Emergentes da Educação pela Must. E-mail: [email protected]