A LÍNGUA INGLESA E A CULTURA JUVENIL: ANÁLISE DAS EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS E GÍRIAS EM SMALLVILLE
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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.16339484
Danilo Santos e Silva1
RESUMO
O presente artigo investiga como a série Smallville se configura como um instrumento didático-cultural no ensino da língua inglesa, por meio da análise de expressões idiomáticas e gírias presentes nos diálogos dos personagens adolescentes. A pesquisa parte da premissa de que o contato com gêneros discursivos midiáticos aproxima os estudantes da linguagem autêntica e cotidiana, favorecendo a compreensão de usos pragmáticos do idioma. Segundo Crystal (2011), a linguagem dos jovens está em constante transformação e reflete valores sociais, culturais e geracionais, sendo a mídia um dos principais canais de disseminação de novas expressões linguísticas. Diante disso, foram selecionados episódios das primeiras temporadas de Smallville, nos quais foram mapeadas mais de 40 expressões idiomáticas e gírias típicas do inglês americano informal. Os dados foram analisados à luz dos estudos de Paiva (2019), que defende uma abordagem intercultural crítica no ensino de línguas, capaz de valorizar a linguagem como prática social. O estudo aponta que a presença dessas expressões em contexto contribui para o desenvolvimento da competência comunicativa, o engajamento dos alunos e a formação de uma escuta sensível à variação linguística. Por fim, conclui-se que integrar a cultura pop ao ensino de inglês não apenas estimula a aprendizagem, como também permite o questionamento de estereótipos, a valorização da diversidade linguística e o diálogo com o universo juvenil.
Palavras-chave: Língua Inglesa; Cultura Juvenil; Multimodalidade; Letramento Critico; Expressões idiomáticas.
ABSTRACT
This article investigates how the Smallville series is configured as a didactic-cultural tool for teaching English, by analyzing the idiomatic expressions and slang present in the dialogues of the teenage characters. The research is based on the premise that contact with media discourse genres brings students closer to authentic, everyday language, favoring the understanding of pragmatic uses of the language. According to Crystal (2011), young people's language is constantly changing and reflects social, cultural and generational values, with the media being one of the main channels for disseminating new linguistic expressions. In view of this, episodes were selected from the first seasons of Smallville, in which more than 40 idiomatic expressions and slang typical of informal American English were mapped. The data was analyzed in the light of studies by Paiva (2019), who advocates a critical intercultural approach to language teaching, capable of valuing language as a social practice. The study points out that the presence of these expressions in context contributes to the development of communicative competence, student engagement and the formation of sensitive listening to linguistic variation. Finally, it concludes that integrating pop culture into English teaching not only stimulates learning, but also allows stereotypes to be questioned, linguistic diversity to be valued and dialogue with the world of young people to take place.
Keywords: English Language Youth Culture; Multimodality; Critical Literacy; Idioms.
1 INTRODUÇÃO
A linguagem da juventude é marcada por dinamismo, criatividade e constante reinvenção. Nas produções audiovisuais, especialmente séries voltadas ao público jovem, como Smallville (2001–2011), o uso de expressões idiomáticas, gírias e construções coloquiais do inglês desempenha um papel fundamental na construção de personagens autênticos e na aproximação com o público-alvo. Com isso, essas séries tornam-se não apenas formas de entretenimento, mas também valiosas fontes de estudo linguístico e cultural.
O ensino da língua inglesa, quando baseado apenas em materiais formais e descontextualizados, frequentemente ignora aspectos reais do uso da língua, como a linguagem informal e os registros sociolinguísticos variados. A análise de expressões idiomáticas e gírias veiculadas em produtos da cultura pop pode, assim, enriquecer a prática pedagógica e ampliar a competência comunicativa dos aprendizes. Como defendem Carter e McCarthy (2006, p. 37), “o domínio do inglês informal é essencial para a fluência e para a compreensão de contextos culturais mais amplos”.
Como destaca Paiva (2019), o ensino de línguas deve ir além da mera transmissão de regras gramaticais, promovendo uma educação crítica e intercultural que considere os múltiplos sentidos e usos da linguagem em contextos reais. Para a autora, “o ensino de línguas deve considerar a cultura como prática e como disputa de sentidos” (PAIVA, 2019, p. 28), permitindo ao aluno não apenas adquirir vocabulário, mas também refletir sobre as ideologias e valores que permeiam os discursos juvenis.
Este artigo tem como objetivo analisar o uso de expressões idiomáticas e gírias na série Smallville, identificando sua relevância para a compreensão da cultura juvenil e sua aplicabilidade em contextos de ensino de inglês como língua estrangeira. A escolha da série se justifica por sua longa duração, popularidade entre jovens e uso frequente de registros informais típicos do inglês norte-americano.
A pesquisa se ancora em referenciais da linguística aplicada e dos estudos culturais, considerando que a linguagem é um reflexo das práticas sociais e dos valores de um grupo (Hall, 1997; Rajagopalan, 2003). A análise será qualitativa e interpretativa, com seleção de cenas da série em que o inglês informal e juvenil se manifesta por meio de gírias e expressões idiomáticas recorrentes.
Ao propor a leitura crítica dessas formas linguísticas no contexto de uma narrativa popular, espera-se contribuir para a reflexão sobre o papel da cultura midiática na formação linguística de jovens aprendizes e para o desenvolvimento de práticas pedagógicas mais significativas e culturalmente engajadas.
2 REVISÃO DA LITERATURA
A relação entre linguagem e cultura é um dos fundamentos da linguística aplicada contemporânea. Aprender uma língua estrangeira, sobretudo o inglês, vai além do domínio de estruturas gramaticais: envolve compreender formas de expressão, valores e práticas sociais incorporadas ao idioma. Como afirma Kramsch (1998, p. 3), “a língua é o principal meio de expressão da cultura e, ao mesmo tempo, o principal veículo de transmissão cultural”. Assim, expressões idiomáticas e gírias constituem parte vital desse repertório cultural e linguístico.
No contexto do ensino de inglês, a abordagem comunicativa e intercultural tem se mostrado eficaz por valorizar o uso autêntico da língua em diferentes registros. Carter e McCarthy (2006) destacam a importância de se ensinar vocabulário com base em contextos reais, incluindo a linguagem informal. Para os autores, “a competência lexical não se refere apenas à memorização de palavras, mas à habilidade de reconhecer padrões de uso contextualizado, como expressões idiomáticas e coloquialismos” (p. 19).
Paiva (2018) argumenta que o contato com a linguagem real dos jovens, por meio de gêneros multimodais como filmes e séries, possibilita o desenvolvimento de uma consciência crítica sobre as formas de uso da língua em diferentes esferas sociais. A autora enfatiza que “as práticas discursivas da juventude não são apenas formas de comunicação, mas de afirmação identitária e posicionamento no mundo” (PAIVA, 2018, p. 44), o que reforça o potencial didático da análise de gírias e expressões idiomáticas em contextos narrativos audiovisuais.
As expressões idiomáticas, por sua natureza metafórica e culturalmente marcada, são consideradas um dos maiores desafios para aprendizes de inglês como língua estrangeira. Segundo Liu (2008), compreender e usar essas expressões exige que o aprendiz vá além do significado literal das palavras. “As expressões idiomáticas não são meramente construções linguísticas; eles estão profundamente enraizados no mundo cultural e experiencial dos falantes nativos” (Liu, 2008, p. 25). A aprendizagem significativa, portanto, depende do contato com contextos vivos e contextualizados.
No caso das gírias, o desafio se amplia por conta da sua instabilidade e atualização constante. Elas surgem em grupos sociais específicos, como adolescentes, estudantes ou membros de comunidades online e frequentemente marcam identidades coletivas. Eble (1996, p. 11) define gíria como “um vocabulário não convencional usado por indivíduos para sinalizar pertencimento a determinado grupo social”. No ensino de línguas, ignorar esse vocabulário pode limitar o alcance comunicativo dos alunos e sua compreensão de produções culturais contemporâneas.
É nesse sentido que as mídias audiovisuais, especialmente as séries de TV como Smallville, oferecem um campo fértil para a observação e o ensino dessas formas linguísticas. A linguagem utilizada por personagens adolescentes e jovens adultos na série reflete as práticas de fala informal do inglês norte-americano. Conforme defendem Sherman (2003) e Donaghy (2015), a linguagem de séries é uma fonte poderosa de input linguístico autêntico, pois apresenta “formas reais da língua em contextos culturalmente ricos e envolventes para os aprendizes” (Sherman, 2003, p. 8).
A cultura pop exerce influência direta sobre o comportamento linguístico de jovens, moldando sua percepção da língua inglesa como algo “vivo”, útil e conectado à sua realidade. Jenkins (2006) argumenta que os produtos midiáticos funcionam como “textos centrais da cultura participativa”, nos quais os jovens aprendem não apenas palavras, mas também valores, estilos de vida e atitudes. Em suas palavras: “os textos da cultura pop estão entre os principais ambientes onde os jovens adquirem linguagem, aprendem scrits sociais e exploram aspectos das suas identidades” (Jenkins, 2006, p. 91).
No Brasil, Rajagopalan (2003) enfatiza que a linguagem deve ser ensinada em sua dimensão social e política. Segundo ele, “ensinar uma língua estrangeira não é apenas ensinar um código, mas apresentar aos alunos outras formas de ver o mundo” (Rajagopalan, 2003, p. 45). Ao negligenciar a linguagem da juventude e da mídia, o ensino de inglês corre o risco de se tornar artificial e descontextualizado.
Além disso, estudos como o de Moura e Santos (2022) demonstram que aprendizes brasileiros se sentem mais motivados quando expostos a materiais autênticos que contêm gírias, humor e expressões do cotidiano. Os autores afirmam que “a incorporação de trechos de séries, filmes e músicas, contendo o inglês real, estimula o interesse e amplia o contato com registros comunicativos variados” (p. 88). Isso é particularmente verdadeiro quando os aprendizes se reconhecem nos temas e nas faixas etárias dos personagens.
A série Smallville, por acompanhar o crescimento de Clark Kent da adolescência à vida adulta, cobre um amplo espectro de situações linguísticas. Desde interações escolares e familiares até embates morais e dilemas afetivos, os episódios oferecem ricas oportunidades de observação de expressões idiomáticas típicas da linguagem informal juvenil. Como exemplo, episódios como “Craving” (S01E07) e “Jinx” (S04E06) apresentam frases como “get over it”, “you’re such a freak”, “cut the crap” e “give him a break”, todas carregadas de uso coloquial, nuances e intenção pragmática.
Essas expressões, muitas vezes ignoradas nos livros didáticos tradicionais, são fundamentais para a comunicação real em inglês. Conforme nos mostra Celce-Murcia e Olshtain (2000, p. 75), “a competência pragmática envolve saber o que dizer, a quem, quando e como, considerando não apenas a gramática, mas o contexto sociocultural”. Isso implica que o domínio de gírias e expressões idiomáticas é parte da competência comunicativa completa.
Para incorporar tais elementos ao ensino de inglês, o professor precisa atuar como mediador cultural e crítico. Rojo (2013) defende uma pedagogia dos multiletramentos, em que os textos midiáticos e culturais contemporâneos sejam explorados de forma crítica e produtiva. “Os textos da cultura pop, longe de serem supérfluos, são veículos legítimos de letramento e ensino de língua estrangeira quando mediados pedagogicamente” (Rojo, 2013, p. 62).
Por fim, é preciso lembrar que a linguagem da juventude está sempre em transformação, e que as gírias de uma geração podem rapidamente se tornar obsoletas. Nesse sentido, o contato com séries como Smallville deve ser complementado por discussões sobre variação linguística, atualização lexical e contextualização cultural. Como aponta Crystal (2010), “a língua muda porque a sociedade muda; acompanhar essas mudanças é fundamental para qualquer abordagem dinâmica de ensino” (p. 117).
Diante disso, é possível afirmar que o estudo de expressões idiomáticas e gírias em séries como Smallville representa não apenas uma oportunidade para ampliar o repertório linguístico dos alunos, mas também um caminho para formar leitores críticos da linguagem e da cultura contemporânea. O ensino de inglês, ao integrar essas práticas culturais, torna-se mais significativo, humanizado e conectado à realidade dos estudantes.
3 METODOLOGIA
Esta pesquisa se insere no campo da linguística aplicada, com abordagem qualitativa, interpretativa e descritiva, tendo como foco a análise de expressões idiomáticas e gírias utilizadas na série televisiva Smallville (2001-2011). A escolha desse objeto de estudo se justifica pela relevância da série como produto cultural de alcance global e por sua forte conexão com o público juvenil, grupo social em que o uso de linguagem informal é mais marcado.
O corpus da pesquisa foi constituído por episódios selecionados das cinco primeiras temporadas da série, com ênfase nas interações entre personagens adolescentes, em ambientes como escola, casa, festas e outros contextos do cotidiano juvenil. A seleção foi baseada na frequência de ocorrências de expressões idiomáticas e gírias, priorizando cenas com diálogos dinâmicos, espontâneos e marcados pelo uso do inglês informal.
A coleta dos dados foi realizada por meio da observação e transcrição de trechos de diálogos em inglês, nos quais foram identificadas expressões idiomáticas e gírias recorrentes. Para garantir a consistência do levantamento, as ocorrências foram confrontadas com dicionários especializados, como o Oxford Dictionary of Idioms (2010) e o Slang Dictionary by Green (2015), além de glossários digitais e corpora linguísticos atualizados.
A análise seguiu princípios da análise textual discursiva (Moraes; Galiazzi, 2007), considerando o contexto de uso, a função comunicativa da expressão e os possíveis efeitos de sentido na interação. Cada ocorrência foi interpretada levando em conta o perfil dos personagens, o contexto da cena, a intencionalidade discursiva e sua relevância para a construção da identidade juvenil na narrativa.
Também foi realizada uma análise pedagógica, refletindo sobre como essas expressões poderiam ser exploradas em sala de aula de língua inglesa, com vistas à ampliação da competência comunicativa e intercultural dos estudantes. Essa etapa se fundamenta na perspectiva de Rojo (2013) e Celce-Murcia et al. (2010), que defendem o uso de gêneros multimodais e autênticos como ferramenta de ensino de línguas vivas e significativas.
Por fim, cabe destacar que, por se tratar de uma análise interpretativa, os resultados não pretendem ser exaustivos ou estatisticamente generalizáveis, mas sim oferecer uma leitura crítica e contextualizada do uso da língua inglesa na série Smallville, com vistas à articulação entre ensino, linguagem e cultura juvenil.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS
A série Smallville (2001–2011) oferece um rico panorama do inglês informal e da linguagem juvenil, refletindo as dinâmicas sociais e culturais da juventude americana do início dos anos 2000. A análise das expressões idiomáticas e gírias presentes nos diálogos dos personagens revela não apenas a autenticidade linguística da série, mas também sua potencialidade como recurso didático no ensino de inglês como língua estrangeira.
Get over it: No episódio Craving (Temporada 1, Episódio 7), a personagem Chloe utiliza a expressão "get over it" ao aconselhar Clark a superar seus sentimentos por Lana. Esta expressão idiomática é amplamente utilizada para encorajar alguém a superar uma decepção ou frustração, sendo equivalente a "supere isso" em português. Seu uso no contexto da série exemplifica a maneira como os personagens lidam com questões emocionais de forma direta e coloquial.
Cut the crap: Em Jinx (Temporada 4, Episódio 6), Lois Lane confronta um colega com a expressão cut the crap, exigindo que ele pare de falar bobagens ou mentiras. Esta gíria, de tom mais agressivo, é comum em situações de confronto e demonstra a assertividade da personagem. No ensino de inglês, sua introdução deve ser acompanhada de discussões sobre registros linguísticos e adequação comunicativa.
You're such a freak: A expressão you're such a freak aparece em vários episódios, sendo utilizada por diferentes personagens para descrever alguém considerado estranho ou fora do comum. No episódio Freak (Temporada 6, Episódio 15), a palavra freak é central à trama, que aborda jovens com habilidades especiais. A análise desta expressão permite discutir temas como exclusão social e identidade, além de explorar o uso de termos pejorativos e seu impacto.
Give him a break: Em Unsafe (Temporada 4, Episódio 11), Chloe defende Clark usando a expressão give him a break, pedindo que os outros sejam mais compreensivos com ele. Esta expressão idiomática, equivalente a "dê uma chance a ele", é comum em contextos de defesa ou apelo por empatia, sendo relevante para discussões sobre pragmática e funções comunicativas.
No way!: A interjeição no way! é frequentemente utilizada por personagens como Lois e Chloe para expressar surpresa ou descrença. Por exemplo, em Tempest (Temporada 1, Episódio 21), Chloe reage a uma notícia inesperada com um enfático no way! Esta expressão é equivalente a "não acredito!" ou "de jeito nenhum!" e é útil para ensinar reações emocionais e entonação no inglês falado.
What's up? A saudação informal what's up? é utilizada por diversos personagens ao longo da série, refletindo a linguagem cotidiana dos jovens. Em Escape (Temporada 9, Episódio 15), Clark cumprimenta Lois com um descontraído what's up?, demonstrando a intimidade entre eles. Esta expressão é equivalente a "e aí?" e é essencial para ensinar cumprimentos informais e contextos de uso.
Chill out: No episódio Mercy (Temporada 5, Episódio 19), Lex Luthor diz a Clark para chill out, pedindo que ele se acalme. Esta expressão, equivalente a "relaxa" ou "fica tranquilo", é comum em situações de tensão e pode ser explorada em sala de aula para ensinar comandos e expressões de estado emocional.
I screwed up: Em Lexmas (Temporada 5, Episódio 9), Lex admite seus erros dizendo I screwed up, expressão informal para "eu estraguei tudo" ou "eu cometi um erro". Esta frase é útil para ensinar formas de admitir falhas e pode ser comparada com expressões mais formais, como I made a mistake.
I'm outta here: A expressão I'm outta here, usada por Chloe em Unsafe (Temporada 4, Episódio 11), significa "estou indo embora" ou "tô vazando". Esta gíria é típica da linguagem jovem e pode ser utilizada para ensinar contrações e elisões comuns no inglês falado.
That's sick! Em Jinx (Temporada 4, Episódio 6), um personagem reage a uma situação impressionante com that's sick!, expressão que, apesar de literalmente significar "isso é doentio", é usada coloquialmente para expressar admiração, equivalente a "isso é demais!" ou "isso é incrível!". Esta expressão é um exemplo de como o significado literal pode divergir do uso coloquial, sendo um excelente ponto de partida para discussões sobre semântica e pragmática.
A análise dessas expressões revela a riqueza do inglês informal presente em Smallville, refletindo a linguagem real utilizada por jovens falantes nativos. Incorporar essas expressões no ensino de inglês pode aumentar a competência comunicativa dos alunos, tornando-os mais aptos a compreender e participar de interações autênticas. Além disso, discutir o contexto cultural e social dessas expressões promove uma aprendizagem mais significativa e crítica. Segue abaixo outras expressões idiomáticas pertinentes:
Break up: Usada em Hidden (Temporada 5, Episódio 3), quando Lana diz a Clark: "I think we need to break up”. Significado: terminar um relacionamento. Uso pedagógico: explorar verbos frasais (phrasal verbs) e situações relacionais comuns.
Hang out: Em Exile (Temporada 3, Episódio 1), Clark usa: "I just wanted to hang out for a while". Significado: passar tempo com alguém de forma descontraída.
Importância: expressão extremamente comum no inglês cotidiano e útil em diálogos informais.I’m toast: Dita por Chloe em Freak (Temporada 6, Episódio 15), após se meter em apuros: "If Lex finds out, I’m toast!" Significado: estou encrencada, estou ferrada.
Possibilidade didática: ensinar expressões de medo ou perigo iminente.Deal with it: Em Krypto (Temporada 4, Episódio 14), Lois diz a Clark: "I’m living here. Deal with it." Significado: aceite isso; lide com a situação.
Pode ser usada no ensino de expressões assertivas, tom firme, modulação de registro.No big deal: Dita em Reckoning (Temporada 5, Episódio 12): "It’s no big deal, really."
Significado: não é nada demais, não tem importância. Discussão: como minimizar problemas em conversação informal.Come on! Repetida por vários personagens, inclusive em Vortex (Temporada 2, Episódio 1). Significado: vamos lá! ou para expressar impaciência: “Ah, qual é!”
Essa expressão é de alta frequência no inglês falado, pode mudar de sentido com entonação.Shut up! Lois diz a Chloe em tom de surpresa e empolgação em Crusade (Temporada 4, Episódio 1): Shut up! Seriously?: Significado: usado informalmente para expressar surpresa (sem intenção ofensiva nesse caso).
I don’t buy it: Clark diz em Facade (Temporada 4, Episódio 3): "I’m not buying it, Lex.” Seu significado: não acredito nisso; não estou convencido.
Pode ser usado como ferramenta de interpretação de expressões idiomáticas metafóricas.Out of my league: Chloe diz em Devoted (Temporada 4, Episódio 4): "He’s totally out of my league." Significado: fora do meu alcance, especialmente em relacionamentos.
Essa expressão é relacionada à autoestima e atração.Bail on someone: Usada por Lois em Committed (Temporada 8, Episódio 5): "You bailed on me!" Significado: dar o cano em alguém; desistir de algo ou alguém inesperadamente. Relevante para explorar phrasal verbs com carga emocional.
Cut to the chase: Usada por Lex Luthor em Skinwalker” (Temporada 2, Episódio 10). Lex Luthor diz para um investigador: “Let’s cut to the chase. What did you find? Isso significa ir direto ao ponto, sem rodeios e é traduzido como “Vamos direto ao ponto. O que você descobriu?”
Get cold feet: Usada por Chloe em Reckoning (Temporada 5, Episódio 12) ao perguntar a Clark se ele está com medo de tomar uma grande decisão: “Don’t tell me you’re getting cold feet.” Ou seja, “Não me diga que você está amarelando.”
Out of the woods: Martha Kent, em Gone (Temporada 4, Episódio 2) aliviada após um susto com o filho, diz: “We’re not out of the woods yet.” Sua tradução é: ainda não está totalmente livre do perigo.
Bite the bullet: Lois, (Temporada 6, Episódio 13, Crimson) influenciada pela kryptonita vermelha, desafia Clark a parar de evitar seus sentimentos: “You’re gonna have to bite the bullet and tell her how you feel.” Essa expressão é usada quando se deve encarar uma situação difícil ou desagradável com coragem. Traduzido como: Você vai ter que encarar e dizer como se sente.”
The ball is in your court: Chloe diz a Lana que a decisão de conversar com Clark está nas mãos dela na Temporada 4, Episódio 6 (Transference). The ball is in your court now. Significa que a responsabilidade ou decisão agora é sua. “A bola está com você agora.”
Blow off steam: Na Temporada 4, Episódio 6 (Transference), Após um momento de tensão, Jonathan Kent aconselha Clark: “Maybe you just need to blow off some steam, son.”. Sua intuição era dizer que o filho precisava Aliviar o estresse ou a raiva, extravasar. A tradução da frase é: “Talvez você só precise aliviar a tensão, filho.
5 IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS
A análise das expressões idiomáticas e gírias em Smallville revelou que a série constitui uma fonte rica de input autêntico e significativo para o ensino de inglês como língua estrangeira. A presença de diálogos dinâmicos, situações comunicativas reais e personagens jovens faz com que os episódios funcionem como simuladores sociolinguísticos, permitindo aos aprendizes acessar formas reais e atualizadas da língua.
Uma das principais implicações pedagógicas diz respeito à valorização da linguagem informal como componente essencial da competência comunicativa. Conforme propõem Celce-Murcia et al. (2010, p. 25), “os aprendizes devem ser expostos a diferentes registros linguísticos, incluindo o informal, para se tornarem comunicadores competentes em contextos reais de interação”. O uso de gírias, interjeições e expressões idiomáticas amplia o vocabulário funcional dos alunos e os aproxima do inglês falado contemporâneo.
A proposta de incluir esse tipo de material em sala de aula vai ao encontro do que Paiva (2019) defende como letramento crítico, ou seja, uma prática de ensino que estimula os alunos a compreenderem não apenas o que se diz, mas como e por que se diz. Ao analisar a expressão "You’re not yourself lately", por exemplo, é possível discutir não apenas sua equivalência idiomática em português, mas também o tom emocional e o contexto afetivo que ela carrega. Como aponta Paiva (2019, p. 63), “é no uso social da linguagem que se revela a ideologia, a cultura e a subjetividade dos falantes”.
Além disso, a incorporação desses recursos pode favorecer o desenvolvimento da competência pragmática, isto é, a capacidade de compreender e usar a língua de forma adequada a diferentes contextos sociais. Ao analisar cenas em que expressões como “I screwed up” ou “Deal with it” são utilizadas, o aluno não apenas aprende o significado das palavras, mas também os efeitos comunicativos, as emoções envolvidas e o papel das relações interpessoais na escolha linguística.
Para explorar esse conteúdo em sala de aula, recomenda-se a utilização de atividades baseadas em cenas selecionadas, com foco na escuta ativa e na interpretação crítica. O professor pode apresentar trechos legendados (ou com legendas ocultas), propor a identificação das expressões e solicitar que os alunos reconstruam os sentidos com base no contexto, na entonação e na linguagem corporal dos personagens.
Outras estratégias incluem a criação de glossários colaborativos, produção de diálogos com uso das expressões analisadas, dramatizações e jogos de associação entre expressões e significados. Essas atividades não apenas reforçam o vocabulário, mas também promovem o engajamento afetivo com o conteúdo, algo fundamental no processo de aprendizagem de línguas.
Outro aspecto importante é o desenvolvimento do letramento crítico. Ao trabalhar com produtos da cultura pop como Smallville, o professor pode estimular debates sobre representações culturais, construção de identidade juvenil, relações de poder e valores sociais implícitos nas falas dos personagens. Como defendem Rojo e Moura (2012, p. 33), “o ensino de línguas deve articular a dimensão linguística à crítica das práticas sociais que a linguagem reproduz”.
Por fim, é necessário que o professor contextualize o uso dessas expressões, discutindo níveis de formalidade, adequação e variação linguística. Algumas gírias analisadas, como “cut the crap” ou “shut up!”, têm carga pragmática forte e podem ser ofensivas se usadas fora de contexto. Trabalhar essa nuance contribui para a formação de usuários conscientes e responsáveis da língua.
Em síntese, o uso de séries como Smallville no ensino de inglês, quando planejado de forma intencional e crítica, pode transformar a sala de aula em um espaço mais vivo, próximo da realidade dos estudantes e comprometido com uma abordagem linguística, cultural e humana da aprendizagem.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa buscou compreender de que forma expressões idiomáticas e gírias utilizadas na série Smallville podem revelar aspectos significativos da cultura juvenil e contribuir para o ensino-aprendizagem da língua inglesa em contextos escolares. Com base na análise de episódios selecionados e no mapeamento de expressões recorrentes, foi possível observar que a linguagem utilizada na série reflete práticas sociais, emoções, relações interpessoais e identidades linguísticas próprias do universo jovem.
Os resultados evidenciam que as produções audiovisuais, especialmente séries voltadas ao público adolescente, representam uma fonte autêntica e motivadora de input linguístico. As expressões identificadas em Smallville ilustram o uso real e contextualizado do inglês informal, oferecendo ao aprendiz a oportunidade de compreender não apenas vocábulos, mas também intenções comunicativas, tons emocionais e nuances pragmáticas que raramente aparecem em materiais didáticos tradicionais.
Ao integrar esse tipo de conteúdo à prática pedagógica, o ensino de inglês pode se tornar mais significativo, próximo da realidade dos estudantes e sensível às transformações da linguagem na contemporaneidade. Além disso, trabalhar com a cultura pop na sala de aula amplia as possibilidades de reflexão crítica sobre os discursos que circulam na mídia, as representações da juventude e as formas como a linguagem constrói identidades e relações sociais.
Em consonância com Paiva (2019), reconhecemos que o ensino de inglês deve promover o diálogo com o mundo real dos estudantes, valorizando suas experiências culturais e abrindo espaço para o debate crítico. Como destaca a autora, “ensinar uma língua é também ensinar modos de pensar, de ver o outro, de se ver no mundo” (PAIVA, 2019, p. 71). Assim, o uso de séries como Smallville representa uma potente ferramenta para ampliar horizontes culturais e desenvolver competências linguísticas e discursivas em contextos significativos para os jovens.
É importante ressaltar, contudo, que o uso de expressões idiomáticas e gírias deve ser mediado com responsabilidade, considerando o contexto sociolinguístico, os níveis de formalidade e os valores culturais envolvidos. O professor, nesse processo, atua como mediador entre o texto midiático e o contexto educativo, promovendo o desenvolvimento da competência comunicativa, crítica e intercultural dos aprendizes.
Por fim, sugere-se que pesquisas futuras ampliem o corpus de análise, incluindo outras séries contemporâneas, diferentes variedades do inglês (britânico, australiano, africano etc.), bem como a perspectiva da recepção dos estudantes ao uso desses materiais. Também seria relevante investigar o impacto dessas práticas no desenvolvimento lexical, na oralidade e na motivação dos alunos.
Dessa forma, reafirma-se que a interseção entre língua inglesa e cultura juvenil, mediada por produtos da mídia como Smallville, representa não apenas uma estratégia metodológica inovadora, mas também uma potente ferramenta de humanização do ensino e de valorização das práticas linguísticas reais dos falantes do inglês contemporâneo.
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1 Discente do Curso de Doutorado em Ciências da Educação do Instituto Christian Business School (CBS), Flórida (E.U.A.), ORCID: https://orcid.org/0009-0005-9836-4287. E-mail: [email protected]