A INFLUÊNCIA DO CONSUMO MIDIÁTICO NO DESENVOLVIMENTO DE DISTÚRBIOS PSÍQUICOS EM JOVENS

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.14025167


Marco Antônio de Carvalho Assis1


RESUMO
Este artigo examina a influência do consumo midiático no desenvolvimento de distúrbios psíquicos em jovens, abordando como o acesso contínuo e não regulado a conteúdos de mídia impacta a formação psíquica e emocional. Com a crescente exposição às redes sociais e outras plataformas digitais, a construção da autoimagem e a percepção de valores pessoais e sociais passam a ser moldadas pela comparação constante e pela idealização. Este estudo analisa, sob a ótica psicanalítica, como o consumo excessivo de mídia pode contribuir para o surgimento de sintomas como ansiedade, depressão e distúrbios alimentares, explorando as dinâmicas de idealização e projeção inconsciente que caracterizam o ambiente digital. A metodologia inclui uma revisão bibliográfica e análise teórica baseada na psicanálise contemporânea, com o objetivo de entender como o consumo midiático contribui para a formação de uma identidade marcada por conflitos internos e baixa autoestima.
Palavras-chave: Psicanálise, consumo midiático, distúrbios psíquicos, adolescência, redes sociais, idealização, autoimagem.

ABSTRACT
This article examines the influence of media consumption on the development of psychological disorders in young people, exploring how continuous and unregulated access to media content impacts their emotional and psychological formation. With increasing exposure to social media and other digital platforms, the construction of self-image and the perception of personal and social values are increasingly shaped by constant comparison and idealization. This study analyzes, from a psychoanalytic perspective, how excessive media consumption may contribute to the emergence of symptoms such as anxiety, depression, and eating disorders, exploring the dynamics of unconscious idealization and projection that characterize the digital environment. The methodology includes a bibliographic review and theoretical analysis based on contemporary psychoanalysis, aiming to understand how media consumption contributes to the formation of an identity marked by internal conflicts and low self-esteem.
Keywords: Psychoanalysis, media consumption, psychological disorders, adolescence, social media, idealization, self-image.

1 INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, a mídia digital e as redes sociais têm se tornado elementos centrais na vida dos jovens, exercendo uma influência sem precedentes em sua formação psíquica e emocional. Esse cenário reflete uma mudança cultural, onde a identidade, os valores e as aspirações de grande parte da juventude são, em alguma medida, moldados pela interação e exposição a plataformas digitais. A presença constante dessas ferramentas de comunicação e entretenimento insere os jovens em um ambiente de intensa exposição e comparação social, no qual a busca pela aceitação e validação muitas vezes se traduz em uma necessidade de reconhecimento e idealização pública.

Sob a ótica psicanalítica, esse fenômeno levanta preocupações quanto ao impacto do consumo midiático desregulado no desenvolvimento psíquico, sobretudo no que se refere ao surgimento de distúrbios psicológicos como ansiedade, depressão e transtornos alimentares. Teorias clássicas e contemporâneas da psicanálise, como as noções de narcisismo e idealização do ego, oferecem uma base conceitual importante para entender as influências inconscientes que permeiam o contato dos jovens com a mídia. Nesse sentido, o uso intensivo de redes sociais e outras plataformas digitais possibilita a projeção de ideais inatingíveis, gerando um ambiente de competição e comparação contínuas, que afetam a autoestima e a construção da autoimagem.

A adolescência é uma fase de busca por identidade e pertencimento, sendo marcada por um intenso processo de construção do "eu". Neste contexto, o consumo midiático pode influenciar diretamente a forma como os jovens percebem a si mesmos e ao mundo, contribuindo para a formação de identidades fragmentadas e para o surgimento de conflitos internos. Esse artigo visa investigar, a partir de uma perspectiva psicanalítica, como o consumo de conteúdos digitais afeta o desenvolvimento psíquico de jovens, discutindo os possíveis impactos no aumento de sintomas como ansiedade, depressão e distúrbios alimentares.

A metodologia adotada inclui uma revisão de literatura e análise teórica das principais contribuições psicanalíticas sobre o tema, com enfoque nas dinâmicas de idealização, projeção e identificação, comuns no uso das redes sociais e na relação com a mídia digital. A partir disso, este trabalho busca contribuir para uma melhor compreensão dos desafios psíquicos enfrentados pelos jovens na era digital, destacando a importância de uma mediação saudável e consciente no uso dessas plataformas e propondo reflexões para pais, educadores e profissionais de saúde mental sobre os efeitos do consumo midiático na saúde psíquica da juventude atual.

2 A ADOLESCÊNCIA E A BUSCA POR IDENTIDADE NA ERA DIGITAL

A adolescência é um período crucial na formação psíquica do indivíduo, caracterizado por intensas transformações físicas, emocionais e sociais. Nessa fase, a busca por identidade torna-se um dos principais desafios, pois o adolescente está em um processo de construção de si mesmo, estabelecendo valores, crenças e limites. De acordo com a psicanálise, esse período é marcado pela reestruturação do "eu" e pela amplificação dos conflitos internos, especialmente aqueles relacionados ao narcisismo, à aceitação social e à sexualidade. Neste contexto, os adolescentes buscam, de maneira intensa, o reconhecimento e a validação externa, elementos que têm um papel fundamental na consolidação da autoimagem e da autoestima.

Com o advento das redes sociais e o acesso facilitado a uma vasta gama de conteúdos digitais, essa busca por identidade sofre influência direta do que é visto e vivido nas plataformas digitais. A mídia moderna não apenas expõe os jovens a padrões de comportamento, estilo de vida e beleza, mas também os coloca em um ambiente de competição e comparação contínuas. A projeção de uma vida idealizada nas redes sociais, onde a maioria dos indivíduos exibe momentos felizes, realizações pessoais e profissionais, e até corpos "perfeitos", contribui para que o adolescente forme uma visão distorcida do que seria um "eu ideal". Segundo a psicanálise, esse "eu ideal" é uma construção imaginária do ego que serve como parâmetro de comparação e que, muitas vezes, não corresponde à realidade psíquica e emocional do sujeito.

Essa exposição a ideais inalcançáveis desencadeia sentimentos de inadequação e inferioridade, especialmente entre os jovens que estão em fase de autodescoberta e ainda lidam com inseguranças típicas da adolescência. A idealização de influenciadores digitais, figuras públicas e até mesmo dos próprios amigos nas redes sociais leva o adolescente a questionar sua própria identidade e a adotar comportamentos e atitudes que podem não refletir sua essência, mas sim um desejo de ser aceito pelo grupo. Este fenômeno, conhecido como "identificação", é um processo inconsciente onde o sujeito incorpora características e valores de outro indivíduo que ele admira ou que parece socialmente valorizado. Contudo, essa identificação, quando impulsionada pela mídia digital, pode intensificar a fragmentação do eu, dificultando o desenvolvimento de uma identidade autêntica.

Além disso, a psicanálise entende que a busca por aprovação nas redes sociais não se limita à obtenção de "curtidas" ou seguidores, mas envolve um desejo inconsciente de reconhecimento e afeto. Esse desejo pode ser interpretado como uma manifestação do narcisismo, onde o adolescente busca incessantemente ser admirado e valorizado. Freud, ao introduzir o conceito de narcisismo, destacou que uma dose saudável desse traço é fundamental para o desenvolvimento do ego. Entretanto, no ambiente digital, esse narcisismo pode se exacerbar, levando o jovem a uma relação dependente com as redes sociais para validar sua autoestima. Essa dependência pode contribuir para o surgimento de comportamentos ansiosos e sintomas depressivos quando a resposta do público não é tão positiva quanto o esperado, ou quando o jovem se compara de forma constante com outras pessoas.

Portanto, a era digital não apenas transforma a maneira como os adolescentes se expressam e interagem, mas também modifica a relação que eles estabelecem com a própria identidade. A psicanálise, ao considerar os processos inconscientes e os mecanismos de defesa que operam no sujeito, permite uma compreensão mais profunda dos impactos psíquicos desse fenômeno. O consumo midiático, quando desregulado, pode potencializar ansiedades e inseguranças, dificultando o desenvolvimento de um "eu" integrado e saudável. É fundamental, assim, que se reconheça a influência que a mídia exerce na construção da identidade dos jovens e que se incentive uma abordagem mais crítica e consciente do uso dessas plataformas.

3 METODOLOGIA

Este estudo é de caráter teórico e exploratório, com base na análise psicanalítica de temas contemporâneos relacionados ao impacto do consumo midiático na saúde psíquica de jovens. Para embasar a discussão, a metodologia adotada consiste em uma revisão bibliográfica de literatura científica e psicanalítica relevante sobre temas como adolescência, construção de identidade, redes sociais e distúrbios psíquicos. A escolha dessa abordagem visa integrar conceitos fundamentais da psicanálise – como narcisismo, idealização do ego, mecanismos de defesa e projeção – à realidade midiática atual, onde jovens estão continuamente expostos a conteúdos digitais de impacto psicológico significativo.

A pesquisa bibliográfica foi conduzida a partir de fontes acadêmicas em bases de dados como Scielo, Google Scholar e Periódicos CAPES, utilizando palavras-chave relacionadas ao tema, tais como "psicanálise e adolescência", "redes sociais e identidade", "distúrbios psíquicos em jovens" e "influência midiática no desenvolvimento psíquico". Essa seleção permitiu identificar artigos, teses, dissertações e livros que abordam o impacto das redes sociais e da mídia digital na formação psíquica, assim como a interpretação desses fenômenos pela psicanálise.

Além da revisão bibliográfica, realizou-se uma análise teórica das contribuições psicanalíticas sobre a formação do “eu” e os mecanismos inconscientes envolvidos na construção da identidade e da autoimagem. Com base nos conceitos de Freud, Winnicott e Lacan, esta análise busca entender as dinâmicas de idealização e identificação inconscientes que se intensificam em ambientes de constante exposição midiática, característicos das redes sociais. A perspectiva de Freud sobre o narcisismo e o "eu ideal", as teorias de Winnicott sobre o "self verdadeiro e falso" e o conceito de espelhamento de Lacan oferecem uma fundamentação teórica sólida para discutir os conflitos psíquicos resultantes da comparação constante e da busca por validação externa.

Este trabalho não envolve coleta de dados empíricos; entretanto, ele se vale de uma análise crítica e interpretativa de estudos anteriores que apresentam dados relevantes para a discussão, como pesquisas de psicologia social e psicanálise sobre o impacto das redes sociais na autoimagem dos jovens. Essa metodologia permite contextualizar o fenômeno do consumo midiático e destacar como ele contribui para o desenvolvimento de sintomas psíquicos relacionados à ansiedade, depressão e distúrbios de imagem corporal.

A metodologia teórico-bibliográfica empregada neste estudo se justifica pelo objetivo de fornecer uma compreensão mais profunda e fundamentada sobre como o consumo midiático influencia o desenvolvimento psíquico dos jovens. A abordagem psicanalítica, com sua atenção aos processos inconscientes, permite explorar a complexidade da relação entre o jovem e a mídia digital, destacando os mecanismos subjacentes que afetam a saúde mental na era das redes sociais.

4 A IDEALIZAÇÃO DO EU E A INFLUÊNCIA DAS REDES SOCIAIS NA AUTOIMAGEM

Um dos efeitos mais significativos do consumo midiático no contexto psíquico dos jovens é a formação de uma autoimagem idealizada e muitas vezes inatingível. No ambiente das redes sociais, a maioria das interações se baseia em publicações cuidadosamente selecionadas que transmitem apenas os aspectos mais desejáveis e agradáveis da vida de seus usuários, criando uma ilusão de perfeição. Segundo Freud (1914), esse fenômeno pode ser compreendido por meio do conceito de "ideal do eu", que é uma representação interna do que o sujeito gostaria de ser, muitas vezes baseada em padrões e expectativas externas.

Ao acompanhar continuamente esses conteúdos idealizados, os jovens acabam internalizando um padrão de comparação que frequentemente gera frustração e sentimentos de inadequação. De acordo com a teoria psicanalítica, essa comparação intensifica o narcisismo secundário, onde o sujeito busca satisfazer ideais que não correspondem à sua realidade, mas que são impostos pelo coletivo midiático (Freud, 1914). Essa pressão por atender ao ideal midiático pode levar ao surgimento de uma identidade fragmentada, onde o jovem se sente constantemente aquém das imagens perfeitas que vê na mídia.

Dessa forma, o "eu ideal" assume uma posição dominante, gerando uma dicotomia entre a realidade e a fantasia, onde o indivíduo se esforça para alcançar algo que é, por natureza, inatingível. Lacan (1949) contribui para essa compreensão com o conceito de "estádio do espelho", que descreve o momento em que o sujeito, ao se ver refletido, reconhece-se como uma imagem idealizada, mas distinta de seu verdadeiro "eu". Nas redes sociais, essa “imagem espelhada” é alimentada pelo feedback constante de curtidas e comentários, que reforçam a busca por validação externa e estimulam a construção de uma identidade baseada no olhar do outro.

Este processo de idealização constante afeta profundamente a autoimagem e a autoestima dos jovens. Com o tempo, a distância entre a identidade real e a identidade idealizada, projetada nas redes sociais, pode gerar sentimentos de alienação e autodesvalorização. Esse fenômeno é especialmente perigoso porque se alimenta da busca incessante por aceitação e do desejo de pertencer a um grupo social, duas necessidades fundamentais na adolescência. Nesse contexto, a comparação social torna-se um mecanismo de autocrítica intensa, que pode ser visto como um “superego” punitivo, que cobra e desvaloriza o jovem, levando-o a uma insatisfação constante consigo mesmo (Freud, 1923).

Além disso, essa idealização da autoimagem afeta também as relações interpessoais dos jovens, que podem desenvolver um padrão de relacionamento superficial e baseado na aprovação social. A psicanálise entende que, ao tentar sustentar uma imagem idealizada para os outros, o sujeito se afasta do seu "self verdadeiro" (Winnicott, 1960), dificultando o estabelecimento de relações autênticas e significativas. As interações online, então, reforçam o "falso self", uma camada de proteção e de performance, gerando uma relação superficial consigo mesmo e com os outros.

Dessa forma, a idealização midiática leva o jovem a uma posição de constante “performance”, que se baseia em uma construção ilusória da realidade e do “eu”. Os efeitos dessa dinâmica vão além da esfera individual e afetam também a saúde mental coletiva, promovendo padrões de comportamento e autoimagem que podem contribuir para o aumento de distúrbios como a ansiedade, a depressão e os transtornos alimentares. A psicanálise, ao explorar os processos inconscientes e a influência do coletivo sobre o “eu”, oferece uma abordagem valiosa para compreender a complexidade desses fenômenos, destacando a importância de promover uma relação mais saudável e crítica com o conteúdo midiático consumido.

5 O IMPACTO DAS REDES SOCIAIS E VALORES PESSOAIS

A exposição constante a conteúdos midiáticos, principalmente através das redes sociais, tem um impacto profundo na formação da autoimagem e na percepção de valores pessoais e sociais entre os jovens. Segundo Bauman (2001), a modernidade líquida nos coloca em um estado de contínua comparação e idealização, onde a imagem que projetamos nas redes sociais se torna um reflexo distorcido da nossa realidade.

As redes sociais funcionam como um espelho social, onde os jovens buscam validação e reconhecimento. Este ambiente, caracterizado pela exposição e pela constante interação, pode reforçar sentimentos de inadequação e baixa autoestima. De acordo com Sibilia (2008), vivemos em uma cultura do excesso, onde a exposição midiática constante pode levar à formação de uma identidade fragmentada, marcada por conflitos internos.

Freud (1914) já apontava para os perigos da idealização e da projeção inconsciente na formação da identidade. No contexto digital, essas dinâmicas se intensificam, criando um ciclo vicioso onde a busca pela perfeição se torna uma fonte de ansiedade e distúrbios psíquicos. A idealização do outro, através das imagens cuidadosamente curadas e dos perfis idealizados nas redes sociais, contribui para a distorção da autoimagem e o desenvolvimento de sintomas como a ansiedade e a depressão.

6 ANSIEDADE E REDES SOCIAIS

A ansiedade é um dos distúrbios psíquicos mais prevalentes entre os jovens, exacerbada pelo uso contínuo das redes sociais. Segundo Turkle (2011), a comunicação mediada por dispositivos tecnológicos pode gerar uma falsa sensação de conexão, enquanto, na verdade, contribui para o isolamento e o aumento da ansiedade social. As notificações constantes, a necessidade de estar sempre atualizado e a comparação incessante com os outros criam um ambiente de estresse contínuo e expectativa irreal.

Estudos recentes indicam que a comparação constante nas redes sociais é um fator significativo no desenvolvimento da depressão entre os jovens. Conforme apontado por Twenge (2017), há uma correlação direta entre o tempo gasto em plataformas digitais e os sintomas depressivos. A idealização de vidas alheias, muitas vezes editadas e filtradas para parecerem perfeitas, gera uma sensação de inadequação e descontentamento com a própria vida, levando à depressão.

Os distúrbios alimentares, como a anorexia e a bulimia, também estão intimamente ligados ao consumo excessivo de mídia, especialmente em plataformas que promovem padrões de beleza irrealistas. Winzelberg et al. (2000) destacam que a pressão para atingir um padrão físico idealizado pode levar a comportamentos alimentares prejudiciais e a distúrbios psíquicos graves. As imagens idealizadas de corpos perfeitos nas redes sociais aumentam a insatisfação corporal e a distorção da autoimagem.

7 DINÂMICAS DE IDEALIZAÇÃO E PROJEÇÃO

As dinâmicas de idealização e projeção, descritas por Freud (1914), são processos psíquicos que se intensificam no ambiente digital. As redes sociais promovem a construção de imagens idealizadas de Si e dos outros, criando um ciclo onde a idealização leva à projeção de expectativas irreais sobre a própria vida e aparência. Este fenômeno está diretamente relacionado ao desenvolvimento de ansiedade e baixa autoestima, conforme discutido por Sibilia (2008).

A busca contínua por validação nas redes sociais pode ser uma fonte significativa de ansiedade. De acordo com Weinstein (2017), o feedback instantâneo, na forma de "curtidas" e comentários, condiciona os jovens a buscarem constantemente aprovação externa. Essa necessidade de validação pode gerar um estado de ansiedade permanente, onde a falta de reconhecimento imediato é interpretada como rejeição.

A comparação constante com vidas aparentemente perfeitas nas redes sociais pode levar a uma distorção da autoimagem e, consequentemente, à baixa autoestima. Festinger (1954) já argumentava sobre a teoria da comparação social, sugerindo que indivíduos avaliam a si mesmos em relação aos outros para formar julgamentos. Nas redes sociais, onde as comparações são feitas com versões idealizadas e editadas de outras pessoas, esse processo pode ser prejudicial à saúde mental.

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A influência do consumo midiático na saúde mental dos jovens é um tema complexo e multifacetado, que envolve a interação entre fatores individuais e coletivos. A exposição contínua a conteúdos de mídia, especialmente nas redes sociais, contribui para a construção de uma autoimagem idealizada e distorcida, resultando em sentimentos de inadequação e baixa autoestima. A psicanálise nos fornece ferramentas valiosas para compreender esses fenômenos, destacando a importância dos processos inconscientes e das dinâmicas sociais na formação da identidade psíquica.

A comparação constante, a busca por validação externa e a idealização de vidas alheias nas redes sociais criam um ambiente propício ao desenvolvimento de distúrbios psíquicos como ansiedade, depressão e transtornos alimentares. A internalização de padrões midiáticos irrealistas gera um conflito entre a identidade real e a idealizada, levando a um estado de permanente insatisfação e alienação.

Promover uma relação mais crítica e saudável com o consumo midiático é essencial para mitigar esses efeitos negativos. É necessário educar os jovens para que desenvolvam uma visão mais realista e consciente dos conteúdos que consomem, fortalecendo sua autoestima e capacidade de autocrítica. Além disso, políticas públicas e iniciativas de saúde mental devem focar na conscientização sobre os riscos associados ao consumo excessivo de mídia e nas estratégias para promover o bem-estar psíquico.

Ao explorar a interação entre o consumo midiático e a formação da identidade, este estudo contribui para um entendimento mais profundo dos desafios enfrentados pelos jovens na era digital. A psicanálise, com sua ênfase nos processos inconscientes e nas dinâmicas sociais, oferece uma perspectiva enriquecedora para abordar essas questões, destacando a importância de uma abordagem integrada que considere tanto os fatores individuais quanto os coletivos na promoção da saúde mental.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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1 Doutor em Psicanálise pela Emil Brunner World University