AÇÕES MULTIPROFISSIONAIS NO ÂMBITO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE: O FOCO NO ATENDIMENTO A PACIENTES DIABÉTICOS

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11666932


Claudio Henrique Diniz1
Luis Antonio Dos Santos Da Silva2
Rubia Bortoli3
Nei Carlos Santin4


RESUMO
O diabetes é uma patologia decorrente de fatores hereditários e ambientais, que pode ser regulada pelo consumo controlado de carboidratos, medicamentos e administração de insulina, orientados por uma equipe multiprofissional. Na prática da atenção primária, percebeu-se a baixa frequência em grupos de apoio aos diabéticos, anteriormente a pandemia do covid-19, com isso a falta de instrução dos pacientes diabéticos ao tratamento foi percebida como prejudicial à própria saúde desses. O diagnóstico de diabetes mellitus traz uma série de receios e medo da mudança de hábitos, assim como do convívio com a doença crônica, o que afeta a qualidade de vida desses pacientes. Objetivou-se neste trabalho, realizar uma pesquisa sobre nível de conhecimento dos pacientes portadores de Diabetes Mellitus do Tipo 1 e 2, sobre a patologia e a importância da equipe multiprofissional no auxílio e tratamento integral da doença, a fim de promover ações educativas. Pesquisa descritiva, quantitativa, utilizando dados e informações fornecidas pela UBS de um bairro no município de Caçador, bem como aplicação de questionário individual sobre o que é diabetes e carboidrato, além de orientação do controle glicêmico com 10 pacientes usuários dessa UBS via contato telefônico. Os resultados apontam que 4,5% da população adscrita da Unidade Básica de Saúde, são diagnosticados com algum dos tipos de diabetes. Sendo que apenas 20% da população analisada aderiram às orientações, o que representa a necessidade de maior abordagem multiprofissional. A implementação de um modelo de atenção multiprofissional pode constituir um desafio, marcado pela necessidade de profissionais e gestores preparados e políticas que deem condições para a operacionalização desse modelo.
Palavras-chave: Diabetes Mellitus. Estilo de Vida Saudável. Atenção Primária à Saúde. Sistema Único de Saúde.

INTRODUÇÃO

O Brasil ocupa a 4ª posição dentre os países com maiores números de casos de diabetes, sendo cerca de 16 milhões de brasileiros acometidos pela doença (OMS, 2018). Classificada em 4 subtipos, na prática clínica a diabetes mellitus assume a forma de diabetes tipo 1 (DM1) ou tipo 2 (DM2). A DM1, é caracterizada pela destruição das células β pancreáticas como resposta autoimune, e a DM2 varia entre um estado de insulino-resistência predominante com défict insulínico relativo e um predomínio do defeito secretor com insulino-resistência associada. O diagnóstico de DM1 estabelece-se geralmente em doentes jovens, com relevante perda de peso, além de manifestações clínicas e analíticas compatíveis com insulinopenia, e a DM2, por ausência de marcadores específicos (GUELHO et al, 2013).

O diabetes é uma patologia relacionada aos carboidratos, decorrente de fatores hereditários e ambientais, que levam a uma deficiência na produção ou na ação da insulina, hormônio cuja função principal é controlar a entrada de glicose nas células. Nos diabéticos, a quantidade de glicose no sangue aumenta, comprometendo vários órgãos e sistemas. A doença pode ser regulada pelo consumo controlado de carboidratos e, em casos mais severos, pela administração de insulina (POMIN, 2006). Sabendo-se que o carboidrato é o nutriente que mais compromete a glicemia, opta-se por estratégias de controle glicêmico associadas à ingestão de uma quantidade adequada de carboidratos (SANTOS et al, 2018).

O diabetes tem íntima relação com dislipidemias, como a doença cardiovascular (DCV), além disso, trata-se de uma Doença Crônica Não Transmissível (DCNT), o que associados representam mais de 70% das mortes no Brasil (BRASIL, 2020). Desta forma, a dislipidemia no diabético pode estar associada à síndrome metabólica e, neste caso, pela somatória de múltiplos fatores de risco, exige uma abordagem terapêutica rigorosa devido ao impacto deletério sobre a qualidade de vida e risco cardiovascular (ALMEIDA, 2007).

O tratamento medicamentoso do diabetes ocorre por meio do uso da injeção de insulina ou medicamentos orais. Segundo a Associação Nacional de Atenção ao Diabetes, pessoas com DM1 precisam de insulina para sobreviver pois seu organismo não produz o hormônio. Em alguns casos de portadores de DM2, também é necessário a terapia com insulina, entretanto, apenas medicamentos orais são utilizados na maioria dos casos. Há diversos tipos de remédios para DM2 disponíveis e todos eles visam a redução da glicemia (ANAD, 2017).

Esse trabalho teve por objetivo, realizar uma pesquisa sobre o nível de adesão dos pacientes portadores de diabetes do Tipo 1 e 2 às orientações fornecidas pela equipe multidisciplinar e do conhecimento desses pacientes, sobre a patologia, suas formas de cuidados e tratamentos, além de fomentar a importância da equipe multiprofissional no auxílio e tratamento integral da doença.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A regulação do índice glicêmico no organismo depende basicamente de dois hormônios, o glucagon e a insulina. O glucagon é responsável por estimular a produção de glicose pelo fígado e a insulina bloqueia essa produção, além de aumentar a captação da glicose pelos tecidos periféricos sensíveis à insulina. Com isso, eles promovem o ajuste, minuto a minuto, da homeostasia da glicose. Os níveis normais de glicose no sangue são de até 99mg/dl pré-prandial (antes da alimentação), e até 140 mg/dl pós-prandial (1 ou 2 horas após a alimentação). Níveis alterados desses valores podem sugerir crises hiperglicêmicas ou hipoglicêmicas (GELONEZE, 2006)

Diabetes é uma doença causada pela produção insuficiente ou má absorção de insulina, hormônio que regula a glicose no sangue e garante energia para o organismo. A insulina é um hormônio que tem a função de quebrar as moléculas de glicose (açúcar) transformando-a em energia para manutenção das células do nosso organismo. O corpo precisa desse hormônio para utilizar a glicose, que obtemos por meio dos alimentos, como fonte de energia. Quando a pessoa tem diabetes, no entanto, o organismo não fabrica insulina e não consegue utilizar a glicose adequadamente então o nível de glicose no sangue fica alto, o indivíduo encontra-se hiperglicêmico. Se esse quadro permanecer por longos períodos, poderá haver danos em órgãos, vasos sanguíneos e nervos (DIABETES FEDERATION, 2019).

O diabetes é dividido em alguns tipos e formas de acometimento, dependendo da condição que o organismo da pessoa apresenta, porém, os tipos mais comuns são o tipo 1 e 2. O diabetes mellitus tipo 1 é uma doença crônica adquirida hereditariamente, mas não transmissível, em algumas pessoas, o sistema imunológico ataca equivocadamente as células beta. Logo, níveis irrelevantes fisiologicamente de insulina é liberada para o corpo. Como resultado, a glicose permanece no sangue, em vez de ser usada como fonte de energia para o metabolismo celular. Esse é o processo que caracteriza o Tipo 1, que concentra entre 5 e 10% do total de pessoas com a doença. O Tipo 1 aparece geralmente na infância ou adolescência, mas pode ser diagnosticado em adultos também, essa variedade é sempre tratada com insulina, medicamentos, planejamento alimentar e atividades físicas, para ajudar a controlar os níveis de glicose no sangue (Sociedade Brasileira de Diabetes, SBD 2019)

No diabetes mellitus tipo 2, a insulina é produzida, porém, sua ação é dificultada, o que caracteriza um quadro de resistência insulínica, isso leva a um aumento de sua produção para tentar manter a glicose em níveis normais, dessa forma quando não é possível realizar esse controle, surge o diabetes. Cerca de 90% das pessoas com diabetes têm o Tipo 2, dependendo da gravidade, pode ser controlado com atividade física e planejamento alimentar, porém alguns casos, exigem o uso de insulina e/ou outros medicamentos para controlar a glicose. A instalação do quadro é mais lenta e os sintomas – sede, aumento da diurese, dores nas pernas, alterações visuais e outros – podem demorar vários anos até se apresentarem. Se não reconhecido e tratado a tempo, também pode evoluir para um quadro grave de desidratação e coma (SBD, 2019).

Na estrutura da Rede de Atenção às Pessoas com Doenças Crônicas, a Atenção Básica à Saúde (ABS) tem caráter estratégico por ser o ponto de atenção com maior capilaridade e potencial para identificar as necessidades de saúde da população e realizar a estratificação de riscos que subsidiará a organização do cuidado em toda a rede. É responsável também por realizar ações de promoção e de proteção da saúde, prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos e manutenção da saúde para a maior parte da população (BRASIL, 2011).

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa descritiva, quantitativa, utilizando dados e informações fornecidas pela UBS de um bairro no município de Caçador, bem como aplicação de questionário individual sobre o que é diabetes e carboidrato, além de orientação do controle glicêmico com 10 pacientes usuários dessa UBS via contato telefônico. Utilizaram-se relatórios do Sistema Informatizado e-SUS. Buscou-se os dados referentes aos pacientes portadores de Diabetes Mellitus cadastrados na unidade de saúde estudada até outubro de 2020.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com os dados da Secretaria Municipal de Saúde de Caçador-SC, 4,5% da população adscrita da Unidade Básica de Saúde de um bairro de Caçador, são diagnosticados com algum dos tipos de diabetes. Sendo que 13% desses indivíduos, tinham idade inferior a 50 anos, o que representa a necessidade do cuidado integral devido a cronicidade da doença e suas complicações como neuropatia diabética e retinopatia diabética, além de todas as outras estudadas a cada dia no meio da endocrinologia. Diante de tudo, nota-se a importância da orientação multiprofissional quanto ao correto manejo da contagem de carboidratos, visto que os pacientes em situação socioeconômica inferior, apresentam maiores dificuldades no que se refere ao entendimento da definição de carboidratos, açucares e gorduras.

A intensa falta de adesão à grupos como HIPERDIA realizados pelo SUS na atenção primária, demostra a necessidade de maior intervenção dos gestores na realização da medicina preventiva com estratégias que aproximem a população local dos serviços ofertados gratuitamente pelas unidades básicas de saúde.

Por ser um bairro caracterizado por classe média baixa e pobre, estima-se que o nível de conhecimento fisiopatológico e tratamento da doença seja baixo, corroborando com os achados de Rodrigues et al (2012) quando diz que em relação à escolaridade, os usuários com DM2 apresentaram baixo grau de instrução em seus estudos. Tal afirmação se relaciona com os achados em pesquisa, visto que segundo questionário aplicado individualmente via contato telefônico, no qual foi questionado se os pacientes sabiam o significado da palavra “carboidrato”, apenas 30% dos pacientes relataram que sim e conseguiram explicar o real significado. Tal dado, demostra a necessidade de maior orientação pela equipe multidisciplinar de forma clara e objetiva com esses pacientes, no fito de melhorar o entendimento sobre o diabetes.

Além de tudo, foi solicitado que os pacientes realizassem controle e anotações da glicemia capilar nos períodos da manhã, tarde e noite, antes das principais refeições durante uma semana. Dos 10 pacientes entrevistados via ligação telefônica, apenas 2 aderiram ao controle e as orientações e 100% desses que aderiram, apresentaram média glicêmica superior a 200 mg/dl, o que comprova a necessidade de políticas públicas que incentivem o funcionamento e adesão aos grupos de apoio como Hiperdia na Atenção Básica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No âmbito da atenção primária, percebeu-se através da análise criteriosa de artigos e mediante questionário e orientação individual alguns problemas em comum, como a baixa frequência em grupos de apoio aos pacientes diabéticos, bem como a dificuldade de adesão ao tratamento. A implementação de um modelo de atenção multiprofissional pode se constituir um grande desafio, marcado pela necessidade de profissionais e gestores preparados para trabalharem com doenças crônicas e abertos a romperem com o modelo tradicional; e políticas que deem condições para a operacionalização desse modelo nos âmbitos do micro ao macro (SALCI, 2017).

A equipe multiprofissional da AB deve realizar o acompanhamento integral dos pacientes diabéticos, bem como orientar o bom controle glicêmico, informar sobre a fisiopatologia e riscos da doença, além de estimular hábitos de vida saudáveis. Por fim, é de grande importância o investimento em marketing por parte dos gestores, a fim de divulgar a importância dos Grupos de Apoio aos pacientes Hipertensos e Diabéticos, na tentativa de manter o funcionamento e a adesão desses grupos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GELONEZE, Bruno; LAMOUNIER, Rodrigo N.; COELHO, Otavio R. Hiperglicemia pós-prandial: tratamento do seu potencial aterogênico. Arquivo Brasileiro de Cardiologia. Vol.87, n.5, São Paulo, nov. 2006.

GUELHO, Daniela; PAIVA, Isabel; CARVALHEIRO, Manuela. Diabetes mellitus – um «continuum» fisiopatológico. Revista Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo.Volume 8, Issue 1, JANEIRO 2013.

LEITE, Patricia. Remédio para diabetes os mais usados no tipo 1 e 2. Associação nacional de atenção ao diabetes. Portal da Saúde do R7, julho 2017.

LYRA, Ruy. Prevalência de diabetes melito e fatores associados em população urbana adulta de baixa escolaridade e renda do sertão nordestino brasileiro. Arq Bras Endocrinol Metab, São Paulo , v. 54, n. 6, p. 560-566, Aug. 2010.

OLIVEIRA, BS; COELHO, SC. Contagem de carboidratos aplicado ao planejamento nutricional de pacientes com diabetes melittus. Revista Brasileira de Nutrição Clinica, vol.27, n.4, p.273-9, 2007.

POMIN, Vitor Hugo; MOURÃO, Paulo Antônio de Souza. Carboidratos - de adoçantes a medicamentos. Instituto de Bioquímica Médica, Universidade Federal do Rio de Janeiro. CIÊNCIA HOJE, vol. 39, nº 233. Dezembro de 2006.

RODRIGUES, Flávia Fernanda Luchetti. Relação entre conhecimento, atitude, escolaridade e tempo de doença em indivíduos com diabetes mellitus. Acta paul. enferm., São Paulo , v. 25, n. 2, p. 284-290, 2012..

SANTOS, Beatriz Russo; SANTOS, Luiza Florentino; FAVERO, Thaís; QUIÑONES, Eliane Marta; CAVALCANTI, Nayara Carvalho; GIOVANINI, Elaine Cristina. Consumo de Carboidratos x Diabetes Mellitus Tipo 2: uma revisão bibliográfica. Revista cientifica das faculdades de medicina e enfermagem. UNIMES, 2018.


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