A FORMAÇÃO MUSICAL INICIAL DE NELSON FARIA: GUITARRA, VIOLÃO, MPB E JAZZ

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.14231463


Alexandre da Silva Cortez1


RESUMO
Esta comunicação tem como objetivo investigar a formação musical inicial de Nelson Faria, utilizando metodologias da micro-história, especialmente o paradigma indiciário de Carlo Ginzburg (1989). O foco está na historiografia da música instrumental brasileira, também chamada de jazz brasileiro, que, segundo Bastos e Piedade (2006), se desenvolveu no contexto da bossa nova, destacando-se pela fusão entre essa vertente e o jazz norte-americano. Nos anos 1990, Nelson Faria emerge como uma figura proeminente na música brasileira contemporânea, atuando em três áreas principais: ensino de música, música instrumental e acompanhando artistas da MPB. A pesquisa busca entender os processos iniciais de formação musical e cultural de Faria por meio de uma análise histórico-musicológica, utilizando bibliografia pertinente e uma entrevista semi-estruturada com o músico, abarcando até o momento em que o músico parte para estudar nos Estados Unidos.
Palavras-chave: Nelson Faria. Música popular. Guitarra. História da música popular brasileira.

ABSTRACT
This communication aims to investigate Nelson Faria's initial musical training, using micro-history methodologies, especially Carlo Ginzburg's evidentiary paradigm (1989). The focus is on the historiography of Brazilian instrumental music, also called Brazilian jazz, which, according to Bastos and Piedade (2006), developed in the context of bossa nova, standing out for the fusion between this aspect and North American jazz. In the 1990s, Nelson Faria emerged as a prominent figure in contemporary Brazilian music, working in three main areas: teaching music, instrumental music and accompanying MPB artists. The research seeks to understand the initial processes of Faria's musical and cultural formation through a historical-musicological analysis, using relevant bibliography and a semi-structured interview with the musician, covering until the moment the musician leaves to study in the United States.
Keywords: Nelson Faria. Popular music. Guitar. History of Brazilian popular music.

1 INTRODUÇÃO

Esta comunicação visa investigar à luz de metodologias da micro-história, mais precisamente do paradigma indiciário delimitado pelo historiador Carlo Ginzburg (1989) a formação musical inicial de Nelson Faria, se inserindo dessa forma, nos estudos de música popular brasileira, com foco na música instrumental brasileira, também conhecida como jazz brasileiro. De acordo com Bastos e Piedade (2006), essa vertente musical emerge no contexto instrumental da bossa nova se desenvolvendo principalmente pelo encontro entre a bossa nova e o jazz norte-americano. O encontro entre Stan Getz e João Gilberto é emblemático desse diálogo, evidenciando a natureza híbrida da música instrumental brasileira, que incorpora tensões entre diferentes tradições musicais (BASTOS E PIEDADE, 2006).

Nesse contexto, nos anos 1990, desponta o guitarrista e violonista Nelson Faria, que posteriormente se torna uma referência importante na música brasileira contemporânea. Faria atua em três principais áreas: o ensino de música, a música instrumental brasileira e o acompanhamento de artistas da MPB (CORTEZ, 2023, p.514). Este trabalho visa estudar, por meio de uma análise histórico-musicológica, os processos de formação inicial do músico, buscando compreender como se deu a formação musical e cultural de Nelson nas décadas de 1960 e 1970 indo até a sua partida para os Estados Unidos em 1983. Para tal, lançamos mão da bibliografia disponível da área, além de realizarmos uma entrevista semi-estruturada com o próprio Músico.

2 PRIMEIROS ACORDES

Nelson Faria, nascido em 23 de março de 1963, em Belo Horizonte, cresceu em uma família de classe média onde a música desempenhava um papel fundamental. Sua mãe, Nathalia Faria, teve formação musical em conservatório e incentivava um ambiente cultural em casa, realizando saraus familiares nos quais Nelson e seus irmãos participavam tocando instrumentos e cantando. Desde cedo, Nelson foi exposto à música, aprendendo piano e violão de forma espontânea e sendo levado à apreciação de concertos que marcaram sua infância, como o concerto n°2 para piano e orquestra de Sergei Rachmaninoff, que teve um impacto profundo em sua relação com a música2.

Nelson viveu em Belo Horizonte até os nove anos, quando sua família se mudou para Brasília. Mesmo sem formação formal, ele aprendeu violão com seus irmãos e logo adquiriu um pequeno repertório de músicas populares, como por exemplo, "Trem das Onze", de Adoniran Barbosa. Aos oito anos, tentou aulas de piano, mas não se adaptou ao método de ensino focado em leitura de partituras. Ele continuou aprendendo de maneira autodidata até os 16 anos, quando começou a tocar mais seriamente, ainda sem professores.

Nessa perspectiva, é possível observar que a formação musical de Nelson foi moldada pelo ambiente familiar e pelas influências culturais das décadas de 1960 e 1970, período de grandes transformações na música popular brasileira. A bossa nova, surgida em 1959, desempenhou um papel essencial na inclusão da classe média no cenário musical, especialmente entre aqueles com maior instrução e vínculos acadêmicos. Esse movimento consolidou a música popular como uma forma legítima de expressão artística e cultural no Brasil (NAPOLITANO, 2007, p. 67), influenciando profundamente o jovem Nelson e sua família. A década de 1960 também foi marcada pela ascensão da televisão, que amplificou o acesso à música popular e ajudou a moldar a identidade cultural brasileira. Nomes como Tom Jobim, João Gilberto e Sérgio Ricardo foram influentes no cenário musical, e eventos como o show de bossa nova no Carnegie Hall, em 1962, destacaram as tensões entre o jazz e as influências nacionalistas do gênero (NAPOLITANO 2007, p.73-79). Esse contexto musical e cultural foi crucial na formação de Nelson, que absorveu as tradições musicais da bossa nova e da música popular brasileira, ao mesmo tempo em que, junto a sua família vivenciava as transformações da sociedade brasileira no período.

Com o golpe militar de 1964, houve uma ruptura no cenário político e cultural, mas a resistência artística continuou, impulsionada principalmente pelo movimento estudantil e pela oposição à ditadura. A música popular brasileira se adaptou, incorporando novos paradigmas musicais, como o tropicalismo, e artistas como Elis Regina, Chico Buarque e Gilberto Gil emergiram como referências. A televisão desempenhou um papel central na disseminação dessa nova música, criando um híbrido de tradições antigas, como o samba, com a modernidade da bossa nova e influências internacionais, incluindo o rock. Nelson, nesse contexto, desenvolveu sua sensibilidade musical em meio a essas intersecções culturais. Ainda em relação à importância da TV na promoção da música popular daquela época, o pesquisador José Roberto Zan (2001) afirma:

A TV se transformou, nesses anos, num importante meio de divulgação de música popular. Além de inúmeros programas musicais de grande sucesso como O Fino da Bossa, Bossaudade e Jovem Guarda da TV-Record, e Spot-Light-BO 65, da TV Tupi, iniciou-se, a partir de 1965, o ciclo dos festivais de MPB em vários canais de televisão. Esses certames funcionaram, durante alguns anos, como vitrines de divulgação de música popular. A relação com esse novo meio levou os artistas a desenvolverem novas habilidades interpretativas. Enquanto na época do rádio os artistas valorizavam principalmente o desempenho vocal, com a TV tornava-se necessária a preocupação com a performance gestual ou cênico-expressivo (p.144).

A indústria fonográfica brasileira experimentou um significativo crescimento a partir de 1965, impulsionada pela criação da ABPD (Associação Brasileira de Produtores de Discos), além de ocorrer algumas mudanças nas leis de direitos autorais e incentivos fiscais. Esse cenário permitiu uma substituição das importações musicais por produções nacionais, consolidando o gênero MPB (Música Popular Brasileira), que mesclava tradição e modernidade, refletindo tanto interesses comerciais quanto ideológicos. O LP emergiu como o principal formato de distribuição musical, fortemente ligado a movimentos culturais e artistas como Caetano Veloso e Chico Buarque. A classificação musical, por meio da definição de estilos musicais tornou-se essencial, contribuindo para o crescimento do mercado entre 1966 e 1977 (NAPOLITANO, 2007, p.80-90). Em meio a essa conjuntura, o golpe militar de 1964 foi responsável por acirrar o debate cultural e ideológico, especialmente entre artistas e intelectuais, e impactando profundamente a produção artística em diversas áreas. No campo da música, canções como as de Gilberto Gil, Geraldo Vandré e Chico Buarque passaram a abordar a temática da luta contra a ditadura, enquanto em outras esferas culturais, como o teatro e o cinema, obras de resistência política também ganharam destaque, como “Opinião” e “Terra em Transe” (RIDENTI, 2007, p.188).

Nesse contexto, surgiu a "era dos festivais", especialmente os Festivais de Música Popular Brasileira (MPB), que impulsionaram a carreira de vários músicos e consagraram a MPB como uma força cultural. O I Festival Nacional de Música Popular, organizado pela TV Excelsior em 1965, destacou Elis Regina com "Arrastão", de Edu Lobo e Vinícius de Moraes. A partir daí, eventos como o II Festival Nacional de Música Popular Brasileira da TV Record (1966) e o I Festival Internacional da Canção da TV Globo se tornaram marcos na história da música brasileira. Além dos festivais, a televisão continuava a atuar na divulgação da música popular, com programas como O Fino da Bossa e Jovem Guarda influenciando profundamente a música brasileira. A utilização do violão, popularizada pela Bossa Nova, também teve um impacto significativo. Músicos como Toquinho e Paulinho Nogueira ajudaram a solidificar o instrumento como símbolo da nova musicalidade brasileira, que também ecoava nas letras das canções de protesto e nas apresentações performáticas da época (NAPOLITANO, 2007, p. 92-96).

Ademais, cabe ressaltar aqui que Segundo a pesquisadora Santuza Cambraia Naves (2001), o festival de 1967, foi um marco por estar ligado ao surgimento do Tropicalismo, um movimento cultural que, diferentemente da Bossa Nova, transcendia questões estéticas, incorporando debates sobre arte, cultura e política. Inspirado na antropofagia de Oswald de Andrade, o Tropicalismo misturava elementos da cultura brasileira e estrangeira, com artistas como Caetano Veloso e Gilberto Gil utilizando as inovações do rock, da psicodelia e da música popular para criar uma nova estética. O rock brasileiro, representado pela Jovem Guarda de Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléia, também foi um fenômeno importante nesse período. Apesar de críticas de segmentos mais politizados da MPB, que viam o rock como uma expressão do imperialismo cultural norte-americano, a Jovem Guarda alcançou grande popularidade entre os jovens, evidenciando a pluralidade do cenário musical brasileiro da época (JEZZINI, 2010, p.49-52).

A passeata contra a guitarra elétrica em 1967, liderada por artistas da MPB como Elis Regina e Jair Rodrigues, travou um confronto entre tendências renovadoras e conservadoras. Enquanto o Tropicalismo, liderado por Caetano Veloso e Gilberto Gil, defendia a incorporação de elementos modernos e estrangeiros, a ala mais tradicional da MPB se opunha à guitarra elétrica, associando-a a dominação cultural estrangeira. Esse embate destacou a complexidade das discussões culturais e políticas no Brasil durante a segunda metade da década de 1960, com a música popular servindo tanto como veículo de resistência quanto de inovação artística (OLIVEIRA 2022, p.172-173).

Por fim, o Tropicalismo se consolidou como um movimento que ultrapassou as fronteiras da música, influenciando o cinema, o teatro e as artes plásticas, enquanto a MPB e a Jovem Guarda representaram diferentes vertentes de uma juventude dividida entre a tradição e a modernidade, o engajamento político e a busca por novas formas de expressão cultural (JEZZINI, 2010, p.52).

Já na década de 1970, Nelson Faria teve uma ruptura importante em sua vida, quando aos nove anos, se mudou com a família para Brasília em 1972. Como foi argumentado, desde jovem, ele já possuía uma forte relação com a música e logo não tardara a iniciar seus estudos de violão com um professor particular, entre os 16 e 17 anos Nelson inicia os estudos com Sidney Barros, conhecido como Gamela. O professor Gamela foi responsável por abrir as portas do jazz para Nelson além de influenciar sua técnica de violão, introduzindo-o ao universo de peças populares, utilizando a técnica de chord melody3 ao estilo de músicos como Luiz Bonfá e Baden Powell. Antes de conhecer Gamela, Nelson ouvia predominantemente música brasileira e resistia à música estrangeira, um comportamento que ele mesmo descreve como “xiita”. Ele só foi se abrir para outros gêneros mais tarde, quando começou a compreender a música de uma forma mais ampla e global.

A década de 1970 foi crucial para Nelson, que, além de ser influenciado por seu professor Gamela, viveu um período de efervescência cultural no Brasil. Nesse contexto, a Música Popular Brasileira (MPB) se consolidava como uma forma de resistência ao regime militar, representando a voz da classe média escolarizada que se opunha à ditadura. A MPB, por sua vez, era um movimento que abraçava diferentes estilos e influências, refletindo as tensões e esperanças da sociedade brasileira (NAPOLITANO, 2010, p.389-391). Essa pluralidade de estilos musicais foi fundamental na formação de Nelson, que cresceu ouvindo grandes nomes da MPB, como Chico Buarque, Milton Nascimento, João Bosco, entre outros.

Outro aspecto importante na formação do jovem Nelson foram as trilhas sonoras de novelas, que, segundo ele, tiveram um impacto significativo. Na era pré-internet, a televisão e o rádio desempenhavam um papel fundamental na disseminação de música no Brasil, e as trilhas de novelas eram uma forma de conhecer novos artistas e músicas. Além da MPB e das trilhas de novelas, o Clube da Esquina, com artistas como Milton Nascimento e Toninho Horta, exerceram uma influência poderosa sobre Faria. Ele menciona que tocar com Milton Nascimento ainda é um sonho não realizado. Segundo Diniz (2012) o Clube da Esquina, considerado um movimento de vanguarda, trouxe uma nova abordagem à música popular brasileira, mesclando influências regionais e internacionais, algo que ressoou profundamente na formação musical de Nelson.

Portanto, o processo de formação de Nelson Faria foi marcado por uma série de influências, desde sua resistência inicial à música estrangeira até sua exposição ao jazz e à MPB, que foram moldando suas escolhas e seu desenvolvimento como músico. Em sínteses, podemos inferir que as décadas de 1960 e 1970, um período de intensas transformações culturais e políticas no Brasil, serviram não só como pano de fundo, mas como uma rede de influências culturais e musicais que contribuíram para esse processo de amadurecimento musical.

3 OS ESTUDOS COM GAMELA

Ao aprofundar seus estudos com o professor Gamela, Nelson Faria começou a desenvolver um aspecto que viria a definir sua carreira, a improvisação musical. Gamela teve um papel crucial na formação de Nelson, principalmente por introduzi-lo ao jazz e à linguagem da improvisação. Além de como já mencionado, ensinar a técnica de chord melody. Além disso, Gamela incentivou fortemente que Nelson estudasse nos Estados Unidos, o que se tornaria um ponto de virada em sua trajetória musical.

Apesar de Gamela não ter formação teórica sólida em improvisação, ele despertou em Nelson uma curiosidade natural e um grande interesse por esse universo. As aulas com Gamela eram bastante informais, mais parecendo encontros de músicos, onde muitos alunos permaneciam no estúdio, conversando e tocando ao longo do dia. Foi nesse ambiente que Nelson aprendeu os fundamentos do chord melody e começou a expandir sua visão musical.

Na verdade, quando eu comecei a ter aula com o Gamela, eu encontrei uma realidade de aula que era muito engraçada, que não era muito aula na verdade, eu chegava pra ter aula, tava marcado pra 10 horas da manhã, aí eu chegava lá, já tinha uns quatro caras lá que já tinham feito aula e continuavam lá, aí ele me passava uma coisinha e eu acabava ficando também, aquela sala dele virava um ponto de encontro, a gente passava o dia inteiro ali, ninguém fazia uma aula e ia embora, o Gamela me ensinou as primeiras coisas, coisas de chord melody, me ensinou isso (FARIA apud BOMFIM, 2016, p. 27)

Gamela foi professor por mais de 30 anos em Brasília e formou vários músicos de renome, como Lula Galvão, Hamilton de Holanda e Rosa Passos. Seu método de ensino era prático e focado na execução direta, priorizando a prática musical antes da teoria. Ele incentivava os alunos a ouvir música constantemente, explorar harmonias e discutir diferentes estilos. Sua abordagem inovadora, que incluía até discussões filosóficas e de espiritualidade, fez com que suas aulas fossem verdadeiras experiências de imersão musical (JÚNIOR, 2019 p.17).

Nelson Faria reconhece a importância de Gamela em sua formação. Ele relembra que a simplicidade dos arranjos que aprendia com Gamela já o conectava a uma complexidade musical maior, permitindo o contato com harmonias ricas mesmo em níveis iniciais. O professor promovia uma "sensibilidade harmônica" em seus alunos, fazendo com que eles se interessassem por música de forma profunda. O ambiente de audição ativa também marcou Nelson. Gamela fazia questão de que os alunos ouvissem diferentes gravações e versões das músicas, o que ajudava a desenvolver a percepção crítica e a criatividade musical. Nelson aponta que essa prática foi fundamental para sua formação, abrindo sua mente para diferentes estilos e abordagens musicais.

Vários violonistas que aprenderam a tocar, tiveram, vamos dizer assim, a primeira inspiração a partir da obra do Gamela, através daqueles arranjos. Porque quando você começa a tocar aquilo, inspira – poxa, estou fazendo um negócio bacana. É aquilo que eu estava falando outro dia sobre o arranjo de “viagem”, que é um arranjo simples, qualquer um consegue tocar, mas que quando se toca, aquela sonoridade instiga. Ele já coloca ali aquele acorde com 13ª e 9ª menor, de uma forma fácil de executar, mas que tem uma sonoridade complexa. Isso fazia com que a pessoa entrasse em contato com esse tipo de complexidade mesmo sendo iniciante. Para mim genialidade dele está aí! A influência do Gamela nos músicos e na cultura de Brasília foi muito em torno disso, de despertar essa sensibilidade harmônica, de instigar essa curiosidade. A partir desse modo de ensinar o Gamela gerou inúmeros músicos. Ele fez uma escola sem ter uma escola, ele tinha só uma salinha (FARIA, Apud JÚNIOR, 2019, p. 100-101).

Mais tarde, Nelson enfrentaria um dilema: continuar seus estudos de economia na Universidade de Brasília ou seguir sua paixão pela música. Gamela, vendo o talento de Nelson, incentivou-o a ir estudar nos Estados Unidos, mais especificamente no Guitar Institute of Technology (GIT). Com o apoio de sua família, Nelson decidiu se dedicar totalmente à música e, em 1983, embarcou para os Estados Unidos. Lá, ele mergulhou no estudo do jazz e da improvisação, o que transformou sua carreira.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho buscou investigar por meio de uma análise histórico-musicológica, a formação musical e cultural de Nelson Faria, com intuito de trazer esclarecimentos sobre como aconteceram os processos de amadurecimento musical durante sua infância e adolescência, conectando dessa forma sua biografia ao contexto histórico maior, evidenciando aspectos que posteriormente se tornaram relevantes para a trajetória musical de Faria. Após seu retorno ao Brasil, Nelson construiu uma carreira diversificada, atuando como músico, educador e autor. Ele se tornou um dos principais nomes na música instrumental brasileira, tanto como solista quanto acompanhando artistas de renome como João Bosco e Cássia Eller. A improvisação, aprendida e refinada nos Estados Unidos, se tornou um elemento central em sua atuação musical no Brasil.

Esse percurso de Nelson reflete a falta de estrutura para o ensino formal de música popular e improvisação no Brasil na época. Faria sentiu a necessidade de buscar conhecimento fora do país, já que, no Brasil, a educação musical estava mais focada na música erudita (GUERZONI, 2014, p.15). O ambiente familiar musical e cultural no qual Faria cresceu, somados a experiência internacional foram essenciais para que ele desenvolvesse novas habilidades e trouxesse uma visão renovada para a cena musical brasileira. Nelson Faria, ao longo de sua carreira, seguiu integrando a música brasileira, especialmente a MPB, com influências do jazz, sempre mantendo a improvisação como um ponto central de seu estilo. Isso fez dele uma referência tanto no cenário artístico quanto no educacional, com um forte impacto no ensino de música popular no Brasil.

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1 Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Artes, Cultura e Linguagens da Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF, graduado em Música, Artes e História, [email protected].

2 Todos os dados biográficos desta comunicação foram retirados da entrevista realizada com Nelson Faria para o autor do presente trabalho realizada no dia 04 de setembro de 2023, exceto quando for indicado diferentemente.

3 Forma de tocar onde melodia e harmonia são tocadas juntas no violão.