A INFLUÊNCIA DAS REDES SOCIAIS NA PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA DA POPULAÇÃO DO RIO DE JANEIRO

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10350323


Ana Beatriz Rodrigues Soares¹
Gabriel Cordovil Cortez de Sousa Alves²
Geovanna Rosa Fernandes³
Vitor Mateus Abreu de Bakker⁴
Orientador: Ricardo Nascimento Ferreira⁵


RESUMO
A pesquisa trata-se de um estudo sobre redes sociais e a prática de atividades físicas. A pesquisa foi aplicada aos moradores do estado do Rio de Janeiro e teve como objetivo analisar como as redes sociais influenciam a vida de cada entrevistado no que diz respeito à prática de atividades físicas, entender as consequências dessa influência e identificar ações positivas que as redes sociais podem ter para a prática de exercícios físicos saudáveis, de modo que não seja algo prejudicial à saúde. Os métodos utilizados na pesquisa tiveram a combinação de serem exploratórios, explicativos e descritivos. Por fim, a pesquisa constatou que as redes sociais são, muitas vezes, as causadoras da busca excessiva pelo "corpo perfeito", uma vez que há um reforço das pressões estéticas nas postagens dessas mídias, o que causa a prática excessiva de exercícios físicos. Por outro lado, também foi observado que as redes sociais ajudam as pessoas a entenderem determinado exercício através de vídeos, imagens e textos. Nesse sentido, existe um grande dilema entre o lado bom e o lado ruim das redes sociais para a prática de exercícios físicos, de modo que as mídias precisam focar em mostrar um tipo de conteúdo que induza as pessoas a terem uma rotina saudável e não procurem demasiadamente por atividades que as deixem com um "corpo perfeito".
Palavras-chave: Redes sociais; Exercícios físicos; Influencia; Rio de Janeiro
 
ABSTRACT
The research is a study on social media and the practice of physical activities. The survey was conducted with residents of the state of Rio de Janeiro and aimed to analyze how social media influences the lives of each respondent regarding the practice of physical activities, understanding the consequences of this influence, and identify positive actions that social media can have for a healthy exercise routine, so that it is not detrimental to health. The research methods employed were a combination of exploratory, explanatory, and descriptive approaches. Finally, the research found that social media often serves as the cause of excessive pursuit of the "perfect body," as there is a reinforcement of aesthetic pressures in the posts on these platforms, leading to the excessive practice of physical exercises. On the other hand, it was also observed that social media helps people understand specific exercises through videos, images, and texts. In this sense, there is a significant dilemma between the positive and negative aspects of social media for the practice of physical exercises, and media outlets need to focus on showing content that encourages people to adopt a healthy routine rather than excessively seeking activities that lead to a "perfect body."
Keywords: Social Media; Physical Activity; Influence; Rio de Janeiro
 
INTRODUÇÃO
 
A sociedade contemporânea, marcada por uma constante evolução, reflete não apenas mudanças nos meios de comunicação, mas também nas percepções individuais em relação ao corpo e à imagem corporal. Conforme destacado por Moreira (2010), a mídia, como um poderoso recurso de comunicação, desempenha um papel crucial na formação de padrões estéticos e na disseminação de ideais de beleza. Essa influência não se limita aos tradicionais meios de comunicação, estendendo-se de maneira significativa ao universo digital, onde os influenciadores digitais emergem como protagonistas na criação e propagação de normas corporais.
 
A aceitação do corpo e a busca incessante por padrões estéticos veem na mídia, especialmente nas redes sociais, uma plataforma amplificadora dessas influências. Conforme observado por Njaine (2006), os impactos midiáticos têm uma relação direta com a imagem corporal, impondo uma busca incessante por corpos considerados ideais. Esse fenômeno é ainda mais evidente nas redes sociais, onde a exposição à diversidade de corpos, aliada à disseminação de ideais estéticos, desempenha um papel fundamental na formação das autopercepções.
 
A interseção entre as mídias sociais, imagem corporal e prática de exercícios físicos torna-se particularmente relevante no contexto atual, onde a busca pela saúde e bem-estar é influenciada pela constante presença virtual. Segundo Paula e Cavagnari (2011), a sociedade midiática reproduz e reforça padrões de beleza através de símbolos apresentados na mídia, impactando a forma como homens e mulheres percebem seus corpos. No entanto, a prevalência desses padrões, veiculada nas redes sociais, não apenas influencia a percepção corporal, mas também motiva comportamentos relacionados à prática de exercícios físicos.
 
Nesse contexto, a influência das redes sociais na motivação para a prática de exercícios físicos emerge como um tema central de interesse. A imersão na cultura digital, impulsionada pelo poder de influência dos influenciadores digitais e pelos algoritmos que direcionam o conteúdo nas redes sociais, pode moldar atitudes em relação ao corpo e à busca por um ideal estético.
 
Diante dessa complexa interação entre as mídias sociais, imagem corporal e a motivação para o exercício físico, surge a necessidade de uma análise aprofundada sobre como as redes sociais influenciam a percepção e o comportamento das pessoas em relação à prática de atividades físicas. Este artigo propõe analisar dados coletados por uma ferramenta de formulário, fornecendo uma visão do impacto das redes sociais na motivação para o exercício físico e, consequentemente, na busca por um corpo ideal na sociedade contemporânea.
 
METODOLOGIA
 
O presente estudo trata-se de uma pesquisa quali-quantitativa pelo fato de que a realidade pôde ser estudada em seus aspectos mais “concretos” e aprofundada em seus significados mais essenciais (MINAYO; SANCHES, 1993). Assim, os dados estatísticos obtidos da pesquisa foram analisados de forma que fosse possível compreender os seus motivos. Como critério de exclusão adotou-se a idade inferior a 18 anos.
 
Esta pesquisa trata-se de um questionário realizado no Google Forms no qual foram incluídos os moradores do estado do Rio de Janeiro. 
 
O questionário foi subdividido em 3 partes, sendo a primeira voltada aos dados demográficos, tais como: idade, gênero, renda familiar, localidade e a frequência da prática de atividades físicas durante a semana. Já a segunda parte do questionário visava conhecer a visão dos moradores do estado do Rio de janeiro acerca da influência das redes sociais na prática de atividades físicas, e foi avaliada através das seguintes perguntas: “Quais atividades físicas você pratica regularmente?”, “Quantas horas, em média, você utiliza o celular por dia?”, “Você acredita que as redes sociais incentivam ou atrapalham a prática de atividades físicas?”. Por fim, a terceira parte da pesquisa visava entender como o entrevistado relaciona suas redes sociais com a prática de exercícios físicos, e foi observada através dos seguintes questionamentos: “Quais elementos específicos nas redes sociais te incentivam a se exercitar?”, “Em quais redes sociais você busca informações sobre exercícios físicos?”, “Você recorre a que tipos de mídias em redes sociais para aprender sobre exercícios físicos?”, “Você já comprou algum produto relacionado a atividade física através de indicação de um influenciador ou publicidade digital nas redes sociais?”, “Você acredita que compartilhar suas conquistas oriundas dos exercícios físicos nas redes sociais contribui para a sua responsabilidade e comprometimento com o exercício?”. As indagações citadas tinham como possibilidade de resposta “sim”, “não” ou caixa de seleção de modo que os entrevistados pudessem marcar as opções que estão mais relacionadas com o dia-a-dia deles. Assim, pôde-se ter um entendimento maior da realidade dos entrevistados.
 
As análises estatísticas foram realizadas utilizando a planilha do Excel e os gráficos obtidos no próprio Google Forms. A coleta de dados ocorreu durante o mês de novembro.
 
ANÁLISE DOS RESULTADOS
Comportamentos Sociodemográficos
 
Neste estudo, investigamos o padrão de atividades físicas em 129 participantes. A primeira seção do questionário abordou questões sociodemográficas, fornecendo uma valiosa camada de dados que enriqueceu nossas análises. Essa abordagem nos permitiu criar perfis distintos da população do estado do Rio de Janeiro, elucidando como esses perfis estão relacionados ao uso das redes sociais como ferramenta motivacional contra o sedentarismo. A compreensão desses contextos sociais amplia a visão sobre os fatores que influenciam os hábitos de atividade física, enriquecendo significativamente a interpretação dos resultados obtidos.

 

 
Imagem 1. Fonte: Formulário elaborado pelos autores.
 
Inicialmente, dedicaremos nossa atenção à análise da faixa etária. Entre as 129 pessoas estudadas, 41 (31,78%) afirmaram nunca se exercitar. Notavelmente, a maior incidência de sedentarismo está concentrada na faixa etária de 31 a 45 anos (53,33%), seguida pela faixa etária de 18 a 30 anos (31,52%). Os grupos de pessoas acima de 60 anos (28,57%) e cariocas entre 46 e 60 anos (18,18%) apresentam proporções mais baixas de sedentarismo. Dentre as 88 pessoas que praticam atividades físicas regularmente, 44,31% exercitam-se até 5 vezes ou mais por semana. Destaque-se que 82,05% desses indivíduos estão na faixa etária de 18 a 30 anos, constituindo a maioria. Em contraste, apenas 2,56% pertencem à faixa etária de 31 a 45 anos, representando a minoria. Quanto à frequência de exercícios, 53,40% daqueles que se exercitam o fazem até no máximo 3 vezes por semana. Nota-se que 65,95% deste grupo encontram-se na faixa etária de 18 a 45 anos, novamente predominando em número. Em menor proporção, o grupo de pessoas acima de 61 anos representa 10,63% do total. Observa-se, portanto, uma expressiva prevalência de atividade física entre pessoas com até 30 anos, indicando um estilo de vida mais ativo nessa faixa etária. Essa tendência pode ser influenciada por fatores sociais, considerando que os mais jovens geralmente têm menos compromissos familiares e profissionais. Além disso, a presença marcante da cultura fitness entre os jovens também pode contribuir para esses hábitos mais ativos.
 
Imagem 2. Fonte: Formulário elaborado pelos autores.
 
Das 41 pessoas que nunca praticam atividades físicas, 31,70% são homens e 68,30% são mulheres. Essa disparidade suscita reflexões sobre questões sociais, uma vez que culturalmente muitas mulheres brasileiras enfrentam uma jornada dupla, equilibrando responsabilidades no trabalho/estudos e afazeres domésticos, o que pode resultar numa disponibilidade reduzida para se dedicar a atividades físicas. A musculação surge como o exercício mais praticado, contabilizando 59,80% do total de votantes. Ao analisarmos por gênero, notamos que 60,86% dos homens optam por esse exercício, enquanto a proporção entre as mulheres é de 60%. Essa preferência comum por musculação destaca-se como uma tendência significativa em ambos os gêneros, indicando um interesse compartilhado por essa modalidade de exercício.
 
Imagem 3. Fonte: Formulário elaborado pelos autores.
 
No que diz respeito à renda familiar, identificamos que indivíduos com renda inferior a 3 mil reais tendem a se exercitar menos. Neste grupo, 40,62% dos participantes afirmaram nunca praticar atividades físicas em sua rotina, em comparação com 23,07% dos votantes com renda familiar superior a 3 mil reais que deram a mesma resposta. Uma análise do Estadão de Minas revela que o custo médio da mensalidade das academias no Brasil é de R$110,85, destacando, mais uma vez, a influência da realidade social brasileira nos resultados apresentados. Embora não busquemos generalizar comportamentos com base na renda, é importante reconhecer que existem fatores socioeconômicos que contribuem para esses dados. Considerando a média de preço das academias, nota-se que, dependendo do contexto familiar, esse custo pode não ser acessível para muitas pessoas. Esta observação ressalta a necessidade de uma abordagem sensível às disparidades socioeconômicas ao analisar os padrões de atividade física na população, visando uma compreensão mais abrangente dos desafios enfrentados por diferentes grupos.
 
Imagem 4. Fonte: Formulário elaborado pelos autores.
 
Finalmente, indagamos aos participantes sobre a região em que residem no estado do Rio de Janeiro. A Zona Norte emergiu como a mais prevalente, representando 48,1%, seguida pela Zona Oeste, com 17,1%, a Baixada, com 16,3%, e a Zona Sul, com 10,9%. As demais regiões tiveram um número de respostas bastante reduzido, e, portanto, seus dados não serão apresentados para evitar generalizações inadequadas de comportamento. Nesse contexto específico, observa-se uma semelhança notável nos números. A Zona Sul destaca-se como a região com maior prática de atividade física (76,92%), seguida pela Zona Norte (67,21%), Baixada (66,66%), e Zona Oeste (63,63%). O Censo do IBGE de 2010 evidenciou que a renda salarial média no estado do Rio de Janeiro é mais elevada nas áreas litorâneas, diminuindo conforme se avança em direção à periferia e à Baixada. Esse padrão contribui para explicar os números mais expressivos na Zona Sul em comparação com outras regiões.
 
Uso das Redes Sociais
 
Na segunda parte do formulário, foram aplicados dois filtros de respostas. O primeiro filtro limitou a segunda seção apenas aos participantes que responderam que praticam atividades físicas pelo menos uma vez por semana, restando 87 participantes. Na sequência, perguntou-se a esses 87 participantes quais atividades físicas eles costumam praticar. Como pode ser observado no gráfico abaixo, 15 modalidades de atividades foram selecionadas, com destaque para a musculação e corrida/caminhada, ambas votadas por praticamente metade dos participantes. Exercícios como yoga, crossfit, hidroginástica e capoeira foram os menos votados.
 
Imagem 5. Fonte: Formulário elaborado pelos autores
 
No contexto das redes sociais, foi perguntado aos participantes quantas horas em média eles utilizam o celular por dia. Dos participantes, 71,2% responderam que utilizam acima de 4 horas diárias. Dentre esse grupo, a maioria das pessoas tem entre 18 e 30 anos (80,32%).