A INCLUSÃO DE ALUNOS AUTISTAS NOS CURSOS DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.16777180
Cassiana Maria Arruda Ferreira1
RESUMO
A inclusão de alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) na Educação a Distância (EAD) tem se tornado uma alternativa importante para uma boa parte desses indivíduos, especialmente diante das dificuldades que esses estudantes enfrentam no ensino presencial, como sobrecarga sensorial, rigidez de rotinas e desafios de interação social. Este artigo tem como objetivo refletir sobre as potencialidades do ensino EAD para estudantes autistas, considerando as características do TEA e os benefícios oferecidos pelos Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), como o Moodle. A metodologia utilizada baseou-se em revisão de literatura com fundamentação teórica em autores como Orrú e Lévy, abordando aspectos da cibercultura e inclusão educacional. Os resultados apontam que o EAD favorece a autonomia, o conforto sensorial, o respeito ao ritmo de aprendizagem e a personalização dos conteúdos. Além disso, a mediação pedagógica adaptada à singularidade desses estudantes amplia as possibilidades de acesso, permanência e desenvolvimento acadêmico. Conclui-se que, embora não substitua a necessidade de políticas públicas inclusivas no ensino presencial, o EAD representa um caminho promissor para garantir o direito à educação de qualidade para uma parcela de alunos autistas que se adaptam a essa modalidade de ensino.
Palavras-chave: Autismo. Inclusão. EAD. Ambientes Virtuais de Aprendizagem.
Abstract
This article aims to reflect on the potential of DE for autistic students, considering the characteristics of ASD and the benefits offered by Virtual Learning Environments (VLE), such as Moodle. The methodology was based on a literature review with theoretical support from authors such as Orrú and Lévy, addressing aspects of cyberculture and educational inclusion. The results indicate that DE promotes autonomy, sensory comfort, respect for individual learning pace, and content personalization. Furthermore, pedagogical mediation adapted to the uniqueness of these students enhances their access, retention, and academic development. It is concluded that, although it does not replace the need for inclusive public policies in face-to-face education, DE represents a promising path to ensure the right to quality education for a portion of autistic students who adapt well to this modality.
Keywords: Autism. Inclusion. Distance Education. Virtual Learning Environments.
1 INTRODUÇÃO
A inclusão de estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) tem se mostrado um desafio significativo nas instituições educacionais, sobretudo na modalidade presencial. Os ambientes escolares tradicionais, com suas rotinas inflexíveis, alta demanda por interação social e sobrecarga sensorial, muitas vezes não favorecem a permanência, o engajamento e o desenvolvimento acadêmico desses alunos. Diante desse cenário, torna-se evidente a necessidade de repensar os modelos pedagógicos e os espaços de aprendizagem, de modo a acolher e atender às singularidades desses sujeitos. Nesse contexto, a Educação a Distância (EAD) surge como uma alternativa promissora, por oferecer ambientes flexíveis, personalizados e tecnologicamente mediáveis, que podem ser adaptados às necessidades específicas dos alunos autistas.
O problema que norteia esta investigação está relacionado à dificuldade de adaptação e inclusão efetiva de estudantes com TEA no ensino presencial, especialmente em instituições que ainda mantêm práticas pedagógicas padronizadas e pouco sensíveis à diversidade. O sistema educacional brasileiro, apesar dos avanços legais e normativos voltados à inclusão, ainda enfrenta lacunas importantes na formação docente, na estrutura das escolas e na oferta de recursos pedagógicos adaptados. Assim, questiona-se: De que maneira a Educação a Distância pode contribuir para a inclusão educacional de alunos com Transtorno do Espectro Autista?
A justificativa para esta pesquisa reside na urgência de ampliar o debate sobre práticas educacionais inclusivas que considerem as especificidades do TEA e explorem os potenciais das tecnologias digitais no processo de ensino-aprendizagem. A EAD, por permitir diferentes ritmos de aprendizagem, formas de comunicação não verbais, organização individualizada do tempo e o uso de recursos audiovisuais e interativos, apresenta-se como uma via potente para favorecer a autonomia, a autoestima e o desempenho acadêmico de estudantes autistas. Além disso, o crescimento da EAD nos últimos anos, impulsionado pelas transformações sociais e tecnológicas, exige estudos que avaliem suas possibilidades e limites no campo da educação inclusiva.
Este artigo tem como objetivo analisar as contribuições da EAD para a inclusão de estudantes com TEA, destacando suas vantagens em relação ao ensino presencial e evidenciando práticas pedagógicas que podem ser aprimoradas com o uso de plataformas digitais. Para tanto, foi utilizada uma metodologia baseada em revisão bibliográfica, com ênfase nas contribuições de autores como Orrú (2016), que discute a inclusão e os desafios do autismo na escola, e Lévy (1999), que aborda as transformações educacionais promovidas pela cibercultura e o papel dos ambientes virtuais como espaços de aprendizagem colaborativa e significativa.
No desenvolvimento, serão discutidas as características do autismo no contexto educacional, os principais desafios enfrentados por esses alunos e como o uso de plataformas como o Moodle pode representar um suporte efetivo para garantir acesso, participação e aprendizagem. Serão também analisadas experiências positivas e estratégias pedagógicas que demonstram o potencial da EAD como ferramenta de mediação e inclusão. Por fim, nas considerações finais, apresentam-se os principais resultados e reflexões sobre a importância da Educação a Distância como estratégia de inclusão educacional e como ela pode se consolidar como um espaço de acolhimento, respeito às diferenças e promoção da equidade.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Autismo e acesso à educação através do EAD
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) possui diversas características específicas e os indivíduos que possuem o espectro podem apresentar diversas comorbidades associadas. De maneira geral indivíduos com autismo apresentam de acordo com o DSM-V, dificuldades na comunicação social e por padrões restritos e repetitivos de comportamento, que variam em intensidade. No contexto educacional, alunos autistas enfrentam inúmeros desafios, especialmente no ensino presencial, onde fatores como interação constante, excesso de estímulos sensoriais (sons, luzes, agitação), e a rigidez das rotinas escolares podem comprometer sua aprendizagem e bem-estar emocional. Muitos relatam experiências de sobrecarga emocional e cognitiva, popularmente conhecidas como "ressaca social", após longos períodos de interação e exposição.
Diante desse cenário, a Educação a Distância (EAD) desponta como uma alternativa inclusiva, por oferecer um ambiente mais flexível, personalizado e controlado. Este artigo tem como objetivo discutir as vantagens do EAD para alunos com TEA, explorando os benefícios dos Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), como o Moodle, na promoção da inclusão e no desenvolvimento de competências acadêmicas e sociais desses estudantes.
De acordo com Orrú (2009), o Transtorno do Espectro Autista – TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento e seus sintomas surgem na infância e podem afetar a comunicação, o comportamento e as habilidades sociais. Apesar das caraterísticas predominantes que configuram seu diagnóstico, é possível que a pessoa também desenvolva algum tipo de comorbidade associada, pois de acordo com a autora, os sintomas do autismo variam amplamente entre os indivíduos e podem coexistir com outras condições, como dificuldades de aprendizagem, o que demanda uma abordagem educativa integrada e personalizada. Dessa forma, nenhuma pessoa com autismo é igual a outra, pois cada indivíduo é um ser único. A gravidade é baseada no fato da pessoa com autismo requerer maior ou menor suporte em sua vida cotidiana, o que impacta significativamente a sua vida escolar.
Orrú (2013), enfatiza que a educação inclusiva deve contemplar a diversidade, onde haja a promoção de uma educação que leve em conta algumas particularidades desses alunos, onde o ensino pode ser adaptado ao seu ritmo, as suas necessidades individuais, para que possam participar com autonomia e protagonismo do seu desenvolvimento. Nesse sentindo, o EAD passa ser uma alternativa que pode estar contribuindo para o acesso ao ensino e a inclusão, a partir do acesso a educação e uma formação que possibilite a inserção desses alunos no mercado de trabalho, contribuindo para a promoção da autonomia e o desenvolvimento integral desses alunos.
A discussão sobre inclusão na EAD está diretamente relacionada ao conceito ampliado de educação inclusiva, que não se limita à inserção física do aluno na escola, mas visa assegurar sua participação efetiva e o desenvolvimento integral (Lacerda, 2023). Essa abordagem exige a elaboração de Planos Educacionais Individualizados (PEI) que orientem adaptações curriculares e metodológicas, respeitando as singularidades de cada estudante. Contudo, Lacerda destaca que, no contexto brasileiro, a implementação efetiva desses planos ainda é incipiente, especialmente na EAD, o que evidencia a necessidade de capacitação docente e investimentos tecnológicos para garantir que a modalidade atenda às exigências da inclusão plena.
Outro aspecto relevante é o suporte emocional e social aos estudantes com TEA na modalidade EAD. Embora o ambiente virtual possa reduzir sobrecargas sensoriais, a ausência de interação presencial pode representar um desafio para o desenvolvimento de habilidades sociais e o sentimento de pertencimento (Silva e Oliveira, 2021). Para mitigar esse risco, é fundamental o uso de estratégias pedagógicas que promovam a interação mediada, por exemplo, por meio de tutoria individualizada, grupos colaborativos online e suporte psicopedagógico remoto. Assim, a EAD pode garantir tanto o desenvolvimento acadêmico quanto o social-emocional, contribuindo para a formação integral desses alunos.
A expansão da EAD no Brasil, impulsionada pela democratização do acesso à internet e por políticas públicas inclusivas, oferece uma oportunidade ímpar para a ampliação do direito à educação de pessoas com TEA (Moura et al., 2022). No entanto, o acesso desigual à tecnologia e a falta de infraestrutura adequada ainda representam barreiras significativas, especialmente para estudantes em regiões remotas ou vulneráveis. A superação dessas dificuldades requer articulação entre governo, instituições educacionais e famílias para promover inclusão tecnológica, capacitação contínua e avaliação constante dos processos pedagógicos, visando a melhoria da qualidade e efetividade da educação oferecida.
3 METODOLOGIA
A presente pesquisa caracteriza-se como um estudo qualitativo, de natureza exploratória, realizado por meio de uma revisão bibliográfica sistematizada, cujo objetivo é analisar como a modalidade de Educação a Distância (EAD) pode contribuir para a inclusão de alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) nos processos educativos. Esse tipo de investigação permite compreender, a partir das práticas pedagógicas e dos significados atribuídos pelos pesquisadores, as potencialidades e desafios da EAD como ambiente inclusivo para estudantes autistas.
A coleta e análise dos dados foram realizadas a partir de produções acadêmicas disponíveis nas bases SciELO (Scientific Electronic Library Online), Periódicos CAPES e Google Scholar, com enfoque em temas relacionados à inclusão educacional, Transtorno do Espectro Autista e Educação a Distância. Para a busca dos materiais, foram utilizados descritores combinados como “Transtorno do Espectro Autista”, “Educação a Distância”, “Inclusão educacional”, “Ambientes virtuais de aprendizagem” e “Autismo e EAD”.
A população da pesquisa compreendeu o conjunto de artigos científicos, dissertações e relatos de experiência presentes nessas bases, enquanto a amostragem foi intencional, selecionando apenas os estudos que apresentaram relevância teórica e prática para o tema da inclusão de alunos autistas na EAD. Foram incluídos documentos completos que abordassem experiências pedagógicas, análises teóricas e discussões sobre os benefícios e limitações da Educação a Distância para essa população estudantil específica.
O material coletado foi analisado por meio de uma leitura interpretativa, organizada em categorias temáticas emergentes relacionadas aos objetivos da pesquisa. Essas categorias envolveram: (1) as características específicas do TEA que impactam a aprendizagem na modalidade presencial e os benefícios da EAD para esses alunos; (2) as adaptações e recursos pedagógicos digitais que favorecem a inclusão de estudantes autistas em ambientes virtuais; (3) as estratégias de ensino e acompanhamento para promover a autonomia e o protagonismo dos alunos com TEA na EAD; e (4) os desafios institucionais e tecnológicos enfrentados para garantir acessibilidade e participação efetiva dos estudantes autistas.
A análise dos dados foi realizada de forma descritiva e reflexiva, buscando identificar consensos e controvérsias entre os autores, bem como lacunas na oferta de suporte pedagógico e tecnológico na Educação a Distância. A sistematização dos resultados seguiu os princípios da pesquisa bibliográfica crítica, conforme Gil (2019) e Lakatos e Marconi (2017), permitindo a elaboração de um panorama atualizado e fundamentado sobre a inclusão de alunos autistas na modalidade EAD.
Essa abordagem metodológica visa oferecer subsídios para a reflexão crítica e para a proposição de práticas educacionais que favoreçam a inclusão e o sucesso acadêmico dos estudantes com TEA nos cursos de Educação a Distância, destacando a importância da flexibilidade, da personalização do ensino e do uso consciente da tecnologia como ferramentas essenciais para a promoção de uma educação verdadeiramente inclusiva.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A cibercultura, segundo Pierre Lévy (1999), tem transformado ao longo dos anos, profundamente as formas de produção, circulação e apropriação do conhecimento. Aliada à educação, ela amplia as possibilidades de aprendizagem, por meio de redes colaborativas, espaços interativos e recursos multimídia. No contexto do EAD, essas características favorecem uma pedagogia mais democrática, descentralizada e inclusiva.
Ambientes virtuais como o Moodle permitem personalizar o ritmo de aprendizagem, reduzir estímulos sensoriais indesejados e facilitar a autonomia do estudante. Para o aluno com autismo, essas condições representam mais que comodidade: são ferramentas fundamentais para sua permanência e sucesso educacional. Além disso, o papel do professor se ressignifica como mediador, apoiando e acompanhando o desenvolvimento do aluno por meio de fóruns, feedbacks e trilhas adaptativas
Orrú (2016) afirma que é comum os estudantes com autismo apresentarem hiperfoco em determinados assuntos. Dessa forma, o ensino mediado por ambientes virtuais, como na Educação a Distância (EAD), pode ser altamente atrativo para esses alunos. A presença das telas, associada à possibilidade de explorar temas de interesse de forma mais autônoma e personalizada, gera uma motivação inicial importante, que pode levar o aluno a pensar criticamente, associar ideias, construir conhecimentos, desenvolver habilidades de raciocínio lógico e se comunicar com o meio de maneira menos invasiva.
A construção do percurso de aprendizagem com base nos interesses específicos do estudante, algo facilitado pelo EAD, favorece uma imersão individual e coletiva no processo de aprendizagem, despertando o prazer em aprender. A personalização oferecida pelo EAD permite respeitar o ritmo e as preferências sensoriais dos alunos com TEA, algo que muitas vezes não é possível na sala de aula tradicional.
A educação inclusiva busca garantir, independentemente das condições dos alunos, o acesso a um ambiente acolhedor e a uma educação de qualidade. Nesse contexto, o EAD pode fornecer suporte pedagógico e recursos de acessibilidade que favorecem o desenvolvimento da autonomia dos alunos com necessidades educacionais específicas, incluindo os estudantes com autismo. Dentre os benefícios estão: a flexibilidade de horários e rotinas, ambiente controlado e menos sensorialmente invasivo, o que reduz crises sensoriais e favorece a concentração; Autonomia na construção do conhecimento, com o suporte de recursos visuais, hipertextos e videoaulas; Menor pressão social, o que contribui para maior tranquilidade e foco nos conteúdos; Interação mediada, que possibilita relações mais confortáveis via fóruns, chats e e- mails, sem o estresse do contato direto e constante.
A Educação a Distância (EAD), ao oferecer um ambiente controlado e adaptável, permite que estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) desenvolvam suas potencialidades acadêmicas e sociais em um espaço que respeita suas particularidades. Conforme apontam Silva e Gomes (2020), a flexibilização dos horários e a possibilidade de pausas durante o estudo promovem uma melhor regulação emocional e cognitiva dos alunos autistas, reduzindo a ansiedade e o estresse frequentemente associados ao ambiente escolar tradicional. Além disso, a ausência de estímulos sensoriais imprevisíveis, comuns nas salas de aula presenciais, contribui para um ambiente mais favorável ao foco e à concentração desses estudantes, o que reforça a importância do EAD como ferramenta de inclusão.
Outro aspecto fundamental destacado por Oliveira et al. (2021) é a personalização do percurso formativo, que possibilita aos alunos com TEA explorar conteúdos alinhados a seus interesses e necessidades específicas. Essa abordagem estimula o protagonismo e a autonomia, fatores essenciais para o desenvolvimento da autoeficácia e da motivação intrínseca. De acordo com os autores, a autonomia no processo de aprendizagem promove o fortalecimento das competências socioemocionais, que são frequentemente desafiadas em estudantes autistas, e contribui para a construção de uma identidade acadêmica positiva.
O papel do professor na Educação a Distância também é ressignificado, assumindo funções de mediador, facilitador e tutor, que acompanha o progresso do aluno por meio de ferramentas digitais e feedbacks constantes (Santos & Ferreira, 2019). A mediação pedagógica em ambientes virtuais demanda formação específica dos docentes para compreender as características do TEA e para aplicar estratégias que favoreçam a inclusão efetiva. Santos e Ferreira enfatizam que o uso de recursos multimídia, como vídeos explicativos, infográficos e quizzes interativos, facilita a compreensão dos conteúdos, atendendo a diferentes estilos de aprendizagem e proporcionando uma experiência mais rica e diversificada para o estudante.
Por outro lado, apesar das vantagens apontadas, o EAD também apresenta desafios para a inclusão plena dos alunos com autismo. A falta de suporte técnico adequado, a insuficiência de acessibilidade em algumas plataformas e a carência de formação especializada para os professores são barreiras que ainda precisam ser superadas para garantir uma educação equitativa (Costa & Lima, 2022). É fundamental que as instituições de ensino invistam em políticas públicas e programas de capacitação contínua, que abordem as especificidades do TEA no contexto digital, para que as potencialidades da EAD sejam plenamente aproveitadas.
Além disso, Ferreira e Andrade (2023) ressaltam a importância da colaboração entre família, escola e profissionais de saúde no acompanhamento dos alunos com TEA na EAD. A participação ativa dos familiares no processo educativo, associada ao suporte psicológico e terapêutico, pode potencializar os resultados do ensino remoto, garantindo um ambiente mais estruturado e acolhedor para o aluno. O diálogo constante entre esses atores é imprescindível para a adaptação de estratégias pedagógicas e para o enfrentamento de dificuldades que possam surgir ao longo da trajetória acadêmica.
Do ponto de vista tecnológico, as inovações em recursos digitais e em inteligência artificial têm ampliado as possibilidades de adaptação dos ambientes virtuais às necessidades específicas dos estudantes autistas. Conforme evidenciado por Martins et al. (2021), o uso de softwares de reconhecimento de voz, leitores de tela personalizados e ferramentas de realidade aumentada pode melhorar significativamente a acessibilidade e a interatividade dos cursos de EAD. Essas tecnologias, quando integradas a um projeto pedagógico inclusivo, contribuem para a redução das barreiras que dificultam a participação efetiva dos alunos com TEA, tornando o processo de ensino-aprendizagem mais dinâmico e motivador.
A modalidade de Educação a Distância apresenta um potencial significativo para promover a inclusão de alunos com Transtorno do Espectro Autista, desde que sejam adotadas práticas pedagógicas, tecnológicas e institucionais alinhadas às necessidades específicas desses estudantes. A personalização do ensino, o suporte contínuo dos docentes, a colaboração entre os diferentes atores envolvidos e o investimento em tecnologias assistivas configuram-se como elementos essenciais para garantir não apenas o acesso, mas a permanência e o sucesso acadêmico dos alunos autistas em ambientes virtuais.
5 CONCLUSÃO
Nenhum aluno com Transtorno do Espectro Autista (TEA) é igual ao outro, o que reforça a necessidade de uma abordagem educacional que respeite as singularidades, potencialidades e limitações individuais. Embora muitos desses estudantes apresentem comorbidades que podem impactar seu desempenho acadêmico, um número significativo deles pode se beneficiar amplamente da modalidade de Educação a Distância (EAD), desde que esta seja estruturada com critérios rigorosos de acessibilidade, flexibilidade e acolhimento. Isso implica ir além da mera inclusão formal, que muitas vezes se limita ao acesso inicial, para garantir a efetiva participação, permanência e sucesso desses alunos no ambiente virtual de aprendizagem.
A inclusão verdadeira na EAD passa pela construção de plataformas que considerem as especificidades do espectro autista, com adaptações que favoreçam a compreensão, a interação e a autonomia do estudante. O uso de ambientes virtuais como o Moodle é um exemplo prático dessa possibilidade, uma vez que esse sistema oferece ferramentas que podem ser customizadas para atender às demandas sensoriais, cognitivas e emocionais dos alunos com TEA. Conforme ressaltam Silva e Santos (2021), a possibilidade de personalizar o ritmo de estudo, o formato dos materiais e os tipos de interação permite que esses estudantes se apropriem do conhecimento de forma mais autônoma e segura, reduzindo as barreiras comuns enfrentadas no ensino presencial.
Além disso, garantir o direito à educação de qualidade para alunos autistas na EAD significa implementar um conjunto de práticas pedagógicas e tecnológicas que promovam a equidade não apenas na teoria, mas na prática cotidiana do ensino. A equidade implica reconhecer que cada aluno possui necessidades e desafios diferentes e que o sistema deve se adaptar para oferecer oportunidades iguais de aprendizagem, independentemente das condições individuais. Isso envolve, por exemplo, o uso de recursos visuais, legendas em vídeos, materiais com linguagem clara e objetiva, opções de navegação simplificada e suporte constante por parte de tutores especializados (Ferreira & Andrade, 2023).
Outro ponto fundamental para o sucesso da inclusão na EAD é a formação continuada dos professores e profissionais envolvidos no processo educacional. A sensibilidade e o conhecimento acerca do TEA são essenciais para que possam oferecer o acompanhamento adequado, identificar dificuldades específicas e promover estratégias personalizadas que estimulem o engajamento e o desenvolvimento do aluno. Como apontam Costa e Lima (2022), a qualificação docente para lidar com as demandas dos alunos com necessidades especiais no contexto digital é um dos maiores desafios a serem superados pelas instituições de ensino. Investir na capacitação dos educadores é investir na qualidade da educação inclusiva.
A participação ativa da família e da rede de apoio também deve ser valorizada como um elemento estratégico para a inclusão efetiva. O suporte familiar contribui para a adaptação do aluno ao ambiente virtual, ajuda na organização do tempo de estudo e reforça a importância da educação para o desenvolvimento pessoal e social do estudante com TEA. Conforme destacam Santos e Ferreira (2019), a colaboração entre família, escola e profissionais da saúde potencializa os resultados das intervenções pedagógicas, tornando o processo educacional mais acolhedor e eficaz.
É imprescindível que as políticas públicas e as diretrizes institucionais estejam alinhadas para promover um ambiente educacional inclusivo na modalidade EAD, que respeite e valorize a diversidade. Isso requer investimentos em tecnologia acessível, infraestrutura adequada, desenvolvimento de materiais didáticos adaptados e a criação de ambientes virtuais que priorizem a interação, o respeito às diferenças e a valorização das competências de cada aluno. Assim, a Educação a Distância pode se consolidar como um espaço de oportunidades reais para estudantes com Transtorno do Espectro Autista, promovendo a democratização do acesso ao conhecimento e o exercício pleno do direito à educação.
A inclusão de alunos com autismo nos cursos de Educação a Distância representa um caminho promissor para a ampliação da educação inclusiva no Brasil e no mundo. Contudo, esse caminho exige responsabilidade, compromisso e investimento para que não se trate apenas de uma inclusão formal, mas de uma inclusão efetiva, que garanta a permanência, o aprendizado e o desenvolvimento integral dos estudantes. Com plataformas acessíveis, práticas pedagógicas flexíveis e uma rede de apoio articulada, é possível transformar a EAD em uma ferramenta poderosa para assegurar o direito à educação de qualidade a todos, respeitando as singularidades de cada aluno e promovendo sua autonomia e protagonismo no processo de aprendizagem.
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1 Mestranda em Tecnologias Emergentes em Educação pela Must University. Email: [email protected]