ERLIQUIOSE CANINA
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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10359535
Júlia Brandão Guimarães Gomes¹
Polyana Galvão Bernardes Coelho²
RESUMO
A Erliquiose é uma infecção transmitida por carrapatos que afeta principalmente cães. Essa doença é causada pela bactéria Ehrlichia canis, que infecta as células sanguíneas do hospedeiro e causa uma série de sintomas, incluindo febre, anorexia, opacidade da córnea, epistaxe, vômitos, diarreia, anemia, letargia, perda peso e problemas de coagulação. Os carrapatos infectados são vetores dessa doença. O Diagnóstico laboratorial pode ser realizado através da observação da E. canis em esfregaços sanguíneos, teste de ELISA, reação de polimerase em cadeia (PCR) ou imunofluorescência indireta (IFI). O tratamento é baseado em terapia específica anti-erlíquia e terapia suporte. Os medicamentos mais usados são Doxiciclina, Enrofloxacina, Tetraciclina, Oxitetraciclina, Minociclina e Cloranfenicol. A Erliquiose canina pode ser tratada com sucesso se diagnosticada precocemente. A prevenção é através do controle de carrapatos, atitude essencial para manter os cães e seus tutores protegidos doença.
Palavras-chave: Ehrlichia spp., carrapato marrom, bactérias intracelulares
ABSTRACT
Ehrlichiosis is a tick-borne infection that primarily affects dogs. This disease is caused by the bacteria Ehrlichia canis, which infects the host's blood cells and causes a range of symptoms, including fever, anorexia, corneal clouding, epistaxis, vomiting, diarrhea, anemia, lethargy, weight loss, and clotting problems. Ticks are the main vectors of this disease. Infection occurs when an infected tick feeds on the host's blood. Laboratory diagnosis can be performed by observing E. canis in blood smears, ELISA test, polymerase chain reaction (PCR) or indirect immunofluorescence (IIF). Treatment is based on specific anti-herlichia therapy and supportive therapy. The most commonly used drugs are Doxycycline, Enrofloxacin, Tetracycline, Oxytetracycline, Minocycline and Chloramphenicol. Canine ehrlichiosis can be successfully treated if diagnosed early. Prevention through tick control is essential to keep dogs and their owners safe from the disease.
Keywords: Ehrlichia spp., brown tick, intracellular bacteria
1. INTRODUÇÃO
A Erliquiose Canina é uma doença infecciosa transmitida por carrapatos, causada por bactérias da família Anaplasmatecea. Bactérias dessa família são gram negativas e intracelulares obrigatórias, podendo ser encontradas no citoplasma da célula hospedeira, como monócitos, linfócitos e macrófagos. Os agentes que podem causar essa doença em cães são Erliquia canis, Ehrlichia ewingii, Ehrlichia chaffeensis, Anaplasma platys e Anaplasma phagocytophilum, no entanto a espécie mais amplamente estudada é a Ehrlichia canis (TINUCCI-COSTA & DAGNONE, 2018).
A Tabela 1 expõe um resumo das espécies patogênicas de Ehrlichia e as doenças que cada uma proporciona, seus hospedeiros naturais, vetores e distribuição geográfica.
Tabela 1 – Resumo das espécies patogênicas de Ehrlichia e doenças erliquiais.
Fonte: adaptador de Ramakant et al (2020)
A E. canis ao infectar as células sanguíneas do cão, compromete o sistema imunológico e causa sintomas graves, que incluem febre, falta de apetite, perda de peso, letargia, anemia e problemas de coagulação (MARQUES & GOMES, 2020). Acredita-se que os cães da raça Pastor Alemão sejam mais suscetíveis a essa doença, pois apresentam sintomas mais severos devido à resposta imunogênica inadequada, em comparação a outras raças (RAMAKANT et al, 2020).
A doença foi relatada pela primeira vez na Índia, em 1982. Atualmente, apresenta distribuição mundial, mas é mais prevalente em regiões tropicais e clima subtropical. Os casos agudos ocorrem principalmente no verão devido à maior atividade do vetor durante esse período (RAMAKANT et al, 2020).
Neste trabalho, o objetivo é realizar uma revisão sistemática sobre a Eriliquiose Canina.
2. TRANSMISSÃO
O carrapato marrom (Rhipicephalus sanguineus) é o principal vetor da Erliquiose canina. O carrapato ingere a bactéria se alimentando do sangue de um cão na fase aguda da doença, e transmite a bactéria para outro cão durante o respato sanguíneo. Cabe ressaltar que o carrapato marrom pode transmitir outras doenças, por isso é comum ocorrer infecções mistas (MACEDO & LIMA, 2023; MARQUES & GOMES, 2020). Além disso, a Erliquiose Canina também pode ser transmitida por transfusão de sangue contaminado ou pela gestação, da mãe para os filhotes. Por isso, é importante que os cães sejam submetidos a exames regulares e que as transfusões de sangue sejam realizadas apenas com doadores testados negativos para a doença (MACEDO & LIMA, 2023).
Ao entrarem no organismo do hospedeiro, as bactérias invadem os monócitos, macrófagos e células epiteliais. Dentro das células, as bactérias se multiplicam em números e todo o citoplasma é preenchido com eles, resultando na destruição de leucócitos e trombócitos (RAMAKANT et al, 2020).
3. SINTOMAS
A doença é clinicamente caracterizada por febre, anorexia, opacidade da córnea, perda de peso, epistaxe, vômitos, diarreia, anemia, linfadenopatia e frequentemente trombocitopenia. Coinfecções de Ehrlichia com Anaplasma, Rickettsia, Babesia ou Bartonella spp. ocorrem frequentemente, pois os cães são naturalmente expostos a vários patógenos transmitidos por carrapatos (FRANCO-ZETINA et al, 2019; RAMAKANT et al, 2020).
Em casos mais graves, pode ocorrer hepatomegalia, esplenomegalia e danos ao sistema nervoso (meningite) (FRANCO-ZETINA et al, 2019).
Após a infecção, há um período de incubação de 8 a 20 dias. Depois desse período, a doença pode se apresentar em três fases: aguda, subclínica e crônica. A fase aguda dura entre 2 a 4 semanas. Nessa fase, as bactérias se disseminam por vários órgãos e o cão pode apresentar sintomas inespecíficos como febre, secreção ocular e nasal, anorexia, depressão, letargia, perda de peso, linfadenomegalia, esplenomegalia, hemorragias, petéquias, equimoses, vasculite, sinais neurológicos, musculares e oculares, trombocitopenia, anemia leve e leucopenia. Outros sinais mais incomuns são uveítes, deslocamento de retina, cegueira súbita, claudicação, poliartrite, meningite, convulsões, ataxia e sintomas de disfunção cerebelar (TINUCCI-COSTA & DAGNONE, 2018; MYLONAKIS et al, 2019; MARQUES & GOMES, 2020).
Posteriormente à fase aguda, a Erliquiose pode seguir para a fase subclínica e/ou crônica. A fase subclínica pode durar de meses a anos. Durante essa fase, as manifestações clínicas e/ou anormalidades hematológicas podem estar ausentes ou leves (por exemplo, esplenomegalia, febre intermitente, trombocitopenia, anemia) (MYLONAKIS et al, 2019).
Os sintomas durante a fase crônica são muito mais severos. O cão pode apresentar comprometimento da medula óssea gerando uma pancitopenia e até chegar ao óbito por infecções e hemorragias secundárias. O diagnóstico precoce é fundamental para o sucesso do tratamento e para evitar complicações graves, como insuficiência renal e danos neurológicos (MACEDO & LIMA, 2023; MARQUES & GOMES, 2020).
4. DIAGNÓSTICO
De acordo com um estudo realizado por Mendonça et al (2005), os achados frequentes no hemograma de cães com erliquiose são trombocitopenia, anemia arregenerativa, eosinopenia e leucopenia com desvio à esquerda. No entanto, apenas com o resultado obtido no hemograma não é possível afirmar que o animal possui Erliquiose. É necessário o uso de exames específicos para se diagnosticar a doença.
Para o diagnóstico, diferentes técnicas podem ser utilizadas, incluindo hematológicos, sorológicos, isolamento bacteriano e molecular (FRANCO-ZETINA et al, 2019).
O diagnóstico hematológico é feito a partir da avaliação de sangue periférico. Nesse método, usa-se a coloração de Giemsa em um esfregaço de sangue periférico para procurar mórulas em monócitos usando microscopia (FRANCO-ZETINA et al, 2019). Dessa forma, é possível detectar a presença da bactéria no sangue do animal, dentro de leucócitos ou plaquetas, vistos como corpos intracitoplasmáticos de inclusão chamados mórulas (RAMAKANT et al, 2020). Suas mórulas podem ser detectadas durante a fase aguda da doença, geralmente em monócitos do sangue periférico, mas foram raramente descritos dentro dos linfócitos (RAHAMIM et al, 2021).
A Figura 1 é uma imagem de uma lâmina de esfregaço sanguíneo de um cão diagnosticado com Erliquiose. Nela é possível observar mórulas de E. canis no citoplasma de linfócitos granulares. Uma a três mórulas de Ehrlichia canis estão presentes na periferia de linfócitos sanguíneos, principalmente linfócitos granulares grandes.